[Cap 32] As únicas mulheres da minha vida - Pt II
As únicas mulheres da minha vida
Derek não gostou nada do que eu disse, mas fazer o que, se ultimamente era eu quem tinha de despejar doses de realidade sobre ele e não o contrário.
— Olha só Noah, esse jantar é uma chance da nossa família conviver e se unir como uma família normal. Nós já somos adultos tivemos uma merda de infância okay, mas e as crianças? — ele me encarou profundamente — podemos fazer com que elas tenham lembranças melhores que as nossas, com avós, tios e primos, eu sei que parece loucura, mas porque não tentar?
— E porque não convidou seus pais adotivos também? — questionei semicerrando os olhos.
— Você sabe muito bem o porquê. — ele respondeu já com aquela ruga na testa que nós dois criamos quando ficamos irritados.
— Bom devia superar, pelo menos tentar como eu estou fazendo com a Chloe, não é o que você sempre diz que temos que dar uma segunda chance? — falei e vi Sam se afastar devagar.
— É totalmente diferente, Chloe é nossa mãe biológica e ela não teve escolha. Os meus pais adotivos optaram por me afastar da vida deles e acho que já chega! Hoje é para ser uma noite especial para todos, podia tirar um pouco desse seu pessimismo e tentar me ajudar a fazer dar certo, se não for por mim que seja pelas suas filhas. — disse me deixando sozinho com o copo na mão.
Respirei profundamente e andei pelo corredor largo com algumas obras de arte e fotos de família, até chegar à sala de jogos, onde Emma e Miguel jogavam videogame enquanto Antonella maquiava Juliet e Katherine com um jogo de maquiagem da Barbie. Dei um peteleco na cabeça do Miguel para desconcentrá-lo e dar alguma chance para Emma no jogo e segui para perto de Juliet.
— A máscara Julie — falei e ela puxou rapidamente cobrindo parte do rosto.
— Eu só estava ficando bonita para festa papai — ela voltou-se a mim com os olhos azuis brilhantes recolocando a máscara no lugar — mas agora ninguém vai ver o meu batom — disse desanimada.
— Peraí — Antonela puxou o rostinho dela e desenhou uma pequena boca por cima da máscara com o batom cor de rosa — agora vão ver o seu batom.
— Porque não vem para a festa dos adultos? A babá vai olhar a Sophie também.
— Ah eu… eu estou um pouco deslocada, na verdade acho que prefiro ficar aqui com as crianças.
— Eu também, mas a vida adulta nós chama — falei estendendo a mão a ela. No caminho até a sala de estar, dei uma prévia básica sobre meus parentes e minha complicada história de vida, afinal, certamente ela iria ouvir muita coisa durante o jantar e assim não ficaria tão perdida quando as facas e garfos começassem a voar.
Quando retornamos, os O'Connor já haviam chegado, Corine me deu um de seus abraços apertados e Joseph fez o mesmo. Fazia mais de um ano que não via o meu pai e apesar de gostar dele, o distanciamento foi inevitável. Talvez tenhamos percebido que por mais que tentássemos, jamais teríamos a mesma relação que ele tinha com Nate e Lacey e deixamos de forçar algo que não ia rolar. Acabou que eu era mais um genro que um filho, então, quando Lacey decidiu sair da minha vida, o contato com ele se perdeu mais ainda.
— Olha só cortou o cabelo?— ele disse me olhando de cabeça a baixo.
— Não foi uma escolha minha — respondi lembrando do fatídico dia que cochilei nas mãos das duas mini cabeleireiras.
Apresentei Antonella a todos e por mais que Lacey tentasse disfarçar, percebi o incômodo que a presença dela causou. Principalmente quando Emma cumprimentou a todos e depois sentou no colo da ruiva. Mas a provocação da Emma não era nem de longe o ponto mais tenso da festa, era a segunda vez que Joseph e Chloe se viam depois de mais de trinta anos e a coisa só piorou quando minha mãe e Simon,vestidos como se fossem para um baile de gala adentraram a porta. Na verdade, eu não tinha a menor ideia do porque do Derek tê-la convidado, ela até ia com a cara dele, mas não suportava a Vick por ter me defendido quando ela tentou tirar a guarda de mim, tinha um certo desprezo pelos O'Connor que para ela ela não passavam de aventureiros desajustados e eu nem preciso comentar o que ela pensava sobre a Chloe.
