Sua Tesouro
Olá, corujinhas!
O aniversário do nosso falcoeiro maluco é um momento muito especial. Feliz 25 de setembro para o Tai Fei! *solta fogos*
Para conteúdo extra, teremos só isso. Mas não deixa de ser doce apresentar para vocês um pouco mais sobre esse personagem e o que o acompanha. A Tesouro, coruja-das-torres do Tai Fei, é uma personagem que não é muito explorada no enredo principal e não terá muitas cenas, então decidi reservar um espacinho especial para ela aqui nos extras!
Muito obrigado pelo carinho e paciência, divirtam-se!
•••
"Vem, meu amor."
Um par de olhos negros, carregando a luz das estrelas além das nuvens de Lan Ying, observou as portas da ala das corujas. Os sons das aves da noite evidenciados em meio a escuridão, diferente da voz da mulher à entrada, não eram tão convidativos para aquele garotinho.
"Tem que ser hoje mesmo?" Ele baixou a cabeça.
"Terá que ser em algum dia! E você vai fazer essa gracinha toda vez que eu te trouxer aqui." Ela pôs as mãos na cintura, sua capa forrada com pelagem fofa emoldurando seus braços com elegância. "A-Fei, não precisa ter medo. Eu não vou sair do seu lado."
E bem nesse momento, uma gigantesca ave veio voando na direção da mulher.
Os olhos de Tai Fei se arregalaram, não soube se avançava ou recuava, então apenas congelou. O único som que seu corpo pôde fazer foi um impulso, um berro:
"Mamãe!!!"
E aqueles olhos, tão parecidos com os seus, desviaram rapidamente para o lado.
Os braços, as mãos, a silhueta envelopada pela capa de pelagem fofa, se moveu tão rapidamente quanto.
Num floreio gracioso, uma longa e brilhante bengala de nefrita surgiu entre os dedos da mulher, e pequenas partículas de luz ainda dançavam no ar da noite quando um enorme bufo-cobalto se empoleirou sobre o apoio da bengala.
"Boa noite, senhor bonitão." Tai Minsu sorriu, vendo a coruja virar sua grande face pincelada de azul. "Vamos mostrar como o pavilhão das corujas é seguro para A-Fei, Galante?"
~Hoo!
Durante toda essa interação, o pequeno Tai Fei de apenas 11 anos estava completamente travado, ele mal piscava.
"I-I-Isso aí é um pássaro?" Ele murmurou, mais perguntando para si mesmo do que para sua mãe. "Isso parece um dragão!"
"Parece mesmo, não é?" Tai Minsu desceu alguns degraus, com um sorriso gigantesco no rosto, apenas querendo mostrar seu menino mais bonito para seu real menino mais bonito. "Veja que lindos os padrões no peito dele!"
"Ahhhh, não, não! Sai, mãe! Sai, eu não quero entrar aí! Eu não preciso de uma coruja!"
"Como sabe que não precisa de uma coruja se nunca teve uma?"
"O papai nunca teve uma coruja! Eu prefiro o Gudan, igual o papai com o Zanglao!"
Tai Minsu revirou os olhos, e se perguntou o que fazer com esse menino que puxou tão odiosamente a sua teimosia. Por que ele não foi ser mais tranquilo igual o pai, hein?
O garoto falava aquilo por falta de experiência, por ingenuidade, e por pura teimosia. Não era obrigatório que todos em Lan Ying treinassem e experimentassem conhecer todos os tipos de ave criada na região. Porém, para futuros Líderes de Seita e Mestres de Armas, era.
A tradição era que começassem com a ave principal de seu predecessor. No caso, o Líder de Seita Tai tinha um belo falcão-anil, Zanglao, e o filhote deste falcão se tornou o fiel companheiro de Tai Fei, Gudan. O menino se apaixonou profundamente pela ave e pelos falcões. Por sua sagacidade, sua velocidade, sua firmeza e a relação de confiança que construiu com eles. Foi amor à primeira vista.
Já sobre as corujas...
O pobre Tai Fei morria de medo da noite em Lan Ying, em especial por conta dos berros das corujas. Não que os dias em Lan Ying fossem livres de horrores, os corvos davam conta de cobrir o turno matutino e vespertino. Mas no silêncio da noite das florestas boreais, com nada além do vento gelado do lado de fora, ouvir os berros e urros de diferentes tipos de coruja era como ser atormentado por todos os tipos de fantasma do mundo.
