XIV - Quatorze
Angie
Logo pela manhã, quando acordei, a primeira coisa que senti foi o peito largo e nu de Ian sob mim. Eu estava abraçada a ele, deitada sobre seu peito.
Eu teria ficado ali por muito mais tempo, se não tivesse sentido um braço em minha cintura, que com certeza não era de Ian. Ao abrir os olhos assustada, olhei para trás ao tentar descobrir o que estava de fato acontecendo, a visão que tive foi ao mesmo tempo confusa e engraçada.
A cena era basicamente: eu abraçada à Ian; Katalinna abraçada a mim; e Carter abraçado à Katalinna.
Sim, estávamos em quatro na mesma cama, e isso me fez pensar que eles talvez tenham chegado tarde e completamente bêbados.
Antes de mexer um único músculo, eu acordei Ian lentamente, dizendo para não se mexer e não dizer nada, em seguida, apontei para trás de mim, lhe mostrando a situação em que estávamos.
— Jesus — ele exclamou ao ver os outros dois ali, tão surpreso quando eu, e em seguida, tentou segurar uma risada.
— Tira uma foto, bae¹, rápido — eu pedi, torcendo para que desse tempo, nem notando o apelido no qual eu havia dado para ele.
— Bae? — ele questionou ao se esticar para pegar o celular no criado-mudo, tentando não se mexer muito.
— Opa, desculpa, foi sem querer — sorri nervosa, teria problema em colocar um apelido nele? Ele faz isso comigo direto.
— Sem problemas — ele disse ao tirar a foto, pegando o rosto de todos nós.
— Certeza que vão acordar de ressaca, será que deixamos eles aí ou os acordamos de uma vez?
— Não sei — nós rimos. — A propósito, eu esqueci de te explicar alguns Plays ontem.
— Não tem problema, você pode me explicar a qualquer momento — eu ainda estava abraçada a ele.
— Quando nos encontrarmos novamente eu explico, agora preciso ir, estou com uma penca de trabalho acumulado.
— Tudo bem então — eu aceitei, sabendo que não poderia prendê-lo ali.
Nós nos levantamos cuidadosamente para não acordar os demais. Depois que escovamos os dentes, eu fiz nosso café da manhã, esse que comemos em silêncio, aquele tipo de silêncio de quando você ainda não acordou direito. No caso, a sonolenta era eu.
Depois de ele ter terminado de se arrumar, eu o acompanhei até a porta do prédio, onde me despedi dele.
— Até o próximo fim de semana? — eu perguntei, já ansiosa para esse dia. Eu estava enrolando para deixá-lo ir, já tinha dito "tchau" umas três vezes, mas no fim sempre lhe pedia mais um beijinho de despedida.
— Com certeza. Até o fim de semana — nós sorrimos e nos despedimos definitivamente, com um beijo bem gostosinho, mas não escandaloso pelo fato de estarmos em público.
Eu não entendia o motivo, mas algo naquele momento fez parecer que seria o último, e com certeza futuramente eu entenderia isso. Mas no geral, acredito que seja apenas a sensação, mesmo.
Quando voltei para meu apartamento, preparei o café da manhã de Carter e Katalinna. Iria deixá-los dormir mais algum tempo, já que provavelmente chegaram tarde noite passada.
Porém, isso acabou não acontecendo, já que uma Katalinna sonolenta e um Carter com os cabelos em pé apareceram na cozinha não muito tempo depois de eu terminar de preparar tudo.
— Bom dia! — eu os cumprimentei, alegre.
— Fala baixo — Katalinna resmungou.
— Desculpa — diminui o tom de voz e sorri.
— Como vocês foram parar na minha cama? — eu perguntei, realmente curiosa.
— Não faço ideia — Carter respondeu, com um aceno de Katalinna confirmando que também não lembrava. — Só sei que voltamos de táxi.