— E como a pequena está? — Joseph me perguntou ao lado de Corine, bem eu não queria ficar ligando o tempo todo, mas ficamos muito preocupados com a cirurgia e depois o sequestro….O que deu naquele maluco?
— Ele é o pai biológico dela, minha mãe vem tentando abafar esse assunto na mídia, mas assim que Greyson ser deportado ao Canadá todos vão saber mesmo — falei com sinceridade, — ela já sabe — disse pousando o olhar sobre Juliet que tentava aprender um jogo de mãos com Lacey enquanto Emma as observava com a cara da Samara ao sair do poço. — mas nada mudou certo? Juliet é minha filha e nada no mundo vai mudar isso, então se puderem agir com naturalidade eu agradeceria muito — falei sendo encarado por um tempo com um certo espanto pelos dois até que Derek pegou uma taça de champanhe e o pessoal do buffet começou a servir a todos, incluindo as crianças com tacinhas coloridas de refrigerante de limão.
— Primeiramente eu gostaria de agradecer a todos pela presença, temos muitos motivos para comemorar essa noite, mas principalmente acho que a recuperação da Juliet é o maior delas. Então, a palavra deve ficar com meu irmãozinho aqui — disse e todos voltaram o olhares para mim novamente.
— Bem eu agradeço a Vick e ao Derek por terem coragem de dar esse jantar, afinal não sejamos hipócritas e no momento metade das pessoas aqui arrancaria o olho da outra com um garfo — falei e ouvi sorrisos contidos — mas bem eu estou feliz por todos vocês terem vindo, vem cá Juliet — a chamei e ela veio prontamente para meu colo — foram semanas difíceis, muito mesmo, por momentos eu achei que não fosse aguentar, mas vocês todos sempre estiveram lá comigo, fosse com uma mensagem, orações, apoio de todo tipo, até toalhas e um chute na bunda me mandando tomar um banho — olhei para Sam que levantou a taça num brinde silencioso — eu só quero dizer obrigado a todos, por lutarem com a gente e por vencerem com a gente.— Disse e Juliet sussurou baixinho no meu ouvido.
— A Juliet disse para mim agradecer os presentes e para lembrar que o aniversário dela está chegando, que veste tamanho seis e gosta de bonecas Lol. E os presentes que trouxeram não abonam os que deveriam ser mandados na data — falei e todos riram fazendo Juliet esconder o rostinho no meu percoço envergonhada.
— Eu não falei a última parte — ela disse em sua defesa.
Fomos para a enorme mesa de jantar, Emma continuava a encarar Lacey com as feições de criança de filme de terror, mas eu já estava me sentindo vitorioso por ela não ter tido outro acesso de raiva como no hospital.
— Mamãe pode cortar a carne para mim — a baixinha falou estendo o prato a Antonella que arregalou os olhos sem reação assim como todos na mesa.
— Filha — intervi pegando o prato — o papai corta — falei rezando para que todos ignorasem a fala da pequena, mas é claro que Susan não deixaria aquilo passar batido.
— Então parece que ganhei uma nova nora? — Ela falou provocativa voltando o olhar a Lacey no outro lado da mesa, que deu um sorriso irônico e esmagou um guardanapo com força.
— Não, eu… Noah e eu somos amigos. — Antonella disse com o rosto tão vermelho quanto seus cabelos.
— Não é verdade, amigos não beijam na boca um do outro e também não ficam se olhando como tontos — a baixinha insistiu e eu fiz aquele olhar de "fecha essa matraca Emma" porém ela continuou — Eles vão se casar e eu vou ganhar uma irmãzinha e uma mamãe nova isso não é muito legal titia Lacey. — finalizou voltando o olhar para a morena.
— Emma já chega, acabou o jantar para você — falei e ela me encarou dizendo não ter feito nada — Vai pro sofá e vai ficar lá até irmos para casa, entendeu?
— Ah querido, não pode deixa lá de castigo por ser uma criança observadora.
