Jimin dormia serenamente.

Ele sonhava com a terra, com uma vida que nunca teve. Onde era um jovem se despedindo de seus pais para fazer faculdade em outra cidade. Ele se apressaria para pegar a west 101 antes de anoitecer.

Dirigia seu carro pela estrada enquanto tomava sua pileque, e ainda cantarolava uma música dos Beatles que tocava na rádio local.

A estrada era tranquila, o vento entrava pelos vidros abertos e bagunçava seus cabelos lisos e negros, ele sorria radiante, com o coração cheio de expectativa com a sua nova vida.

Só conseguia pensar em quantos amigos faria, em quantas festas iria, e o quanto lidar com as responsabilidades dos estudos e de estar sozinho o prepararia para a vida adulta. Ah, tantas experiências, Park estava com aquele gelinho ansioso no coração.

— Você precisa de fato, começar a viver de verdade para começar a ter sonhos legais.

Foi como se tivessem o jogado um balde de água fria, o sorriso morreu e Park olhou para o lado, de repente o gelinho de empolgação se tornou um tremendo susto que fez seu coração queimar.

— Aaah!! — Gritou o Park vendo Jeon sentado no banco carona, agora ele tomava sua pileque. — Que porra! — Disparou apertando o volante em nervosismo — Que porra! — Estava indignado demais para pensar em outra coisa para dizer — Que porraaa! — Disparou.

Jungkook soltou um riso:

— Que foi? Não estava me esperando aqui não é?

—- Como...?

—- Você ainda continua fazendo perguntas óbvias?

— Saia do meu sonho agora Jeon Jungkook!

Jungkook estendeu o banco para trás e esticou as pernas todo largado, então deu de ombros:

— Nah, estou entediado. — Crispou os lábios — Mas sabe, ainda estou. Seus sonhos são muito chatos.

Jimin soltou um grunhido:

— Então saia!

— Eu acho melhor tornar as coisas mais interessantes aqui... — Jungkook fez aquela cara de quando estava tramando alguma.

Jimin torceu sua expressão em desgosto, então Jeon continuou:

—- Uma banda de trasgos gigantes se apresentando para vinte mil girafas enlouquecidas!

Jimin arregalou os olhos:

—- O que diabos...

Antes que pudesse terminar cinco trasgos gigantes apareceram mais a frente no meio da estrada, um tocando guitarra, o outro bateria, outro baixo, outro teclado, e outro cantando avidamente, como vocalista enquanto ainda dedilhava um violão.

Jimin pisou no freio tão rapidamente que o furgão derrapou no asfalto e começou a girar. Jimin gritou tentando controlar o carro que parecia que a qualquer momento capotaria.

Tudo piorou quando centenas de girafas enlouquecidas começaram a se materializar ali, o carro era golpeado pelas girafas que voavam ao serem atingidas.

O para-brisa já estava todo rachado de tanto acertar girafas, o carro parecia fora de controle, Jimin somente gritava enquanto Jungkook erguia os braços rindo eufórico, como se estivesse tendo um ótimo tempo em um parque de diversões.

O som da banda de trasgos ressoava por todo lado deixando tudo mais frenético e louco.

— Jun... Jungkook!!! — Gritou Jimin muito bravo e ofegando — Jungkook!!

O carro foi de encontro a um penhasco, Jimin gritou apavorado quando o carro voou penhasco abaixo em direção ao mar.

E por aquele segundo ele até mesmo se esqueceu de que estava sonhando, fechou os olhos imaginando que seria seu fim. Mas de repente acordou suado e ofegante em uma grande cama em um quarto confortável.

Jimin piscou atordoado vendo vários fios conectados a sua cabeça que ligavam a cabeça de Jungkook que estava sentado em uma poltrona perto a cama.

Jungkook permanecia de olhos fechados, Jimin imediatamente arrancou os fios de si como se fossem algo a se repelir muito.

