Dias de cão - I
Dois meses se passaram e agora, a gravidez de Juliet era impossível de ser disfarçada. Apesar de tudo estar correndo bem com ela e com a bebê os últimos dias foram tomados por uma tensão imensurável.
Com a proximidade da primeira audiência, Juliet estava muito nervosa e diferente de Emma e eu, que quando ansiosos comemos até pedra se colocasse um pouco de bacon por cima, Juliet não conseguia comer. E mesmo quando ela se forçava pela bebê, ela acabava vomitando e com isso ficava mais nervosa.
一 Olha só cereal colorido, sem as verdes 一 Falei colocando uma tigela na frente dela que foi recebida com cara de nojo. 一 É sério Juliet eu passei meia hora tirando as verdes, depois esquentei o leite na temperatura ideal e você não vai nem provar?
一 Desculpa pai, mas eu não tô a fim de vomitar de novo.
一 Se continuar sem nada no estômago vou ter que levar pro hospital. 一 Falei sentando ao lado dela usando a mesma chantagem de quando ela tinha cinco anos 一 Eu sei que está nervosa, mas tem que tentar relaxar um pouco. Não vai ser fácil e você precisa estar forte.
一 Vai ser a primeira vez que eu vou ver o Theo depois daquele dia. Eu sei que não foi ele, mas mesmo assim eu estou o acusando de uma coisa horrível pai.
一 Você sabe porquê estamos fazendo isso Juliet. E não tem que se sentir culpada por nada, aqueles garotos, os pai deles também eles são abusadores. Não sabemos o que aconteceu ao certo, mas acha mesmo que o Theo não sabia que tinham colocado alguma coisa na sua bebida? Ele bebeu com você? Deu um gole que fosse pra experimentar? 一 falei e percebi que ela forçou a mente para tentar lembrar.
一 Eu acho que não 一 eu acho que ofereci a ele e ele disse que preferia cerveja. 一 ela falou baixando o olhar visivelmente sentida.
一 Mesmo que o Theo não tenha feito nada aquele dia, ele mentiu pra você, te colocou contra a sua família, te deixou numa situação vulnerável e depois fez você se sentir um lixo. 一 Falei e ela assentiu com a cabeça buscando aconchego num abraço.一 Ah meu amor, eu sei o quanto dói mas você precisa aceitar que o Theo não é um cara legal, não precisa ter pena dele. Você está sendo muito forte e corajosa, como sempre foi, ninguém nessa família enfrentou mais coisas quanto você, é a nossa guerreirinha.
一 Eu só queria que as coisas dessem certo pra mim, uma vez. Eu gostava tanto dele pai, tanto...
一Eu sei, decepções amorosas são horríveis e me desculpa se eu não fui muito sensível com isso. Mas vem cá, 一 a puxei a frente de um espelho 一 você é uma garota linda, inteligente, com uma avó podre de rica, vai ter uma bezinha que vai poder estrelar um comercial de fraldas e o pai mais gato do Canadá. As coisas já deram muito certo pra você, essas pedras no caminho e sim as suas foram pedras bem grandes, mas você já deixou muitas pra trás e vai deixar essas também. E você tem a mim e a sua família que se você fraquejar a gente empurra, chuta seu traseiro pra cima, mas de um jeito ou de outro você vai pular essa pedra também, okay? 一 falei e ela me abraçou forte.
一 Você tem um jeito estranho de motivar a gente.
Dois dias depois estávamos na sala da juíza aguardando a primeira audiência. Devido aos dois serem menores de idade tudo deveria ocorrer em segredo de justiça, seria uma audiência fechada apenas com a presença dos responsáveis legais e seus respectivos advogados, juiz e todo o pessoal do tribunal.
A doutora Cooper deu as últimas instruções pra Juliet, me mandou ficar de bico calado e aguardamos a nossa vez de entrar. Diferente do que vemos na televisão, com aquelas grandes salas onde há dezenas de pessoas, móveis de mogno e juízes sérios e uniformizados com um martelo na mão, a audiência preliminar parecia algo bem mais informal.
