O assistente social caminhou por entre aqueles corredores frios, de mãos dadas com a criança que corria para acompanhar seu passo, o pequeno tentava olhar ao redor curioso, mas era sempre puxado impaciente para um lugar que nunca parecia chegar.

Finalmente pararam em frente a uma porta em que o assistente social tocou gentilmente batendo na mesma, Park Jimin, este era o nome da criança com olhar curioso, ergueu a cabeça fitando o adulto que outrora o puxava, o vendo ajeitar a gravata e respirar fundo, Jimin apertou a alça da mochila do homem aranha que vinha em suas costas com a mão livre, já que a outra era segurada firmemente junto ao adulto.

Ele se lembra de pouca coisa desse dia, somente que quando a porta foi aberta e um desconhecido saiu dela cumprimentando o assistente social com um grande sorriso, Jimin quis correr. Ele sempre foi desconfiado e muito retraído, o desconhecido se ajoelhou a sua frente sorrindo ainda mais largo ao dizer:

— E então o que temos aqui, uhn?

O pequeno permaneceu imóvel apenas o observando:

—- Park Jimin, sim?

Park balançou a cabeça negativamente com medo, o que fez o desconhecido sorrir compreensivo o observando.

— Certo, eu me chamo Alex Jhonnes, mas que tal se você me chamar só de tio John? Olha eu juro que tenho essa cara de mau, mas é apenas minha genética Russa. — o homem fez um bico o que fez Jimin soltar uma pequena risadinha e aos poucos relaxar, o homem continuou:

— Você gosta das estrelas? —- e Jimin assentiu rapidamente. — Então, o que acharia de um dia poder voar bem perto delas?

E foi assim, que aos quatro anos, Park Jimin, um órfão sem qualquer família ou destino, foi tirado de um orfanato e chegou a NASA dos Estados Unidos, como um dos projetos mais promissores para os conhecimentos astronômicos no mundo.

✨☄️🪐

14 anos depois.

A equipe estava toda centrada nos equipamentos enquanto a todo momento mantinham contato com os dois astronautas dentro da nave. O foguete Saturn VI estava prestes a decolar levando ao espaço a nave Apolo 12 com os tripulantes Park Jimin e Bella Carter. O décimo segundo projeto a ser mandado para a lua, e depois de 114 anos, o ser humano finalmente retornaria a lua.

Jimin respirou fundo, estava nervoso, era sua primeira missão fora da terra, depois de ser treinado por toda infância e adolescência, finalmente estava pronto.

Park Jimin foi preservado da mídia durante toda a sua vida, mas ele tinha consciência que era conhecido no mundo todo como "O projeto secreto da NASA", ou "O menino que iria ser enviado a lua". Sempre que pensavam na criança criada dentro da sede espacial da NASA vinham um monte de teorias que o próprio achava bizarras, mas que as pessoas criavam ao seu respeito.

E agora que ele havia atingido a maioridade e estava em sua primeira missão, não havia mais como esconde-lo, nos últimos dias haviam repórteres em cima de si como mísseis querendo saber coisas desde as mais simples como "você estudava as mesmas matérias que os alunos normais?" Até coisas como "Você participou de algum experimento que considerou estranho?". 

Ele negava todas as especulações dizendo o que lhe foi instruído a dizer, que era alguém completamente normal, um garoto como qualquer outro, que foi criado com muito amor por todos na NASA, que fez coisas que os garotos fazem, como brincar, estudar, namorar, fazer amizades e etc.

Mas a verdade era que Jimin havia sido moldado desde sempre para nunca ser normal. Em sua infância/adolescência ele era submetido a testes de resistência física, ao frio e ao calor extremo, a zonas com gravidade zero, a situações para treinar seu psicológico e o manter calmo em situações de extremo risco e outras inúmeras simulações que alguém tão jovem não deveria passar.

Nunca houve desenhos animados, jogos de vídeo game, doces, e papai noel no natal. Em seus aniversários o presenteavam apenas com livros e objetos sobre astronomia. Também nunca havia ido a escola, sempre teve professores particulares que o ensinavam somente matemática, física, química, robótica, e conforme foi crescendo aprendeu sobre engenharia aeroespacial também.

Aos dezoitos anos Jimin nunca havia se relacionado com ninguém, nem romanticamente nem amigavelmente, e ele sequer poderia reclamar disso, não é como se você sentisse falta do que nunca teve, a única vida que ele conhecia era aquela, ao qual foi ensinado a ser muito grato.

— Cinco... quatro... três... —- A contagem regressiva para a decolagem foi iniciada e Park sentiu seu coração queimar.

Sua parceira de viagem era nada mais que Bella Carter, com seus 43 anos, a experiente astronauta carregava mais de vinte missões fora da terra, ela era uma astronauta nata da base espacial que orbitava o planeta.

Bella seguia os comandos da sede calmamente fazendo todos os procedimentos necessários e dando as informações padrões para o foguete poder decolar.

O foguete começou a subir com velocidade inicialmente vertical, fazendo uma turbulência familiar tomar o pequeno ambiente que estavam, tudo tremia a volta fazendo Park soltar o ar controlando a respiração, eles já haviam passado por turbulências antes, Jimin em treinamento, e Bella na vida real.

E depois de dez horas voando pelo vácuo do espaço,  a Apolo 12 entrou na órbita da lua, o pouso foi concluído sem problemas maiores. Após a alunissagem, Park sorriu vitorioso e soltou o ar aliviado de seus pulmões, Bella então virou-se para ele com um grande sorriso:

— Jimin, você quer dizer?

Park soltou um suspiro cheio de orgulho, dizendo para a base, e para o mundo inteiro, aquela famosa e clássica frase, que os primeiros astronautas a pousarem na lua disseram a 114 anos atrás:

— A águia pousou.

✨☄️🪐

A bilhões de anos-luz dali, a tripulação da nave dos jovens Betelgeusianos viajava por um portal entre os multiversos que distorcia o espaço tempo, a nave Sirion sacolejou e rangeu suas engrenagens centenárias quando foi arremessada para fora do portal que imediatamente desapareceu, e de repente tudo que se via era a pacata paisagem do conhecido sistema solar.

Kim Taehyung crispou os lábios e observou com tédio pela panorâmica janela acima do painel da nave:

— Pelo amor de Orion Jun, o seu pai nos mandou para os confins da civilização. -— Ele endireitou a postura na cadeira ao qual estava jogado — Sério, haviam castigos mais brandos, o que você fez nem foi motivo de tanta tortura.

Jeon Jungkook apenas o ignorou e focou em colocar as coordenadas na nave, só queria terminar logo aquela missão e ir ao restaurante no fim do universo comer um bom bife mal passado.

Os betelgeusianos são criaturas formidáveis. Atualmente são uma das doze famílias que regem todo o universo, sendo uma das mais influentes dentro do conselho do big bang, detém domínio de quatrocentos trilhões de planetas em todo os multiversos possíveis dentro das impossibilidades infinitas, mas há também aqueles em processo de colonização, então os números não são muito precisos.

Sua aparência é digna da raça mais desenvolvida do cosmos, são grandes avatares de mais de três metros, com força superior a qualquer ser humano, a tonalidade da pele é de um roxo perolado que parece brilhar, sua epiderme possue grande resistência, os olhos são grandes e versáteis, conseguem suportar luzes ultravioletas e gamas sem nem mesmo se incomodarem, as cabeças são grandes por seus cérebros extremamente desenvolvidos, mas ainda proporcionais ao corpo, os cabelos eram roxos assim como a pele e possuíam variações entre liso, cacheado, ondulado e crespo.

Taehyung era um digno betelgeusiano de três metros e meio, cabelos lisos e roxos brilhante, olhos verdes e pele roxa pálida, já Jungkook, bem este era um betelgeusiano muito peculiar.

De passado desconhecido ele foi parar nas mãos de Jeon Agnes, simplesmente o líder dos betelgeuses. O homem decidiu o adotar, e implementou uma lei: quem comentar sobre a aparência física de Jungkook vai ser executado.

E assim foi feito. Todos sabiam que Jungkook era diferente, mas ninguém ousaria dizer em voz alta. Embora isto não tenha impedido os outros garotos de o importunarem por todo o seu desenvolvimento, Jungkook sofreu por ser o mais fraco, o mais sensível e o menos inteligente. Isto o fez desenvolver predisposição para uma rebeldia que era simplesmente indomável, tudo piorou quando começou a andar com o garoto problema chamado Kim Taehyung. 

— Jun, nós já chegamos? — Disse Jennie Kim com voz de sono saindo de um dos vários quartos na nave. Jennie era uma jovem golgofrigiana que compunha o trio de deslocados.

E aqui vai uma rápida descrição dos golgofrigianos: Raça pouco influente no conselho, detém apenas cento e cinquenta mil planetas no cosmos, suas peles são rosas e tem anteninhas no topo de suas cabeças, possuem características parecidas com os humanos na questão de rostos, dois olhos, uma boca, e um nariz. As mãos são grandes e a altura de seus corpos magros e esguios ultrapassa a dos betelgeusianos.