— Mãe pode deixar que eu educo as minhas filhas okay? — respondi grosseiramente a Susan enquanto Emma se levantou e saiu pisando firme em direção a sala — e nada de bater os pés — falei e ela bateu mais forte ainda contra o assoalho. Respirei profundamente e contei mentalmente até cinco —Desculpem por isso ela está numa fase difícil.
— Você exagerou, devia estar feliz por ela gostar da sua nova namorada — Susan a defendeu.
— Ela só está fazendo isso para provocar a Lacey, então já deu desse assunto certo? — Insisti.
— Noah tem toda a razão, se não cortar esse tipo de comportamento agora, quando ficar mais velha vai ser muito mais difícil.— Chloe intrometeu-se dando um gole no vinho — Eu sempre digo para Vick ser mais firme com a Katherine, crianças precisam de limites.
— E o que você sabe sobre criar filhos Chloe? — Minha mãe questionou em tom de deboche — Afinal, você não criou nenhum dos seus.
— Odeio ter de concordar com a Susan — Vick arqueou as sobrancelhas.
— Vamos nos acalmar sim? — Joseph interveio — Estamos aqui para comemorar.
— Exatamente e a minha neta agora está sozinha de castigo e com fome, porque a sua filha a largou como se fosse um cão pulguento — Susan voltou-se aos O'Connor.
— A minha filha teve os motivos dela, isso não… — Corine tomou a palavra e foi interrompida por Lacey.
— Olha só Susan eu sei que você está muito feliz que a suburbana da Filadélfia saiu da vida do seu filho e das suas netas, então não seja hipócrita.
— Gente, já chega! Olha as crianças! — Derek apontou Juliet, Miguel e Katherine na ponta da mesa que observavam tudo com curiosidade.
— Tudo bem, podem continuar eu adoro ver adultos brigando — Katherine sorriu.
— Gosto mais quando eles saem na porrada! — Miguel disse gesticulando com as mãos.
— Com licença, eu vou ver como a Emma está— Lacey se levantou enfurecida.
— Mãe! Tinha que falar isso?
— Tão rica e instruída e não sabe a hora de ficar calada — Chloe retrucou.
— Eu não vou nem me dar ao trabalho de responder isso — Minha mãe deu os ombros encarando Clhoe com desprezo enquanto Simon tentava disfarçar servindo a taças de vinho na mesa.
— Será que vocês duas podem parar?!
— pedi a elas.
— É a sua mãe que está agredindo a nossa mãe desde que pôs os pés aqui — como eu previa Derek saiu em defesa de Chloe.
— Não, eu não vou entrar nessa — falei me levantando — Com licença, não vou ser árbitro de briguinha de terceira idade — falei e as duas arregalaram os olhos ofendidas — Eu volto logo — falei para Antonella e vi Sam surrar um "Bem vinda a família" para ela enquanto eu saía.
Caminhei até a sala de estar e vi Emma com os braços cruzados sentada no sofá, Lacey estava abaixada a sua frente falando baixinho e me aproximei com cuidado.
— Eu sei que está zangada e que está doendo muito, mas vai passar, e vai ser mais rápido se você conseguir entender que mesmo longe eu ainda posso ser sua amiga. — ouvi Lacey dizer acariciando o rosto dela.
— Você não me ama mais, você não me quer mais como sua filhinha — ouvi Emma responder tentando manter o narizinho empinado.
— Você sempre vai ser minha filhinha do coração, e não importa se estou aqui ou na África eu sempre vou amar você do mesmo jeito. Entende?
— Não. — Ela respondeu baixando o olhar encarando Lacey — Eu não quero que vá embora, não quero que os leões comam você, só aquelas criancinhas que roubaram você da gente. Os leões podem comer elas.
— Não, você não quer isso, você uma boa menina e eu tenho certeza que quando ficar grande, vai sair pelo mundo fazendo um monte de coisas boas. Aquelas crianças precisam de mim, muitas delas não tem nem mamãe e nem papai, sabia? Estão sozinhas.
— Deve ser ruim, mas que culpa eu tenho? Eu não tirei os pais delas porque elas tem que tirar a minha mamãe?
