Raposinha Inteligente e Sr. Vento
Trago aqui para vocês uma play list feita com carinho. Quem quiser ouvir e se sentir mais imerso na vibe da fic, à vontade para usá-la ❤
❗{só queria deixar um aviso antes. neste cap vai ser mencionado agressão física contra uma criança, se você se sentir desconfortável, não leia.}❗
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-Este é meu blog
e eu sou Van Gogh
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Hello.
Aqui estou eu para mais um dia vergonhosamente contar sobre uma história de vida difícil. Sei que demorei, e sinceramente não estou nem aí, eu sou alguém adulto, com dias cansativos e turbulentos de "trabalho" por assim dizer. Mas eu não sou o foco agora.
Onde eu havia parado mesmo?
Oh, certo. Dei uma rápida olhada onde eu terminei de contar.
Enfim. Haviam se passado algumas semanas, e como prometido, Lalisa apareceu no dia seguinte jogando seu bichinho de pelúcia sobre a cerca e logo em seguida pulando a mesma. Encontrou Jennie sentada na mesma pequena varanda, e é claro que ela jurou por sua vida que não estava de jeito algum esperando pela menina das marias-chiquinhas. Nessas semanas que passaram, elas seguiram se encontrando diariamente na varanda, acabando por marcar aquele lugar, junto de todo quintal, como ponto de refúgio de ambas.
Não era necessário marcar de se encontrar, elas apenas se encontravam ali, e de algum jeito sabiam quando não iriam se ver. Nesses dias elas deixavam na varanda alguma pedrinha de formato estranho que encontrassem por ali. Elas se entendiam, pareciam compartilhar do mesmo neurônio para cada brincadeira que fizessem, mesmo cada uma tendo seu próprio modo de agir e reagir às coisas.
Naquele dia, estava previsto uma chuva um tanto forte para a tarde, mas não era nada que fosse conseguir lhes impedir de se encontrarem, até porque em dias chuvosos elas se abrigavam na casa da árvore de Jennie.
Como de costume, pouco após o almoço Jennie já se encontrava sentada na varanda enquanto Lalisa se preparava para pular a cerca, jogou o Senhor Grian por cima e veio logo depois dele. Jennie que observava tudo de seu lugar, somente soltou um suspiro, de algum modo estava aliviada por conseguirem se encontrar naquele dia, mas é claro que ela nunca diria isso em voz alta.
Lalisa se aproximava rapidamente trazendo consigo em um braço seu inseparável bichinho de pelúcia e no outro um pote de cookies. Ainda agora, sinto arrepios ao pensar na conexão imperceptível para elas naquela época.
- Vamos para o castelo né? - Lalisa questionou, referindo-se à casa na árvore. Resolveram chamar assim, depois de brincarem imaginando que lá era um imenso e luxuoso castelo e tudo abaixo era somente água. Crianças e suas imaginações férteis.
- Sim é claro. 'Tô vendo que você cumpriu sua promessa de trazer cookies.
- Promessa é promessa, prefiro manter meu dedinho no lugar e não ter nenhuma agulha dentro do meu estômago. Agora vamos logo que eu estou com fome.
- Você não acabou de sair do almoço? Ainda tem espaço na sua barriga? - Não importava quanto tempo fazia que se conheciam, Jennie sempre teria a mesma reação quanto a fome insaciável de Lalisa, chegavam a serem cômicas suas reações.
- Você sabe que sim - Lalisa piscou seu olho esquerdo fazendo graça, logo agarrou Jennie pela mão e seguiu saltitante em direção à casinha de madeira, muito bem enfeitada. Ambas se juntaram e organizaram o local da maneira mais bonita e aconchegante que podiam, com objetos que já tinham ao seu alcance; saqueando algumas coisas de suas casas, mas isso é apenas um mero detalhe.
Elas adentraram o Castelo e rapidamente se jogaram nos dois pufes fofinhos dali, lado a lado, ainda de mãos dadas, então Lalisa se pronunciou, curiosa e preocupada: - O que houve com suas mãos? Tem relação com a gente não ter conseguido se encontrar ontem?
- Mamãe colocou na cabeça que eu tenho que aprender a tocar violino, já que praticamente todas as minhas primas sabem tocar alguma coisa - Jennie somente suspirou enquanto revirava os olhos.
- Sua mãe me da arrepios - Chacoalhou seu corpo, como se realmente estivesse tendo fortes arrepios, e Jennie só pode rir das bobagens da outra, até passar seus olhos pelos cookies e lembrar de algo.
- Ai! Que coisa! - Deu um tapa na própria testa, um pouco frustrada por ter se esquecido.
- O que foi?!
- Esqueci de pegar as garrafinhas com leite pra tomar enquanto comemos os cookies - Jogou sua cabeça para trás antes de se levantar. - Vou lá buscar e já volto, vou aproveitar e trazer uma toalha 'pra colocar as coisas em cima.
