Capítulo 3
Era apenas uma questão de proporção, luz e sombra. Meus colegas fizeram um alvoroço pelo meu desenho, o que deixou William muito curioso sobre aquilo. Ele me enviou inúmeras mensagens depois que me esgueirei para fora da sala sem falar com ele.
Mas não consegui mostrar. Estava com vergonha daquilo, das pessoas dizerem que era o melhor desenho que já tinha feito, quando para mim não passava de um rascunho borrado.
Eu tinha mais com o que me preocupar, como decidir qual seria meu trabalho com o garoto de Literatura, e seria ótimo se ele comparecesse às aulas. A professora não me deu muitas opções, além de entregar o trabalho no prazo e não colocar o nome dele.
— Talvez você possa investir em uma história em quadrinhos — ela disse já juntando suas coisas no final da aula. A Sr.ª Johnson era muito evasiva, e parecia mais uma querendo apenas compor carga horária lecionando aquela disciplina. — Hoje em dia, vocês artistas, adoram essas coisas de computador.
— Se chama arte digital, Sr.ª Johnson — falei já a seguindo pelo corredor. — Mas isso não vem ao caso. É muito injusto eu fazer o trabalho sozinha quando todo mundo tem uma dupla!
— Não posso fazer nada por você, senhorita...
— Nakamura — respondi impaciente.
— Bom, faça o seu melhor! — deu tapinhas em meu ombro. — Até semana que vem!
Respirei fundo tentando não xingar aquela mulher ali, mas me senti derrotada. Como seria possível fazer uma ilustração sem um roteiro?
— Não parece uma ideia ruim fazer uma HQ — Jessica tentou me incentivar durante o almoço. — Você adora esses animes esquisitos!
— Eu sei, mas não tenho enredo algum — mexi na comida sem vontade de ingerir. — Acho que vou passar a noite maratonando histórias de ficção.
— Ai, ficção? Faz algo de romance! — pediu, o que me fez revirar os olhos. — Pense só, não vai gastar muito pensando, porque só precisa fazer o casal ficar junto.
— O que eu vou desenhar então? Uma dupla de bestas pensando um no outro? Prefiro focar num cenário de guerra!
— Tá, mas vamos falar de William Turner! — Jessica disse de repente, o que quase me fez engasgar, mesmo que não tenha colocado a comida na boca. — Vocês se conhecem, certo?
— É — dei de ombros. — Por quê?
— Ele é um gato! — riu logo depois, o que me fez franzir as sobrancelhas. — Apesar de o meu desenho estar horrível.
— Você precisa praticar desenho.
— Me apresenta a ele!
Levei meu olhar à ela e não soube o que responder. Não fazia sentido dizer não, mas eu nem tinha intimidade com o garoto para aquilo.
— Na última sessão da aula, que vai ser daqui dois dias — ela continuou empolgada. — Por favor!
— Acho melhor você mesma se apresentar — murmurei. — Ele não leva a sério nada que eu digo, vai virar motivo de piada.
— Então você podia falar de mim para ele, quem sabe ele não vem falar comigo? — Jessica agarrou meu braço em meio a seu surto, e não consegui esconder minha careta.
— O Will é sem noção! A gente... — suspirei.
— Me envia as mensagens! — afagou meu cabelo e saiu apressada. — Estou atrasada! Nos falamos depois!
Acabei pensando no interesse de Jessica pelo William enquanto trabalhava no café à tarde. Ela tinha a mania esquisita de se interessar por todo mundo, e quando ela se cansasse, game over. Era incrível que a nossa amizade ainda existisse. Jessica sempre surgia com um amigo novo, e em poucas semanas eles tinham uma separação dramática, porque dividiram muitas informações e segredos, e depois descobriram que não se davam bem. Era sempre a mesma história, menos comigo.
— Você trabalha aqui? — William sorriu quando me encontrou pensativa no balcão.
Não tomei um susto por vê-lo, mas soltei um suspiro ao invés de um sorriso.
— Pelo visto sim — respondi olhando rapidamente para seu rosto pálido. — O que vai querer?
— Achei que você iria fazer um show — William disse sorrindo, mas apenas o encarei entediada. — "Você está me seguindo? Você ainda não cresceu William".... Assim não tem graça, Helen!
— Você é sempre perturbado assim ou é só comigo? — reclamei fazendo-o gargalhar.
— Agora sim, podemos conversar — espremi os olhos. — Onde está o meu desenho?
— Na minha casa.
— Eu vi o de todo mundo, menos o seu — dei de ombros. — Você não quis me mostrar para eu ficar te seguindo, não é?
Criança, pensei.
— Você se acha muito engraçado — cruzei os braços e neguei com a cabeça. — Qual p seu pedido?
— Um cappuccino — disse sorrindo.
O pedido da Jessica ficou martelando em minha mente. Talvez, se eu falasse logo, poderia descobrir que ele tinha namorada, e ela ficaria quieta então, eu esperava.
— O que você achou das garotas da minha turma? — perguntei me sentindo estranha.
William me olhou de repente. Enquanto eu passava seu pedido para o outro funcionário, ele estava distraído com seu celular próximo ao balcão. Foi mais estranho ainda quando ele me olhou parecendo interessado.
— Eu só podia olhar para você — ele disse, o que me fez sorrir sem graça, porque era verdade. — Meu pescoço está travado até hoje.
— Você sairia com alguém de lá?
— Você quer sair comigo, Helen? — ele tinha um sorriso no rosto que julguei como sarcástico. — Percebeu que quer reatar comigo?
— Não. Nada disso — neguei com a cabeça. — Vamos começar de novo. Hipoteticamente falando, tenho uma amiga querendo sair com você. É possível?
— É você? — se apressou em dizer, e seus olhos redondos e castanhos me engoliram com aquela expressão curiosa.
— Esquece! — soltei o ar pela boca me sentindo frustrada.
Fui buscar o seu pedido me sentindo chateada. Eu não deveria ter tocado no assunto. Meu colega de trabalho ficou assustado quando tomei o copo da sua mão. Talvez eu tivesse com a expressão de que mataria alguém, e esse alguém seria a Jessica.
William me sorriu quando retornei com a sua bebida.
— Eu moro em Surrey — ele disse de repente. — Mas estudo aqui em Londres.
— E daí? — murmurei.
— Só queria contar — encolheu os ombros, e assenti com a cabeça.
William começou a tomar sua bebida de frente para mim, o que me fez torcer a boca. Era como se ele estivesse esperando algo mais, porém eu já me sentia envergonhada o bastante.
— Sua amiga está a fim de mim? — perguntou de repente.
— Não sei os detalhes. Ela só pediu para eu falar dela para você.
Ele me encarou um pouco, e notei que sua expressão ficava boa com seu cabelo partido ao meio, com uma onda na raiz, cabelo de herói.
Era como se uma campainha tivesse sido tocada dentro de mim. Eu quis buscar um papel e desenhar aquele personagem de cabelo bonito, olhos curiosos e casaco comprido. Era o perfil perfeito para meu trabalho.
— Isso me deixa um pouco desapontado — ele disse baixinho, o que me acordou do meu momento.
— O quê? Por quê? — pisquei um pouco tentando lembrar nossa conversa. Jessica. — Ah, mas ela é muito bonita! Deve ser o seu tipo!
— Acho que não — disse apenas, sem pensar muito. — A gente se vê na próxima aula!
Eu pude ver o herói da minha HQ saindo pela porta do café, ele olhou para os lados antes de atravessar a rua, e consegui transportar aquele momento para traços finos, cores borradas, e um ar misterioso.
Continua...
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