Minha vida em Perfeitas Escalas - III
A doutora Cooper fez tantas perguntas difíceis que Eric não teve outra solução senão invocar o seu direito de permanecer em silêncio para não produzir provas contra si mesmo. É claro que preferimos que ele confessasse tudo, mas nossa advogada disse que se recusar a responder também deporia contra ele. Quando finalmente foi liberado do púlpito, já não tinha o mesmo sorriso vencedor no rosto, mas mesmo assim passou nos encarando com firmeza.
A defesa seguiu com depoimentos rasos de amigos, psiquiatra e até alguns professores contando sobre sua relação e as impressões que tinham sobre os dois jovens acusados. Era uma merda ter de ouvir aquela gente dizendo o quanto aqueles garotos eram boas pessoas, enquanto eu via Juliet tentar manter-se firme durante a audiência. E quando aquele show de horrores terminou, estávamos exaustos, tentei conversar com Juliet pelo caminho, mas assim como eu ela não tinha a menor intenção de levar aquele assunto pra casa, seriam diasuito difíceis.
Embora estivéssemos passando uma temporada na casa da minha mãe, Miguel fez questão de ficar com a pequena, então tivemos que ir até a nossa casa buscá-la, pra nossa sorte naquele dia não havia nenhum repórter ou colunista de fofoca a frente da nossa porta.
一 Será que desistiram? 一 Juliet perguntou com sorriso entusiasmado. Por mais que minha mãe estivesse sendo uma anfitriã gentil até demais para o "normal" dela, e os empregados da casa estivessem lá ajudando com a Liv e os bebês, não víamos a hora de voltar a nossa rotina. 一A mamãe chegou! 一 Juliet anunciou passando pela porta a procura da filha.
Corri o olhar pela sala e me deparei com Miguel adormecido no sofá, com o cabelo bagunçado, rodeado por brinquedos, artigos de bebês e acho que um pouco de vômito de bebê sobre o ombro, enquanto Aurora dormia tranquilamente sobre seu peito. Me lembrei de quantas vezes estive naquela situação, era tão difícil, mas agora encarar aquela cena me fez apertar o peito de saudade. Mesmo que eu ainda estivesse vivenciando um pouco daquilo novamente era diferente, de fato eu não estava com saudade dos choros, vômitos e fraldas, isso eu tinha de sobra ainda, mas aquela sensação de ser tudo que elas precisavam eu nunca mais teria como quando eram pequenininhas. Minhas garotinhas agora eram mulheres e eu era só uma parte do mundo delas, claro que uma parte muito importante.
Vi Juliet se aproximar e retirar a bebezinha com cuidado para não despertá-los e eu subi pro segundo andar pegar algumas coisas que Liv havia me solicitado. Vaguei um tempo meio perdido entre a bagunça que ficou o nosso quarto, teria de dar um jeito naquilo antes de trazer a Liv pra casa. Se bem que dava muito trabalho subir e descer com a Liv, talvez devêssemos levar a cama pro escritório ou para o ateliê dela, seria mais prático e menos perigoso pra ela. E é claro isso me daria um bom tempo pra arrumar aquela zona, afinal ela não teria motivos pra subir as escadas. Enfiei tudo que precisava em duas mochilas e desci até a sala de estar onde fiquei estático com a cena, nenhum pouco nostálgica e muito menos reconfortante quanto a anterior.
Juliet e Miguel, estavam juntos no sofá, com os lábios colados um no outro.
Que porra era aquela agora?
Sim eu sabia que eles andavam pra lá e pra cá nos últimos tempos, mas dias atrás Juliet me garantiu que não havia nada e eu não tinha nenhum motivo pra acreditar que tivesse. Afinal em todo esse tempo sempre acreditei que Miguel via Juliet como uma irmãzinha, mimada e birrenta o qual ele tinha o dever moral de atormentar.
Arranhei a garganta o mais forte que pude chamando a atenção dos dois que se afastaram imediatamente. Juliet praticamente saltou do sofá com uma fralda na mão disfarçando em direção ao carrinho e Miguel ficou em pé me olhando com aquela cara de culpa.
一 Será que pode me ajudar a por as coisas no carro? Ou está muito ocupado? 一 Perguntei em tom ríspido e ele prontamente se levantou, pegando uma das mochilas me seguindo pra fora.
Abri o porta malas e joguei a mochila com força, tirando a segunda com certeza agressividade da mão dele a lançando sobre a outra. 一 Vai me explicar ou não? 一 Perguntei percebendo que ele não tomaria a iniciativa.