- Ah... Tá bom, então - Lalisa riu soprado, pensando no que fazer enquanto esperava pela outra.
Pouco tempo depois Jennie já estava em seu caminho para a casa da árvore enquanto Lalisa, bem...
- E se eu pular aqui? Provavelmente a mamãe vai surtar e o papai também... ah, mas deve doer... ai, não, eu não gosto de me machucar tanto assim, não...
Enquanto o monólogo de Lalisa ainda rolava lá no alto, Jennie sentia que iria explodir em risos ouvindo tudo aquilo, mas ela apenas observou a figura de Lalisa em cima da árvore ao longe. Ela estava de costas para si então não notou quando Jennie apressou o passo o quanto podia (já que estava segurando as garrafas de leite e a tolha) e parou logo abaixo da árvore em que ela estava.
- Hey, como está o clima aí no Monte Everest? - A morena anunciou sua presença, tendo que se esforçar ainda mais para segurar o riso ao que notou o leve susto que deu na amiga.
- Ah, é você... o clima está agradável, congelante como sempre - Deu risada - O que foi? Por que ta me encarando?
- Você 'tá com uma cara de - Jennie fez uma pausa, forçando uma tosse e se preparando para entrar no personagem imitando Lalisa - "beleza, eu vou pular daqui, me machucar e conseguir a atenção dos meus pais. Mas eu não gosto de sentir dor, e agora?" - Fez sua melhor cara de desespero, rindo logo após.
- Uau, como... como você... ué? - Gaguejou Lalisa, tombando sua cabeça para o lado confusa. Deixando estampado em sua face um enorme "você é vidente? Como adivinhou?" - Você é boa nisso.
- Obrigada, mas é só porque eu ouvi você resmungando mesmo. Aliás, você deveria parar de falar sozinha, sabia? - Segurou o riso ao que viu Lalisa revirando os olhos por indignação e resmungando um "raposinha inteligente" - Vai descer daí hoje, ou...
- Nah, vou terminar meu ninho aqui e preparar meus filhos para voarem, sabe? Vai levar um tempinho e... Tapada, é claro que eu quero descer, mas aqui está o problema - Ergueu as duas mãos rodeando e mostrando onde estava, deixando clara a mensagem de que não conseguia descer. Ela estava a alguns galhos acima da casinha da árvore.
-Você é muito idiota, sabe disso né? Como subiu aí, se não ia conseguir descer depois?
- Odeio você.
- Obrigada, me deixou emocionada saber que tem tanto afeto por mim, menina das maria-chiquinhas.
- Seu sarcasmo... para quê algo mais adoravel em você do que isso, não é mesmo, Jeninie? E quando vai parar de me chamar por esse apelido, poxa?
- No dia de São Nunca - Sorriu como se não estivesse tirando onda com a cara de Lalisa. - Vamos logo, desça daí.
- Não sei como! - Lalisa já estava começando a se desesperar, quando notou um suspiro de Jennie.
- Só volte por onde você subiu, é tão difícil assim?
Jennie acabou tendo de ajudar Lalisa lhe passando coordenadas de por onde ela poderia seguir para descer na casinha. Depois de muita paciência e calma, Lalisa enfim estava com seus dois pés na casinha, suspirando aliviada. Para Jennie foi como jogar um puzzle de vida real, já para Lalisa, bom, acho que é possível entender sem nem dizer, certo?
Ambas estavam sentadas sobre a toalha que Jennie trouxe, saboreando seus cookies e copos de leite, quando Jennie puxou um CD de um canto que nem mesmo Lalisa percebeu qual era.
- É um CD do Elvis Presley da mamãe, eu achei jogado pela casa e resolvi trazer - Disse, respondendo a pergunta que estava estampada por toda a face de Lalisa. - Achei que seria uma boa colocar para tocar. Já ouvi umas e são boas.
- Bom, vá em frente, não custa nada tentar ouvir algo. - Deu de ombros, realmente não dando muita importância - Você sabe ligar isso? - Apontou para o pequeno rádio já meio velho que Jennie analisava.
- Eu vi a mamãe ligando ele algumas vezes, se não der certo eu vou descobrir como ligar - Sorriu arteira e Lalisa apenas deu de ombros mais uma vez.
Logo estavam as duas brincando de mamãe e filhinha, elas tiveram uma breve discussão já que nenhuma delas queria ser mamãe da boneca bebê, no fim concordaram em ambas serem as mães da bebê. Decidiram que as duas iriam revezar para saírem "trabalhar", trabalho esse que na verdade era comer biscoitos na porta da casinha e conversar com clientes imaginários. Inteligentes eu diria. Enquanto isso, HEARTBREAK HOTEL do Elvis tocava como trilha sonora da pequena novela de ambas.
Até que Lalisa não se aguenta e decide questionar sobre algo que vinha lhe afligindo desde o momento em que se encontraram.