Bom, pelo menos foram sensatos o suficiente para não dirigir. Aproveitando o assunto, eu peguei meu celular e mostrei a foto que Ian tinha tirado de como estávamos alguns minutos atrás.
— Angie! — Katalinna exclamou, e por um momento achei que ela fosse brigar comigo por ter tirado uma foto sua. — Olha o corpo desse homem! Não acredito que dormi sem ver isso pessoalmente — eu explodi em gargalhadas.
— Pois é.
— Você é tão sortuda — ela resmungou, me fazendo perceber como eu realmente era sortuda.
Com isso, talvez eu tenha percebido uma coisa que não tinha percebido antes, e sinceramente, estou apavorada com a possibilidade.
Eu juro que não queria que isso acontecesse no início, mas agora... Não tem o que fazer. Cacete, eu estou realmente apaixonada por Ian.
Eu preciso tomar coragem de dizer isso pessoalmente, para além de apenas tentar ter um envolvimento romântico, se ele quiser. Combinamos em não nos apaixonar, e se isso aconteceu, ele precisa saber.
E além disso, não quero que Ian pense que é porque ele é muito gostoso e fode muito bem, e sim porque é incrível, e eu amo estar com ele, amo seu jeito, amo tudo nele. Claro, além do fato de que ele é muito gostoso e fode muito bem.
Decidindo deixar esse assunto para outra hora, voltei para o momento que estava tendo ali agora, tentando esquecer a percepção tardia e certeira que tive.
Ao contrário de toda a nossa animação, Carter não parecia contente, o que me fez estranhar sua atitude, mas decidi não comentar nada, vou conversar com ele quando estivermos sozinhos.
— Ei gente, vamos ao mercado? Preciso fazer compras e não quero ir sozinha — eles concordaram.
Então, depois de eles terem tomado café, nós nos arrumamos e saímos. Ao chegar no andar de baixo, descobri que, obviamente, estava sem carro. Eles usaram para sair ontem e não o trouxeram porque estavam bêbados, então o que tivemos que fazer foi ir buscar o carro antes de irmos ao mercado.
Depois de todo o caminho percorrido, finalmente estacionei em frente ao supermercado. Já estava pronta para pegar o necessário, estava até com uma listinha na mão.
Tudo estava correndo bem, tudo estava tranquilo. Até que, do nada, Katalinna para e fica estática, olhando para um ponto fixo, e ao olhar para o mesmo lugar, finalmente entendo o que aconteceu.
Ícaro está ali, a encarando de volta, e algo me diz que isso vai se transformar em uma enorme confusão. Quando ele olhou para Carter e eu, parece ter ficado mais irritado, mais especificamente quando olhou para Carter. Ele veio caminhando até nós com passos largos.
— Olha só quem eu encontro aqui — ele disse, sarcástico.
— Ícaro, deixa a gente em paz — Linna pediu, e por um momento me senti totalmente de fora da conversa.
— Depois do que aconteceu ontem? Com certeza não vai passar batido, você é minha namorada!
— Deixei de ser quando você me traiu — os dois estavam alterados, e por sorte, não havia ninguém naquela cessão do mercado.
— E você se acha no direito de beijar esse aí? Não mesmo.
Beijar...?
— Cale a boca, Carter não é "esse aí".
Ela e Carter se beijaram?
Eles não iriam me contar sobre isso? Nesse momento, me senti excluída como nunca. Decidi acabar logo com essa palhaçada.
— Ícaro, primeiro eu peço que tenha respeito com meu primo, e com Katalinna também. Segundo que você não tem o menor direito de exigir nada, você perdeu esse direito quando estragou seu namoro. Agora, se não tem nada útil para dizer, por favor, nos dê licença — eu interrompi quando Carter começou a falar alguma coisa. Ícaro saiu dali extremamente nervoso, e espero sinceramente que ele não tente outra aproximação assim.
Eu não falei nada sobre o que aconteceu, apenas voltei a caminhar e pegar as coisas na qual eu precisava comprar. Nenhum de nós falou nada o restante das compras inteiras.
