Capitulo - 39
Fazia uma semana desde a chegada de Tommaso na pensão. Ele se mostrou alguém animado e brincalhão com tudo, o que explicava muita coisa em relação ao momento em que nos conhecemos.
Tínhamos combinado de todos nós sairmos naquela noite, e a decisão do local foi inteiramente de Martina, de modo que a nossa diversão seria no clube de dança que ela tanto gostava.
Estava animada, afinal ela me convidava para esse programa há séculos e eu sempre recusava. Agora veria o que tanto a encantava e fazia ela voltar para casa tão renovada e cheia de vivacidade.
Deixei que a senhora escolhesse minha roupa, um vestido cor de rosa com a saia rodada e sapatilhas brilhantes. Também permiti que fizesse a minha maquiagem, que não foi muita dado o local.
Os meninos estavam bem vestidos, de um jeito informal e bonito.
Seguimos noite adentro, com Martina e Tommaso nos assentos da frente e Lorenzo e eu atrás. Não pude deixar de notar seu perfume que chegou a mim lentamente e marcante.
Eu não queria pensar em Lorenzo daquela forma, reparando em como seu cheiro era bom, ou em como ele ficava ao cozinhar, ou no modo como o corte de seu cabelo realçava seus olhos e em como eles eram tão verdes. Não queria nem pensar nele, contudo, eu ainda pensava. E para piorar, meu coração insistia em bater acelerado cada vez que eu o via.
Não era certo. Ele gostava de Ângela e ela parecia gostar dele também.
Balancei a cabeça para mandar todos os pensamentos para longe, abri o vidro do lado onde eu estava para dissipar completamente o aroma da pessoa ao meu lado.
Naquela noite, não pensaria em nada, tudo o que faria seria me entregar àquela diversão que a dança proporcionaria e aproveitaria o momento.
Por fora, o clube de dança não parecia muito promissor, entretanto ao entrar fui surpreendida com as luzes e enfeites glamourosos. Fitinhas e balões elegante e festivos pendiam do teto, pilastras eram enfeitadas com adornos e pisca-piscas, mesas contornavam as paredes e no centro do local estendia-se a pista de dança.
O clube estava cheio, pessoas de todas as idades e jeitos iam e vinham animadas e dançantes. Pareciam se divertir apenas de estarem ali. E foi exatamente o que eu senti, uma onda de felicidade apenas por ter ido.
Martina nos apresentou para, praticamente, todas as pessoas. Seus amigos eram igualmente elétricos como ela e disparavam elogios e gentilezas para nós. Fui apresentada como sua neta de coração, coisa que me deixou orgulhosa de certa forma e amada.
Logo fui arrastada para a pista por um senhor com ótimos joelhos dado a sua idade, seu nome era Umberto e ele teve toda a paciência ao me ensinar alguns passos. Quando eu já estava pegando o jeito, fui "roubada" por outro senhor, que rodopiava e batia palmas sorridente. Foi assim por um bom tempo, e por incrível que pareça não me cansei tanto assim.
Respirei ofegante, me recuperando ao final de uma música. Forcei os olhos procurando Martina, mas quem me encontrou foi Lorenzo, com uma mão estendida e um copo de água na outra.
Aceitei sua mão e ele me levou para uma das mesas afastadas de toda a agitação, colocou o copo na minha frente e sentou-se também.
— É uma loucura, não é? — disparei entre risadas.
Lorenzo olhou para mim, um sorriso enfeitava seus lábios.
— É sim, minha avó adora isso tudo — respondeu. — Mas você precisa descansar um pouco agora, não pode sobrecarregar seu corpo.
Mudei de posição ficando de frente para ele. Cerrei os olhos ao dizer:
— Está cuidando de mim, Dr. Lorenzo? — brinquei.
— Prometi a sua mãe que ficaria de olho em você — respondeu, para a minha surpresa.
Balance a cabeça rindo.
— É claro que ela arrumaria um espia aqui.
Ele deu de ombros.
— Não me importo de fazer isso, eu gosto. Não faço apenas porque ela pediu.
Por um instante nossos olhares se encontraram e eu não soube dizer se meu coração estava disparado por conta do esforço da dança ou pelo que ele havia acabado de dizer.
Martina apareceu e puxou-me pelo pulso falando algo que não prestei atenção. Eu só conseguia encarar Lorenzo enquanto nos afastávamos.
Por que ele dizia aquelas coisas se estava gostando de outra garota? Por que tinha que mexer tanto comigo?!
Logo me vi rodeada pelas amigas de Martina, que tocavam meu cabelo e elogiavam minha roupa.
— Ela é tão linda, tem uma expressão apaixonada no rosto — disse uma delas, Antonela, as demais concordaram.
— Está apaixonada, cara*? — Outra questionou. Roseli, acho.
Senti minhas bochechas queimarem ainda mais. Por Deus, estava quente ali dentro.
— Não! — neguei rápido demais. — Não... Não estou apaixonada. — Forcei um sorriso.
Elas trocaram um olhar cúmplice, aqueles que pessoas bem vividas fazem quando se deparam com uma situação da qual presenciaram diversas vezes na vida.
— Negar pode ser o primeiro sinal de que está, tesoro* — Antonela disse com uma voz experiente.
— Mas eu não...
Carmela, outra das amigas, ergueu a mão para me interromper. Depois deu um gole na bebida em sua mão e disse:
— O coração não mente, figlia*.
Senti meu corpo arrepiar diante de tanta certeza em uma só frase. Falei que eu precisava de ar e saí antes de ser bombardeada com mais perguntas e conselhos amorosos para um amor que não existia.
Inspirei o ar refrescante quando cheguei na rua.
Se eu ao menos pudesse controlar meus pensamentos e meu coração...
Ficamos horas no clube de dança, o mais animado entre nós era Tommaso, que com seu jeito cativante encantara várias senhoras, dançando com cada uma delas. Foi engraçado de ver.
Ao final da noite, voltamos exaustos para a pensão, rindo e lembrando de cada momento.
Esparramei-me no sofá para recuperar as forças, enquanto Martina subia as escadas dançando com seu neto mais velho atrás de si cantando e a imitando. Sorri diante da cena fofa.
Quando enfim criei coragem para levantar, fui barrada no primeiro degrau por Lorenzo.
— Quero falar com você — pediu, passando a mão pelos cabelos bagunçados de uma forma charmosa.
Assenti prestando atenção em seus movimentos um tanto nervosos.
— Vou participar de uma competição de chefes em nome do Romano's depois de amanhã e haverá um baile beneficente para os convidados — explicou. — Posso levar um acompanhante e gostaria de saber se você aceita ir comigo.
Lorenzo retirou do bolso um envelope branco e estendeu na minha direção, hesitei antes de pegá-lo.
Aos meus quinze anos de idade, eu sonhava com o dia em que um garoto me convidaria para um baile, como nos filmes e livros que eu tanto assistia. Foi assim até os meus dezoito anos, depois disso parei de acreditar que aconteceria e me convenci de que era bobagem. Agora, estava diante de um desses pedidos, com direito a um convite em papel chique.
Pelo visto, alguns sonhos realmente se realizavam.
Inspirei profundamente antes de sorrir e responder:
— Eu quero sim.
Ele abriu um sorriso lindo, aliviado e satisfeito com a minha resposta.
— Combinado então. Buona serata*, Camila.
— Buona serata*, Lorrrrenzo — respondi, lembrando de como ele havia ensinado a pronúncia de seu nome meses atrás. E é claro que ele se lembrou também, porque gargalhou.
Fui para meu quarto com o convite apertado contra o peito. Era apenas um baile, e era compreensível que me convidasse, afinal eu também fazia parte do restaurante. Ele teria chamado qualquer outra pessoa, não é mesmo?
E se o convite tivesse influência de Martina? Entretanto, ela parecia tão alheia àquilo quanto eu. Além disso, Lorenzo parecia nervoso, como se tivesse planejado o que falar durante todo o dia.
O coração não mente.
Talvez o meu estivesse sendo completamente sincero, mas eu o impedia de me guiar.
Lorenzo
O perfume doce e inebriante da garota ao meu lado preencheu meus pulmões quando ela abriu a janela do carro, o vento trouxe seu aroma e não resisti em observá-la.
Camila mantinha os olhos na rua, com os pensamentos longe.
O convite no meu bolso parecia queimar e gritar para ela o que eu tanto queria dizer. Planejei o que falaria e quando falaria. Quase consegui quando a fiz descansar em uma das mesas por um momento no clube de dança. Seus olhos pareciam chamas brilhantes que ardiam em compasso com seu cabelo cobre vibrante, as bochechas rosadas e um sorriso fácil estampando seu belo rosto.
Quando enfim a convidei, meu coração batendo disparado, ela aceitou. Não pude disfarçar minha felicidade.
Nesse momento, deitado no sofá da sala e encarando o teto, eu me senti agradecido por poder viver.
_______________________________
TRADUÇÃO DAS PALAVRAS COM ASTERISCO*
Cara - Querida;
Tesoro - Tesouro;
Figlia - Filha;
Buona serata - Boa noite;
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro