Em família
Embora Liv, Mika e Miguel não estivessem com nenhuma vontade de passar o fim de semana trancados com Susan em uma casa de campo. Juliet e a sua agora imponente barriga de gestante, conseguiu convencê-los de que seria uma experiência única para que todos nos conectássemos como família, antes da bebê vir ao mundo. Sendo assim na sexta a tarde, Miguel e eu guardavam os as malas no carro de Liv.
- Ainda acho que devíamos ir em dois carros. - Miguel protestou.
-É uma viagem em família, a Emma vai ir com a Susan e o Simon, então cabe todo mundo aqui perfeitamente. Vamos apertados, consideravelmente desconfortáveis e vocês vão ter que aturar músicas insuportáveis de viagem que a Liv e eu vamos cantar . Vão ser três horas de tortura em família... Quer dizer, diversão em família, até chegarmos na casa da nossa amadíssima vovó. - - Falei com um sorriso sarcástico e Miguel revirou os olhos.
-Eu devo levar uma arma? - Ele retrucou ainda mais irônico. - Um colete a prova de balas, um kit de sobrevivência na selva? Sabe as coisas básicas que os Johnson devem levar pra esses eventos.
- Não vai ser preciso, mas a Mika vai dirigir metade do caminho, então se chegarmos vivos já será uma dadiva. - Falei e ele arregalou os olhos azuis no mesmo instante que ouvimos um grito de socorro da Juliet.
Saí correndo em direção ao jardim dos fundos, Miguel quase me derrubou ao me ultrapassar e saltar o cercado da Serafina, onde Juliet se encontrava sentada no meio da lama debruçada sobre o porco. Várias coisas passaram na minha cabeça até perceber que o desespero de minha filha era pelo porco imóvel em meio a lama.
- Pai... a Serafina... Ela morreu, minha porquinha morreu - Ela disse se debruçando sobre o animal que hoje já devia pesar facilmente mais de cento e cinquenta quilos. Saltei a cerca e Miguel me olhou com uma cara de pesar e assim que me abaixei confirmei o óbito.
- Ah meu amor, eu sinto muito - falei acariciando as costas da Juliet - Mas a Serafina já tinha idade e estava muito obesa, o veterinário nos falou que ela não viveria por muito mais tempo na ultima vez que esteve aqui, lembra?
- A culpa é minha, a culpa é toda minha. Desde que nos mudamos, eu fui uma péssima tutora, eu não cuidei dela, por isso ela esta morta. Como vou cuidar de um bebe se não soube cuidar de um porco? -falou ente soluços.
- Olha... uma coisa não tem muito a ver com a outra. Espero que no pense em deixar o bebe num chiqueiro comendo ração.- Falei tentando aliviar a tensão mas so fiz ela chorar mais ainda e Miguel sentou ao lado dela na lama pousando a mão sore a dela.
- A Serafina sempre foi muito bem cuidada, você foi uma ótima mãe de porco. Você impediu que ela virasse presunto e a levou pra Disney, andou de avião e sem duvidas era a porca mais bem vestida da europas - ele falou com a voz calma - quantos porcos podem dizer isso? Levanta anda você vai ficar resfriada nessa lama. - ele disse a ajudando a levantar e ela se voltou a mim,
- Você vai enterrar ela?
-Não ela é muito grande, eu vou chamar essas equipes que cremam animais, okay? Eles vão cuidar de tudo.
- Podemos jogar as cinzas dela no lago? Na casa de campo da vovó? Ela ia gostar disso. - Falou caindo no choro novamente.
Bem , o falecimento de Serafina atrasou a nossa viagem e no sábado de manha, ainda estávamos no crematório pet, esperando as cinzas da nossa porca.
-Mil e oitocentos dólares em uma urna? É serio? Foi só 500 pra cremar, se eu soubesse teria trazido um pote de casa.
- A sua filha tem bom gosto - ela disse me entregando um porquinho cor de rosa de louça, exatamente igual aqueles cofrinhos infantis que você encontre em lojas de 10 dólares.
- Isso é um roubo.
Uma hora depois estávamos na estrada, dirigi a primeira parte do caminho enquanto via os três no banco de trás, oscilarem entre cara de tédio e repulsa total toda vez que Liv e eu começávamos a cantarolar alguma coisa. Sinceramente eu amo a parte da paternidade em que podemos nos vingar das horas infindáveis de canções repetitivas e agudas, ou das vezes que eles praticamente nos obrigam a levá-los a lugares que todos os pais odeiam, como sessão de cinema infantis e playcenters. Lugares perfeitamente projetados pra você gastar toda a sua grana, passar raiva e possivelmente votar com uma puta dor de cabeça pra casa, sem ter bebido uma gota sequer de álcool.
Quando chegamos na metade do caminho com praticamente o dobro do tempo planejado, pois tínhamos que parar em cada posto de gasolina, por conta da nova integrante da família esmagando a bexiga de Juliet, deixei Mika tomar o volante.
