(08) lisa jenkins.
A minha primeira semana na casa da irmandade não foi tão ruim quanto eu pensava. Na verdade, até que foi bem legal. Abby Griffin tem o que eu gosto de chamar de síndrome de Regina George e, surpreendentemente, todas as quartas nós devemos usar rosa. É uma tradição desde – adivinhem – 2004.
Só tenho duas peças rosa no meu guarda-roupa, e se Abby Griffin achar isso ruim, então ela pode comprar mais algumas pra mim.
— Ei, Jenkins! — não precisei olhar para saber que era Maddy. — Como foi a primeira semana?
— Nada mal... — mexo os ombros. — Ainda me sinto desconfortável pela completa falta de privacidade, mas acho que vou me acostumando aos poucos.
É disso que eu tenho medo.
— Eu ainda não me acostumei. — a ruiva diz. — Uns dias atrás eu entrei no meu quarto e a minha colega estava fazendo a três. Na minha cama. — ela grunhe as últimas palavras.
— Que horror. — faço uma careta. — Graças a Deus eu e Tracy não temos esse tipo de problema.
— Sim, sorte sua. — ela suspira. — Ei, você ficou sabendo da festa de halloween da Acacia?
— Aquela fraternidade cheia de machistas misóginos?
— A própria. — ela revira os olhos. — Eles são idiotas, e eu os odeio com toda a minha alma, mas tenho que admitir que eles dão boas festas.
Bufei.
— Acabamos de passar por duas festas, não é o suficiente? — questiono.
— Passamos por duas iniciações, lindinha, é completamente diferente. — ela sorri pra mim. — As duas festas que você foi, da Prudence, foram unicamente para acolher os novatos. Aqueles outros alunos foram porque são enxeridos, não porque foram convidados. Uma festa de fraternidade, Lisa, não é nada daquilo que você viu.
Não posso dizer que entendo a diferença, porque não entendo. Eu fugia das festas de fraternidades no meu primeiro ano aqui, porque estava mais focada em não perder o semestre do que em curtir no meio de tantos babacas que não sabem receber um não na cara.
— É em uma semana, no halloween. — ela diz.
— Mas o halloween é no domingo, e temos aula na segunda.
— Tecnicamente, não temos. — ela dá um sorriso mordido. — Alguns professores até participam da festa com a gente, sabia? Todos eles concordaram em não contar falta na segunda, e repetir o conteúdo na terça.
— Me sinto de volta no ensino médio agora. — resmungo. — Se você tá me contando isso, suponho que você espere que eu vá.
Maddy ri.
— Não espero, Jenkins. Você vai. — ela levanta e abaixa os ombros. — É regra da casa, não podemos faltar a uma festa, a menos que as circunstâncias peçam. Então você tem que ir, e ir fantasiada.
Meu queixo cai.
— Supondo que você tenha uma fantasia...
— Ah, e eu tenho. — sorrio. — Duas. Só basta saber qual delas usar.
— Quais são as opções?
— Piranha ou bruxa. — ouço sua risada. — Ninguém mais se empenha em usar uma boa fantasia, Maddy. Agora, todo mundo usa o halloween em prol da nudez.
— Sim. Viva ao halloween! — Maddy grita, agora me fazendo rir. — Se você não quiser ir de bruxa, ou de periguete, eu e o Jordan vamos na cidade na sexta, procurar uma fantasia. Você pode ir com a gente se quiser.
— Ficar de vela pra casal de e-girl e e-boy não estava nos meus planos pra sexta, mas tudo bem. Eu vou com vocês. — suspiro.
— Ótimo. Eu vou te buscar no seu quarto. Tchauzinho.
Esfrego o rosto com as mãos e continuo o meu caminho até a aula de ética.
Escuto o professor falar sobre moralidade por duas horas inteiras; acho que eu não estava pensando muito bem quando coloquei as vertentes de filosofia na minha grade de matérias desse semestre.
Às três e cinquenta, as aulas do dia acabaram, dando início as aulas extracurriculares – que eu não faço. Tracy faz aulas de teatro e robótica – coisas totalmente diferentes, eu sei.