Jungkook não tardou a acordar e encarou o Park, que ainda estava atordoado no meio do amontoados de cobertas na grande cama:

— Você saiu na melhor parte! Poderíamos explorar o fundo do mar.

— Que diabos... — Murmurou Jimin encarando Jungkook como se ele fosse algo muito difícil de se entender. — Você estava mesmo dentro da minha cabeça? Invadiu meu sonho!?

— Sim? — Respondeu Jungkook como se fosse óbvio.

— Será que não pode me deixar em paz nem na porra dos meus sonhos!? — Respondeu o Park  muito zangado, e pode apostar que ele estava muito zangado mesmo, pois só usava palavrões em situações críticas.

Jungkook deu de ombros:

— Bem achei que-

— Você sempre acha! Você sempre presume! — Gritou o Park e se levantou ainda extremamente zangado — Quer saber? Eu estou cansado de você e de suas maluquices!

Jungkook piscou atônito:

— O que quer dizer com isto?

— Quero dizer que quero que fique longe de mim!

Jungkook precisou somente de um segundo para soltar uma risada sarcástica:

— Bem, isto não vai ser nada difícil para mim. Você é tão... Você.

— Ah é?

— É!

— Ótimo! — Disparou Jimin enraivado.

— Ótimo! — Disse Jungkook mais alto que ele.

— Ótimo!! — Disse Jimin mais alto ainda.

— Ótimo!!!! — Fez questão de gritar ainda mais.

— ÓTIMO! — Jimin gritou a plenos pulmões.

E Jungkook estava pronto para gritar mais alto ainda, porém uma figura descabelada e com uma carranca nada contente abriu a porta com força:

— Que porra vocês tão fazendo!? — Taehyung quase soltava fogo pelas narinas, seu humor era muito questionável pela manhã, ainda mais quando algo o acordava sem que ele quisesse — Tem gente querendo dormir nessa nave!

— Diga a este arrogante idiota para ficar longe de mim e dos meus sonhos! — Gritou Jimin.

Jungkook abriu a boca chocado:

— Arrogante e idiota?! E você é burro como um gordon, e instável como um motor velho de zaretrix!

Jimin não tinha ideia do que aquele ser desprezível dizia, mas se sentiu extremamente ofendido:

— E você é um convencido e narcisista! — Gritou o terráqueo.

— E você é um falso moralista "Oh olhem para mim eu sou Park certinho Jimin, me recuso a comer um animal que quer ser comido, mas posso comer sem problemas aquele que não tem consciência do que quer ou não"!

— Não é assim! — Jimin disparou.

— Oh é sim! E quanto aos frangos gigantes, "Oh nossa eu sou limitado demais para lidar com frangos gigantes, ah isso é demais para minha cabecinha subdesenvolvida acho que vou desmaiar"!

— Cale a boca! — Jimin disparou e sua voz saiu entrecortada, poxa, Jeon já estava pegando pesado.

— Quer saber eu cansei de vocês. — Disse Taehyung simplesmente o que fez os dois o olharem.

O betelgeusiano roxo tinha um controle na mão, o que fez Jungkook arregalar os olhos imediatamente, pois sabia que Taehyung era louco o bastante para fazer algo completamente impensável quando estava zangado:

— Taehyung o que você...

Ele não terminou, pois Taehyung apertou o botão e no segundo seguinte Jimin e Jungkook foram envoltos em uma força invisível que simplesmente os fez desaparecer.

Taehyung suspirou aliviado:

— Ah, finalmente paz.

Se virou indo para seu quarto, planejando dormir por mais dez horas, enquanto a nave viajava a duzentos e cinquenta mil anos luz e atravessava um portão inter dimensional de probabilidades infinitas.

✨☄️🪐

Jimin se materializou em uma espécie de nave muito grande.

