Perder
Ruby Fallon - 9 meses
-Dá pra acreditar?- pergunto com raiva.- Me mandaram pra casa!
-Ruby, você está de nove meses.- William fala calmo.
-E daí?- bufo.- Eu ainda consigo trabalhar, não estou doente!
-Aproveita esse tempo antes de ter o Jack.- ele mexe a mão.- Sei lá, vai pro salão ou faz uma massagem.
-Eu não vou pro salão ou fazer uma massagem.- imito a voz dele e William revira os olhos.- Eu quero trabalhar, até minha bolsa estourar eu quero fazer tudo que eu faço.
-Que tal eu te deixar em casa e passar naquela padaria?- ele me olha pelo retrovisor.- Posso comprar alguns doces ou algo assim.
-Nossa, eu queria tanto um pedaço de torta de morango.- acaricio a barriga.
-Eu posso pegar pra você.- ele parece mais animado.
-Ou você pode me levar lá.- aponto.- Estamos mais perto da padaria do que do apartamento.
-Certeza?- pergunta.- Você disse que não gosta de muita gente por causa do espaço e tudo mais.
-Tem razão.- sinto Jack mexer.- É, me deixa em casa primeiro e depois vai comprar a torta.
-Sim, senhora.- ele observa o trânsito.- Só vai demorar um pouco para chegar no apartamento com esse trânsito.
-Ok, temos todo o tempo do mundo.- deito minha cabeça e então sinto algo nas minhas pernas.
Franzo as sobrancelhas e desço lentamente para ver que o vestido está molhado, arregalo os olhos quando percebo que não é xixi. Puta merda, minha bolsa estourou?
-William.- minha voz treme.
-O que?- ele parece bem relaxado quando olha pelo retrovisor.
-Eu...- solto um ruído preocupado.- Eu acho que a bolsa estourou.
-O que?- ele fala mais alto e olha para trás.
Os olhos de William vão até minhas pernas e ele volta a olhar para frente, todas as vias estão bloqueadas e não tem nenhum espaço para colocar o carro.
-Tudo bem.- mexo a mão.- Dizem que o primeiro parto demora horas, é só ficar calmo.
-Calmo?- ele parece maluco.- Sua bolsa estourou e isso aqui não vai se mover!
-William, eu estou bem.- toco a barriga.- Dá tempo.... dá tempo de sobra....
Grito agarrando o couro do banco quando sinto a primeira contração, toda a região da minha barriga e das minhas pernas parece ficar dura e minhas coluna dói.
-Puta merda!- ele olha para trás.- Ruby?
-Tudo bem.- respiro fundo.- Dá um jeito de tirar a gente daqui.
-Eu não sei como...
-Dá um jeito!- grito.
Ele pega o celular e começa a ver os contatos, respiro fundo assim como mas aulas de parto e pego meu celular. Coloco na lista de contatos e vejo o nome de Jonathan.
Estou quase ligando quando tenho outra contração e largo o celular para tocar a barriga. Fecho meus olhos com força e minha mão aperta o ombro de William.
-Me leva pro hospital, William.- peço.- Por favor...
-O trânsito não vai se mexer, Ruby.- ele fala preocupado.- Não sei o que fazer...
-Eu não vou ter meu filho no carro!- grito com raiva.- Chama quem você quiser! Pode até chamar a porra da polícia! Mas eu quero um hospital!
Ele me encara e eu solto a respiração pela boca, William volta a prestar atenção no celular e liga pra alguém. Eu me ajeito no banco e a única coisa que sei é que preciso abrir as pernas.
-William?- encosto meu corpo na porta e ajeito minhas pernas.
-Tem um amigo meu que pode abrir caminho.- ele explica e respiro aliviada.- Mas ele vai vir em vinte minutos. Acha que aguenta?
-Claro.- mexo a mão e mordo o lábio.- Aguento.
-Ok.- ele pega uma garrafa de água e abre.- Pega isso.
-Não.- afasto a água.- Eu preciso do Jonathan.
-Vou ligar pra ele.- William volta para o celular.- Ele vai me matar...
Rio fraco e William sorri, passo a mão pela minha testa e olho o tamanho da minha barriga, começo a ficar desesperada por que o bebê é enorme. Como ele vai passar por um lugar tão pequeno?
Continuo com as respirações e curvo meu corpo, as dores do meu corpo aumentam e eu torço para esse ser um dos casos que o bebê demora para nascer. Por que eu não vou ter meu filho em um carro.
💎
Ruby Fallon
-Cadê o pessoal, William?- pergunto em um rosnado.
-Eu não sei, juro que não sei.- ele parece tão desesperado que me dá pena.
-Já passaram quarenta minutos!- gemo de dor ajeitando meu corpo.- As contrações estão diminuindo de tempo.
-Eu vou ligar pra eles de novo.- ele pega o celular e buzina para uma van na nossa frente.
-E Jonathan?- limpo uma lágrima.
-Ele não tá atendendo.- William fala distraído.- Tá dando desligado. Deve estar em reunião.
-Foda-se a reunião....- uma nova contração e dessa vez é diferente, curvo meu corpo contra as pernas e gemo de dor.- William, tem algo errado.
-O que?- ele fica preocupado.
-Você precisa ver.- desisto.- Eu não sei, tem algo errado.
-Puta merda.- ele sai do carro.
Não é tão incomum, algumas pessoas já estão fora do carro para passar o tempo, então ele abre minha porta e eu ergo os quadris para ele tirar minha calcinha.