Ele também não entendia por que deveria se preocupar com as corujas. O que mais gostou de fazer foi aprender o princípio da caça, e corujas parecem independentes demais para caçar em conjunto com qualquer pessoa. A quantidade de histórias que ouviu de corujas que fugiram do frio de Lan Ying e deixaram seus pobres falcoeiros para trás...
Tudo só parecia uma má ideia para ele.
"A-Fei..."
"Eu não quero entrar. Eu vou embora." O menino se virou de costas.
Tai Minsu ergueu sua bengala, e Galante prontamente voou de volta para seu poleiro, sumindo numa curva da sala.
"A-Fei, meu amor, não vá. Me escute. Vamos, só mais uma vez. Se eu não conseguir te convencer, vamos embora agora."
Ele nunca admitiria nem em um milhão de anos, mas tinha um biquinho e uma carranca teimosa que lhe deixavam terrivelmente adorável. Seu rosto, naquela época ainda redondo, bochechudo e com sardas muito mais numerosas, era muito parecido com uma pequena suindara irritada.
"Você vai gostar de conhecer as corujas. Elas são diferentes das outras aves de rapina, todo mundo tem medo no começo."
Tai Fei nem se mexeu, e sua mãe apenas riu, se aproximando mais do menino e prosseguindo:
"Corujas são animais fascinantes. Todas as outras aves de rapina caçam durante o dia, trabalham na claridade conosco. Mas trabalhar nas sombras é tão importante quanto, e mesmo os líderes que acabaram não tendo as corujas como suas aves principais se deram ao trabalho de conhecer sobre elas. Os perigos de Lan Ying à noite nunca seriam vistos se não fosse pelas nossas corujas. E sim, seu pai também as conheceu e as respeita muito."
"Se ele respeita tanto elas assim, então por que não tem uma?"
"Por que ele não quis ter. E ele sabe que não quis porque foi ao viveiro e conheceu as corujas."
Tai Fei ainda não estava convencido. Para ele, sua mãe só dizia aquilo para fazê-lo se sentir culpado. Que ela estava na verdade mentindo, e seu pai nunca duvidou de sua paixão incondicional pelos falcões.
E sabendo disso, Tai Minsu bufou.
"A ave principal de Cang Fei foi uma coruja, você sabia disso?"
Tai Fei virou o rosto levemente para sua mãe.
"Mesmo?"
"Sim. Aquela suindara que você viu naquelas pinturas com ele era Hanli, era sua ave principal. Por isso tem tantas imagens com ela."
Isso sim era mentira.
A ave principal do fundador da Seita You Sun era um falcão-peregrino, tanto que deu nome à seita. Ele também adorava gaviões e treinava diversos deles. Mas sobre corujas, só teve realmente Hanli. Ele certamente gostava dela, mas um dos artistas que viviam em Lan Ying era simplesmente obcecado por Hanli e queria pintá-la o tempo todo. Por isso havia tantas imagens com ela.
Mas Tai Fei só descobriria sobre essa mentira um ano depois. Isso não era importante.
"O Grão-Mestre Cang gostava de corujas?"
"Amava."
"Eu gosto do Grão-Mestre Cang..."
"Eu sei que gosta! Você confia no que ele dizia, não confia?"
"Confio..."
"Então, foi ele que decidiu que os futuros líderes dos You Sun deviam observar todas as aves." Outra mentira. Quem decidiu isso foi um líder bastante recente, na verdade.
Mas ora essa, se iria permitir que seu filho expandisse seu leque e se tornasse um líder com mente mais aberta, então mentiria mesmo!
"Ah... se o Grão-Mestre Cang disse, eu vou tentar."
Tai Minsu abriu um enorme sorriso, e ambas suas mãos seguraram o rosto do menino com gentileza. Vendo o rosto de sua mãe perto daquele jeito, Tai Fei nunca conseguia deixar de pensar em como ela era linda e brilhante. No fim do dia, ele e seu pai se tornavam incapazes de dizer não a ela.
Rendido, Tai Fei adentrou a ala das corujas, acompanhado de sua mãe.
O passeio foi como ele esperou, um lindo desastre.
