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Eu a quero

Sábado - Vancover 09:10 am.

▪️Brunna Gonçalves▪️◽

Tudo está em silêncio, as luzes estão apagadas. Estou muito acomodada e aquecida nesta cama. Que bom... Abro meus olhos, por um momento estou tranquila e serena, desfrutando do ambiente, que não conheço. Não tenho nenhuma ideia de onde estou. O travesseiro da cama tem a forma de um sol enorme.

Parece-me estranhamente familiar. O quarto é grande e está luxuosamente decorado em tons marrons, dourados e bege. Já a vi isso antes. Onde? Meu cérebro procura entre suas lembranças recentes. Droga! Estou no hotel, em Heathman... em uma suíte. Estive em uma parecida junto com Larissa. Esta parece maior. Oh, droga. Estou na suíte de Ludmilla Oliveira. Como cheguei até aqui?

Pouco a pouco, as imagens fragmentadas da
noite começam a me torturar.

A bebedeira. - OH, não, a bebedeira.

A ligação. -OH, não, a ligação.

Meu vômito. - OH, não, eu vomitei...

Morro de vergonha. Não recordo como cheguei aqui. Estou vestindo uma camiseta, o sutiã e a calcinha. Sem as meias três quartos e nem o jeans.

Droga.

Observo uma mesinha do quarto. Há um copo de suco de laranja e dois comprimidos. Ibuprofeno. Sua obsessão por controle está em todos os lugares. Levanto-me da cama e tomo os comprimidos. A verdade é que não me sinto tão mal, certamente estou muito melhor do que mereço. O suco de laranja está delicioso. Tira-me a sede e me refresca. Ouço uns barulhos na porta. Meu coração bate tão forte e minha voz quase não sai por minha boca, mas mesmo assim, Ludmilla abre a porta e entra.

Ah, ela estava fazendo exercício. Veste uma calça de moletom cinza que lhe cai ligeiramente sobre os quadris e uma camiseta cinza de ginástica, empapada de suor,seu cabelo está com um coque. Ludmilla Oliveira estava suada. A ideia me parece estranha.

Eu respiro profundamente e fecho os olhos. Sinto-me como uma menina de dois anos.

Ludmilla: Bom dia, Brunna. Como se sente?

Brunna: Melhor do que mereço - eu murmuro. Levanto o olhar para ela. Ela larga uma bolsa grande, de uma loja de roupas, em um divã e pega uma toalha que tem ao redor dos ombros. Seus impenetráveis olhos castanhos me olham fixamente. Não tenho nem ideia do que está pensando, como sempre. Ela sabe esconder o que pensa e o que sente.
-Como cheguei até aqui? - pergunto-lhe em voz baixa, constrangida.Ela senta-se num lado da cama. Está tão perto de mim que poderia tocá-la, poderia cheirá-la. Minha nossa... Suor, gel e Ludmilla. Um coquetel embriagador, muito melhor que as margaritas, agora sei por experiência.

Ludmilla:Depois que você desmaiou não quis pôr em perigo o tapete de pele de meu carro te levando para a sua casa, assim te trouxe para este local. - Respondeu-me sem se alterar.

Brunna: Você me colocou na cama?

Ludmilla:Sim. - ela respondeu-me impassível.

Brunna:Voltei a vomitar? - pergunto-lhe em voz mais baixa.

Ludmilla:Não.

Brunna:Tirou minha roupa? - eu sussurro.

Ludmilla:Sim. - Ela olha-me elevando uma sobrancelha e me ponho mais
vermelha que nunca.

Brunna:Não fizemos...? - Eu sussurro, com a boca seca, de vergonha, mas não posso terminar a frase. Eu olho para as minhas mãos.

Ludmilla: Brunna, você estava quase em coma. Necrofilia não é a minha área. Eu gosto que minhas mulheres estejam conscientes e sejam receptivas. - Ela me responde secamente.

Brunna:Sinto muito. - Seus lábios esboçam um sorriso zombador.