Óbvio que Liv protestou um pouco, mas depois de um tempo, ficou orgulhosa ao vê-la se sair muito bem atrás do volante.
- Onde você aprendeu a dirigir assim?
- O Noah me deixa dirigir o carro dele até a escola, e se consigo dirigir aquela banheira com o volante hidráulico, esse elétrico é como tirar doce de criança.
-Ei eu estou ouvindo isso ai, -falei do banco de trás, - o Corvette tem sentimentos, a próxima vez que colocar as mãos nele, vai estar furioso com você.
- Juliet será que da pra parar de abrir essa urna, esse cheiro está me deixando enjoada. -Liv reclamou e Juliet franziu a testa com a porquinha de louça no colo
- Eu não abri, acho que está lacrada.
- Noah eu espero que voce no esteja soltando puns. To sentindo o cheiro de podre.
- porque tem que ser sempre eu? Falei e todos me olharam com aquela cara de 'é serio que a perguntando isso?' - Não fui e deve estar vindo de fora querida, deve ter algum animal morto no meio do mato.
- Ou um cadáver humano se decompondo - disse Miguel com um ar de mistério - Esses lugares são perfeitos para desovar corpos, deve ser por isso que a Susan tem uma casa aqui, talvez os concorrentes dela estejam todos no fundo do lago
- Ah muito engraçado Miguel, minha mãe não é uma assassina, que ela é uma psicopata cruel e fria na maioria das vezes é, mas ela não mataria ninguém. É ruim pra empresa, ficaria mal vista - falei e Liv riu balançando cabeça
-Da pra parar no próximo posto?- juliet pediu mais uma vez e todo mundo soltou um 'de novo?'
Paramos em uma pequena lancheira a beira da estrada, a loirinha correu para o banheiro e enquanto Miguel e Mika compravam lanches, vi Liv pálida sair do carro para tomar um ar. Confesso que estava começando a ficar preocupado com ela.
- Você está bem?
- Meu estomago, os calores e aqueles remédios pra menopausa estão acabando com meu metabolismo. Vocês homens tem tana sorte!
- Nao temos culpa de sermos os preferidos de Deus. - Falei em tom zombeteiro e levei um soquinho no ombro.
- O pior é que você esta certo, vocês não menstruam, não engravidam, não tem menopausa e no meio de tudo isso ainda não tem que lidar com uma sociedade machista, cheia de privilégios masculinos.
- Ta falando igual a minha mãe.
- Mas você poderia colaborar mais não acha? ao invés de só curtir os privilégios de ter nascido com um pênis - ela falou mudando o tom, num daqueles eventos bipolares que ela sempre teve mas que haviam se intensificado nas ultimas semanas
- Quer que eu compre chocolate? - Falei sem saber o que dizer, eu ja estava craque em tpm e menstruações, mas menopausa era um território inexplorado para mim.
- Não! mas gostaria que fizesse uma vasectomia, assim eu posso diminuir a ingestão de hormônios, porque infelizmente meu medico disse que meu corpo ainda pode levar anos pra se estabilizar e...
- Tá eu faço. - a interrompi e ela me olhou assustada
- Serio? Achei que diria não.
- Serio. Eu posso fazer isso. Na verdade, eu já estava pensando sobre isso há algum tempo, mas eu não podia propor neh?
- Porque não?
- Porquê você é maluca e ia achar que eu tinha motivos maiores além de dividir o fardo do controle de natalidade com a minha esposa. - falei e a vi arquear a sobrancelha.
- Por acaso você pensou em fazer essa cirurgia quando estava animadinho pra cima da colega de quarto da sua filha?
- Eu não estava animadinho - falei fazendo aspas no ar.
- Ah Noah, você mesmo confessou que ela mexeu com você e ai você pensa numa vasectomia na mesma época?
- Eu não disse que foi na mesma época, e era exatamente desse tipo de reação que eu falando. - falei e ela deu um tapa na própria testa e riu balançando cabeça.
- Desculpa, eu.. é que eh difícil pra nós mulheres envelhecer, voces homens envelhecem e ficam mais bonitos, mais charmosos e a gente é so ladeira a baixo. Sem falar em todas as questoes emocionais , eu to tomando um monte de comprimidos e ainda me sinto um lixo.
- Liv... -falei a abraçando por trás e pousando meu queixo em seu ombro. -Você é a mulher mais linda do mundo - sussurrei com meus lábios perto de seu pescoço - pra mim você está cada dia mais maravilhosa e sexy e... as crianças tao vindo.... -falei me afastando.
- Eca. - Mika pronunciou ao entrar no carro. - é sério... gente velha devia ser proibida por lei de demonstrações físicas públicas de afeto é nojento. - Concluiu e eu fiz uma careta. Pensei em dar uma bela resposta e mencionar aquela noite da camisinha perdida, mas decidi deixar passar, afinal nossa relação parecia estar progredindo e eu não quero foder com tudo.