Já que tinha se assustado com o tamanho dos bufos, Tai Minsu passou reto pela sala onde eles ficavam, decidindo mostrá-lo um pouco das strigidae menores. As corujas orelhudas deviam ser uma boa introdução, suas cores vibrantes e penas adoráveis certamente encantariam Tai Fei. O viveiro das orelhudas não estava muito cheio, e havia uma belíssima empoleirada bem em frente à janela, acabando de voltar de um passeio noturno.
Aquele era certamente o animal com os maiores olhos que Tai Fei já vira.
Ele olhou para ela.
Ela olhou para ele.
Tai Minsu cheia de expectativa...
Tai Fei apenas confuso com a aparência daquele bicho.
"Por que ela tem essas-"
~Hyuuu!
"AAAAHHH!!!"
Era esse, o piado agudo que Tai Fei ouvia de vez em quando... muitas corujas berravam terrivelmente à noite, mas aquelas em específico eram responsáveis por acordá-lo no meio da noite quase sempre.
"Certo, certo, vamos para a próxima."
As corujas grandes só serviriam para assustar o garoto naquele momento. Tai Minsu decidiu então apresentá-lo para o viveiro das corujinhas pequenas.
Aquela era uma área comunal muito popular entre as crianças menores, o próprio Tai Fei já havia visitado aquele espaço quando tinha cinco, seis anos. Eles não faziam uma separação tão grande das espécies das corujas ali, era uma área meramente recreativa. Aquelas pequenas espécies de corujas eram conhecidas por ser amigáveis e doces com humanos, saltitando como pintinhos entre as crianças.
Apesar de ser uma visão adorável, Tai Fei franziu as sobrancelhas. Para ele, aquilo mais parecia uma creche, e não o local honrado de encontro da ave do futuro líder de seita.
"Eu não sou mais criancinha, mãe."
"Corujas pequenas não são para criancinhas, muitos adultos as adotam como companheiras espirituais." Ela sorriu, levantando um pequeno mocho-galego com ambas as mãos. Ele se encaixava perfeitamente em suas palmas, uma bolinha de penugem e fofura, se esfregando em seus dedos como um gato. "Elas são ótimas para busca e reconhecimento, porque correm bastante."
"Os corvos não são melhores para busca e reconhecimento?"
"De dia, seu espertinho. E se você precisar durante a noite?"
"Eu durmo e faço na manhã seguinte com um corvo."
"E se realmente precisar fazer de noite?"
"O líder de seita serei eu, posso ordenar que deixem para a manhã seguinte!"
Tai Minsu, mais uma vez, revirou os olhos.
Ela deixou então a corujinha no chão, vendo-a correr a todo vapor na direção de uma criança que brincava com outros mochos-galegos.
Tai Fei puxou seus jeitos. Mas ele era algo muito, muito pior do que uma madame teimosa: uma criança teimosa.
Ele não queria uma ave assustadora, mas até certo ponto todas as corujas eram um tanto assustadoras. Com exceção das pequenas. Mas ele se sentia um bebê brincando com elas, não gostava delas também. E era apaixonado pelos falcões, estes que tinham um ritmo de caça completamente único.
Precisava insistir e achar um meio termo.
Sim... insistir. Ainda faltava uma espécie de coruja dos viveiros para apresentar.
"A-Fei, vamos ver mais um."
"Mamãe, eu quero ir para o quarto."
"Você pode ir depois de dar uma olhada nessas. Eu acho mesmo que você vai gostar delas."
Virando algumas curvas entre os aposentos de outras aves que ela não apresentaria naquele dia, aproximaram-se de um corredor.
Podia-se ver espalhadas no chão algumas penas listradas em tons amarronzados.
Havia algumas salas naquele corredor. Tai Minsu levou seu filho até a última, e secretamente realizou um pequeno selo de mãos para isolar o som de fora.
Ele não precisa ouvir o som delas agora...
Essas, que receberam o garoto com a graciosidade da luz do luar.
A imagem que Tai Fei encontrou era tal como a de tantos livros e pinturas que já havia visto.
Ele não gostava de corujas, mas ninguém seria tolo de negar a beleza única que as suindaras possuíam. A forma como seus discos faciais figuram uma expressão de delicadeza permanente, os padrões em degradê de suas penas, suas formas longilíneas em comparação com as outras corujas, tão achatadas e espetadas. Tai Fei as achava lindas.
