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𝟶𝟼. FAMILY IS A WEIRD CONCEPT.

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EVIE JÁ ACORDOU DE INÚMERAS FORMAS DIFERENTES ANTES. Já acordou com um frio de congelar ossos, com sob um sol tão quente que deveria tê-la queimado. Em lugares vazios e outros que deveriam estar vazios. No próprio fim do mundo e depois em um hospital desconhecido. Coberta de sangue e de suor. Com os ruídos da cidade e com o silêncio, e, certa vez, com uma cobra enrolada ao lado de sua cabeça. Mas esta é a primeira vez que acorda com uma dor de cabeça tão intensa que quase a mantém presa na cama.

Ela se levanta aos tropeços após um segundo ou dois, o corpo pesado e os sentidos lentos. Tudo parece meio borrado, soando distante, e Evie precisa de duas ou três tentativas para perceber que o vestido está do avesso, ou que os sapatos estão trocados. Tudo parece muito difuso quando sai do quarto, praticamente tateando pelas paredes, guiada pelo som de vozes conversando na cozinha, mas para na sala em busca de uma caneta e um pedaço de papel, surpresa ao ver a lista telefônica da cidade largada no sofá com um nome circulado e um endereço logo abaixo. Evie murmura um agradecimento a Elliott quando reconhece o nome de Raymond Chestnut no papel. Gussman assente em resposta, e entrega um dos seus cadernos coloridos que costumava usar como diário. Suas anotações mentais para aquele dia estão ficando confusas demais, então ele faz o favor de ficar quieto enquanto ela anota sua lista. Allison. Klaus. Convencer Vanya. Impedir o apocalipse. Voltar para casa.

É isso. É tudo que eles precisam fazer nos próximos dias. Mas falta alguma coisa, não falta? Evie se lembra do endereço e o acrescenta ao lado do nome de Allison. A dor de cabeça, no entanto, está voltando, e os pensamentos voltam a ficar emaranhados. Ela fecha os olhos e recita mentalmente. Meu nome é Evangeline Hargreeves. Meu nome é Evangeline Hargreeves. Repete isso até se convencer.

A lista. Ainda parece pequena demais, apesar da quantidade de coisas. Da perspectiva de não conseguirem e tudo ir pelos ares. Ela deveria pensar em outra coisa, algo maior, além da situação atual, em que pode ter uma importância crucial. A pele dela coça com as cinzas dos mortos. Sente o cheiro de sangue que pinica seu nariz. Ouve o desespero na voz dos pais que imploravam pela vida da filha dormindo no quarto ao lado. A menina, que não recebeu uma bala na cabeça, diferente dos pais. Morreu queimada. A menina. Que tinha sete anos. Que tinha o mesmo nome de Anne Leatherman.

O lápis se move ao longo da página por conta própria. Evie abre os olhos e vê as letras trêmulas. EU MATO A GESTORA. Quando terminarem tudo, ela quer ter a chance.

— Não, não, não, eu não tô entendendo, eles ficam me seguindo! — diz Diego, sentado na mesa da cozinha quando ela aparece por lá.

— Espera aí, quem? — pergunta Luther, fazendo ovos na frigideira e vestido com o roupão de Elliott. Evie ignora a presença dele alegremente.

— Os sociopatas holandeses.

Não confiando na habilidade do Número Um em cozinhar, a garota contorna a mesa e se estica para pegar o pacote de pão, marshmallows e manteiga de amendoim sempre presente na intenção de preparar um sanduíche de café da manhã.

— São suecos, seu idiota — Cinco retruca, parado na soleira da cozinha. — Assassinos pagos pra nos erradicar, pra não piorarmos mais a situação dessa linha do tempo.

— Mas por que agora? — indaga Diego. — Cara, eu fiquei... ótimo. Durante três meses. Até você aparecer.

— É? Eu fiquei um ano aqui, e ninguém se meteu comigo — concorda Luther, colocando os ovos em um prato.

Evie assente, distraída, conforme rouba uma faca de Diego e a usa para passar a manteiga de amendoim no pão.

— Eu fiquei tranquila por pouco mais de quatro anos.

Spaceboy olha para ela, surpreso, como se só agora se desse conta de quem ela é e de que está parada logo ao lado dele.

— Você não devia estar morta?

Cinco esbraveja alguma coisa que Evie não entende e Diego chuta sua perna brevemente quando percebe que ela roubou uma de suas lâminas, no qual ela responde com um tapa.

— Eu tava — responde, e o assunto fica por isso mesmo.

— Olha só — começa Cinco, irritado. — Mesmo se for por minha culpa, o que não é, só temos 6 dias antes do fim do mundo, e o mais perto que chegamos do papai foi na festa de entrada do consulado.

Evangeline termina os dois sanduíches, acrescentando uma camada a mais de manteiga de amendoim em ambos, quando Luther interrompe:

— Olha... não é bem assim, não.

O tom do garoto se torna perigoso quando ele se aproxima do irmão e, em voz baixa, questiona:

— Como assim?

E Luther responde sem nem gaguejar:

— Eu fui vê-lo.

Conforme ele explica toda a situação sobre como foi atrás do pai poucos dias depois de cair no beco – de Dallas até Nova York sem nada nos bolsos, humilhado em uma festa por Reginald, depois o caminho todo de volta –, Evie entrega um dos sanduíches feitos para Cinco e escuta atentamente a história, muito embora sua vontade no momento seja de vasculhar a casa atrás de algum remédio para dor de cabeça e voltar a dormir.

— Que patético. — Diego bufa após Luther terminar de falar. Cinco se move novamente e fica de pé atrás da esposa, pousando as mãos nos ombros dela.

— É. Pelo menos ele não me esfaqueou.

— Não, cara, ele partiu seu coração.

Elliott aparece, vindo da sala, e olha diretamente para o cara enorme que apareceu ontem de noite com quem dividiu gás do riso.

— Esse é o meu roupão? — pergunta.

— Não — responde ele de boca cheia, claramente mentindo.

— Não importa o que ele feriu — Cinco argumenta, impaciente, abaixando o sanduíche comido pela metade. — Ele sabe sobre viagem no tempo.

— Tomara que não — murmura Evie dando mais uma dentada no pão.

Elliott ergue a mão, como se pedisse permissão para dar uma sugestão.

— Ah, e por que você não faz o seu lance e viaja no tempo de volta?

O casal de adolescentes se entreolha brevemente, como se a resposta estivesse na cara – e está mesmo.

— Alguém pode explicar?

— Na primeira vez que ele tentou, ele se perdeu no apocalipse — Luther fala, sem nem erguer os olhos da panela.

— Na segunda, ele acabou sem pentelhos no saco — completa Diego.

— E da última vez que tentei, espalhei minha família em três anos diferentes em Dallas, Texas, o que possivelmente acabou desencadeando o fim do mundo.

Evangeline olha para Elliott por cima do ombro e sorri preguiçosamente para ele.

— Dá pra imaginar se ele tentar de novo? Prefiro não ter que lidar com a Peste Negra ou ser queimada na fogueira.

Cinco a encara, aborrecido.

— Mais alguma pergunta, Elliott?

— Ah, não — o homem se apressa em responder —, não, nenhuma.

— Vocês não estão vendo o contexto — Diego insiste, erguendo o tom de voz. — O nosso pai é líder de um complô sinistro que planeja matar o presidente!

— Quem se importa com essa merda? — Evangeline resmunga, e desvia a perna do chute que o Número Dois tenta acertar debaixo da mesa. — Vai todo mundo morrer em menos de uma semana mesmo.

— Um complô? — agora Luther parece interessado.

— Ignora ele — Cinco corta. — Olha, na minha opinião só temos uma opção.

— Ah, é? E qual é?

— Tá na hora de reunir a Umbrella Academy.

— Que ótimo... Reunião de família — Kraken suspira, trocando um olhar com a garota, que apenas dá de ombros.

— Tá bom, alguém pode buscar a Allison?

— O endereço tá anotado aqui — Evie balança o papel acima da cabeça para que ele pegue.

— Ainda se curtem? — questiona Diego ao irmão. Ele aproxima o rosto do dele, curioso, diminuindo o tom de voz. — Temos que conversar?

— Não — Spaceboy murmura, se retesando todo —, ela casou.

Evangeline sufoca a risada, só porque não quer tornar as coisas mais constrangedoras ainda para seu cunhado preterido, mas evita olhar diretamente para o marido, sabendo que vai cair na gargalhada.

— Nossa — ela resolve dizer, caçoando —, deve ser difícil.

— Eu vou superar — ele não parece muito convencido disso, no entanto.

— Deixa que eu busco ela — Cinco diz, terminando o sanduíche. — Consegue pegar a Vanya sem matar ela no caminho? — direciona a pergunta a Luther.

— Vou tentar — replica ele.

— Eu vou com ele, só pra garantir — Evie decide, piscando para o garoto. — Só pra prevenir.

Antes que ela e Luther possam sair, no entanto, Elliott os chama:

— Espera! — parece perdido, sem saber o que fazer com a ideia de tantas pessoas em sua casa e ainda mais algumas a caminho. — O que... o que eu faço?

— Faz o que eu te disse pra fazer — sugere ela. — Se prepara pras visitas.

Eles foram capazes de levar Vanya quase sem nenhum problema. Quando chegaram à fazenda, ela ainda estava com algo semelhante a um pijama, apesar dos jeans, e parecia tão avoada com alguma coisa que entrou no carro sem nem perguntar nada. Apenas ouviu o “a família tá de volta” e se juntou a eles no banco traseiro. Agora os três e Diego permanecem sentados nas poltronas e sofás da sala conforme Elliott explica longamente sobre todo o surgimento e popularização da gelatina – ou algo assim.

— Sua letra é linda — Vanya elogia em voz baixa, evitando falar mais alto para não interromper Elliott. Nenhuma das duas está escutando o extenso monólogo do homem, mas ainda fazem questão de não desviarem muito a atenção.

Evie sorri para ela, parando de rabiscar no caderno. Sua dor de cabeça já melhorou consideravelmente desde de manhã, mas não quer arriscar fazendo nenhum movimento repentino ou qualquer coisa do tipo.

— Obrigada — agradece. — Ansiosa pra ver seus irmãos? Eu não vejo a hora. Quero saber tudo sobre a seita sexual do Klaus.

Vanya abre a boca, meio espantada, sem saber como responder se a fala da garota foi brincadeira.

— É... E quanto a nossa outra irmã, a Allison?

A garota concorda com a cabeça.

— Casou com um cara chamado Raymond. É um amor, de verdade. A gente costumava brincar de se arrumar quando crianças. Devíamos fazer uma noite das garotas quando essa merda toda acabar.

Vanya concorda ansiosamente, mas alguma coisa na expressão dela muda, como se ela não gostasse da ideia de uma noite unicamente das garotas. Como se o rótulo a incomodasse de alguma forma.

— Eu tô muito nervosa — admite por fim. — Acho que não devia ter tomado tanto café, tá fazendo meus dedos tremerem.

Evie se adianta e toma as mãos da cunhada entre as dela, massageando os dedos para tentar liberar a tensão.

— Vai ficar tudo bem — a garota promete.

— Como é que você tá? — pergunta Luther a ela do outro lado do sofá.

— Bem mal, pra ser sincera — Vanya fala, dando de ombros.

— Onde acha que está numa escala de zero a... acabar com a vida no planeta?

Evangeline dá um chute na perna dele com toda a força que tem no momento.

— Cala a boca, cabeça de bagre. E pode largar essa faca que ela tá bem.

— Da última vez que eu vi essa daí, ela me ergueu no ar e sugou minha vida com tentáculos de energia — Diego retruca, continuando a brincar com as adagas. Os olhos não deixam os de Vanya em momento algum. — Eu tenho direito a um tempinho pra entender.

— Ah, eu adoraria ver um tentáculo de energia — Elliott começa. Luther balança a cabeça em negativa, e o homem se cala mais uma vez.

— Eu não lembro o que eu fiz — responde Vanya, e dá pra perceber que fala com sinceridade. — Mas me desculpa. Se é que... faz diferença.

Diego para.

— Faz — ele diz. Então, só porque aparentemente decidiu ser um irmão decente, acrescenta: — Eu tô com uns problemas agora. Tem... uma garota que eu gosto.

Lila?, Evie pergunta, ligando os pensamentos de ambos por um leve fio telepático. Sério que é ela? Não tinha ninguém melhor lá no sanatório não?

— É, ela — confirma Diego com um quê de irritação na voz. Vanya os encara confusa, sem entender, mas Kraken continua como se nada tivesse acontecido: — Eu pensei que ela gostasse de mim, mas acontece que ela é...

A porta do andar de baixo é aberta repentinamente, cortando a conversa, e Luther é o primeiro a se levantar.

— Graças a Deus — ele sussurra conforme a risada de uma mulher é ouvida.

Juntos, os quatro Hargreeves se aproximam das escadas, curiosos por um vislumbre dos irmãos que não vêem há meses.

— Tem alguém aqui? Oiê? — chama Allison, meio aos tropeços. Está embriagada, como é visível pelo rubor avermelhado das bochechas; mas tudo além disso, desde a pele escura e acetinada, e os cabelos pretos no penteado característico dos anos ‘60, lhe cai muito bem. Algo no rosto dela dá a impressão de ser atemporal, como se a beleza lhe fosse fiel em qualquer década que acabasse.

Le petit mort — Klaus anuncia, balançando como se estivesse bêbado. E com certeza está, considerando o histórico. — Le petit mort.

— Eu não falo francês — ri Allison.

— É "a pequena morte" em francês, é o que significa... Gente, quanta velharia... — ele olha para cima, bem onde seus irmãos agora estão, e tanto ele quanto a Número Três paralisam diante da visão de todos reunidos em um só lugar. — Ah, olha... eu sei que é impossível, mas será que todos nós ficamos mais gatos?

Evie dá alguns passos para trás antes de ser notada, e apesar de não ter sido aquela que acabou com o mundo da última vez, se sente mais nervosa do que todo mundo. O que se diz para os irmãos do seu marido após um longo, longo tempo sem vê-los?

— Não acredito que tenho outra irmã! — Vanya solta, animada, antes de descer correndo as escadas. As duas param, uma na frente da outra, sem saberem bem como agir, até que a Sete abre os braços e ambas se abraçam com força.

— Senti saudade — Allison murmura para a irmã.

— Que bom que alguém sentiu — responde Vanya, sem nunca deixar de sorrir.

Diego é o próximo a se aproximar, apontando diretamente para Klaus.

— Você tá bêbado? — ele pergunta, já reprovando.

— O quê? Ah, não, não, só tomei uns... — Quatro se vira para as duas irmãs, que continuam enlaçadas. — Ah, que fofura — e corre até elas, praticamente se jogando.

— Não... ai, meu Deus — Allison grunhe, apesar de rir.

— Oi — cumprimenta Vanya, com um sorriso diminuto.

— Oi, Vannie — diz Klaus, e dá um rápido beijinho na cabeça dela.

— Klaus — chama Cinco. — O Ben tá aqui?

— Ah, não — responde o homem com um suspiro dramático, se afastando do abraço. — Infelizmente, fantasmas não viajam no tempo.

Vanya olha ao redor, confusa quando não encontra quem procura.

— Ué, cadê ela?

— Quem? — Allison pergunta.

Cinco olha para o topo da escada, onde Evie se esconde, e acena para que ela se aproxime. Lentamente e com as pernas mais trêmulas que a gelatina horrível que Elliott preparou, a garota desce, agarrada no corrimão para evitar tropeçar. A cada passo seu coração parece ressoar ainda mais por todo seu corpo e por todo o espaço do átrio, até que finalmente, finalmente, ela se vê bem na frente de uma Allison surpresa e de um Klaus boquiaberto. É certamente uma visão e tanto, de vestido rosa e luvas compridas e sapatilhas baixas, a garota que devia estar morta mas não está, contra todas as probabilidades.

— Evangeline? — pergunta a Rumor, atônita. A garota assente, confirmando, ainda em silêncio, ainda tonta de alegria, mas mantém os olhos fixos no chão, tímida demais para fazer algum movimento.

— Oi — ela consegue murmurar baixinho. Então, como se tivesse sido liberado de um transe, Klaus se aproxima rapidamente, e, sem nem nenhuma cerimônia, a gira no ar. Evie grita de surpresa, agarrada a ele, e explode em risadas logo em seguida, maravilhada pela reação. — Também senti saudades! Klaus! Me coloca no chão!

— Você tá viva! Você tá viva! — ele comemora, lágrimas escapando de seus olhos. Klaus a coloca no chão novamente, e Evie seca as lágrimas dele com a ponta das luvas, toda delicada, se aproximando para abraçá-lo adequadamente mais uma vez, sentindo-o beijar o topo de sua cabeça várias vezes. — Todo mundo achou que você tava morta! Senti tanta a sua falta, Line-Lynn, você não tem ideia...

Sem esperar muito mais, Evie puxa Vanya e Allison para perto em mais um abraço, dessa vez coletivo, e até Diego, que observava a cena todo de longe, funga e se aproxima para se juntar muito brevemente, dando um abraço de lado. Luther hesita, mas também não perde tempo em envolver o grupo todo com os braços. Cinco permanece afastado, sorrindo levemente com a visão da família reunida mais uma vez.

— Tá legal então — ele anuncia, subindo as escadas. — Vamos começar de uma vez.

— Ah, nem começa — exclama Klaus. Ele corre até o irmão, o puxando pelo braço e, ignorando os protestos do garoto, o esmaga contra todos.

Eles permanecem juntos assim durante um bom tempo, aproveitando um tempo que de verdade nunca tiveram, sentindo saudades do único membro que falta, até que Cinco se afasta novamente.

— Certo. O suficiente — diz, limpando a garganta. — Ainda precisamos impedir o apocalipse.

— Tá legal, primeiro eu quero pedir desculpas — Cinco começa, logo após seus irmãos se acomodarem na sala. Evie está sentada bem ao lado de Allison, os pés jogados no colo dela. — Eu sei que errei feio com essa história de voltar no tempo e prender todo mundo aqui. Mas a pior coisa mesmo foi a gente ter trazido o fim do mundo junto com a gente.

— Meu Deus do céu, de novo? — Klaus engasga, parando sua procura por mais bebida no apartamento. — Vocês já sabiam, porque eu sou sempre o último a descobrir sobre o fim do mundo?… — ele arregala os olhos e engasga novamente em realização. — Ah, meu Deus, minha seita vai morrer de ódio, Cinco! Eu falei que a gente tinha até 2019!

— Eu disse que ele tinha um culto sexual — sussurra Evangeline, comemorando.

— Desde que não vire o novo Charles Manson — Allison concorda.

— Temos até segunda — continua Cinco, ignorando-os. — São seis dias.

— Vai ser a Vanya? — Klaus pergunta de supetão.

— Klaus!

— O quê, gente? Costuma ser a Vanya.

A Sete suspira.

— Você tem alguma pista, Cinco? — ela pergunta.

— É, tenho uma. — Diego puxa a pasta preta e a devolve ao garoto, que entrega para Allison. Lá dentro, a foto de Sir Reginald com seu guarda-chuva preto, exatamente como na filmagem dos Frankel.

— Puta merda, é o papai? — ela exclama, surpresa.

— É ele? — Vanya olha para Evie, buscando por confirmação, e ela assente.

— É — Diego informa, e então acrescenta: — E ele está na praça.

— Eu, Evie e o Diego temos tentado falar com o papai sobre o que isso significa — Cinco diz. — Mas até agora, nada.

— Como assim nada? — Kraken intervém. — Sabemos que ele planeja matar o Kennedy.

— Talvez. Mas não sabemos quem ou o que desencadeia o fim do mundo — o garoto meneia com a cabeça para provar seu ponto. — Pode ser o Kennedy, ou algo independente dele. Mas alguma coisa muda a linha do tempo e precisamos acertar as coisas.

— Como acertar se não sabemos o que tá errado?

— Ah, qual é, faz as contas! — Diego urra. — Sabemos que o papai tá fazendo reuniões suspeitas com pessoas suspeitas, e sabemos que em três dias ele vai estar na praça para matar o presidente. Tá bem claro o que precisamos fazer.

— E isso seria…? — Evie indaga, torcendo para que não seja o que pensa.

— Encontrar o papai.

— Matar o papai.

Os dois irmãos se entreolham em descrença, como se um não pudesse acreditar na burrice do outro e vice-versa.

— Não temos como fazer alguma coisa se todo mundo não tiver em consenso — a garota nunca pensou que contaria uma mentira tão deslavada assim. Não entenda mal, Evie sempre foi do tipo que leva a opinião dos outros em consideração na maioria das vezes, mas essa não é uma dessas situações. O fim do mundo está próximo, e embora a democracia seja um excelente conceito, o apocalipse não é exatamente a melhor das ocasiões em que isso possa ser aplicado. Cinco pensa a mesma coisa que ela. Mas é a primeira reunião de família em meses para a maioria, então a abordagem é bem mais tranquila do que seria normalmente.

— Não era pra nenhum de nós estar aqui, lembram? — Vanya aponta. — Quer dizer, e se formos nós? Mais alguém aqui fez alguma coisa pra mudar a linha do tempo?

Klaus se senta em uma cadeira, fazendo sua melhor cara de inocência e balançando a cabeça em negativa. Diego cruza os braços pensando em todos os seus passos nos últimos meses. Allison se serve de mais um pouco do whisky que levou consigo. Luther, que permaneceu quieto a reunião toda, é o primeiro a falar:

— O Diego anda perseguindo o Lee Harvey Oswald.

— E você trabalha pro Jack Ruby! — Diego retruca imediatamente.

— A Allison é bastante envolvida com a política local — confessa Klaus.

— Tá, e você criou uma seita — ela rebate.

— E-eu sou babá numa fazenda, eu não tenho nada haver com isso — Vanya gagueja.

— Talvez tenha, só não sabemos ainda — alguém considera. Todos eles se viram então para Evangeline, que permanece em silêncio em seu lugar no sofá.

— Nem vem, eu quase não saio de casa — ela diz na defensiva. — E quando eu saio, é só pra ir na livraria aqui perto.

— Presta atenção! — Diego grita, perdendo a paciência. — Tudo em nossas vidas novas tá ligado ao Kennedy, não pode ser coincidência. O Luther tá trabalhando pro Ruby, a Allison protesta contra o governo, o nosso pai vai até a praça, o Klaus… tá fazendo uma coisa bizarra, mas deve ter relação. Viram? É claro que fomos enviados para cá com uma razão em especial: salvar John Fitzgerald Kennedy.

— Eu discordo — Evie fala, dando um gole rápido na bebida de Allison.

— Discorda o caralho.

— No cu você não quer enfiar não? Não te perguntei nada — retruca ela. — O Kennedy precisa morrer exatamente como os livros de história disseram que ele morreu: com um tiro na cabeça dado por Lee Harvey Oswald. E esse cara vai ser assassinado pelo Jacob Rubenstein sob o pseudônimo de Jack Ruby, que vai morrer de câncer de pulmão daqui a quatro anos. Se o Kennedy viver, isso sim vai prejudicar a linha do tempo. Nós somos a causa desse apocalipse sem dúvida nenhuma, e já estivemos por aqui por tempo demais. Ou a gente vai embora de vez sem causar mais nenhum dano ou o mundo inteiro se explode.

É quando a discussão é iniciada. Conforme Evie e Diego se descontrolam e começam a discutir e os outros tomam seu partido, dando suas opiniões a cada argumento lançado, tudo parece ser envolvido no meio – do Papa até Marilyn Monroe, de Jackie Kennedy a Elizabeth Taylor e então Audrey Hepburn. E Cinco permanece quieto, relembrando. A guerra que ele viu. Os soldados morrendo. Tanques. Mísseis. A humanidade em seu estado mais cru, mais brutal. Sua família lutando. Sua família morrendo.

— Galera, vocês todos morrem — A voz dele parece ressoar pela sala, calando os outros e recobrando a sanidade. — Eu tava lá — continua. — Eu vi. Eu quero esquecer, mas não dá.

A culpa parece corroer as entranhas da garota. Eles viram o primeiro apocalipse em 2019 juntos, sobreviveram juntos. Viram os corpos dos irmãos dele. Mataram mais pessoas do que jamais seriam capazes de contar. E, no entanto, no período em que passaram separados, Cinco presenciou uma destruição ainda maior. Ele viu o mundo acabar de novo, viu sua família morrer de novo. É claro que ele estaria determinado a impedir que tudo se repetisse. Qualquer pessoa de bom senso faria isso.

— Eu vi mísseis russos desintegrarem o mundo com vocês dentro em uma guerra que nunca existiu até a gente trazer ela pra cá. E o Hazel perdeu a vida pra nos salvar, então vocês precisam calar a boca e me ouvir agora. Eu não sei se as coisas que vivemos aqui estão conectadas, eu não sei se existe um motivo pra tudo isso. Mas nosso pai vai saber. Temos que falar com ele antes que tudo e todos que nós conhecemos morra.

Luther é o primeiro a se pronunciar.

— Tá legal, tô fora.

— Por acaso você me ouviu, Luther? — a incredulidade de Cinco está estampada na cara dele conforme segue o irmão.

— É, é, eu ouvi um velho de 58 anos que ainda quer que o papai dele resolva tudo. Então não conta comigo. Tá na hora da gente crescer, galera.

Evangeline se levanta, exasperada.

— Luther!

— Luther!

— Ô, aonde é que você vai? — Diego chama.

— Esquece, Diego! — Luther o dispensa.

Cinco se teletransporta bem na frente dele, bloqueando o caminho pela escada.

— Ninguém sai até a gente saber o que fazer — ele diz, sem espaços para discussões.

E Luther realmente não discute. Ele simplesmente agarra o irmão pelas lapelas do blazer e o joga da escada. Bem no momento em que um grito estrangulado escapa dos lábios de Evie. O garoto consegue se teletransportar antes de atingir o chão, para alívio da esposa, que se vira enfurecida para encarar Luther.

— Chernobyl, Hiroshima, Nagasaki, Césio 137 e o próprio 11 de setembro invejam a desgraça que foi o dia do seu nascimento, Luther Hargreeves — ela esbraveja.

Ele se vira na mesma hora e sai andando a passos duros, abrindo a porta com força e saindo para a rua. Diego o segue imediatamente, e Evangeline também, continuando a gritar com ele.

— O que é que tá acontecendo com você, garotão? — Diego pergunta em voz alta.

— Me deixem em paz, vocês dois!

— O quê, acha que pode dar uma surra no meu marido e cair fora desse jeito? — Evie caçoa, praticamente o fuzilando com o olhar. — Caralho, eu queria poder te emprestar meus olhos pra que você pudesse ver o quão insuportável você é!

Ele se vira para ela, exasperado, e olha bem nos olhos dela. É bem nesse momento que Evie invade a mente dele, apenas superficialmente, suas íris se tornando leitosas quando o rosto de Spaceboy se contorce em uma careta de horror. Sem que ele possa controlar, o braço se ergue e o punho se vira na direção do próprio rosto. Diego se aproxima de Evie bem quando Luther se dá um soco, e está perto o suficiente para segurar a garota quando ela quase cai de costas, tonta pelo uso dos poderes. Kraken a faz sentar no meio fio e lhe entrega um lenço imundo no qual ela não tem escolha senão usar para limpar o máximo de sangue que agora escorre de seu nariz. Luther se recosta na parede do beco, cobrindo o olho roxo com as mãos, respirando pesadamente por causa do golpe.

— Pra quê isso?! — ele pergunta, chocado, tocando o hematoma que começa a surgir.

— Pra você aprender — responde a garota com a voz abafada. — Queria ter te mandado ir a merda, mas já tô nela e não quero sua companhia.

Luther se junta a ela na calçada com um grunhido. Apesar do rosto machucado, não parece nada irritado, sabe-se lá porquê. Diego permanece entre eles, caso voltem a brigar e a situação escalone rápido demais.

— Olha, talvez tentar impedir o fim do mundo seja o gatilho dele — explica o Número Um, quase gentilmente, como se não tivesse sido forçado a acertar um soco no próprio rosto. — Você já parou pra pensar nisso?

— E não fazemos nada? — ela imita o tom dele dessa vez, devolvendo o lenço a Diego. — Desde quando você é um covarde?

— Desde a última vez que eu destruí o mundo superestimando minha própria importância.

— Ah, então ainda tá apegado àquela história de não ter conseguido alcançar as expectativas do papai, é?

— Talvez. Eu não sei, todo mundo aqui é meio doido com relação ao papai. Até você, que nunca teve que conviver com ele e só ouvia as histórias.

— Porra de daddy issues — Evie suspira, como se soubesse como é. Ela adora seu pai, não tem ideia do que a ausência de um pode causar em alguém; a mera convivência com os outros Hargreeves, no entanto, parecem ser de um excelente exemplo. — Tamo falando de você, Diego.

— Ah, não, não começa — Diego fala, ríspido. — Ele é um babaca, eu sou incrível, é muito simples. Entendem?

Evie ri, embora não haja graça alguma na situação.

— Tá bom. Então tá bom. Então porque não deixa o presidente Kennedy em paz?

— Eu sou um herói. Heróis impedem crimes — é uma resposta tão simples, e tão tola ao mesmo tempo, que a faz querer rir novamente.

— Não, não, não, o papai disse que você é um herói, né, ele disse pra todos nós — Luther discorda. — Mas e se ele mentiu? E se formos um bando de esquisitos que não têm que se meter a mudar o mundo pros outros, hum?

Evie nega com a cabeça.

— Todo mundo muda o mundo, Luther, todo mundo. — diz. — E é assustador, mas é assim mesmo. É por isso que é tão difícil prever os movimentos de uma pessoa, porque a gente nunca sabe quem o outro é de verdade. E talvez nem eles saibam quem são. Sabe, você é um cara tão gigantesco e tão idiota que às vezes eu esqueço que é só um garoto sensível — ela se aproxima e o cutuca com o cotovelo. — Vai dar tudo certo, cara. Esse é o caminho.

— Ah, é, como sabe disso?

Dessa vez é Diego quem se abaixa e murmura uma resposta:

— Porque tem um carro preto enorme seguindo a gente desde que saímos lá do Elliott. Olha pra trás.

Eles se levantam imediatamente, observando a limousine que se aproxima devagar, e Diego é o primeiro a empurrar Evie para trás, de modo que fique protetoramente na frente dela. Ela inclina a cabeça para o lado, observando apreensiva o homem que sai lentamente do banco do motorista. Vestido impecavelmente de fraque e ainda mais velho que Evie, ele entrega um convite a Diego antes de entrar mais uma vez no carro e ir embora, tão silencioso que quando se vai, é como se nunca tivesse aparecido em primeiro lugar.

Eles esperam até que o carro não esteja mais visível antes de abrirem o convite.

— “Aos meus perseguidores, eu, Reginald Hargreeves, solicito o prazer da sua presença para um jantar leve no dia 20 de novembro de ‘63 às sete e meia da noite. Rua Magnólia 1604.”

O clima parece pesar consideravelmente apenas com essa ideia, e é Evie que, após vários minutos de silêncio, fala, ecoando os pensamentos dos dois irmãos:

— Um “jantar leve”?

001 ₎ Oii! Esse foi um dos meus capítulos preferidos de se escrever, junto do próximo que vem aí. Espero ter conseguido transmitir todo o carinho que Evie – e eu – temos por essa família louca. Mas aguardem, a depressão vem aí.

002 ₎ Caso tenham gostado, curtam e comentem e me digam suas teorias! Estou ansiosa para trazer mais capítulos, então nos veremos o mais cedo possível.

©lovingclare.

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