Durante um tempo eu fiquei pensando: Katalinna não pretendia me contar? Ela sempre me conta tudo. Será que ela não tem tanta confiança assim? Ou será que eles estavam apenas esperando o momento certo para contar? Certo, eu sei que não conto para ela sobre o BDSM, mas ela sabe muito bem que eu estou saindo com Ian, não escondi esse detalhe dela.
Quando voltamos para o carro depois de pagar tudo, Katalinna finalmente resolveu dizer algo.
— Desculpa não ter contado nada, não sabia se devia ou não, tirando que nós dois estávamos completamente bêbados, eu nem sabia se isso tinha mesmo acontecido ou se era coisa da minha cabeça — ela disse, em um tom tão baixo que se estivéssemos mais longe, eu não conseguiria ouvir.
— Tudo bem, eu entendo. Mas quero saber o que foi que aconteceu.
— Sim, senhora — a forma como ela me chamou me intrigou, normalmente essa frase era minha. Mesmo que tenha sido de brincadeira, a sensação foi estranha.
Não me senti tão bem sendo chamada assim, como me sinto quando chamo Ian, acho que isso é outra prova de que sou totalmente submissa, e principalmente, submissa a ele.
Quando chegamos em casa, eles me ajudaram a guardar todas as coisas, e depois finalmente pudemos ficar tranquilos, eu estava morrendo de preguiça e cansaço.
Carter e Katalinna decidiram descansar um pouco, e eu sem saber o que fazer, mandei uma mensagem para Ian, esse que só disse que estava ocupado e nada mais.
Isso, confesso, foi um tanto estranho. Ele não costuma ser frio quando trocamos mensagens, e a última vez que isso aconteceu foi quando ele pensou que eu tinha alguma coisa com Carter, o quê, agora, está me deixando curioso. Não existem mais motivos para que ele pense algo do tipo, eu mal converso com meus amigos do trabalho.
Na segunda-feira, a obra no apartamento de Ian finalmente estava finalizada, e eu tinha uma reunião com ele para saber se ele havia gostado, e também para saber mais detalhes do que ele quer para a decoração. Claro, sou eu quem vou decorar tudo, mas ele precisa aprovar.
Eu mandei uma mensagem dizendo que precisávamos nos encontrar, ele apenas mandou o horário e local, e foi isso. Nós iríamos nos encontrar no apartamento recém reformado depois do almoço.
Ansiosa, contei os minutos até o almoço, e depois até o fim dele, e de novo até chegar no lugar marcado. Eu estava esperando que ele fosse diferente, mas isso não aconteceu: ele estava frio como nunca antes.
— Ian, eu fiz algo errado? — eu estava levando isso como uma punição psicológica, mas isso era estranho, ele nunca me deu uma punição sem deixar que eu soubesse o motivo.
— Não é nada, estou apenas estressado. É só isso? — ele perguntou ao terminar de ver as amostras que eu estava mostrando. Eu posso não o conhecer há muito tempo, mas conheço o suficiente para saber que não é só isso.
— Sim — balbuciei, em choque com sua indiferença.
— Ótimo, estou indo. Depois conversamos — e foi isso, apenas saiu e me deixou lá, com cara de tonta.
Ele nunca agiu assim, nem quando tínhamos acabado de nos conhecer. Talvez ele apenas precise de um tempo para relaxar e se acalmar, mesmo que o certo fosse conversarmos.
Será que foi por causa do apelido? Não faz sentido se for, ele disse que não teria problema chamá-lo daquele jeito. E, bom, confesso que fiquei magoada, e muito.
Eu só espero que ele realmente não esteja me escondendo nada.
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¹ Gíria em inglês para before anyone else, que significa antes de qualquer pessoa. Ou também uma gíria para se referir ao namorado, namorada ou qualquer pessoa pela qual você tenha um certo interesse amoroso. Além disso, também pode ser usado como amorzinho, coração ou meu bem.
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