Então passei a uma hora seguinte sozinha no quarto, ouvindo o zumbido de vozes femininas espalhadas pela casa. Não era tão diferente no alojamento, então não tenho problemas com o barulho.
— Me solta! — alguém grita do lado de fora, pertinho da minha porta. — Não adianta me segurar, eu vou dar na cara dessa novata idiota!
Epa!
Como eu não tenho um pingo de vergonha na cara, levanto da minha cama e abro a porta, o sinônimo de calmaria, e vejo Abby no corredor, com duas das suas cachorrinhas ao seu lado, segurando seus braços; elas me mandam um olhar de desculpa, enquanto Griffin me fuzilava com seus olhos.
— Algum problema, Abby? — pergunto, cruzando os braços e encostando no batente da porta.
— Não se faça, novata!
— Meu nome é Lisa, caso você não saiba... — pisco para ela.
Abby grunhe como um cachorro raivoso.
— Eu sei o seu nome. — ela diz. — Eu sei quem você é.
Franzi o cenho.
— Beleza. Posso voltar para o meu quarto agora? — pergunto, vendo ela tentar se soltar das mãos das duas garotas ao seu lado.
— Não se faça de inocente, Jenkins! — ela grita.
Finjo surpresa.
— Deixa eu ver se entendi... Você está aqui, me apedrejando, porque o seu namoradinho me beijou? — ergo uma sobrancelha. Abby para bruscamente. — Eu estava vendada, Abby. Como você acha que isso é culpa minha?
Apesar do tom exageradamente calmo – unicamente para irritá-la –, eu falava sério. Queria saber a resposta.
Mas não tive uma, porque Abby gritou, frustrada, e marchou na direção oposta à mim. Revirei os olhos e voltei para dentro do meu quarto, rindo sozinha.
Já passei da idade de aceitar briga por causa de homem. Essa é a coisa mais ridícula do mundo.
Tudo bem, quando o assunto é Vincent Hacker, talvez eu entenda a frustração de Abby, mas ainda não é motivo suficiente pra brigar com outra pessoa por ele.
— Por que a Abby tá lá embaixo gritando que vai fazer da sua vida um inferno? — Tracy pergunta assim que entra. — O que você fez?
— Eu não fiz nada, Evans! — falo. — O namoradinho dela me beijou na iniciação e de repente ela me odeia. Eu não tenho culpa de ser uma gostosa irresistível, sabia?
Tracy gargalha.
— Ninguém entende essa garota. Essa obsessão toda começou depois que ela soube que ele dormiu com a Aly. — Tracy diz, rindo.
— Eu soube que eles nem chegaram a namorar.
— E não chegaram mesmo. — ela mexe os ombros. — Mas na cabeça dela, eles estavam quase casando.
— E isso apenas me isenta. — sorrio. — Ele me beijou porque quis. Duas vezes. — bufo. — Se Abby acha que eles ainda têm alguma coisa, então é melhor alguém recomendar um bom psicólogo pra ela.
— Você não presta, Jenkins. — Tracy se deita ao meu lado na cama. — Eu vi vocês dois conversando na iniciação dos meninos. Sobre o que vocês falaram?
Então, de repente, me lembro que Tracy ainda não sabe sobre mim e Vinnie, sobre Las Vegas.
Com um suspiro pesado e impaciente, conto a versão resumida da história: que fugi de casa por uma noite, acabei no deserto de Nevada perto dos cassinos, conheci esse menino bonito em um lugar chamado Dark Cave, transamos no banco de trás do carro dos meus pais e depois nunca mais nos vimos. Até a iniciação da Prudence.
— Por que eu nunca soube disso? — ela pergunta, irritada.
— Porque nem eu me lembrava disso. — bufo. — E depois que ele apareceu, me beijando na frente de todo mundo e me chamando de garota do Arizona, acho que eu entrei em choque cético. Não parecia real, sabe?
— Mas é real, gatinha. Bem real. — Tracy me empurra com o ombro. — E se você não deixar seus limites claros, você vai acabar no banco de trás do carro dele.
Não sei dizer se ela estava me alertando, ou me iludindo.
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