Ludmilla:Foi uma noite muito divertida. Demorarei para esquecê-la. - Eu também... OH, ela estava rindo de mim, e muito... Eu não lhe pedi que viesse me buscar. Não entendo por que tenho que acabar me sentindo como a vilã do filme.

Brunna:Não tinha por que seguir meu rastro, com algum equipamento pertencente ao James Bond, que está desenvolvendo em sua companhia, - Eu digo bruscamente. Ela me olha fixamente, surpresa e, se eu não me equivoco, um pouco ofendida.

Ludmilla: Em primeiro lugar, a tecnologia para localizar celulares está disponível na internet. Em segundo lugar, minha empresa não investe em nenhum aparelho de vigilância, nem os fabrica. E em terceiro lugar, se não tivesse ido te buscar, certamente você teria despertado na cama de um cara bêbado e, se não estou esquecido, você não estava muito entusiasmada com os métodos dele de te cortejar. - Ela disse de forma mordaz. Métodos de me cortejar! Levanto o olhar para Ludmilla , que me olha fixamente com olhos brilhantes. Eu tento morder meus lábios, mas não consigo reprimir a risada.

Brunna:De que texto medieval você tirou isso? Parece um cavaleiro andante. - Vejo que seu aborrecimento se vai. Seus olhos se adoçam, sua expressão se torna mais cálida e em seus lábios parece esboçar um sorriso.

Ludmilla: Não acho, Brunna. Um cavaleiro negro, possivelmente. - Ela me diz com um sorriso zombador. - Jantou ontem?- Seu tom é acusador. Nego com a cabeça. Que grande pecado cometi agora? Ela tem a mandíbula tensa, mas seu rosto segue impassível.- Tem que comer. Por isso você passou mal. De verdade, é a primeira norma quando se bebe. - Passa a mão pelo cabelo, mas agora está muito nervosa.

Brunna:Vai seguir brigando?

Ludmilla: Estou brigando?

Brunna:Acredito que sim.

Ludmilla:Tem sorte que só estou falando.

Brunna:O que quer dizer?

Ludmilla:Bom, se fosse minha, depois do que fez ontem, não se sentaria durante uma semana. Não jantou, embebedou-se e se pôs em perigo. - Ela fecha os olhos. Por um instante o terror se reflete em seu rosto e ela estremece. Quando abre os olhos, me olha fixamente. - Não quero nem pensar no que poderia ter acontecido. - Eu a fito com uma expressão carrancuda.

O que lhe passa? Porque se importa? Se eu fosse dela... Bem, não sou. Embora possivelmente eu gostaria de sê-la. A ideia abre caminho entre meu aborrecimento por suas palavras arrogantes. Ruborizo-me por culpa de meu caprichoso subconsciente, que dá saltos de alegria com uma saia havaiana vermelha, só de pensar que poderia ser dela.

Brunna:Não teria me acontecido nada. Estava com Larissa.

Ludmilla: E o cara assediador? -pergunta-me bruscamente.

Brunna:Eu estava bêbada- Encolho meus ombros.

Ludmilla: Bem, na próxima vez que você ficar bêbada, alguém deveria lhe ensinar algumas maneiras.

Brunna:É muito partidária da disciplina. - digo-lhe entre dentes.

Ludmilla: Oh Brunna, não sabe o quanto.- Fecha um pouco os olhos e ri perversamente. Deixa-me desarmada. De repente, estou confusa e zangada, e ao mesmo tempo estou contemplando seu precioso sorriso. Uau... Estou
encantada, porque eu não estou acostumada ao seu sorriso. Quase esqueço o que está me dizendo.

Brunna: Vou tomar banho. Se você não preferir tomar banho primeiro... - Ela inclina a cabeça, ainda sorrindo. Meu coração bate acelerado e o cérebro se nega a fazer as conexões oportunas para que eu respire. Seu sorriso se faz mais amplo. Aproxima-se de mim, inclina-se e me passa o polegar pelo rosto e pelo lábio inferior.