-Jonathan falou que esteve no exército.- falo calma.- Então você sabe alguma coisa, não?
-Pouca coisa.- ele afasta minhas pernas.
-Não tá ajudando!- grito.
-Desculpa.- ele levanta a cabeça e me encara.- Eu não sei nada disso, Ruby.
-Ah, Deus.- cubro meu rosto.
-Eu...- ele olha envolta.- Pode ser que tenha um médico por aqui...
-Não! Nenhum estranho vai ver minha vagina!- eu grito e ele fica vermelho.- Eu tô sentindo que tenho que empurrar, eu vou empurrar na próxima.
-Não, Ruby, eu não sei nada disso...
-Eu vou empurrar com ou sem você aqui!- aponto o dedo na cara dele.
-Ruby...
-É um processo normal, da natureza!- explico me preparando.- Meu corpo sabe o que fazer, então só pega a porra do bebê!
-Não gosto de você assim.- ele comprime os lábios e tira o blazer.
-Supera.- reviro os olhos.
Ele fala alguma coisa e não ouço quando a contração vem, aperto os bancos com força e empurro com força. Estou sentindo que devo empurrar e então eu vou empurrar.
Meu grito fica rouco e a contração passa, bato minhas costas contra a porta e William parece bem assustado. Ele levanta a cabeça e eu o encaro.
-Eu tô vendo a cabeça.- ele sorri.- Eu tô vendo a cabeça.
-Ótimo.- falo irônica.- Só falta o resto.
-Você consegue.- ele parece mais confiante.- Você consegue, Ruby.
Assinto rapidamente e sinto a contração vindo, fecho meus olhos com força e travo o maxilar enquanto empurro. Um ruído de raiva sai de mim e uma dor alucinante me faz ficar desorientada.
Encaro o teto do carro e ouço um gemido baixinho para depois ouvir um choro agudo, começo a chorar e pisco várias vezes olhando para William.
Ele está com um pacotinho nos braços, estendo as mãos na direção do bebê enrolado no blazer e ele parece me reconhecer também.
Sorrio quando ele está em meus braços e sua mãozinha toca minha bochecha, continuo chorando ao ver aquele bebezinho nos meus braços.
-Oi.- sorrio para ele.- Oi, bebê. Oi.
Ouço umas sirenes de polícia junto com as da ambulância e encaro William, que está chorando como um bebê.
-Sério?- franzo as sobrancelhas.- Agora esses idiotas vem?
💎
Jonathan Hayes
Deslizo em um dos corredores e apoio as mãos no chão para me levantar, continuo correndo até a maternidade e vejo William indo de um lado para o outro.
Balanço as mãos e ele aponta para um quarto, entro de uma vez e vejo algo que eu nunca sonhei que veria na minha vida toda, simplesmente não consigo parar de chorar.
Ruby está com um bebê nos braços e ele está mamando, ando lentamente até eles e vejo a toca azul clara. As mãos dele agarram o seio de Ruby e ele parece esfomeado.
-Ruby...
-Eu sei.- ela sorri maravilhada.
Ele tem um narizinho pequeno e quando afasto a touca azul os cabelos são ruivos iguais os de Ruby. Limpo minhas lágrimas e ele abre um pouco dos olhos para mim.
Sorrio quando vejo que os olhos são tão azuis que posso ver meu próprio reflexo neles, me curvo mais um pouco e beijo sua testa com carinho.
-Você podia ter dado menos trabalho, não é?- sussurro e Ruby ri.- Você está bem?
-Sim.- ela assente e nos encaramos.- Um pouco dolorida, mas o normal.
-Desculpa.- seguro seu rosto.- Desculpa mesmo, eu estava em uma reunião idiota e desliguei o celular.
-Não importa.- ela balança a cabeça.- Jack está aqui, é tudo que importa.
-Não acredito nisso ainda.- acaricio sua bochecha.
-Que eu tive nosso filho no carro? Sim, até eu já superei isso.- ela sorri e eu rio baixo.- Pelo menos vai ser um lugar diferente quando perguntarem.
-Você é louca, Ruby Fallon.- sussurro aproximando nossos rostos.
-Obrigada.- ela sorri.
Meus lábios tocam os dela levemente e meus dedos entram em seus cabelos acariciando as mechas descabeladas, não acredito que isso está acontecendo.
-Quer segurar seu filho?- ela pergunta contra meus lábios.
-Quero.- sorrio me afastando.
Ele termina de mamar e Ruby ajeita a blusa enquanto o arruma em seus braços, pego ele do jeito que me ensinaram mas aulas para depois que os bebês mamam.
Me sento em uma cadeira ao lado da cama e acaricio as costas dele, quase começo a chorar de novo quando sinto a cabeça dele deitar no meu ombro.
-Ruby....
-Eu estou vendo.- ela sorri orgulhosa.
-Eu tenho um filho.- sussurro e a encaro.- Obrigado, Ruby, de verdade.
-É, você vai ter que me agradecer muito.- ela deita e fecha os olhos.
Sorrio fraco e afundo meu rosto na cabeça de Jack, o cheiro de bebê é hipnotizante e sinto como se tudo fosse dar certo. Vai dar tudo certo agora que tenho Jack aqui.
Olho para Ruby e percebo seu olhar calmo em nós, não sei o que ela está pensando, mas sei que sabe que esse garoto vai ser tão amado que nada nunca vai faltar pra ele.
-Bem-vindo, Jack.- sussurro.
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