- Tem algo acontecendo na sua casa Jenini?
- O que? - Jennie questionou confusa, por ter sido pega desprevenida.
- Perguntei se tem algo acontecendo na sua casa... você me parece aflita desde cedo, se quiser conversar, sabe, to aqui... - Lalisa ficou nervosa, uma mistura de sentimentos que ela não sabia dizer o que eram. Ela continuou de costas, sentada na porta da casinha, sem ver como Jennie reagiu. Porém foi pega de surpresa por um suspiro vindo da outra.
-Na verdade, tem... algumas coisas me incomodando... mas... - Jennie soltou mais um suspiro. A verdade era que ela tinha medo de falar, por algum motivo.
- Tudo bem se não quiser falar... vamos só continuar a brincadeira.
- Não! Não é isso - Lalisa acabou se virando na direção de Jennie, estranhando o inesperado "desespero", notando que ela tinha lágrimas rolando pelo rosto. Mas ela entendeu, Jennie estava recordando coisas dolorosas e aquela mágoa toda no rosto dela estava a corroendo, por isso apenas chamou Jennie para se sentar com ela na porta da casinha, lhe abraçando pelos ombros.
- Sabia que se você contar um segredo para o vento, ele vai guardar com ele para sempre? - Lalisa sussurrou, agarrando a mão de uma Jennie ainda chorosa e magoada - Pode ser que ele chegue a contar para alguém, mas provavelmente vai ser alguém que consegue ouvir seu coração. Não acha bonito Jenini? Minha vovó quem me disse isso - Virou-se para olhar Jennie, que ainda expressava a dor de sua alma por todo seu rosto - Não precisa contar para mim o que aconteceu, conte para o vento.
- Por que a mamãe me odeia tanto, Senhor Vento? - Jennie sussurrou, olhando para cima entre as folhas da árvore que balançavam com força. Lalisa foi pega de surpresa com o que ouviu, teve de virar seu rosto para o lado para que Jennie não notasse sua expressão sofrida. Alguém lhe entendia, foi o que ela pensou. - Mamãe diz que eu tenho que ser perfeita em tudo para compensar. Mas compensar o quê? Eu nem sei o que é isso direito. - Fez uma pausa para passar as costas de suas mãos pelos olhos, na tentativa de secá-los. Lalisa continuava em silêncio, apenas segurando a mão da amiga - Ela me fez ficar com a testa na parede quase a manhã inteira e me bateu porque eu disse que meus dedos doíam e eu não queria tocar violino. Ela gritava o quão incompetente eu sou... ela fala muita coisa que eu não entendo, e quando eu pergunto ela diz que sou burra.
- Você não é burra Jenini - Acabou por se intrometer, mas o fez com uma expressão completamente séria, deixando Jennie sem palavras - Eu já pensava que sua mãe era uma bruxa, mas eu não pensava que ela fazia isso com você... quer dizer, minha mãe é uma bruxa também... ah nem sei mais, aliás, por que estamos sussurrando?
- Eu não sei, foi você quem começou eu só te imitei - Jennie deu uma risada baixinha pela cara de confusão de Lalisa.
- A vista daqui é legal né - puxou outro assunto depois de dar de ombros por toda confusão. Jennie já tinha entendido que o negócio de Lalisa era ser completamente aleatória, e puxar assuntos de qualquer coisa. Ela gostava disso.
- Verdade, é muito bonita - concordou, ambas olhando em direção as montanhas ao longe, com algumas casas ao pé dessas montanhas, o céu estava em seu processo para dar lugar à lua, sendo assim ele estava uma bela mistura em aquarela, com tons de rosa, laranja, roxo, entre outras cores. Jennie queria desenhar algo com aquelas cores.
- Parece um enorme oceano, se duvidar, em algum momento pode aparecer um golfinho pulando entre as nuvens.
- Seria bem doido, acho que no dia que isso acontecer eu vou estar louca.
- Quem sabe. Quer um cookie, estão acabando - Ofereceu enquanto mordia um.
E assim se seguiu o dia a caminho de seu fim, com elas engatando em assuntos aleatórios como preferir unicórnios alados ou sem asas. Elas continuaram sentadas na porta do castelo, de mãos dadas, saboreando seus cookies e aproveitando a vista, ao som do esquecido por elas Elvis Presley, até começar a ficar mais escuro e Lalisa pular a cerca com seu tigre de pelúcia em mãos enquanto Jennie adentrava sua casa aos suspiros.
Pensando em tudo isso, eu sinto-me ficar em cada vez mais espanto com o quão maduras elas eram para crianças de seis, quase sete anos serem. Situações e motivos diferentes que as faziam estar cada vez mais em alerta sempre, acabando por pular etapas da infância de ambas. Preocupante eu diria.
Bom, nada é tão ruim que não pode piorar, certo?
Até breve.
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Publicado por Van Gogh Star
Dia 17 de fevereiro
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