Ludmilla: Respire, Brunna. - sussurra. E logo se levanta e se afasta.- Em quinze minutos trarão o café da manhã. Deve estar morta de fome.- Ela entra no banheiro e fecha a porta. Solto o ar que estava segurando. Por que é tão alucinantemente atraente? Agora mesmo, me meteria na ducha com ela.

🔸◽Ludmilla Oliveira◽🔸

Eu tomo banho tão rapidamente para não perder nem um minuto com ela. Aproveito a rápida chuveirada para pensar. E saio calmamente do banho com uma toalha enrolada no corpo.

Ela está fora da cama, olhando ao redor. Seu queixo cai quando ela me vê, mas, novamente, o mesmo acontece comigo quando a vejo quase nua. Uma mulher de tirar o fôlego, inocente, que é tão inconsciente de sua própria beleza. Ela permanece em seu lugar. Eu digo a ela que seus jeans estavam encharcados com seu vômito, e aponto para as roupas limpas que eu pedi para Rômulo comprar para ela nesta manhã. Seus olhos estão brilhando, mas ela tenta esconder o olhar.

Brunna: Vou ir... Uhm... Tomar banho agora. - Ela sussurra e entra no banheiro.

Eu visto minha calça e camisa branca. Levo meu jornal para ler na mesa enquanto espero a comida chegar. Dez minutos mais tarde, há uma batida na porta. É o Serviço de quarto. Eu deixo o garçom trazer a comida na mesa de jantar. Depois que ele sai, eu vou para a porta do banheiro e bato deixando Brunna sabe que a comida está aqui. Ela gagueja um "ok", fazendo-me sorrir.Muito inexperiente. De alguma forma, isso me deixa satisfeita. Quando ela sai, ela está de tirar o fôlego, inocente, mas me faz franzir a testa quando eu vejo seu cabelo úmido. Eu tenho essa vontade de proteção para mantê-la segura até de si mesma.

Ludmilla:Você não secou o cabelo! - Eu reclamo com ela.

Brunna:Eu não vi o secador de cabelo. - Ela murmura. Eu estreito meus olhos. Ela não é minha... Ela não é minha... Ela não é minha... Eu me repreendo. Ainda não... Mas eu gostaria que ela fosse.

Ludmilla: Você parece surpreendente com essa cor. - Eu me encontro dizendo, incapaz de tirar meu olhar de cima dela. Ela cora.

Brunna: Obrigado pelas roupas Ludmilla. - Diz ela mordendo o lábio. - Eu deveria pagar por isso.

Eu franzo a testa. Eu não quero que ela pague por elas! Eu posso pagar por elas. Eu sinto que eu deveria tomar conta dela.

Ludmilla:Sabe? Você deveria aprender a receber presentes. - Eu digo a ela com firmeza.

Brunna:Você já me deu os livros, que não posso aceitar, é obvio. Mas a roupa... Por favor, me deixe que lhe pague isso.

Ludmilla: Brunna, eu posso fazer isso, acredite. Você não precisa pagar por elas. Eu digo a esta teimosa e linda menina diante de mim.

Brunna:Eu sei que você pode Ludmilla. Esse não é o ponto. Eu me sentiria melhor se eu pagasse. Isso é tudo. - Ela olha para os dedos, como se algumas respostas estivessem escritas sobre eles. Ela, então, levanta o olhar para mim e pergunta: - Porque você me deu os livros Ludmilla?

Eu fecho meus olhos por um instante e expiro. Quando eu os abro novamente, eu digo.

Ludmilla:Bom, quando o ciclista quase te atropelou... E eu te segurava em meus braços e você me olhava me dizendo: "me beije, me beije, Ludmilla"... - Eu digo passando as mãos pelos cabelos em um gesto nervoso. - Acreditei que te devia uma desculpa e uma advertência. Brunna, eu não sou uma mulher de flores e corações. Não me interessam as histórias de amor. Meus gostos são muito peculiares. Deveria te manter afastada de mim. - Eu sinto a perda das palavras. É a primeira vez em um longo tempo, mas organizo meus pensamentos e continuo. - Mas há algo em você que me impede de me afastar.

