Minha vida em perfeitas escalas - Parte I
Minha vida em perfeitas escalas - Parte I
Voltei a atenção a Antonela e me desvencilhei de Lacey com um sorriso amarelo, não que eu achasse que estava fazendo algo errado, mas mesmo assim, a situação era um tanto constrangedora.
— Eu não quis atrapalhar... É que está todo mundo brigando e temo que você acabe ficando órfão — ela disse com o rosto vermelho.
— Se eu tivesse no seu lugar seria tentadora a possibilidade de ficar órfão — Lacey falou baixinho revirando os olhos e eu a encarei por instantes — Se a Chloe morrer você vai poder parar de fingir que gosta dela só porque ela é sua mãe biológica e se a Susan bater as botas, você fica milhonário e sem alguém que te processa cada vez que faz algo que ela não gosta. Não venha me dizer que não é tentador — ela explicou.
— Até pode ser, mas não finjo que gosto da Chloe eu apenas a suporto com educação como qualquer adulto faria e eu não tenho tanta certeza que eu esteja no testamento Suzan, então é melhor ir apartar a briga das cascavéis.
Voltei a sala de jantar e minhas mães continuavam a discussão sobre qual das duas era uma mãe menos pior. De um lado, uma ex viciada que vendeu o próprio bebê recém nascido a estranhos, do outro a mulher que quis ter um filho, mas que demorou quase vinte anos para decidir ser realmente uma mãe para ele, era um páreo difícil. No meio disso Joseph e Nate tentavam acalmar Corine que na certa, estava nervosa por algo cruel que Susan havia falado sobre Lacey. Ao fundo, Vick e Derek discutiam enquanto Sam e Simon olhavam apáticos a situação. E é claro ainda havia as crianças, Miguel assistia empolgado gravando tudo no celular, Juliet tinha aquela cara de quem estava pronta para abrir um berreiro, Sophia no cadeirão afundava as mãos no prato de comida e passava no rosto, Emma ocupada demais com seu bife para se importar com algo fora a mesa e eu não fazia ideia de onde Katherine havia se metido.
— Gente, chega! — falei e foi como se não fosse nada — pessoal vocês são os adultos, as crianças estão vendo isso — e ninguém deu a mínima. Aí Juliet começou a chorar, sabe aquele choro estridente capaz de rasgar nossos tímpanos em pedaços? Bom, pelo menos aquilo sim chamou a atenção de todos.
— Já chega, meu amor — falei a pegando no colo.
— Viu o que você fez! — Minha mãe avisou Chloe.
— Pelo amor de Deus gente já chega! Susan, Chloe, vocês duas foram mães terríveis e o passado já foi, não dá pra concertar — falei e minha mãe adotiva me olhou com uma cara de "eu não acredito que está dizendo isso" — Mas vocês podem ser avós incríveis para essas meninas, e eu não sei porque se odeiam porra!
— Papai não pode falar palavrão — Juliet me repreendeu ainda no meu colo tapando a minha boca com a sua mãozinha.
— Desculpa querida, mas voltando ao assunto. Chloe você me trouxe ao mundo e eu te agradeço por isso e mãe, se a Chloe e Joseph não tivessem sido jovens irresponsáveis, você não me teria na sua vida — falei e logo refleti mentalmente, afinal, eu tbm nunca tinha sido o melhor dos filhos, — okay péssimo argumento, mas se não me tivesse na sua vida, não teria a Emma e a Juliet, e provavelmente nem o Simon, porquê talvez o papai não tivesse infartado tão jovem se eu não tivesse dado tanto stress para ele. E Corine, Joseph, eu achava vocês uns remendos malucos por deixarem a Lacey ir para longe sem questionar, mas vocês são incríveis. Vocês a amam, a respeitam e querem a felicidade dela, mesmo que isso os deixe sem dormir a noite e eu espero um dia consiga ser assim. Derek você precisa de terapia, é sério, você só pode ser viciado em sofrer cara, Eu vi você correr atrás dessa mulher anos e agora que a tem, tá fazendo de tudo perder. E Vick puta a merda para de bancar a atriz enrolada de novela mexicana e conta logo que tá grávida! — Falei e todos voltaram a atenção a Victória que me olhou como se quisesse me matar.
— Você tá grávida? Como o Noah sabe e eu não?— Derek voltou- se a ela parecendo ainda mais irritado.
Okay, vocês devem pensar que depois disso tudo se resolveu, afinal nos filmes quando as pessoas jogam as verdades no meio de um jantar de família, geralmente cada um analisa seus atos, reflete e pede desculpas, certo,? Bom, mas não é bem assim que isso acontece por aqui e acabou que Derek conseguiu me tirar do sério a ponto de despertar aquele meu lado mau, o Noah sarcástico e cruel que eu tentava manter adormecido desde que Emma nasceu e por pouco, não tivemos nossa primeira briga de socos e pontapés. Mas ficou apenas num empurrão e nas ofensas cruéis que devia estar atreladas ao nosso DNA. Vendo as coisas pelo lado bom, que irmãos podem dizer que tiveram a primeira briga depois dos 30? O lado ruim é que diferente de Emma e Juliet que fazem as pazes dois minutos depois de rolarem pelo chão puxando o cabelo uma da outra, certamente ficaríamos muito tempo sem nos falar.
