-Você não tá comendo direito, não é? -Mary pergunta com a voz abafada, provavelmente está falando perto demais do microfone do celular. -Quer que eu vá ficar aí com você?

Pergunta preocupada.

-Claro que eu estou comendo direito. -minto, na verdade, eu não comi direito esses dias, eu simplesmente esqueci.

Passei a maioria dos meus dias dentro desse quarto, hoje seria o dia que eu iria sair com a Mary, mas não acordei me sentindo bem.

-E não quero que você venha aqui, chama o josh pra ter uma noite das garotas com você. -Completo, torcendo para que ela não insista.

-Mas ele ia de qualquer jeito. -Ela bufa. -tudo bem, mas se você não melhorar, me liga, tá bem? -Ela pede. -Tá, tchau.

Respondo antes de desligar, enquanto olho minha imagem no espelho.

-"Ela não pode comer essas coisas, tá vendo como ela está? Vai acabar explodindo."

Fecho os olhos, mas me obrigo a voltar a olhar para meu reflexo.

Não tenho mais as gorduras que eram motivos de piada entre minha madrasta e minha meia irmã, mas nunca consigo me olhar no espelho por muito tempo ou ir a praia, tomar banho de piscina e usar as roupas que realmente quero.

Lembro-me até hoje como foi difícil convencer a mim mesma que eu deveria deixar meu namorado da época me ver, foram seis meses de muita insistência.

Mas acabou que não deu muito certo, Sophie foi mais rápida que eu e graças a Deus por isso.

Só não agradeço mais, por ter sido bem em cima da minha cama.

Prendo meu cabelo e coloco a roupa mais larga que acho, me arrastando pra fora do quarto.

Pronta para pedir a lena pra fazer uma sopa de camarão, a dela é a definição de perfeição.

Depois de me arrastar pelas escadas, eu escuto algumas risadas vindo da cozinha, mas não dei importância até adentrar ela.

Inspiro

Expiro

Inspiro de novo

É algum tipo de perseguição? Ou o universo resolveu conspirar contra mim?

Ele percebe a minha presença.

Seu peito sobe e desce de maneira lenta.

E para a minha supresa, ele também parecia surpreso em me ver, na verdade todos que estavam aqui.

Ele, Lena e Sophie.

-Jade, pensei que você tinha saído com a Mary. -Helena diz, parecendo nervosa. -A Sophie trouxe um amigo.

Ela comenta, soando como se estivesse sugerindo que eu deveria falar com ele.

Ele olha pra Sophie e depois pra mim, sem entender.

-O que está acontecendo aqui? -Ele pergunta confuso.

-Eu também queria saber.- Respondo olhando fixamente pra Sophie, que abaixa a cabeça, usando seu melhor semblante de vítima.

Mas eu sorrio, agora olhando pra ele.

-Ah, ela não contou, não foi? -tombo a cabeça para o lado, voltando minha atenção pra ela. -Poxa Sophi, não contou para seu namoradinho que a Jadezinha desprezível é sua irmã?

Me finjo de ofendida.

-O que? -Ele olha pra ela.

-Eu não sei o que está acontecendo, mas não tá indo pra um lugar muito bom. -Dona lena interfere, mas não é como se adiantasse muita coisa.

-Eu não achei que ela fosse estar em casa. -Sophie se justifica e eu me sento na cadeira.

Interessante, as coisas estão interessantes.

-E óbvio que eu não contei, eu não quero viver sem amigos só porque você é a porra de uma maldição na vida dos outros.

Levanto as sobrancelhas, supresa por ela mostrar a verdadeira face tão rápido assim.

Olho pra ele, que estava tão perdido que não sabia pra quem olhar.

-Pelas minhas contas, acho que é ao contrário, não foi eu quem estraguei casamentos alheios, namoros e...-Ela me corta antes que eu pudesse completar a lista enorme.

-VAI SE FODER. -Ela grita e eu sorrio.

Tirar ela do controle é muito difícil, é sempre gratificante quando isso acontece.

Olho pra ele que parecia assustado com a reação dela e ela simplesmente corre pra fora da cozinha.

-Qual é a porra do seu problema? -Pergunta ele antes de ir atrás dela.

E a vilã Jade ataca novamente.

-Jade Brooks, o que deu em você? -Helena pergunta, repreensiva.

-Deve ser fome. -Respondo fingindo que nada tinha acontecido, indo em direção a geladeira.

-Eu acho que te ensinei um pouquinho de educação, eu sei que você e sua irmã não se gostam, mas custava respeitar o garoto?

Ela aparece do meu lado e eu passo por ela, a ignorando totalmente.

-Jade Brooks. -Ela repete meu nome e eu a olho.

-Custava e ele não é bem vindo aqui. -falo desistindo de pegar algo pra comer. -Minhas revistas acabaram, vou procurar mais.

Saio mais rápido possível da cozinha, antes que ela pudesse falar qualquer coisa.

Volto a me arrastar pelas escadas, mas dessa vez entro no quarto da bruxa mãe, pegando todas as revistas que eu acho pelo quarto.

Saio do quarto dando de cara com o novato, que saia do quarto da Sophie.

-Já vai? -Ironizo, indo em direção ao meu quarto.

Olho pra ele uma última vez, percebendo que o semblante de confuso, foi substituído por outro, ele não parecia feliz.

-Eu nunca pensei que viveria pra ver alguém tão desprezível como você pessoalmente, pensei que esse tipo de pessoa só existia em filmes. -Ele se aproxima, me fazendo recuar, a porta acabou me encurralando.

-Provavelmente, não deve passar de pura futilidade. -Ele me analisa dos pés a cabeça. -Mas olha só.

Ela diz segurando a manga da meu casaco, soltando logo em seguida como se fosse lixo.

-No fundo, você é exatamente como eu, sem roupas chiques, sem nariz empinado, mas claro, você é uma versão pior.

Seguro as revistas com força contra meu corpo, com raiva.

-E por acaso, quem é você mesmo? -Tento reagir, mas essas porra de olhos me encarando conseguem me deixar cada vez mais com raiva.

-Noah Colleman, o prazer é todo seu seu.

Ele responde, de maneira presunçosa e eu mordo o lábio, sem acreditar na petulância desse idiota.

Ele da um sorriso de lado, antes de se virar e ir embora, me deixando coberta de raiva.

Mas tenho que admitir, ele sabe interpretar o papel.