Capítulo - 21
Giordana e Francesca tinham me chamado para ir a um parque de diversões novo na cidade, o nome era algo como "A mágica de Dubai", o que não me pareceu muito convincente. Mas resolvi dar uma chance.
Me arrumei e esperei no portão da pensão. Eu não tinha saído muito do quarto naquele domingo, o clima ainda estava meio estranho e eu me ocupei com pesquisar passagens para casa e organizá-las por ordem de valor. Meus pais ainda não sabiam da minha, não tão definida, decisão. E talvez fosse melhor desse jeito, assim eles não colocariam ainda mais pressão e expectativa na coisa toda.
O carro cor de rosa parou na minha frente, ocupado por duas garotas estonteantemente lindas. Sorri para elas.
— Espero que esteja animada, ragazza* — Giordana disse quando entrei no veículo.
Balancei a cabeça em concordância.
— Eu mal posso esperar para brincar de jogar água em patinhos de borracha! — provoquei, fazendo Francesca gargalhar alto.
— Você vai se surpreender.
A verdade era que eu não fazia ideia do que esperar daquela noite, afinal sair de casa era o último dos meus planos.
Avistamos as luzes coloridas de longe. O estacionamento estava cheio e disputamos uma vaga com um adolescente, que se intimidou com a voz forte de Giordana.
O parque tinha mesmo uma estrutura maior do que eu imaginava, uma verdadeira roda gigante, uma montanha russa de dar frio na barriga e várias outras coisas incríveis e cheias de cores e luzes.
Enquanto eu prestava atenção nos brinquedos radicais, não notei o grupinho que se aproximou de nós. Fellipo, acompanhado de uma moça muito bonita, dois rapazes que eu não conhecia e Jean.
Ficou claro que aquilo era um encontro de casais. E Jean também entendeu na hora.
— Armaram para nós — disse para mim.
— Bem que sua amiga-cupido disse que eu me surpreenderia — respondi despreocupada.
Ele sorriu inclinando a cabeça, o que fez algumas mechas de seu cabelo caírem em seu rosto.
Depois dos cumprimentos, e de Giordana piscar descaradamente para mim, caminhamos juntos em direção a fila da entrada. Eu e Jean mais atrás, assistindo a agitação dos nossos amigos.
— Você não queria estar aqui, não é? — Ele notou.
Tentei disfarçar com um sorriso.
— Desculpe, eu só estou com muita coisa na cabeça.
— Ei, está tudo bem — disse compreensivo. — Podemos ir embora, se preferir.
Balancei as mãos.
— Não, tudo bem, eu não quero estragar a noite. — Caramba, eu já estava estragando.
Jean parou, o que me fez parar também.
— Vamos fazer um acordo — porpôs.
— Que tipo de acordo? — Eu adorava o modo como seus olhos brilhavam quando ele tinha uma nova ideia.
Jean olhou para o parque e em seguida para mim.
— Ao passarmos pela entrada vamos esquecer todos os nossos problemas, deixar tudo aqui fora e aproveitar um pouco dessa... — Ele estreitou os olhos para a placa com o nome do parque. — Mágica de Dubai.
Não pude não rir. Ele continuou:
— Quando entrarmos ali, seremos apenas jovens em meio à diversão. Aceita? — Naquele momento, seus olhos negros refletiram as luzes coloridas ao nosso redor, fazendo parecer que as írises escuras possuíam todas as cores. E isso fez meu coração bater acelerado.
Pisquei para recuperar a linha de raciocínio e disse:
— Sim, eu aceito o acordo.
Assim foi. Ao entrarmos no lugar, automaticamente me desfiz de todos os meus problemas e pensamentos negativos, me desfiz de tudo o que não fosse diversão.
Nosso grupo se manteve junto, indo primeiro nos brinquedos mais radicais. A adrenalina que eles traziam à tona era inebriante, como se aquela noite naquele parque fosse tudo o que importava. Como se, realmente, fôssemos apenas jovens.
Passamos um bom tempo nos divertindo daquele jeito, até mesmo repetimos incontáveis vezes a ida aos mesmos brinquedos. Depois, quando me dei conta, nosso grupinho estava disperso. Agora eu tentava acertar as argolas nas garrafas de vidro em uma barraquinha, tudo para ganhar um brinde.
— Minha vez — Jean anunciou quando perdi minha chance.
Ele mordeu o lábio inferior para se concentrar, mirou e errou. Jean fez o mesmo processo várias e várias vezes e sempre errava.
— Você é péssimo nisso — brinquei dando batidinhas em seu ombro ao assumir o lugar dele.
Ele abriu um sorriso ao dizer:
— Ah, sou? Então ganhe um brinde se for capaz — desafiou.
Arqueei uma sobrancelha.
— Com todo prazer.
Errei algumas argolas, mas acertei todas as outras garantindo minha vitória.
— Como eu disse, o segredo está no arremesso — me gabei levantando os ombros.
Jean gargalhou alto.
— Você não disse nada disso — respondeu.
— É claro que não, isso facilitaria as coisas para você — disparei fazendo-o rir ainda mais.
Voltei minha atenção para o homem da barraquinha.
— O que a moça bonita vai querer? — disse ele com um sotaque engraçado e nada italiano.
Analisei os brindes expostos na prateleira atrás dele. Haviam ursos de pelúcia de tamanhos variados, globos de neve, chaveiros e muito mais. Optei por uma touca de coelho com patinhas que, quando apertadas, faziam as orelhinhas se mexerem.
— Aqui está. — O moço sorriu ao me entregar.
— Muito obrigada!
— Sabe, você poderia...
Fiquei na ponta dos pés para conseguir colocar a touca na cabeça de Jean, que ficou imóvel até eu apertar as patinhas da touca e as orelhas de coelho da mesma se mexerem.
Gargalhei alto diante daquilo. A aparência de bad boy dele foi por água abaixo. Mas Jean se divertiu também, apertando as patinhas sem parar.
Enquanto eu me curvava para recuperar o ar de tanto rir, vi algo atrás dele.
Em uma barraquinha a alguns metros de distância de nós estava a pessoa mais improvável para aquele lugar. Lorenzo sorria, os olhos focados no brinquedo a sua frente, e ao seu lado estava uma moça loira e alta que comemorava com pulinhos sua vitória no jogo e agora abraçava ele. Senti meu corpo gelar quando aqueles olhos verdes olharam na minha direção, ficando tão surpresos quanto eu. Lorenzo me encarou antes de notar quem estava comigo e franzir as sobrancelhas, fiz o mesmo para ele e desfiz o contato visual.
— Ei. — Jean se pôs na frente do meu rosto. — Tudo bem?
Balancei a cabeça e sorri.
— Tudo, só estou com fome — disfarcei.
— Então vamos atacar algumas barracas de comida!
O segui sem pensar muito. Resisti à vontade de olhar para trás por sobre o ombro. Eu nunca tinha visto Lorenzo com uma garota antes, também nunca havia visto ele se divertindo assim. Algo dentro de mim ficou incomodado com o que eu tinha presenciado e senti que isso fez aquela alegria toda diminuir um pouco.
Jean pegou nossos lanches e voltou para a mesa pequena onde eu esperava.
— Aqui está, bela moça — brincou ele.
Comi em silêncio lutando contra os meus pensamentos e lembrando do acordo de deixar os problemas lá fora. Mas a questão era que um dos meus problemas estava bem ali, em pessoa.
— Você não parece estar se divertindo. — A voz de Jean me tirou do torpor em que entrei.
Não era justo com ele. Não era justo deixá-lo de lado, que estava ali de peito aberto, e ficar pensando em coisas das quais eu não deveria estar pensando.
Então me esforcei em puxar assunto e mudar o clima.
Não sei como, mas uma hora depois já estávamos falando da família dele.
— Meus pais são divorciados, mas vivem em casas vizinhas e por mais que digam o quanto se odeiam não vivem sem se falar — ele sorriu lembrando de algo. — Os melhores dias são os de festa, para ser sincero minha família arruma qualquer motivo para fazer uma festa! — Eu apenas escutava atentamente enquanto apoiava o rosto nas mãos. — Tem de tudo, desde chapéus mexicanos coloridos à violas e cantorias animadas, e, claro, sempre tem dança.
— Imagino que deva ser incrível!
Os olhos dele se iluminaram.
— E é, você precisa ver. Às vezes as famílias do bairro se juntam e a festa é maior ainda — contou com animação na voz. — Minha mãe e minhas irmãs sempre fazem tortillas com recheios maravilhosos que você também precisa provar.
— Agora preciso mesmo! — respondi admirada com sua empolgação.
Jean fixou os olhos nos meus, as bochechas rosadas e um sorriso mais calmo estampado no rosto.
— Você iria?
Notei o quanto aquela pergunta carregava esperança para ele, o quanto ele gostaria que aquilo acontecesse.
— É claro. Claro que eu iria — respondi dando-lhe um sorriso.
E o dele só aumentou. Jean tomou minha mão e deu um beijo no dorso da mesma. Meu coração deu outro salto.
— Acho que já não é segredo que sinto afeição por você — admitiu em tom brando. — Gosto de estar com você, Mila, gosto de ouvi-la falar, de ouvi-la rir, de simplesmente... ouvi-la. Como disse o Pequeno Príncipe: "Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante". E é exatamente isso. — Jean estava sério, ainda segurando minha mão e os olhos a me encararem. — Você se tornou importante para mim sem que eu notasse.
Aquilo, apesar das palavras certas terem sido contornadas por outras, era uma declaração de como ele se sentia. De como Giordana disse que ele se sentia.
Eu gostava de estar com ele, isso era fato. Foi o que me levou a responder:
— "A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixa cativar." — me referi à sua promessa de nunca partir o meu coração. Foi o suficiente para fazer o sorriso voltar aos seus lábios.
Ele assentiu deslizando o polegar sobre o dorso da minha mão.
— Vamos, a noite ainda não acabou — falei o puxando de volta para a agitação do parque.
Eu me lembraria daquilo para sempre. Talvez eu não sentisse com tanta intensidade como ele, mas, assim como a vida, os sentimentos eram uma escada e evoluíam passo a passo.
E naquela noite, meu coração arriscou subir um degrau.
Já estava bastante tarde e eu estava louca para tomar um banho e dormir, então concordamos em ir embora. Enquanto eu mandava mensagem para Giornada, Jean foi buscar seu carro que havia ficado um pouco longe do estacionamento do parque. Agora eu o esperava perto de um poste de luz.
Vi uma moça se aproximar e ficar há alguns metros de mim, presumi que também estivesse esperando alguém. Quando virei a cabeça para olhar a pista pude ver melhor seu rosto. Era a acompanhante de Lorenzo. A loira, linda e alta. A pele como porcelana e o perfil angelical.
Fiquei me perguntando qual seria o seu nome. Mas, que diferença fazia, não é?
Dois carros se aproximaram ao mesmo tempo, porém em direções opostas. O pior foi que reconheci ambos, assim como quem os dirigia. Jean parado de um lado me esperando e Lorenzo parado do outro esperando a loira. Por um ínfimo momento me vi dividida, como se tivesse que escolher entre as duas opções e a vida estivesse jogando isso na minha cara.
Afastei com raiva os pensamentos e me dirigi ao carro de Jean, que colocava uma música no rádio.
Vi Lorenzo arrancar com seu carro pela rua dirigindo em alta velocidade. Quase me importei. Assim como quase me importei em encontrá-lo ali, ou em vê-lo com uma garota, ou com o fato de que ele também me viu.
Quase me importei com ele.
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TRADUÇÃO DAS PALAVRAS COM ASTERISCO*
Ragazza - Moça; Menina.
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