(21) lisa jenkins.
Elliot Morris, um psicólogo especializado em psicopatologia, argumentava sobre um dos casos de Ted Bundy, o último de tantos, quando meu celular foi tirado da minha mão de repente.
— Ei! Larga de ser mal educado, eu tava assistindo! — bato nos dedos de Vinnie e pego meu celular de volta.
— É, você tá assistindo isso há três horas! — ele retruca. — Eu até curto esses documentários e tal, mas três horas? Tô fora.
Reviro os olhos.
— É uma minissérie, e, da última vez que eu chequei, você estava bastante concentrado nisso. — cruzo os braços.
— A última vez que você checou foi há duas horas. — Vinnie diz. — Você disse que a gente ia curtir o tempo juntos depois que você entregasse o ensaio.
— E não é o que estamos fazendo? Curtindo o tempo juntos?! — agora, Vinnie revira os olhos.
— Se a sua definição de curtir for passar horas vendo coisas sobre serial killers...
— Pois é exatamente essa! — rebati. — Ou você achou que eu viria aqui, abrir as pernas pra você e ir embora? Se você não quiser que eu fique, então me avisa e eu vou embora. É simples.
Vincent suspira.
— Não, não é isso. — ele passa a mão direita pelo cabelo, mas isso, surpreendentemente, não bagunça os cachinhos loiros. — Mas você fica tão concentrada que esquece que eu tô aqui também.
— Ah, gatinho, — sorrio, achando fofa toda a situação. — se você quer atenção, é só falar. — aperto a sua bochecha.
— Você falando assim faz eu me sentir um idiota. — ele resmunga. — Mas, é. Quero atenção.
Coloco o celular em cima da cômoda e me viro para Vincent quando noto, de supetão, o que essa discussãozinha toda significa.
Ai, meu Deus. Estamos discutindo como um casal.
Como um casal que transou pela primeira e única vez no meio de um deserto, não se viu por três anos e, de repente, passou a compartilhar o próprio colchão com muito mais frequência para muitas coisas, que não incluem sexo.
Depois do fiasco no banheiro da casa dos meninos, onde eu estou agora, não nos incomodamos mais em tentar; quando ele dormiu no meu quarto, eu estava menstruada, e depois disso todo o meu tempo livre foi gasto naquele ensaio de merda – no qual Vinnie me ajudou em 99% na criação. Acabei dormindo aqui no dia em que entreguei o ensaio, porque passei o tempo depois das aulas aqui e eu estava com preguiça de andar até a minha própria casa de irmandade – Jordan estava fora com o carro. Isso foi há dois dias, e, na realidade, parecemos muito um casal.
Um casal que não transa.
— Ok, estou te dando atenção agora. — coloco o peso do corpo no cotovelo e olho para Vinnie. — O que você quer fazer?
Os olhos dele se iluminam de uma forma diferente.
— Qualquer coisa? — ele pergunta. Bem, se o que ele quisesse fosse sexo, essa não é a pergunta que ele faria.
— Qualquer coisa. — respondo. Abro um sorriso quilométrico quando ele dá aquele sorriso mordido, escondendo a animação. — Desde que não inclua dois paus dentro de mim. Acho que eu não aguentaria.
Vinnie explode em uma gargalhada alta.
— Não é nada disso, pervertida. O único pau que vai entrar em você é o meu, e fim de papo. — reviro os olhos. — Mas não é isso.
— Então fala o que é. — de repente, Vinnie parece bastante envergonhado. — Só cospe, Vincent.
Ele suspira.
— Eu comprei um jogo umas semanas atrás, mas é de dupla. Os Jordans jogaram comigo no dia, mas depois nunca mais. E eu tenho um tipo de TOC, e gosto de zerar todos os meus jogos, mas sozinho não dá. — aperto os lábios, engolindo a risada. Vinnie percebe e fecha a cara. — Quer saber? Esquece. Pode voltar pra sua minissérie de psicopatas.
— Para de ser bobo. Eu jogo com você. — aperto sua bochecha de novo. — Desde que não seja relacionado a esporte. Sério, o meu primo tinha uma coleção de jogos de hóquei, futebol americano, basquete, baseball... Eu era terrível em todos.
Vinnie ri e pega a minha mão, que antes apertava a sua bochecha, e beija a palma.
— Não é de esporte, relaxa. — ele se levanta. — Vamos lá.
Desci com Vinnie até a sala de estar, muito parecida com a sala da minha casa, quase idêntica. A diferença eram os sofás, pretos e longos, quando na minha casa são brancos e em formato de L. A TV também é maior, provavelmente por causa do videogame, e não há muitos quadros dos antigos garotos da fraternidade. É uma sala bastante aconchegante, na verdade.