Ele foi andando por aí, vendo que estava em um grande corredor metálico e mal iluminado com várias portas ao redor, Jimin não ousou adentrar nenhuma, seu coração pulsava forte de medo, onde estava?!

— Você está ouvindo um latejo desagradável? — Disse Jeon de repente se materializando atrás de Jimin o que fez o Terráqueo levar um baita susto e pular para o lado com um grito.

Jimin o analisou, ele estava relaxado e sem um pingo de preocupação, como se fosse completamente normal se materializar em lugares desconhecidos.

E bem, se tratando do betelgeusiano Jeon Jungkook, talvez fosse mesmo.

— Onde estamos? — Foi tudo que o Park conseguiu dizer.

Jeon olhou ao redor:

— Você é cego? Estamos num longo corredor em curva que se estende em ambas as direções até se perder de vista.

Jimin serrou os punhos e respirou fundo tentando não socar a cara de Jungkook, ah tão irritante:

— Você entendeu muito bem o que eu quis dizer!

Jungkook piscou calmamente:

— Oh acho que entendi em partes, mas se você se refere ao lugar, espaço e tempo em que estamos, eu não poderia em mil anos responder isto. Taehyung pode ter nos atirado para literalmente, qualquer lugar em multiversos infinitos.

Jimin se escorou no corredor para poder pensar por um segundo e tentar lidar com aquilo, talvez Jungkook estivesse certo, e tudo aquilo fosse demais para sua cabecinha subdesenvolvida.

Jimin estava novamente a beira da loucura. Ele respirava e inspirava em meio a uma crise existencial pesada, onde toda a relevância que ele tinha naquele momento se colocava a prova. Tudo e todos que conhecia estavam mortos, será que Jimin realmente tinha propósito para estar vivo?

E se sua vida se ressumisse a companhia daquele grupo de pirados, vivendo de forma completamente maluca em uma realidade que na maioria das vezes, ele não conseguia lidar, será que ele realmente ainda queria estar vivo?

— Vamos andando. — Junkook o tirou de seus pensamentos tortuosos. — Não sei que lugar é este, mas não pretendo ficar muito tempo pra descobrir.

A parede exterior de aço do corredor era pintada com aquele tom enjoativo de verde que usam nas escolas, nos hospitais e nos asilos psiquiátricos para manter os internos submissos.

Park apenas seguiu aquele betelgeusiano porque não queria ficar sozinho, ainda estava processando as informações e apertava as mãos geladas e suadas umas nas outras. Jungkook o olhou de relance percebendo seu nervosismo, então disse:

— Não se preocupe tanto, provavelmente Taehyung vai abrir um teleporte programado e nos mandar de volta pra casa, ele só precisa de mais algumas horas de sono... — Jungkook serrou os punhos — Aquele idiota! Não é a primeira vez que ele faz esse tipo de coisa, uma vez ele queria dar uma festa na nave, e mandou eu, Jennie e Diner para um planeta pré-histórico, ficamos nos escondendo de símios e caçando para sobreviver por três dias.

Jimin não conteve um riso ao imaginar Jeon Jungkook vivendo como um pré histórico, e ainda fugindo de símios. Ele até mesmo se esqueceu de sua crise existencial de minutos atrás.

— Mas a boa notícia dessa vez — Disse Jungkook — É que ele nos mandou para um lugar que tem a nossa tecnologia, então podemos encontrar algum portal nesta nave pra gente dar o fora logo.

Eles continuaram a andar pelo corredor mal iluminado cheio de portas que parecia não ter fim, então de repente ouviram barulhos vindos de algum lugar ao longe:

— Passos! — Exclamou Jungkook.

— Onde?

— Parece alguém andando pesadamente, ouça.

Jimin ouviu. O ruído ecoava pelo corredor de uma distância indeterminada. Era o som abafado de passadas duras, e estava perceptivelmente ficando mais alto.

— Vamos sair daqui — Disse Park, e ambos saíram, cada um em uma direção.

— Por aí não — Disse Jeon

— É daí que vêm vindo, temos que ir na direção oposta!

— Não é, não

— Estão vindo daí sim!

— Não, estão...

Ambos pararam e se viraram. Então ouviram com atenção e concordaram um com o outro. Para logo em seguida saírem cada um em uma direção oposta novamente.

E então finalmente entenderam que o barulho vinha de ambas as direções, e ficava cada vez mais alto. A poucos metros à esquerda de Jungkook um outro corredor entrava em ângulo reto pela parede interna.

Correram para ele e seguiram correndo o atravessando. Era escuro, imensamente comprido, e, conforme iam passando, tinham a sensação de que ia ficando cada vez mais frio.

Outros corredores desembocavam nele, à direita e à esquerda, todos muito escuros, e todos os sujeitando a baforadas de ar gelado quando passavam por eles, era como se as paredes fossem de gelo e soltassem fumaça densa e gélida.

Pararam um instante, alarmados. o frio, a escuridão e os passos de pés lhes faziam mal. Jimin ainda usava roupa praiana e Jungkook mesmo com a roupa térmica colada que usava ainda tremia, em parte pelo frio, mas em parte pela lembrança das estórias que sua mãe lhe contava quando ele não passava de um pingo de betelgeusiano: estórias de naves fantasmas, naves assombradas que percorriam sem descanso as mais obscuras regiões do espaço profundo infestadas de demônios ou de fantasmas de tripulações esquecidas;

E também estórias de viajantes incautos que encontravam e entravam nessas naves.

Puxou Jimin pelo braço:

— Vamos voltar por onde viemos — Disse com firmeza, e eles retomaram o caminho.

Pouco depois, pularam como lagartos assustados quando viram os donos dos pés surgirem à vista diretamente à frente deles, imediatamente se atiraram dentro de um buraco na parede e se espremeram no canto pequeno para se esconderem.

Jimin tentava não ficar tão nervoso com a proximidade, visto que até mesmo o perfume dos cabelos de Jeon entravam por suas narinas, estranhamente os fios escuros tinham um cheiro suave de morango.

E apesar desse não ser o real problema naquele momento, Jungkook também estava nervoso com a proximidade do terráqueo.

Bela hora para se ter um panic, não é mesmo?

Cerca de duas dúzias de homens e mulheres passaram pisando duro, vestindo roupas de ginastica e ofegando de uma tal maneira que excitaria um cardiologista. Jungkook piscou voltando para a realidade sórdida que se encontrava, e ficou olhando para eles.

— São praticantes de jogging! — cochichou, enquanto o som de seus passos ecoava na distância.

— Praticantes de jogging? - sussurrou Park engolindo em seco, tentando não gostar tanto daquele cheiro de morango.

— Praticantes de jogging. — Repetiu Jungkook olhando atentamente, sua expressão era definitivamente fofa, parecia um coelhinho curioso.

O espaço em que estavam escondidos era bem curto e Jimin percebeu casualmente que terminava numa grande porta de aço. O terráqueo se virou com cuidado, pois qualquer movimento brusco faria sua cabeça se chocar com a de Jungkook

E seus braços e pernas já estavam se tocando, ele não precisava de mais contato com Jeon Jungkook!

Conseguiu se virar e examinou por uns instantes Jungkook ainda estava ali, praticamente colado a si, agora o observava atentamente e isto deixava o Park nervoso.

Park precisou apenas de uns minutos para entender o mecanismo da trava digital e abrir a portinha:

— Não sou tão burro afinal. — Disparou Jimin, deixando o betelgeusiano sem palavras pela primeira vez.

Eles engatinharam passando pela portinha, logo se levantando ao observar o grande cômodo que estavam.

A primeira coisa que viram foi o que se revelou ser um caixão. E as quatro mil novecentas e noventa e nove coisas seguintes que viram também eram caixões.