— Sim. — Respondeu Jungkook concentrado enquanto se aproximava da pequena bolinha azul flutuando no espaço.

E eis aqui sua missão: Mandar o planeta terra para outro multiverso, pois ele estava bem no lugar onde Agnes iria construir um portal de probabilidades infinitas, sendo assim, teria que ser eliminado.

Jungkook mexeu nos comandos da nave programando a criadora de portais, o raio que acertaria a terra a mandando diretamente para outra dimensão, seria tão rápido que os terráqueos nem perceberiam.

O trio observou a nave emitir um grande raio vermelho que atingiu a terra e a envolveu, no minuto seguinte o planeta simplesmente desapareceu em uma explosão vermelha que logo se dissipou, fácil e rápido, num piscar de olhos.

— Huuhull! — Gritou Taehyung batendo palmas pela explosão que julgou linda.

Jungkook deu um sorrisinho de lado sabendo que agora estaria livre para curtir o tempo restante na farra, antes do seu pai perceber que ele já havia concluído a missão que havia lhe designado:

— Coração de lata, vamos para o restaurante no fim do universo!

— Sim se...

— Senhor Jeon! — Diner, um robô que também estava a bordo o interrompeu.

— Sim Diner? O que foi agora? — Jungkook disse cansado, só queria sair logo dali, estava entediado.

— Te-terra-... Terráqueos! — ele exclamou com seus olhos mecânicos ampliando a imagem até a lua.

— O que!? — Jungkook colocou seus óculos de visão ampliada olhando na direção que Diner olhava, constatando haver dois humanos ali, que pareciam bem desnorteados naqueles trajes estranhos que o cobriam por completo.

— Mas que filho da puta! Mas que droga!

Jungkook gritava na nave andando de um lado para o outro enquanto Taehyung apenas observava com uma grande expressão de desinteresse.

Jennie pensou por uns instantes dizendo:

— Por que não mandamos eles diretamente para outro multiverso?

Jungkook arregalou os olhos quase tendo um treco:

— Você tá louca Jen? Eu apenas tenho permissão para interferir no espaço tempo da terra, nada mais! Eu não posso interferir em mais nada! Isto poderia ter proporções catastróficas! E agora? O que eu faço!? — Olhou para os amigos suplicando respostas.

— Aí que drama — Taehyung se levantou pegando uma bebida gasosa no frigobar — É só a gente dar o pé então, um dia eles vão morrer de fome ou falta de oxigênio, ou a lua pode ser atraída para a atmosfera venenosa de júpiter e pronto.

Jungkook parou fitando os dois pontinhos distantes uns cinco minutos enquanto Taehyung jogava em seu dispositivo ultra-tecnológico e tomava sua bebida despreocupado:

— Não era pra eles estarem lá! — disse Jeon fazendo o Taehyung levantar os olhos do jogo com uma sobrancelha levantada:

— E vai fazer o que? 

— Preciso os levar para a embaixada e decidir o que farão com eles, Coração de lata, nós vamos pousar.

— Mas... — A nave tentou protestar.

— Agora! — ele gritou, estava uma pilha de nervos.

— Sim senhor.

A nave fez a rota indo em direção aqueles dois humanos na lua, e Taehyung suspirou dando de ombros e dizendo:

— Hm, nunca conheci terráqueo antes, pode ser que isso seja interessante.

✨☄️🪐

— Jimin! Já chega. Precisamos manter a calma — Bella dizia pela décima vez tento um Jimin surtando do lado.

O garoto andava de um lado para o outro, e com a pouca gravidade da lua isso ficava um tanto estranho, ele parecia das pulinhos pra lá e pra cá, enquanto murmurava coisas desconexas em total desespero, e Carter a está altura já estava cogitando a possibilidade de se juntar a ele.

O motivo talvez seja que bem diante de seus olhos a terra tenha sido acertada por um objeto estranho não identificado e simplesmente sumido depois, e agora, com pelo menos trinta horas de oxigênio, eles estavam condenados:

— Olha ... — Disse Bella Carter tentando ir até Jimin mas o garoto se afastava mais — Jimin menino volta já aqui! não se afaste da nave, Por favor... Nós... Nós cumprimos a missão sim?

— Missão! Que droga de missão Carter? O que isso importa? Nada! — Jimin pegava as fotos que a pouco havia tirado e também algumas amostras da lua jogando tudo pro ar, as mesmas levitaram caindo lentamente com a pouca gravidade da lua — Nada disso importa mais!