Enfiei as meninas no carro com a ajuda de Antonella e as levei para casa.
— Olha eu sabia que seria desastroso, mas não imaginei o quanto, me desculpa por isso tá? — falei entregando Sophia adormecida no colo dela.
— Tudo bem, é bom saber que existem famílias mais malucas que a minha.
— Sobre a Lacey, ela vai voltar para África a gente só estava meio que se despedindo. Eu não quero que tenha ficado sei lá, um mal entendido… Embora eu não saiba exatamente em que ponto estamos.
— Noah, você é um cara legal, mas por mais que tenham terminado, ela ainda é a sua primeira opção e por mais que eu tenha curtido o tempo que ficamos, eu não vou ser a segunda opção de ninguém. Eu mereço mais que isso — ela disse com aquela sinceridade que eu adorava nela.
— Minha família te assustou, não foi? — falei tentando tirar o foco do óbvio.
— Eu confesso que fiquei intimida quando a sua mãe ameaçou a sua outra mãe com o garfo, mas no fim, eu só quero alguém que me olhe como você olha para Lacey ou como a Emma olha para um pedaço de bife que é praticamente a mesma coisa. Um amor não apaga o outro, só serve para a gente se machucar ou para machucar alguém então, acho que devia tirar um tempo pro Noah. — ela falou com um sorriso compreensivo — Bom eu preciso entrar, essa garota está pesada — disse ajeitando Sophia sonolenta no ombro e me estendeu a mão — Amigos? Mas acho melhor só amigos dessa vez tipo ... sem benefícios, somos caretas demais pra sustentar uma relação assim — ela disse levantando as sobrancelhas.
— Amigos — Retribui o aperto de mão e depois a vi entrar no prédio. Voltei ao carro e Juliet ainda estava ferrada no sono na sua cadeirinha e Emma disfarçou não estar espiando pelo retrovisor.
— Antonella não é mais sua namorada? — ela não aguentou a curiosidade quando me sentei no banco do motorista.
— Ela nunca foi minha namorada éramos só amigos. — expliquei.
— Posso beijar meus amigos meninos na boca?
—Não, não se beija os amigos naboca Emma.
— Então ela era sua namorada — ela concluiu abrindo os braços.
— Bom, não somos mais, feliz?
—Sim — disse com um sorrisinho.
—Filha, você entendeu que a Lacey não vai voltar para casa, não entendeu? Ela está feliz lá na África e temos que ficar felizes por ela.
— Eu entendi, ela já me explicou papai. Mas ela vai ser a minha mamãe de longe pelo computador … você sabia que as pessoas namoram pelo computador? Deve ser bem legal, papai pensa, sempre que conversarem vai poder por emoticons e quando não quiser conversar é só dizer que a internet não funciona, como você faz comigo e com a Juliet quando não quer que a gente assista os vídeos no YouTube.
—Emma.... Lacey e eu não vamos voltar querida, nós decidimos isso. Vamos ser só amigos, tá bom?
—Tá bom, mas lembra que não se deve beijar os amigos na boca. E eu sei que quer dar beijinhos na mãe Lacey — ela falou com uma carinha de sapeca e eu me forcei entre os bancos.
Eu quero dar beijinhos em você — falei me curvando sobre ela e enchendo ela de beijos ouvindo os gritinhos agudos entre as risadas.
As levei para casa e as pus na cama, Nate tinha ido pro hotel com os pais e Lacey, então, não me preocupei em passar a noite toda acordado tomando café e pensando em tudo que tinha rolado no jantar e depois dele.
Antonela tinha razão, eu não pensaria duas vezes em deixar o que tínhamos para ficar com Lacey se ela me aceitasse e ela, e garota nenhuma, aliás ninguém, deveria ser tratado como o step de alguém. O melhor que eu poderia fazer era deixá-la seguir o rumo dela e eu o meu, mas por outro lado, Lacey foi bem clara que apesar de ainda ter um carinho e sem querer me gabar, tesão, não, muito tesão por mim e amar as minhas meninas ela não tinha mais nenhum interesse no nosso relacionamento, ou seja, era melhor eu me aceitar como um pai solteiro de novo. Me dar um tempo e também dar um tempo para minha viking entender a nossa nova dinâmica familiar com a Lacey.
Meia hora depois de pegar no sono, acordei com o telefone tocando, olhei no relógio e ainda não eram nem sete da manhã. Levantei do sofá e atendi o mais rápido que pude, antes que o barulho acordasse as meninas e eu perdesse mais uma ou duas preciosas horas de sono.
— Alô Noah? — Ouvi a voz de Greyson no telefone e quando pensei em desligar — Não desliga por favor, só posso fazer uma ligação e eu preciso saber como ela está, não me falam nada, por favor.
— Ela está bem, mas não graças a você no que tava pensando?!
— Eu não estava, droga Noah! Você e sua mãe estavam pedindo uma ordem de restrição para mim eu achei que nunca mais uma poder chegar perto da minha filha. — ele disse com um tom nervoso.
— Ela não é sua filha, e se quer saber, eu era contra essa ordem, até você fazer aquela merda de tirá-la do hospital. Ela podia ter morrido Greyson!
— Desculpa tá bom?! Ela estava bem, eu não achei que ela pudesse piorar eu só queria ficar com a minha filha! Nunca fez uma loucura por alguém que amava? Eu sei que não acredita, mas eu amo aquela garotinha desde o momento que soube que ela era minha filha. — ele afirmou e eu respirei profundamente para não desligar o telefone na cara dele.
— Já fiz sim, eu peguei um avião com uma bebê pra outro país, porque minha mãe achava que eu não era um bom pai e sabe de uma coisa? Ela estava certa! Porquê um bom pai não coloca o seu egoísmo e as suas vontades acima dos seus filhos e eu aprendi o que era amor no momento que eu abri mão de brigar pela Emma porque eu simplesmente não queria vê-la sofrendo. E hoje, eu sei que o meu maior ato de amor foi colocá - la acima de mim, acima das minhas vontades e dos meus sentimentos. Naquele dia eu aprendi a ser um pai de verdade e eu sinceramente espero que você aprenda um dia, mas até lá ou até que a Juliet tenha idade o suficiente para entender e te querer na vida dela, eu vou te manter longe Greyson e eu sei que não tô sendo cruel ou egoísta, porque afastar um pai da filha é uma das coisas que eu mais odiaria fazer, mas eu preciso, porque eu tenho que proteger a minha filha, porque é isso que um pai faz Greyson — falei irritado quase gritando e ouvi apenas silêncio do outro lado e depois o bipe da ligação sendo finalizada. Respirei fundo e virei em direção ao corredor e vi Juliet arrastando seu unicórnio de pelúcia pela mão, enquanto esfregava os olhinhos com sono.
— Eu estou com sede — ela disse sonolenta e eu respirei aliviado por ela não ter ouvido nada.
No domingo fui ao hotel me despedir da minha mãe, passar uma bronca pela confusão na casa do Derek e agradecer o Simon pela ajuda com o caso do Greyson. Mas como Susan Johnson nunca sai por baixo, ela fez eu me sentir um tremendo canalha por não defendê-la das ofensas da Clhoe, depois de tudo que ela fez por mim e pelas meninas e ainda humilhou o Simon quando eu o agradeci, dizendo que não devia nada a ele, afinal, estava sendo muito bem pago para isso. Bem, esse era o jeito Susan de ser.
A deixei com as meninas e me afastei para varanda onde Simon tomava um cálice de vinho apreciando a vista da cidade depois do esporro da minha mãe.
— Porquê alguém escolhe estar na vida dela? — questionei e ele voltou o olhar a mim.
— Trabalho para sua mãe há alguns anos, isso não foi nada — ele respondeu com um leve sorriso — E tirando os 30% megera fria, calculista e manipuladora, ela é uma mulher carinhosa, inteligente e inspiradora.
— Só 30%? — eu ri — deve estar mesmo apaixonado — falei e ele riu.
— Ela não é tão ruim, se você não for um concorrente dela ou alguém que deve dinheiro pra ela. E sabe de uma coisa, Noah — ele fez uma pausa — eu sei dos problemas de vocês, mas devia voltar pro Canadá. A sua mãe não é mais uma jovenzinha e por mais que seja saudável e por Deus eu realmente espero que ela fique por muito tempo, ela esta envelhecendo e sente a sua falta, e tenho certeza que embora ela não seja uma adoradora de criancinhas, o que ela mais quer é ver as suas meninas crescerem.
— Ela te pediu para dizer isso? — perguntei desconfiado.
— Não, ela me mataria se soubesse que eu estou gentilmente chamando ela de…
— Velha? — completei — Eu sei, e sei que deveria ficar mais perto dela, mas é tão difícil…
— Era difícil, pode não ser mais. As coisas mudaram, vocês mudaram. Devia pelo menos dar uma chance a ela — ele disse dando um tapinha no meu ombro.
— Eu vou pensar nisso e eu não vou te dizer para cuidar dela e não fazê-la sofrer, porquê se você fizer isso, ela mesmo vai acabar com você e família e com certeza você já sabe disso, então — estendi a mão — Boa sorte e bem vindo a família.
CONTINUA….
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro