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⊹──⊱Capítulo 4⊰──⊹

Milo Hamilton

Acordo com um raio de sol na cara. Olho para a Violeta que também acorda lentamente.

- Bom dia.- sussuro no seu ouvido.

- Bom dia.- ela responde se esperguiçando. Depois me olha. Aqueles olhos castanhos me hipnotizam.

Parece que ela estava em transe porque ficou um minuto a me olhar e no fim desse minuto ela disse finalmente:

- Espera aí. Seus pais sabem que estou aqui? Eles não se importam? E aqueles maníacos? O que lhes aconteceu?- ela faz muitas perguntas e eu rio com a sua atitude.

- Você é sempre assim?- pergunto ainda rindo.

- Assim como?- ela sorri e cora um pouquinho.

- Quando quer fazer uma pergunta faz logo mil?- sorrio também.

- Sim. É o meu jeito de ser.- ela ri.

- Os meus pais não sabem que você está cá e você não tem que se preocupar mais com os maníacos. Eu dei um jeito neles. Eu não costumo magoar pessoas.

- Sabe que eles têm amigos e que um simples ataque de lobisomem não os vai parar.

- Mas assim fica mais difícil eles te acharem.

- É verdade.- ela sorri, que sorriso mais lindo.- Além do mais eu não me sinto segura fora daqui.

- E porque você se sente segura aqui?- pergunto curioso.

- Porque aqui tenho você, e não sei porquê sinto que você é o único que me pode proteger.

- Não. Qualquer um que visse você ajudaria e poderia te proteger.

- Eu agora confio em você.- ela declara e vejo seus olhos castanhos brilharem.

- E o resto de sua família?- pergunto para tentar entender as coisas.

- Meu pai morreu quando eu e o meu irmão éramos crianças. Minha mãe morreu semana passada por causa desses maníacos. Meu irmão e eu fugimos em direções opostas e não sei se o apanharam ou se mataram.- lágrimas começam a escorrer em seu rosto enquanto relata os acontecimentos.- Estou preocupada. Eu ia à procura dele, mas tenho medo de sair daqui.

- Se você quer encontrar seu irmão eu posso ir com você. Quando você estiver curada.- falo limpando as suas lágrimas.

- Obrigada Milo. É muito importante para mim encontrar meu irmão.

- Entendo. Eu também não conseguiria aguentar sem saber se minha irmã estava bem.- sorrio e ela sorri fraco.

Sinto o cheiro a panquecas invadir minhas narinas. Me viro para a Violeta e digo:

- Espera aqui. Eu já trago café para você. Pode ir se arrumando. Tem ali o banheiro com tudo.- aponto para a porta de entrada do banheiro.- E ali tem o closet.- aponto para a porta do closet.

- Tá bom. Até já.- ela fala sorrindo.

Eu dormi vestido e depois vou me arrumar. É só o café da manhã mesmo.

Chego na sala de refeições e está lá todo o mundo (madrugadores) exceto a Meg. Sentei no meu lugar ao lado da minha avó. Estavam todos a conversar. Pouco tempo depois chega a Meg e as conversas são interrompidas. Ela se senta ao meu lado e todos voltam às suas conversas. Ela se vira para mim e pergunta num sussurro:

- E a garota?- eu pensava que ela tinha esquecido a Violeta.

- Qual garota?- respondo num sussurro me fazendo de desentendido

- A garota que você ajudou ontem.- continuamos a conversa em sussurro.

- Ah! Aquela garota! Ela ainda está dormindo.- finjo que percebi do que ela falava e minto.

- Milo.- ela me olha como quem diz "eu sei que você está mentindo". Quando ela faz esse olhar não consigo mentir.

- Tá bom. Ela está esperando por comida. Os pais não podem saber que...

- Saber o quê?- o Kaio pergunta interrompendo a nossa conversa e a de todos. Merda! Olho para a Meg como quem diz "porque você falou".

- Nada.- respondo. Se o Kaio souber que eu trouxe alguém para cá ele me mata.

- Tem certeza?- ele insiste

- Tenho.- afirmo.

- Não me pareceu.- o Kaio afirma e a Emily me olha como quem diz "conta para ele". Ela sabe sempre quando estou a esconder algo.

- Promete que não se zanga?- tenho medo da reação dele. Ele é sempre tão explosivo.

- N...

- Promete.- a Karla põe a mão sobre a dele e ele se acalma.

- Ok. Cá vai.- inspiro para ganhar coragem.- Ontem à noite, na caçada, eu encontrei uma garota na floresta. Ela estava perdida e ferida. Eu só quis ajudar ela. Então trouxe ela para casa.

- O que você fez seu...- o Kaio ia começar com as ofensas.

- Kaio!- a Karla grita interrompendo ele.- Querido, você fez bem. Onde ela está?

- No quarto ao lado do meu.-respondo.

- Ela já está acordada?- Karla pergunta. Não vou mentir para ela.

- Já.

- E ela não terá fome?- sim claro que deve ter.

- Talvez. Eu disse que levava o café depois.

- Porque não vai buscar ela e ela come com a gente.- o Kaio olha para ela como que a dizer "não é boa ideia" e nesse momento tenho que concordar, não acho boa ideia.

- Tá bom.- me levanto e sigo o meu caminho.

Chego no quarto dela e bato.

- Vi, sou eu o Milo. Posso entrar?

- Pode só tou vestindo minha camiseta.

Entro. Ela está linda. Seus caracóis castanhos atados num rabo de cavalo. Ela usa uma sweat vermelha e umas calças jeans pretas. Nunca vi tanta beleza na minha vida. Eu devo ter começado a me babar porque ela perguntou levantando uma sobrancelha:

- O que tem com você?

- Nada. Nada.- reparo que estava babando mesmo e limpo a boca. Ela é tão....sexy.

- Cadê?- pergunta.

- Cadê o quê?

- O café ué. Você disse que ia trazer o café da manhã para mim.- já nem lembrava disso.

- Pois... Meus pais descobriram que você está cá. Aí eles meio que convidaram você para tomar café com a gente.- sorrio encolhendo os ombros.

- Então vamos. Estou morrendo de fome.- ela bate com uma mão na outra e passa a língua sobre os lábios.

Descemos as escadas e aparecemos na sala de refeições. Parece que salvei a Meg de uma conversa constrangedora pois ela olha para mim como que me agradecendo. Indico o lugar para a Violeta se sentar. Ela se senta ao pé da Meg.

- Bom dia querida. Você dormiu bem?- a Karla pergunta.- Desculpe nossa indelicadeza, mas não sabíamos que tínhamos visitas, por isso não contámos com você. Mas ainda sobraram algumas panquecas. Você quer?- a Karla é sempre tão amigável ao contrário do marido que é bastante explosivo.

- Sim, pode ser.- a Violeta responde timidamente.

- Eu vou na cozinha buscar. E Kaio, não arranje confusão.- o Kaio assente e a Karla segue para a cozinha. A Meg se vira para a Violeta e estendendo a mão se apresenta:

- Então.... Meu nome é Meg e o seu?

- O meu é Violeta, mas pode me chamar de Vi.- ela aperta mão da Meg.- Prazer e obrigada por me receber.

- Por nada.- ela responde sorrindo.

- Então...Violeta...De onde você vem?- o Kaio pergunta.

- Eu venho da cidade, aqui perto.

- E porque uma garotinha da cidade como você, estava perdida e ferida na floresta?- o olho para ela suplicando para ela não contar.

- Bem, eu tinha ido passear na floresta e caí espetando uma estaca bem afiada e ao tirar cortou minha perna. Depois fui procurar ajuda, até que encontrei um riacho. Eu tinha perdido muito sangue então adormeci e o Milo me encontrou. Eu sou muito desastrada.

- Ummm... Estou vendo.- o Kaio fala desconfiado.

A Karla entra com um prato com três panquecas para a Violeta e ela agradece:

- Obrigada pela gentileza, minha senhora.

- Não me trata por senhora. Me trata por Karla.

- Tá bom, Karla

Os meus bisavós, avós e irmãos (exceto a Meg) se levantam e vão à sua vida. Ficamos eu, a Meg, os "meus pais" e a Violeta.

- Quando vocês acabarem de comer. Lavem a loiça.- o Kaio fala olhando para o mim.

- Não é preciso. Eu lavo.- a Karla fala.

Acabamos de comer e saímos para a sala.

- Eu vou mostrar a casa para ela. Você vai...- incentivo ela a completar minha frase.

- Eu vou dar uma volta.

- Tá bom, te vejo por aí.- ela assinte e vai pela esquerda enquanto eu vou pela direita.

- Então eu vou mostrar a casa toda para você. Vamos começar com a parte Este e depois do almoço vamos para a parte Oeste e para o jardim. E terminaremos no sótão depois do maravilhoso jantar.- falo como um guia turístico e ela ri.

- Você tem jardim?- pergunta radiante.

- Sim. Porquê? A Madame quer começar por lá?- sorrio e estendo minha mão.

- Sim pode ser.- ela ri baixinho.

Seguimos em direção ao jardim. O nosso jardim é bem bonito e cheiroso. Tem rosas, túlipas, dálias, margaridas, todas as flores que vocês possam imaginar.

Ela estava maravilhada. Inalava o cheiro que parecia deixá-la muito feliz. Ela explora o jardim. Eu apenas a observo, observo sua beleza. Sinto uma mão me tocar no ombro e me viro vendo que se trata da Elena.

- Oi Lena!- a comprimento sorrindo.

- Oi Milo. Então ela ainda cá está.- ela fala apontando com a cabeça para a Violeta.

- Sim. Ela ainda não se recuperou totalmente.

- Sabe, não parece que não se tenha recuperado pelo contrário ela parece ótima.

- Pois...- vou me justificar quando ela me interrompe.

- Não comece Milo. Você fez uma promessa. Quando ela melhorar sai.- ela parece irritada.

- Você está com ciúmes?- pergunto provocando.

- Claro que estou. Você sabe que te amo e não suporto ver você com outra garota.

- Lena,...

- Não me venha com desculpas.- ela volta a me interromper.

- Viu. Você nem me deixa falar.

- Porque já sei o que vai dizer.

- Não. Você vai me ouvir. Lena a Vi é apenas uma amiga. Não se preocupa.- falo mas acho que não tenho a certeza do que digo.

- Isso é o que todos dizem.

- Você ao menos conheceu ela para estar julgando?- a Violeta chega perto de nós.

- Oi. Eu sou a Violeta e você é?- a Violeta se apresenta.

- Eu sou a Elena. Futura namorada do Milo.- ela mente e me pisa impedindo que eu diga alguma coisa. Ela não vai entender que nós nunca vamos ser um casal?

- Ah.- ela suspira triste.- Ele tem sorte você é muito bonita.- ela tem razão a Elena é bem bonita. Mas eu não estou interessado nela. Acho que estou interessado noutra pessoa.

- Obrigada. Você também é bem bonita.- a Elena responde e sinto compaixão na sua voz. Elas ainda vão ser boas amigas. Vejo a Meg perto da porta que dá entrada ao jardim. Ela faz sinal para eu ir ter com ela.

- Eu já venho meninas. Vou só ali falar com minha irmã.- elas assentem e eu vou ter com a Meg.

- Oi. O que houve?- pergunto preocupado. Ela parece triste e aborrecida.

- Eu preciso falar com você. É um assunto sério.

- Diga.- a incentivo.

- Tem que ser em privado.- ela fala olhando para a Lena e a Vi.

- Vamos para o meu quarto.- me viro para elas.- Meninas eu vou estar no meu quarto.- elas assentem.

Subimos as escadas e entramos no meu quarto. Quando fecho a porta a Meg se vira para mim.

- Como você pode me mentir esses anos todos!- ela está irritada. Não sei do que ela fala.

- O que você está falando?

- Você sabe.- grita.

- Não. Não sei.

- Vai me dizer que não sabia que nós éramos adotados?- me cai a ficha. Como ela descobriu?

- Como você...- ela me interrompe, não me dando oportunidade de me explicar.

- Não interessa. Você me mentiu a vida toda sobre nossos pais.- as lágrimas começam a escorrer e eu me dirijo a ela para a abraçar mas ela recua.

- Eu não queria que você soubesse porque eles eram horríveis.-minto. Nossos verdadeiros pais não eram horríveis eu é que fui com eles.

- Lá por eles serem horríveis não quer dizer que eu não queira saber a verdade.- ela passa os dedos pelos cabelos num gesto de frustração.

- Eles nunca nos aceitaram. Você queria viver triste?

- Não, mas queria ao menos saber que sou adotada.- ela continua chorando enquanto fala. Só quero aconchegar ela nos meus braços. Não suporto ver ela chorando e o pior é que a culpa é minha.

- Assim você ia viver infeliz, nunca ia se sentir bem. Nunca ia sentir que fazia parte da família. Ia ser sempre a miúda metamórfica estranha que adotaram.- eu não consigo evitar e escorre uma lágrima. Eu sei o que é viver assim e não queria que ela vivesse o mesmo. Ela para de chorar. Limpa as lágrimas. Chega ao pé de mim e me abraça. Não me consigo conter, choro no ombro dela enquanto retribuo o abraço.

- Desculpa. Não queria machucar você.- ela fala ao meu ouvido.

- Não faz mal. Eu não devia ter mentido a você sobre nossos pais e sobre sermos metamórficos. Eu sabia que mais cedo ou mais ttarde você ia descobrir mas preferia que fosse mais tarde.- respondo soluçando junto de seu ouvido.

- Eu ouvi os nossos pais falarem sobre isso e aí eu descobri.

- O Kaio nunca foi muito...

- Eu sei. Embora eu queira descobrir nossos verdadeiros pais, a Karla e o Kaio sempre serão meus pais do coração.

- Ainda bem.- sinto o calor do nosso abraço e o lentamente de chorar e limpo minhas lágrimas. Ela rompe o nosso abraço e pergunta:

- Você deixa?

- Deixo o quê?- pergunto confuso.

- Eu procurar nossos pais?

- Você enlouqueceu!- eu não quero que ela os encontre vai me fazer sentir pior ainda. Eu não quero perder ela também.

- Eu quero saber quem eles são. Por favor.- ela faz olhos de cachorrinho. Aqueles olhos são irresistíveis, não consigo dizer que não.

- Tá bom.Mas eu também vou com você.- não posso deixar ela ir sozinha.

- Tá bom. Agora vai ter com a Vi. Você ficou de mostrar a casa para ela.

Eu assinto e saio do quarto. Será que ela fica bem. Eu me sinto mal por causa disso. Tenho medo por ela. Quando ela descobrir o que eu já sei sobre nossos verdadeiros pais ela vai me matar. Melhor não contar para ela.

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