Havia uma mesa grande onde de um lado, Theodor, seu pai e o advogado da família vestidos em termos pretos já estavam sentados, uma juíza num terninho a ponta da mesa, uma escrivã e um policial devidamente fardado. Minha filha hesitou por instantes quando seus olhos encararam os de Theodor, porém respirou fundo e tomou seu lugar.
一 Bom dia a todos. Sou a doutora Eleanor Mores e vou presidir esse caso 一 Disse a juíza tomando alguns papéis em mãos e lendo os autos oficiais do caso, que contava em uma linguagem culta, a acusação feita por Juliet e a defesa relatada por Theodor durante o primeiro depoimento. 一Antes de começarmos, querem que tenham em mente uma coisa, e isso estou falando para ambos, se querem retificar alguma coisa em seus depoimentos façam isso agora pois a partir desse momento, vocês dois estão sob juramento e não devem falar nada além do que realmente aconteceu. Toda e qualquer incoerência ou gata com a verdade será analizar e pode ser motivo de penalizações criminais. Senhorita Juliet? Alguma resolva no seu depoimento?
一 Não doutora, foi tudo como eu disse. Não lembro de muita coisa e não sei o que aconteceu... 一 ela fez uma pausa longa,一 mas quero saber o que houve e tenho motivos pra acreditar que o Theodor sabe o que aconteceu comigo.
一 Senhor Theodor Callinham alguma ressalva? 一 Ela questionou e o garoto olhou para o pai e pro advogado que assentiu positivamente com a cabeça.
一 No meu primeiro depoimento eu esqueci de mencionar uma coisa... Dois dias antes da festa, depois da escola eu ia levar a Juliet pra casa e fomos até o pier a gente... Se divertiu um pouco no carro, não foi uma relação sexual completa, mas...
一 Isso mentira!一 Juliet protestou 一 ele tá mentindo.
一 Senhorita johnson por favor, vai ter oportunidade de contestar tudo que o senhor Callinham falar em outro momento. 一 A juíza a repreendeu e a doutora Cooper cochichou algo a minha filha. 一 Pode continuar senhor Callinham.
一 Ela acha que ela tá grávida porquê foi abusada na festa, mas isso não aconteceu. Eu errei brigando com ela daquele jeito na escola. Quando ela me contou, assim como no dia do depoimento, eu não lembrei daquilo. Foi uma coisa rápida, mas pode ter acontecido e eu sei que ela tá muito chateada pelo que eu fiz... Mas Juliet, tá tudo bem podemos resolver isso, nos dois sem todo esse circo...
一 Senhor Callinham por favor não dirija a palavra a senhorita Johnson. 一 A juíza o alertou 一 Mais alguma coisa senhor Callinham?
一 Não doutora era isso mesmo.
一 Senhorita johnson alguma coisa a declarar?
一 Ele está mentindo, não aconteceu nada pelo menos nada em que eu tivesse consciente o suficiente pra me lembrar! 一ela retrucou irritada 一 Se eu tivesse a mínima dúvida que essa gravidez tinha acontecido de uma forma consensual eu não estaria me expondo aqui, expondo o meu bebê a essa situação horrível.
一 Certo então eu posso dar início ao processo já que não há nenhum entendimento do caso sobre as partes? 一Questionou a juíza e Cooper disse que sim porém o advogado dos Callinham pediu a palavra.
一 Meritíssima, esse processo é um verdadeiro gasto desnecessário diante da falta de conhecimento da vida por esses dois jovens. Não houve crime algum aqui, apenas dois adolescentes com problemas pra se entender sobre os fatos. Meu cliente assume que errou quando negou a relação consensual que havia acontecido antes do dia mencionado na festa a senhorita johnson por sua vez, certamente ficou muito confusa e assustada com o gato de estar gestante e o suporto pai não ter uma atitude favorável. Como pode conferir, eu adicionei as provas do processo sobre a instabilidade emocional a tentativa de suicídio da reclamante. Ela ficou muito abalada certamente e isso pode claramente está mexendo com o intendimento dela dos fatos. Meu cliente está disposto a se retratar publicamente e assumir a paternidade da criança já que a senhorita Johnson claramente manteve a gravidez, que ela diz ter sido resultado de um possível estupro. 一 ele deu um pequeno sorriso 一 uma atitude que como a senhora certamente sabe, vai totalmente contra a atitude da maior parte das vítimas de abuso.