一 Eu não tenho o que explicar.
一 Ah não tem? 一 perguntei com um sorriso sarcástico 一 Eu te aceitei com o coração aberto na minha casa, na minha família, te dei um emprego, te trato como se fosse um filho e pra que? Meses atrás você tava beijando a Emma naquela mesma sala.
一 Foi na cozinha. 一 ele me corrigiu e eu tranquei os dentes de raiva.
一 O que?
一 Nada não...一 ele balançou a cabeça 一Olha tio, aquilo com a Emma foi só, só curiosidade e foi de ambos os lados. Sei lá a gente precisava saber, entende? Ter certeza que o que a gente sente, não era outra coisa. E foi bom porquê definitivamente não é outra coisa, foi horrível e nojento...
一 Bla blá blá... Arranja um lugar pra você ficar, quero você fora da minha casa antes da gente voltar entendeu? 一 sentenciei.
一 Tio...
一 Não tem nada de tio, você passou dos limites. Vá se curioso com as filhas de outra pessoa, você não tem ideia do que a Juliet está passando e....
一 Não eu não tenho, seria um babaca se dissesse que tenho porque eu nunca estive na situação dela, não tem como eu saber 一 ele me interrompeu 一 Eu não estava curioso com a Juliet, só aconteceu... Eu não sei porque, eu queria e pelo jeito ela também.
一 A Juliet está passando por um momento muito difícil, ela acabou de ser mãe, toda essa merda de julgamento, as questões internas dela, ela está muito vulnerável e eu não quero alguém se aproveitando disso pra se dar bem. 一 gritei irritado 一 Então é melhor você arranjar logo um lugar pra ficar porquê quando voltarmos para casa, quero você longe daqui.
一 Acha que eu faria isso? Com qualquer garota, com a Juliet? 一 Ele falou visivelmente magoado.
Não eu não achava que ele fosse capaz de algo assim, mas eu estava puto com o que eu tinha acabado de ver para não jogar essa carta na cara dele 一 Me responde tio? Eu gosto da Juliet eu sei que a gente brigava pra caralho e era até divertido, mas eu jamais faria algo que a machucasse, nem antes, muito menos agora. Eu só...一 ele recuou um pouco levando as mãos na cabeça.
一 Então que merda você tá fazendo?
一 Eu não sei.... O beijo só aconteceu porra! No mais eu só quero deixar as coisas mais fáceis, como vocês sempre deixaram pra mim quando eu era criança e não quero que a Aurora se sinta nem um por um segundo indesejada. Sei o papai e até você depois que eu te contei achou bom que a minha ex tenha perdido o bebê e conscientemente vendo o trabalho que dá, eu sei que não seria nada como eu imaginava, mas eu queria muito aquele bebê. Ele era meu filho e quando ele se foi eu... Doeu, e eu não pude se quer sofrer porquê ninguém liga. Eu não teria sido um pai perfeito, mas eu sei que teria sido um bom pai pra ele e esse vazio que eu sempre tive só aumentou depois que ele se foi. E a Aurora, ela.. 一 Vi lágrimas se formarem nos olhos dele e ele respirou profundamente pra evitar que caíssem.一 Ela veio de uma forma tão intensa, tão difícil, pra todo mundo, mas ela é a coisa mais linda e cheia de amor que eu já vi em toda a minha vida e se uma coisinha tão perfeita, tão pura pode ter vindo de uma coisa tão horrível... Ela me faz acreditar que um dia, esse buraco que eu tenho dentro de mim, essa raiva que me faz fazer coisas sem pensar, talvez um dia... Talvez um dia isso passe... Me desculpa por ter beijado a Juliet, você tem toda a razão nisso, eu não devia ter cruzado esse limite, não nesse momento, mas não me pede pra ficar longe delas e muito menos me compara com alguém que se aproveitaria de uma garota nessa circunstâncias porquê que posso ser muitas coisas, coisas que nem eu gosto de ser mas eu não sou assim, não sou um imbecil como um daqueles moleques Callinham 一 Ele disse com toda a sinceridade e eu me aproximei e lhe dei um abraço...