Há dois meninos no sofá menor, um deles está no celular, com uma latinha de cerveja na mão esquerda, enquanto o outro está com a cabeça caída para trás; quase penso que ele está dormindo, mas percebo que os dois estão conversando. Reconheço um deles – o com o celular –, novamente, como o meu colega de classe na aula de ética, aquele Alex não-sei-o-que.
— E aí, Hacker. — ele diz, nos olhando por dois segundos. — Oi, Lisa.
— Oi, Alex. — respondo, educadamente.
Vinnie me olha, silenciosamente perguntando como eu sei o nome do seu irmão de fraternidade. Mexo os ombros.
— Temos ética juntos. — falo baixinho.
— Eu ouvi isso. — Alex diz, com humor. — Relaxa aí, Hacker, tô firme com a Kouvr, não vou dar em cima da sua garota.
Bem, merda. Acho que agora eu sou a garota de Vinnie. Publicamente.
Vinnie apenas acena de volta, indo colocar o tal jogo no console do videogame. Me jogo no sofá maior e cruzo as pernas como uma criancinha, e Vinnie ri quando nota.
— O jogo é o seguinte. — Vinnie desanda a explicar sobre como o jogo funciona e chego a conclusão de que é uma imitação mais cara e com mais qualidade de Mário Bross. Sério, seria literalmente o mesmo jogo, caso aquele Mário verde jogasse em dupla com o Mário vermelho o jogo inteiro. — Entendeu?
— Entendi. Vamos zerar essa coisa!
Vinnie se senta ao meu lado, adotando a mesma posição em que estou, e dá play no jogo.
A primeira pausa que fizemos foi quarenta e oito minutos depois, porque, como Vinnie mesmo disse, ele precisava tirar a água do joelho. Nesse meio tempo, decidi me esgueirar pelo corredor até a cozinha e roubar um pacote de Oreo, e voltar correndo vergonhosamente de volta para o sofá.
— Esse Oreo é meu, sabia? — o garoto além de Alex diz.
— Então você deveria ter escondido, porque se eu não pegasse, alguém iria. — mexo os ombros, abrindo o pacote. — Mas eu vou ser boazinha e compartilhar com você.
Alex gargalha quando dou quatro bolachas nas mãos do garoto sem nome.
— Acho que vou adotar você como nossa mascote, Lisa. — Alex diz, roubando uma bolacha das mãos do amigo. — Estamos mesmo precisando de alguma diversão por aqui.
— Você é o presidente? Líder, comandante ou seja lá como seja o nome desse cargo. — faço uma careta. Alex ri, negando.
— Eu não, Thomas é. — aponta para o outro cara. — Socialmente falando, é presidente. Formalmente, é líder. Mas a gente chama de papai da casa.
— É verdade. O nosso garotão aqui adora me fazer agir como se fosse realmente o pai dele. Sério, ele até me pediu aprovação do namoro, não é, Alex? — Thomas implica, e Alex resmunga em resposta.
— Não pedi aprovação nenhuma, seu babaca. Só perguntei se tinha alguma regra contra namorar alguém que não está em uma fraternidade.
Ergo as sobrancelhas.
— Por favor, me diz que eu não entendi direito. Existem regras de relacionamento? — pergunto, surpresa.
— Existiam, há, tipo, quinze anos atrás. — Alex diz. — E se ainda existisse... Bem, foda-se, eu largaria a fraternidade.
— Eu costumo dizer que o amor afeta o julgamento das pessoas. — Thomas diz.
— Então, se tivesse uma regra sobre o presidente da fraternidade não poder namorar uma garota sem irmandade, você largaria da Mia? — Alex questiona.
— Não. Eu pediria pra ela entrar em alguma irmandade. De preferência a Prudence.
O assunto dá uma pausa quando Vinnie volta, nos olhando surpreso por saber que estamos mesmo no meio de um diálogo.
— E você, Hacker?
— Eu o que? — Vinnie se senta ao meu lado de novo, colocando a mão na minha coxa. Faço um bom trabalho fingindo que aquele simples gesto não esquentou o meu corpo inteiro.
— Vamos supor que a Lisa não faz parte de irmandade nenhuma. — Thomas começa. — E tem uma regra restrita sobre integrantes dessa fraternidade não poderem namorar pessoas sem irmandade-fraternidade. O que você faria?
Ignoro o fato de que a namorada dessa suposição sou eu.
— Perguntaria se ela poderia entrar em alguma irmandade. — ele mexe os ombros. — Se ela não pudesse, eu largaria daqui. Se ela não quisesse, eu largaria ela.
— Largaria, é? — cruzo os braços.
— Largaria. Um relacionamento é uma coisa de dois, se os dois não tentarem fazer com que funcione, então não vale a pena. — Vinnie pisca. Xingo baixinho, porque ele está certo.
Bem, a boa coisa é que essa regra não existe. E não estamos namorando.
Thomas e Alex riem baixinho.
— Vamos zerar o jogo, Vincent.
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