一 Minha cliente não diz ter sido resultado de um estupro, foi um estupro. Ela foi dopada e violada, com milhares de meninas são todos os anos nessa cidade. Inclusive como adicionei nos autos, há casos semelhantes envolvendo a mesma família. 一 Doutora Cooper disparou com a voz firme.
一 Protesto meritíssima especulação! 一 o advogado levantou a mão
一 Protesto negado, não estamos em julgamento doutor Jones isso é apenas uma audiência preliminar. Pode continuar doutora Cooper.
一 Se não fosse a gestação minha cliente passaria a vida sem saber o que havia acontecido e um estuprador continuaria livre pra continuar a praticar esse tipo de crime. É muito conveniente que seu cliente tenha tido essa epifânia e lembrado de uma relação consensual que minha cliente nega, e que ele mesmo negou veementemente durante seu primeiro depoimento. Querer assumir a paternidade dessa criança depois de tudo que houve é uma tentativa esdrúxula de tentar acabar com esse caso. Ele sabe que não houve relação consensual que possa explicar a gestação e está tentando ludibriar e impedir que a justiça seja feita pelo que aconteceu com a minha cliente. Repito, uma garota menor de idade, que foi drogada e violada durante uma festa na casa do até então namorado. E que agora acabou de ter a sua fala atacada pelo ato louvável de manter uma gestação que foi imposta a ela durante um ato repugnante e vil praticado dentro da propriedade dos Callinham.
一 Não havendo possibilidade de entendimento entre as partes eu aceito o caso e ele será julgado pelo estado de Toronto. Como medida impressindivel aos atos do caso solicito um exame de DNA para reconhecimento da paternidade da gestação da senhorita Juliet Johnson. A coleta de DNA poderá ser feita nos próximos dias se considerada segura para gestante e a criança ou protelada até o nascimento caso aja alguma restrição médica, dou essa audiência por encerrada.
Como prometi a advogada, eu não havia dado um piu dentro da sala de audiência, e provavelmente a recomendação do advogado dos Callinham foi a mesma. Pois Alfred também permaneceu num silêncio absoluto, porém assim que saímos da sala ele chamou nossa atenção.
一Será que teriam cinco minutos pra conversarmos de forma clara e tentarmos resolver essa questão de maneira amigável?
一 Você só pode estar me zoando 一 respondo no ato e Cooper me puxou pelo braço.
一Ah com certeza ele tá 一 ouvi a voz da Emma cortar o silêncio 一 porque não é possível que alguém pense que possa resolver um crime de forma amigável. Vi Emma tomando lugar ao lado da irmã.
一Porquê as crianças não vao tomar um sorvete prara os homens poderem conversar? Eu tenho certeza que o senhor Johnson não quer que essa situação tome proporções maiores do que necessitam.
一Eu não tenho nada pra falar com nenhum de vocês. Só fiquem longe da gente até colocarmos a merda do seu filho na cadeia.
一 Vamos senhor Johnson. 一 Cooper continuou me puxando pelo braço 一E senhor Callinham, qualquer acordo que queiram propor deve ser feito de maneira formal entre os representantes jurídicos do caso. 一 Ela disse findando o assunto e seguimos em direção a saída, assim que chegamos a porta principal, uma pequena equipe de reportagem enfiou um microfone na cara de Juliet perguntando sobre a denuncia.
一 Minha cliente não tem nada a declarar 一 Cooper tomou a frente colocando o braço sobre o ombro de Juliet que ficou petrificada com a pergunta. 一Vamos Juliet não olhe pra eles 一 disse enquanto Emma mandava todo mundo cuidar da própria vida.
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