一 Tá tudo bem, desculpa... Eu... Foi um dia cheio...一 falei envergonhado 一 Acho que descontei em você. 一 Falei ao me afastar. 一 Olha Miguel, nada me deixaria mais feliz do que ter um garoto que eu conheço e gosto, gosto muito com a minha filha. É sério eu ia adorar, mas eu não acho que seja o momento, a Juliet pode estar confundindo as coisas e ela é só uma adolescente, você é um adulto aqui, então aja como um e dê o tempo que ela precisa e que talvez você também precise pra pensarem bem sobre isso. Se daqui a um ano ainda estiverem sentindo essa vontade, eu juro que você vai ser o meu genro favorito, mas agora não é a hora eu espero que entenda isso. 一 Falei e ele assentiu com a cabeça.
一 Tudo bem.
一 Ótimo.
一 Eu vou achar outro lugar pra ficar.
一 É seria bom, não por não que querer por perto, mas porquê se quer ser um pai pra Aurora melhor dar orgulho a ela.
É foi uma conversa difícil, mas extremamente necessária, realmente eu não acreditava que Juliet estivesse pronta pra entrar numa relação tão cedo. Ela precisava de um tempo para por a cabeça no lugar e Miguel também, não que eu não acreditasse que ele estivesse sentindo algo pela Juliet, mas ele estava empolgado demais com os sentimentos que a bebezinha estavam despertando para entender o que realmente acontecia dentro dele com relação a Juliet. E eu sei bem como é fácil embarcar num romance quando estamos vulneráveis e geralmente não acabam bem.
Entrei no carro mandei ele chamar a Juliet, ela demorou pouco mais que cinco minutos para aparecer colocar a bebê na cadeirinha se sentar do meu lado, respirar fundo e dizer que não era nada do que eu estava pensando.
一 Não é o que eu tô pensando é o que eu vi que me incomoda.
一 Eu não sei porque eu fiz aquilo. Hoje foi tão difícil e ele tá sendo tão legal comigo, com a Aurora. Você viu como ela fica calma com ele, ela se sente bem, protegida. A gente tava falando sobre ela e quando eu percebi... Aconteceu.... Eu .. não foi culpa dele.
一 Só vai com calma tá? Quando eu conheci a sua mãe eu tinha acabado de perder a Carol e eu estava tão sozinho e ela cuidava tão bem da Emma. Se a sua mãe tivesse dado um pouquinho mais de abertura a gente se envolvido, mas não seria porquê eu a amava ou mesmo sentia alguma atração por ela, seria porquê eu precisava anestesiar a minha dor e não é justo usar uma pessoa pra isso, não é justo com ela e nem com você. Então, porquê vocês não só continuam isso que tão fazendo por um tempo, sem enfiarem a língua na boca do outro...
一 Pai!
一 É sério, Juliet. Acha que gosta dele?
一 Eu não sei, eu já gostei muito, mas eu era criança e idiota. Lembra daquela vez que voce proibiu ele de ir lá em casa porquê eu contei sobre o ele ter me ameaçado com um taco de beisebol? E Emma disse que era mentira, mas você acreditou em mim, ela tava certa, eu tava mentindo. Eu só disse aquilo porque eu me declarei e ele fez o qualquer garoto de dezessete anos com um pingo de consciência faria se uma garotinha dissesse que gostava dele. Me chamou de criança e me mandou crescer. Mas eu não era acostumada a ouvir um não. Eu odiei tanto me sentir rejeitada, um tempo depois eu até pedi desculpas, mas ele começou a me tratar mal, a zombar de mim o tempo todo. Mas ele nunca contou isso pra ninguém, mesmo quando você afastou ele da Emma.
一 Eu já sabia. Acha que eu deixaria um garoto que ameaçou a minha filha com um taco voltar a frequentar a minha casa?
一 Então porque?
一 O Miguel tava numa fase estranha, largou a escola, Sam não tinha controle sobre ele e a Emma passava o tempo todo com ele. Você tava muito doente, os médicos não sabiam se você ia viver até ter idade pra cirurgia de correção e eu sabia que se você não conseguisse a Emma iria sofrer demais por não ter passado todo o tempo que podia com você. Quando eu perdi a mãe dela isso me correu a alma, das vezes que eu preferi fazer qualquer merda do que estar com ela, do que curtir aquela gravidez com ela, ainda me culpo por isso e não queria que a Emma se sentisse assim também. 一 Falei e ela curvou o corpo recostando a cabeça no meu ombro. Só vai com calma tá, eu não quero que vocês se machuquem de novo e as únicas brigas que eu ou ter paciência pra mediar são da Aurora e do Davin de agora em diante. Se começarem com aquelas merdas de novo sou eu que vou pegar o taco de beisebol.
一 Te amo pai.
一 Eu também te amo.
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