Eu olho pra ela esperando que ela não fique longe. Esperando o que ela era fazer com essa bagunça de emoções. Eu fecho meus olhos para entender esse maldito sentimento. Eu não sou boa com sentimentos e se eu soubesse o que é bom pra mim, também ficaria longe dela! Sua proximidade é fascinante, sedutora, puxando-me como uma corrente que não se pode escapar. Como uma mariposa que voa para a luz. Como se sua alma chamasse a minha. Como se fossem duas almas pela metade tentando se fundirem. Mesmo quando eu fecho meus olhos, eu posso senti-la

Brunna:Então, não se afaste. - Ela sussurra.

Eu sinto como se devesse protegê-la com todos os meus cinquenta tons fodidos. Eu não quero vê-la sofrer. Ela é tão inocente. Como ninguém que eu já tenha conhecido. Eu fecho meus olhos novamente.

Ludmilla:Você não sabe o que está pedindo!

Brunna:Então me explique. - Ela me encoraja. - Eu acho que isso significa que você não é celibatária. - Ela sussurra. Isso me traz de volta dos meus devaneios, meu olho escurece com paixão por ela e meu desejo aumenta. Dou-lhe um sorriso lascivo.

Ludmilla:Não, Brunna. Eu não sou celibatária.

Brunna:Oh! - Ela sussurra.

Ela pega folego com desejo e eu posso ouvir seus batimentos cardíacos como se fossem asas esvoaçantes de um beija-flor tentando escapar de seu peito. Isso causa uma reação em meu corpo, o meu sangue ferve. Eu apenas não posso deixá-la ir agora. Que venha o inferno ou a maré alta. Eu tenho que tentar! Eu tomo a minha decisão.

Ludmilla:Quais são os seus planos para os próximos dias Brunna? - Peço com meus olhos escuros de desejo. Ela me diz que ela está trabalhando hoje, depois do meio-dia. - Que tal amanhã? - Peço, inclinando-me para frente.

Brunna:Eu estou trabalhando toda a semana, e Larissa e eu, devemos embalar algumas coisas porque estamos nos mudando para Vancouver.

Ludmilla:Você já tem um lugar para ficar?

Brunna:Sim, perto do distrito de Pike Market. - Eu sorrio satisfeita. Ela vai estar muito perto de mim.

Ela morde o lábio. Eu não aguento mais.

Ludmilla:Eu gostaria de morder esse lábio! - Eu rosno. Sua boca se abre em suspiros de desejo, se contorcendo. Eu gosto de sua resposta. Aposto que ela está molhada desde o inicio da conversa. O pensamento me enche de desejo, mas não tanto quanto o que ela me desafia a fazer em seguida...

Brunna:Por que não faz então?

Eu controlo minha mente. Eu não posso ficar longe dela, mas ela ainda precisa saber meus termos.

Ludmilla:Porque eu não vou tocar em você até eu ter o seu consentimento por escrito Brunna. - Eu digo sorrindo.

Brunna:O que você quer dizer?

Ludmilla:É muito literal. Eu preciso do seu consentimento por escrito antes de eu tocar em você. Tenho que lhe mostrar isso Brunna. A que hora sai do trabalho esta tarde?

Brunna:Oito. - Ela diz. Digo a ela que eu poderia levá-la pra Vancouver esta noite para esclarecer o que foi dito. - Porque você não pode dizer agora?

Ludmilla:Porque estou desfrutando do meu café da manhã e de sua companhia. Quando você souber, certamente não irá querer voltar a me ver. - Ela olha intrigada, como eu esperava que fosse. Um monte de emoções passa por seu rosto, mas finalmente ela olha com firmeza.

Brunna:Tudo bem. - Diz ela determinada.

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