— Nenhuma, meu amor. Você não tem culpa nenhuma, mas a vida dos adultos é mais complicada que isso. Será que você pode me perdoar? Ou me odiar um pouco menos? — Ela perguntou e vi a Emma ponderar por instantes elevando os olhos para cima pensativa.
— Talvez eu possa te odiar um pouco menos, se fizer o papai me deixar jantar, tem um bife enorme e Katherine disse que tem oito tipos de sobremesa. — A viking respondeu e confesso que senti uma pontinha de inveja pelo fato de Lacey ainda ser tão boa em controlar o temperamento dela.
— Acho justo — Falei chamando a atenção das duas — Emma, porque não vai terminar de jantar para mim conversar um pouquinho com a Lacey. — Pedi e ela concordou com a cabeça e voltou a encarar Lacey.
— Será que eu posso te dar um abraço? — A morena perguntou.
— Só se o jantar fosse um hambúrguer com muito bacon e fritas — ela respondeu freando a investida de Lacey.
— É, vamos ver se convenço seu pai para uma noite da porcaria qualquer dia desse tá bem? — ela piscou para Emma e q viking cochichou algo no ouvido dela antes de sair.
— O que ela te disse?
— Para mim te dar beijinhos, porque você faz qualquer coisa por beijinhos — Lacey disse com um sorriso lindo — Ela não vai chegar na sala de jantar e encontrar uma das suas mães estripadas na mesa né?
— Não, Chloe não quer voltar pra cadeia e a Susan jamais mataria alguém— refletiu por instantes — com testemunhas por perto — completei. Então vai mesmo voltar para África?
— Depois que conseguir te convencer a pagar hambúrgueres com muito bacon e a Emma parar de me odiar tanto.
— Ela não te odeia, só está chateada e eu não te contei? Eu acabei de virar vegano, agora é só comida sem crueldade. Até adotei um porco para salvá-lo da matança desenfreada do capitalismo carnívoro. Então, vai demorar muito tempo e muitos beijinhos para me convencer a ir num desses lugares que vendem essas comidas cheias de sofrimento — falei com um sorriso
— Tá dando em cima de mim com a sua namorada na outra sala? — Lacey semicerrou os olhos.— E ta me dizendo que o cara que não sabe diferenciar uma alface de uma rúcula virou vegano?
— É claro ué eu sei diferenciar, alface é aquela coisa verde que botam no meio do hambúrguer e eu mando tirar e rúcula é a coisa verde que tascam na pizza e eu tenho que tirar…— disse e ela riu revirando os olhos — Ela é só uma amiga... Lacey… olha só você fez em quinze minutos o que a psicóloga tá tentando fazer em semanas! A Emma precisa de você, nós precisamos de você. E eu sei que acha que as coisas vão ficar difíceis e vai ser um peso pra gente, mas não vai, nunca seria porque nós te amamos.
— Eu sei, mas não é só por isso Noah. É por mim, nunca foi só a doença. Muito antes de descobrir, eu sentia que faltava algo, durante um tempo achei que fosse um filho, mas não era… eu amo vocês, mas lá eu me sinto finalmente completa. Pode entender isso?
— Então não vai mudar de ideia? — insisti sentindo meu peito apertar.
— Não, mas nós vamos ficar bem e as meninas também. E você tem a Antonella ela parece uma garota incrível, então vê se não estraga tudo com ela.
— Você diz para nao transar com a minha ex quando ela aparecer na minha porta cheia de tesão?— Brinquei para tentar dispersar a vontade imensa de chorar. Não queria que ela se sentisse culpada por estar buscando a própria felicidade enquanto a doença ainda permitisse .
— Principalmente — ela me olhou com os olhos cheios de água e me envolveu num abraço — obrigado por todos esses anos e por me fazer mãe daquelas duas figurinhas.
— Promete que não vai sumir de novo? Que vai nos ligar todos os dias e que vai me chamar se as coisas ficarem ruins, me promete por favor — falei afundando meu rosto na curva de seu pescoço, deixando o abraço mais apertado possível.
— Só se você prometer a mesma coisa — ela me falou e eu ouvi um ranger de garganta que me chamou a atenção para o acesso ao corredor onde Antonella estava parada com uma cara de poucos amigos.
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