Ele soltou um suspiro que não percebeu que estava segurando.
Era realmente uma ave belíssima.
O que via naquele momento era Haitang, o macho do casal de suindaras daquela sala. Seu rosto claro como a geada, ele parecia observar Tai Fei de volta com uma aura de respeito e curiosidade. Tal como um prestigiado ancião conhecendo um jovem monarca.
Tai Fei gostava das pinturas de corujas-das-torres.
Mas nunca vira uma coruja-das-torres real tão de perto. E tão pacífica assim.
O aterrorizante som feito pelas corujas-das-torres (e que sua mãe o poupou de ouvir) nada mais é do que um chamado de acasalamento feito pelos machos. Elas também piariam daquele jeito se tivessem algum machucado ou briga, mas isso era evitado nos viveiros.
"Eu posso tocar nele?"
"Pode sim, A-Fei."
Tai Fei ergueu uma mão, um pouco trêmula, mas não parou até que tocasse as costas de Haitang, que prontamente se inclinou para encontrar seus dedos feito um gatinho. E suas penas, para a grandíssima surpresa do menino, eram muito, muito macias. Ele se sentia tocando as nuvens, enquanto observava aquilo que era como um suave espírito imortal.
Sem perceber, ele tinha um sorriso bobo no rosto.
Aquela sala em específico abrigava o mais tranquilo e gentil casal de suindaras de Lan Ying. Haitang e Mian, ambos treinados por Tai Minsu, eram famosos na região. As lendas diziam que a história de amor das duas corujas-das-torres era como a do Líder de Seita Tai e da Madame Tai. Duas aves inicialmente designadas a outros parceiros, mas que encontraram o destino uma na outra.
Mas isso eram apenas floreios e histórias do mundo mortal. Os fatos imortalizados do amor daquelas corujas estavam em um apanhado de penugem, musgo e palha, no topo da viga mais alta da sala.
Enquanto Tai Fei era hipnotizado pela beleza nobre e grácil de Haitang, Tai Minsu discretamente usou sua espada para levitar-se até o alto, encontrando ali em cima a parceira do macho, Mian. Essa com manchas da cor do mel no rosto, tinha também a doçura dele enquanto cuidava daquela ninhada de cinco filhotes. A terceira ninhada totalmente bem sucedida do casal naquele ano.
"Eles parecem muito bem... Mian, venha." Tai Minsu ergueu sua bengala de nefrite, e a coruja se empoleirou na mesma imediatamente, deixando os filhotes se divertindo com seu café-da-noite de lagartas e carne de roedor.
Ela rapidamente desceu com a espada para deixar Mian empoleirada ao lado de Haitang, retirando o garoto de seu torpor.
"Mamãe?"
"Venha comigo um pouquinho, meu amor."
O menino estranhou, mas seguiu.
Sobre a espada da mãe, eles se ergueram. Tai Fei ainda era pequeno demais, não conseguiria ver a viga mais alta se continuasse na espada, e foi orgulhoso demais para deixar sua mãe levantá-lo. Para o terror dela, ele se pendurou na viga e depois subiu para sentar-se nela.
Ele então se inclinou, vendo o ninho cheio de pequenas corujas se bicando e banqueteando.
"Caramba..."
"Incrível, não é?" Tai Minsu se aproximou do filho, cuidando para segurá-lo se ele caísse.
"... eles são muito feios!"
Os olhos da mulher se arregalaram como duas enormes contas de jade, e ela quase esqueceu de manter a voz baixa para não perturbar as aves na sala.
"A-Fei, não diga uma coisa dessas. Isso é muito maldoso, filhote nenhum é feio. Todo filhote é um milagre da vida."
"Tá, tá, eu sei. Mas os filhotes de outros pássaros são fofos. Eu acho engraçado como essas coisas vão virar pássaros tão bonitos, é legal, heh~" Ele se inclinou mais, olhando os pequenos com um sorriso curioso.
A mãe apenas observou.
De fato, filhotes de suindara não eram dos mais vistosos.
Mas, também de fato, não havia maldade nas palavras daquela criança. Ele genuinamente encontrou alguma diversão e alegria vendo o quão estranhas e diferentes eram aquelas criaturas.