Quando chegamos a propriedade, a enorme casa em estilo vitoriano de tijolinhos pintados de branco disposta em meio a um gramado verde e grandes tufos de hortências azuis senti aquela estranha sensação de estar em casa.
Quando meus pais compraram a casa do lago, eu devia ter por volta de cinco ou seis anos, iamos muito durante um tempo e eu adorava. Na época, não haviam smartphones ou wifi disponível naquela regiao, e meus pais eram obrigados a me ter como centro de suas intenções. Afinal, não queriam me ver boiando no lago no fundo da casa. Passava o fim de semana todo treinando rebatidas no gramado com meu pai ou jogando jogos de tabuleiro com mamãe, naquela época, éramos uma família.
Vi minha mãe no alto dos cinco degraus que davam pra área externa. Já havia um tempo que Susan havia desistido de pintar os cabelos e o grisalho já tomava conta de sua cabeça. Embora ela ainda fosse uma mulher linda e imponente os anos haviam deixado marcas em seu rosto e nem mesmo os caríssimos tratamentos estéticos conseguiam burlar o tempo. Senti meu peito apertado em pensar que provavelmente não a teríamos por muito mais tempo.
Subi a escadas e lhe dei um abraço apertado, como os que eu costumava dar quando era garoto, quando ainda não tinha colecionado mágoas e achava os meus pis as pessoas mais incríveis do mundo.
- Você está bem querido? Ela peguntou quando o abraço se prolongou.
- Eu te amo mãe -sussurrei e a vi abrir um sorriso nos cantos dos lábios e fiquei feliz por nao ouvir um '' o que foi que você aprontou noah?' e sim um eu também te amo filho, como resposta.
-Vamos entrar, vocês demoraram, devem estar famintos.
-E o Simon?
- Esta lá atrás, preparando o churrasco.
Bem, como nada na vida é perfeito, assim que cheguei ao quintal dos fundos, que hoje contava com uma área gourmet, me deparei com Simon preparando um churrasco vegetariano, regado a cenouras, couve flor, brócolis, tofu e pimentão.
- Isso é zoeira neh?
- Pergunte a sua filha, que sugeriu um cardápio vegano pro fim de semana e a vovó acatou porquê ela tem lindos olhos azuis e um bebê na barriga, então não pode recebe não como resposta, - Emma falou se aproximando e me dando um beijo na bochecha. - Acho que esse bebê é a nova fora dela - ela riu ao se lembrar de quando Juliet venceu o Miss fofura e se tornou uma pequena tirana.
- Deixa ela, em poucos meses haverá uma nova rainha e nós faremos uma comedora de carne - sussurrei pra ela de volta. - não vamos falhar dessa vez. Cade o agregado?
- Ele não veio - ela disse com uma cara estanha e percebi que alguma coisa havia acontecido entre ela e o Patrick.
- Quer falar sobre isso?
- Agora não, eu vou ver se a piscina já aqueceu, estou doida pra dar um mergulho.
Comemos o churrasco que todos fingiram gostar e depois fomos pra piscina. Eu tinha que admitir que apesar de ser um cara que não ligava muito pra luxo, eu amava o fato da minha mae ligar e as melhorias que ela havia feito na casa, como cozinha moderna, lareira a gás, hidromassagem de última geração e piscina aquecida, eram realmente incríveis. Teria aceitado os convites anteriores se soubesse disso.
Simon sentou do meu lado e me alcançou uma taça de vinho enquanto víamos as crianças pulando na piscina se divertindo.
- Obrigada, Simon a mamãe não tá doente ou coisa assim? Está?
- Não, ela está a bem tem uma saúde de ferro, vai enterrar nós dois com certeza. -Ele disse fingindo um brinde. Mas porquê está perguntando isso?
- Ela ainda não brigou ou desdenhou de ninguém desde que chegamos. Deve ser o recorde dela.
- Ela disse que ia tentar se controlar, que não quer que você e as menina fiquem evitando ela. E sinceramente eu sei e como sei, que a Susan pode ser uma mulher difícil mas, ela sente falta de vocês. E ode
eia quando ficam ignorando e escondendo as coisas dela.
- Eu sei.
- Que bom. - ele disse voltando o olhar pra Juliet. - Eu não quero estragar o fim de semana, mas a quantas anda processo. Ja fizeram o dna?
- Não, até iríamos fazer a coleta, mas o medico disse que teria risco pro bebê, então decidimos esperar até o nascimento.
- Vai atrasar as coisas. E a polícia vai diminuir o ritmo das investigações das outras denúncias.
- Sim, sabemos disso mas não vale a pena arriscar o bem estar delas, se alguma coisa acontecer com essa neném eu acho que ela não aguentaria. A Juliet tem sido tao forte, tão determinada, eu tô muito orgulhoso dela. - Falei e ele concordou com a cabeça
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Oi gente finalmente consegui pagar o concerto e resgatar meu celular, obrigada pela paciência, prometo que até o fim do mês essa história estará terminada. Muito obrigada pelo carinho 😘
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