Carter ia dizer algo mas seus olhos subiram pra cima onde uma nave, isso mesmo, uma nave descia do céu, ela arregalou os olhos olhando para Park que estava tão ou mais apavorado que ela, mesmo que seu rosto mal pudesse ser visto debaixo do grande capacete que compunha o traje espacial:

— É Carter, foi bom trabalhar com você. — Jimin disse, e Carter gostaria de dizer algumas palavras também, mas elas pareceram sumir de sua garganta seca naquele momento, e ela engoliu em seco sentindo seu coração dando batidas tão fortes que chegava a queimar.

Os dois astronautas ficaram ali, estáticos observando a nave pousar no solo lunar, se não tivessem sido preparados para ter um psicológico tão forte, certamente já teriam enlouquecido naquele momento, mas o que saiu da nave quando as escadas desceram foi algo completamente inusitado, eles definitivamente não esperavam outro humano, talvez quem sabe um alienígena cinza de olhos grandes? Mas nunca um humano.

Ele usava um traje completamente diferente, uma roupa até normal, e um pequeno capacete que deixava seu rosto a mostra, aquilo parecia ser tecnologia o suficiente para poder conquistar o universo:

— Olá povo subdesenvolvido... Eu vim em paz. — Ele anunciou.

— E quem é você? — Disse Bella, ela parecia mais relaxada e diria até feliz? É claro que para um astronauta descobrir que existe vida desenvolvida fora da terra é um grande sonho, ainda mais quando este anuncia que veio em paz, porém Jimin ainda continuava completamente tenso.

— Meu nome é Jeon Jungkook, eu sou enviado da embaixada intergaláctica do universo infinito que ainda está em expansão, para a missão de eliminar a terra.

— O que!? — Jimin gritou incrédulo — Foi você que destruiu a terra?

— Sim. — ele disse como se não fosse nada.

— Miserável! acha que tem o direito de vir aqui com essa cara lavada depois de destruir uma civilização inteira? Eu vou acabar com você! — Jimin avançou sobre Jungkook, não se importando que ele tinha uma nave com um raio letal que poderia destruir planetas, mas o avanço de Jimin sobre o Jeon demorou uma eternidade já que a pouca gravidade impedia qualquer um de se movimentar rápido, e todos apenas ficaram observando enquanto Park dava pulinhos lentos ali no solo com as mãos estendidas a frente do corpo, Jungkook observava com uma sobrancelha levantada e Carter tinha sua mente em colapso:

— T-toda a terra... Destruída — Disse Carter — minha família... Eu não viverei sem minha família! — Ela parece ter percebido aquilo somente naquele momento.

— Vocês dois viram comigo para a embaixada intergaláctica do universo infinito e que ainda está em expansão, eles vão saber o que fazer com vocês, terráqueos subdesenvolvidos.

— Não vou a lugar algum! — Jimin gritou furioso ainda avançando lentamente até Jungkook.

— Não há sentido para a vida se eu não tenho mais um planeta! — Carter gritou e de repente tirou o capacete que lhe fornecia oxigênio, e rasgou suas roupas espaciais para a temperatura negativa do espaço.

Ambos ali pararam se virando para Carter que caiu se debatendo e tremendo, logo morrendo em poucos segundos antes mesmo que alguém pudesse fazer algo:

— Não!! — Jimin gritou sentindo os olhos arderem em lágrimas — Bella! Não!

Conseguiu chegar com velocidade descomunal até o corpo caído se arrastando, e até tentou fazer algo por ela, mas nada mais poderia ser feito, ela havia partido, e Jimin permaneceu estático, pensando na terra, na NASA, tio Jhon,  e também na família de Carter, ele fechou os olhos fazendo um momento de silêncio, por cada humano que teve sua vida interrompida, pelo seu planeta e todas formas de vida possíveis na terra.

Seu corpo tremia e Jungkook se aproximou erguendo o astronauta pelas axilas o levantando:

— Certo, já chega, vamos embora daqui. — Jeon tinha a gravidade necessária em seus sapatos para se movimentar bem em qualquer lugar, então apenas andou rapidamente até a nave.

Jimin estava imóvel, sua mente ainda processava tudo que havia acontecido, ele era o único terráqueo vivo, a terra havia sido destruída, e ele não sabia mais o que era real ou não, pois tudo que lhe foi ensinado veio abaixo quando uma nave maluca pousou do céu, no final, a ficção científica esteve certa o tempo todo, existem outros mundos, outros povos e raças inteligentes e mais desenvolvidas no universo, mas não significa que elas são boazinhas.