"Olha como as penas deles se espetam... que irado, hahah~"
Sem nada dizer, Tai Minsu apenas abriu um sorriso.
Um amante das suindaras reconhecia o nascimento de outro.
Ela não insistiu mais por aquele dia, voltando com Tai Fei para o viveiro das suindaras apenas um tempo depois. E ela não voltou com ele para forçá-lo, mas sim porque ele mesmo pedira que fosse vê-las. Ele ficou curioso para saber como os filhotes deviam estar depois de algumas semanas, além de querer ver Haitang e Mian outra vez.
Agora os filhotes estavam um pouco maiores, os discos faciais em formato de pêssego já totalmente formados.
"Parecem pintinhos com rosto de coruja."
"... Eu nunca pensei desse jeito. A-Fei, não se pendure assim, vai acabar caindo."
"Relaxa, mamãe. Olha, essa aqui tem manchas igual à Mian... essa também..."
"São fêmeas, elas costumam ter mais manchas escuras do que os machos."
"Tipo maquiagem?"
"Tipo maquiagem, haha."
O café-da-noite eram ratos inteiros, todas as corujinhas já tinham expelido suas primeiras pelotas, e mais uma vez Tai Fei seria poupado de ver aqueles pintinhos com rosto de coruja vomitando parte dos seus jantares; pelo bem da introdução à vida como herdeiro!
"A-Fei."
"Calma mamãe, eu acho que ela vai roubar a comida da outra."
"A-Fei, eu preciso avisar uma coisa para você." Tai Minsu iniciou mesmo assim. "Em breve essas corujas terão suas primeiras penas de voo e começarão a tentar voar. Elas vão se tornar independentes e podem voar embora."
"Aham. Vai, você consegue, não deixa ela pegar seu rato..."
"Por causa disso, normalmente introduzimos as suindaras aos donos adotivos nessa idade, para que criem uma conexão."
"Sei..."
"Você gostou das suindaras?"
"Gostei sim."
"Você gostaria de ter uma?"
A diversão do menino se travou, e ele apenas olhou para a sua mãe com uma expressão enigmática.
"Por que se você quiser uma, e quiser adotar um desses filhotes, o melhor momento é esse."
Por alguns segundos, Tai Fei apenas piscou e alternou olhares entre Tai Minsu e as corujas.
Olhou lá para baixo, vendo os pais empoleirados em um galho preso à parede, Haitang carinhosamente limpando as penas de Mian. Um tão claro, a outra mais dourada, era como o encontro entre sol e lua.
Ele suspirou, uma enxurrada de emoções dançando em seu coração.
"Quer pensar melhor?"
"Sim..."
A visita daquele dia não passou daquilo, e pensar foi o que Tai Fei fez.
Se imaginaria que aquela hesitação era apenas a teimosia natural de uma criança, mas todas as ações de Tai Fei ao longo de sua vida, até se tornar um adulto, mostravam que aquilo era pura e simplesmente ele.
Mas o garoto realmente pensou a respeito.
Ele se imaginou, adulto, no alto do posto de líder de seita, com seu prendedor de cabelo especial e sua capa envelopando-o.
Imaginou-se com o belo falcão-anil que era Gudan em seu ombro.
Parecia seu pai.
A admiração que tinha por seu pai era completamente desmedida e não tinha palavras para descrever o quão incrível ele era. Aos olhos de Tai Fei, Tai Jianhong era o homem mais espetacular que já pisou no mundo mortal. Ser como ele era a coisa mais incrível que podia imaginar.
E quando se imaginava com uma coruja em seu braço, ele pensava em sua mãe. Muitos sempre diziam que ele era muito parecido com Tai Minsu, e ele nunca gostou muito dessa comparação (apesar de verdadeira). Sua mãe era conhecida como a louca de Lan Ying que Tai Jianhong acolheu. Cheia de ideias insanas e muito avoada, se perdendo completamente em suas paixões ao ponto de esquecer o que havia ao redor.
Mesmo tão novo, Tai Fei sabia que precisava ser um bom líder, e adequar seu caráter para tal. Ele não gostaria de ser um líder associado à ociosidade, à imprudência, à distração. Lan Ying precisava de um líder convicto e íntegro, como seu pai.
Mas quando pensava nas corujas que viu, e até mesmo nas que não gostou... esse sentimento de distanciamento de sua mãe ricocheteou em seu coração.
Quando pensava naquelas aves tão belas que encontrou, naqueles filhotes tão engraçados e intrigantes que viu, quando ponderava com mais calma sobre todos eles... ele sabia que gostava. E tinha vontade de explorá-las a fundo.
Quando pensava em Gudan, ele imaginava se ele e outros falcões com quem se conectou ficariam com ódio ou intriga, se eles seriam capazes de trabalhar com as corujas. Se ele seria capaz de fazê-los trabalhar com as corujas. Mas essas perguntas não vinham da insegurança, mas sim da curiosidade.
Se não era por falta de gosto, se as opiniões dos outros não importariam, e se queria tanto experimentar, então o que o impedia?
Na noite seguinte, Tai Fei tinha sua resposta.
E sendo bem sincero, ela era seu próprio tiro no escuro. Talvez realmente odiasse trabalhar com as corujas no futuro.
Mas como sua mãe dizia, ele não saberia se não tentasse, não é mesmo?
Vendo mais uma vez aquela ninhada, a cena da noite anterior tocou diante de si mais uma vez. As corujinhas se banqueteando com os ratos inteiros. E aquela mesma fêmea tentando roubar o pedaço da outra.
Sem dizer nada, ele apenas observou.
A que era dona do rato era a definição da expressão "não largar o osso". O roedor preso com força em seu bico, e o princípio do que um dia seria uma expressão feroz brilhava em seus olhos. A outra coruja que tentava arrancar o rato de seu bico se batia contra ela e sacudia as asinhas freneticamente. E em certo momento, a força foi demais para seu pequeno corpo, e ela foi lançada para trás no ninho.
Uma corujinha muito feliz engoliu aquele rato inteiro, cheia de satisfação arrogante e vingativa naquele rosto infantil em formato de pêssego.
Tai Fei, sem querer, ria. E Tai Minsu, sem que ele soubesse, também.
"Eu quero essa."
"Ela é a maior fêmea da ninhada, ótima escolha."
Sem mais cerimônias, Tai Fei seguiu as instruções prévias de sua mãe e gentilmente pegou a coruja com as mãos enluvadas, trazendo-a para perto de seu peito. Ela não protestou, apenas se satisfazendo com a sensação cheia de seu jantar.
Em algumas semanas, ela desenvolveu belas penas amarronzadas de voo, e seu disco facial teve as mesmas manchas cor-de-mel de Mian. Mesmo pequena, a coruja era como uma jovem aristocrata, ela possuía um garbo natural e uma espiritualidade cativante.
Em alguns meses, ela estava voando, e Tai Fei descobriu todos os horrores que sua mãe havia escondido dele nas primeiras semanas de introdução às suindaras. Os berros, a teimosia, as pelotas. Mas naquele ponto, ele já estava completamente apaixonado por sua menina de olhos frios, e completamente apaixonado pelas suindaras.
Logo, nomeou-a: Tesouro.
Uma singela, mas sublime peça brilhante que enriquecia sua vida, empoleirada em seu braço, caçando com ele, treinando com ele, vivendo com ele.
Seu sonho de convergência e convivência com Gudan não pôde ser realizado, infelizmente. Mas o trabalho que fez sozinho com Tesouro era invejável, ela era uma excelente ave de rapina, e ele era um excelente treinador, assim como sua mãe. Acima de todos os preconceitos.
Os anos se passaram. Muita coisa mudou.
O frio piorou.
O Líder de Seita Tai e a Madame Tai não estavam mais lá.
Agora regida por um novo e jovem líder, Lan Ying se tornou mais movimentada.
E em alguns dos poucos dias tranquilos que tinha nas florestas boreais, Tai Fei se sentava à janela de seus aposentos e observava os pinheiros na distância, perdendo-se entre névoa e nuvens que cobriam o céu.
E em alguns desses poucos dias, uma coruja da cor de mel cruzava a propriedade até os aposentos de seu dono, para lhe fazer companhia. Brincar com seus cabelos, encostar seu rosto contra o dele, arrumar as barras de suas roupas quando estavam tortas ou frouxas.
Entre a melancolia de dias tão amargos e gelados, o jovem Tai Fei tinha sua Tesouro, e então conseguia sorrir e se esquecer um pouco da dor.
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