Eu atravessei a rua a passos lentos, debaixo de chuva e ainda de madrugada. Adentrei a casa de forma silenciosa, sorrateira como um felino, e a encontrei sentada aos pés da cama.

Era apenas uma menina, provavelmente entre seis ou sete anos, nunca sei o que dizer. Isso é injusto, mas não é evitável.

Sentei-me ao lado dela, abracei-a e acariciei sua cabeça, ela me olhou com um par de olhos vazios, desprovidos de qualquer brilho ou emoção, e sorriu.

Eu gosto de vê-las sorrindo, mesmo... Bem, mesmo quando estamos diante dessa situação.

O chão não era mais visível, uma neblina opaca subia lentamente e se espalhava pelo quarto, eu só queria ajudar, afinal, esse é meu trabalho.

"O que vai acontecer com ela?" A menina perguntou apontando para o corpo jovem e esquálido inerte sobre a cama, com os cobertores até o tórax.

"Ela fica." Eu nunca sei o que dizer para jovens, especialmente tratando-se de crianças. Segurei a mãozinha dela e me levantei da cama.

"Para onde eu vou?" A voz fina e doce ecoou pelo quarto e cortou-me por dentro. Senti um aperto profundo e lastimável no coração, nunca me acostumei com isso.

"Para um lugar melhor." As respostas ensaiadas são sempre as melhores.

Ela acenou com a cabeça e acompanhou-me para fora. A chuva estava mais forte e entre as gotas havia granizos alvos. Ela abriu os braços e dançou sob a chuva como se aquela fosse a melhor sensação que já tivera. Eu apenas observei, não pude interferir.

Já passava da hora, abri o portal e pedi que ela entrasse. Ela travou na entrada, olhou-me com seus olhinhos solitários e carentes e perguntou: "Você não vem?"

"Não. Infelizmente não. O portal é só para as almas."

Ela abaixou a cabeça e desapareceu na luz cálida e reluzente. E eu... Bem, estou aqui sob a chuva, chorando por mais uma vez ter que guiar uma criança.

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Olá pessoas, como estão?

E aí, como foi esse para vocês? A palavra chave desse conto foi "esquálido".

Espero vocês no próximo! ^^

Beijos da Pri!