(04) lisa jenkins.
Não tirei a venda até que tenha sido extremamente necessário. O garoto com cheiro de Malbec – que descobri se chamar Vincent Hacker – havia sumido no meio das pessoas, as quais me olhavam como se eu tivesse um terceiro olho.
Tracy se aproximou de mim ao mesmo tempo que Alyssa. As duas sorriam, sorrisos largos e animados.
— Lisa, você sabe quem acabou de beijar? Duas vezes, ainda por cima. — Tracy começa, enrolando meu cabelo em seu dedo.
— Vincent Hacker. Eu ouvi a Abby gritando com ele. — reviro os olhos. Fico em silêncio até que a ficha cai. — Aly, ele é o motivo de a Abby te odiar? Você transou com ele?
Aly fecha os olhos por dois segundos.
— Foi no trote dos calouros, há dois anos. — ela suspira. — Pegaram pesado com a gente, aquele foi o último trote permitido pelo reitor do campus. Vinnie era meu vizinho de dormitório no alojamento, me viu chegar em um estado crítico... Enfim, ele me ajudou, uma coisa levou a outra, e rolou.
— Eu achei que você fosse lésbica! — Tracy diz, o queixo caído. — Por favor, não leve para o lado negativo. Eu só estou surpresa.
Aly sorri, reconfortando Tracy.
— Muita gente acha. — ela mexe os ombros. — E eu prefiro mulheres, de qualquer forma. Vinnie foi um dos únicos dois caras com quem eu dormi até hoje.
— Não sei dizer quem é mais sortudo. — murmuro baixinho.
Aly e Tracy riem alto.
— Querem conhecer o quarto de vocês? Eu tenho a chave. — Aly balança a chave nos dedos.
— Por mim tudo bem.
Aly nos guia para o interior da casa, onde andamos por um corredor enorme, com sete portas, até pararmos em uma passagem de dois lados; viramos a esquerda, em um corredor com mais oito portas. Aly abre a última, nos dando acesso para um quarto pouco maior que o dormitório do alojamento, com duas camas de solteiro, uma penteadeira marrom, um guarda-roupa médio com um espelho na porta esquerda, duas prateleiras vazias e uma varanda pequena com porta de correr de vidro.
— Acho que fazer parte dessa merda não vai ser de todo mal. — falo, engolindo um sorriso. — Essa é a minha! — me jogo na cama do lado direito, mais perto da varanda.
Mas não desfrutamos muito do quarto, porque, além de não termos trazido nada de nossas coisas, ainda tinha uma festa acontecendo lá embaixo.
Aproveitei mais cinco segundos do meu novo colchão antes de me levantar e sair do quarto junto com Tracy e Aly. Voltamos para o quintal, vendo nada além de uma bagunça de alunos e barris de cerveja caídos. Estavam todos quase muito bêbados demais para jovens – em sua maioria – menores de vinte e um anos.
Não me importei em pegar um copo branco cheio de cerveja, mas ele foi tirado da minha mão antes que eu pudesse sequer aproximá-lo da minha boca.
— Uns idiotas colocaram rohypnol aí dentro. — diz uma ruiva, despejando o conteúdo na grama antes de voltar a falar. — Boa Noite Cinderela. Só estão esperando alguém idiota o suficiente para beber um copo cheio.
Franzi o cenho.
— E por que você não jogou isso fora antes?
— Porque, novata, ninguém é idiota o suficiente para beber um copo cheio. — ela pisca. — Exceto você, aparentemente.
— De onde eu venho ninguém precisa drogar alguém pra foder com ela. — faço uma careta.
— A menos que você tenha vindo do céu, acho difícil de acreditar. — ela zomba, tomando um gole do próprio copo. — É o único lugar onde merdas não acontecem.
Reviro os olhos. A ruiva – tingida, não natural – me estende o seu copo.
— Eu não vou beber do seu copo. Vai que tem droga aí também. — torço o nariz, vendo ela sorrir.
— Por que eu te drogaria?
— Por que não? — arqueio uma sobrancelha.
A ruiva sorri.
— Bitches supports other bitches, novata. — ela toma mais um gole. — Além disso, não seria muito inteligente beber do copo que eu usaria pra drogar alguém.
Faz sentido.
— Qual é o seu nome?
— Lisa Jenkins. — respondo. — E o seu?
— Maddy. Sou a mentora da sua amiga loira. — ela sorri fraco. — A sua é Alyssa Powell, certo?
— Sim. Eu não estaria aqui se fosse por ela. — olho para o chão. — Por que a pergunta? Você é uma das cachorrinhas de Abby Griffin?
Maddy ri alto.
— Pode apostar que não. Não desgosto da Abby, mas ela também não me deu motivos pra gostar dela. — ela mexe os ombros. — Só estou tentando puxar assunto, Jenkins, vai com calma.
Sorri fraco, levemente envergonhada.
— Então... Vinnie Hacker, hein? — seu sorriso agora é insinuante.
— Quem? — me faço de sonsa.
— Não se faça, Jenkins. — Maddy empurra meu ombro. — Eu estava perto quando ele te beijou, garota do Arizona.
Esfrego o rosto com as mãos.
— Você passou pela cama dele ou o quê? — pergunto, rude.
Maddy gargalha.
— O conheço desde o fim do ensino médio, meu namorado é melhor amigo dele há anos. — ela diz, fazendo eu me sentir completamente estúpida. — Mas entendo o seu pensamento; todas as mulheres que ouvem o nome Vincent Hacker ficam encharcadas instantaneamente.
— Não é bem assim...
Talvez seja assim, sim.
— Sabe, ele nos falou sobre uma garota do Arizona, há bastante tempo. — fico estagnada no lugar. — Ele a conheceu em Las Vegas, em um final de semana na casa dos avós do Jordan, pertinho de lá. — ela continua. — Ele nos contou que conheceu uma garota na Dark Cave, uma morena, olhos castanhos, sorriso bonito e língua afiada. Estávamos com ele, eu e Jordan, e eu me lembro de ele ter sumido por boa uma hora. Talvez mais.
— Dark Cave? Quanta falta de originalidade! — murmuro, mal humorada. — Tá, e se era eu? Qual o problema?
— Problema nenhum. — ela mexe os ombros. — Na verdade, é a solução do problema. Você deve ter marcado aquele corpo com gosto, garota, porque eu nunca vi Vinnie Hacker se apaixonar daquela maneira!
Engasguei, tossindo vergonhosamente.
— Se apaixonar?
— Não no sentido literal, é claro, mas ele não parou de falar sobre você por um mês inteiro. Ele até pediu pra passar o winter break na casa dos avós do Jordan com a gente, e foi em cada festa da Dark Cave, esperando te ver lá em alguma delas. — ela ri da minha expressão de surpresa. — Meio doentio, eu sei.
— Ele foi... Ele foi me procurar? — pergunto, cética. — Eu nunca mais voltei para Las Vegas depois daquele dia. E certamente não esperava vê-lo depois daquilo.
— Sim, porque esse é o significado de casos de uma noite, mas acho que o Vinnie não entendeu muito bem. — Maddy zomba. — Mas aqui estão vocês, depois de, o que? Três anos?
— Dois anos e onze meses.
— Aqui estão vocês, depois de dois anos e onze meses, na mesma universidade. Eu chamo isso de destino. — ela pisca.
— Eu transei com ele porque sabia que não precisaria olhar na cara dele depois disso, e aí ele resolve aparecer quase três anos depois?! Que porra é essa? — grunhi.
— Tecnicamente, Jenkins, foi você que apareceu.
— Foi ele que me beijou! — esbravejo.
— Eu agradeceria se fosse você, porque era aquele ali — Maddy aponta para um cara bombado, com barba falha, marca de suor na camisa e uma expressão de assustar garotinhas. — que você beijaria, se Vinnie não tivesse interrompido.
Solto um suspiro longo e decido não discutir mais. Estou em Seattle há um ano, e sequer vi um rosto parecido com o dele. Ou talvez eu tenha visto, só não quis relacionar à ele – e ainda não quero.
Mas estamos aqui agora, os dois, fazendo parte da mesma fraternidade-irmandade.
E não sei se isso é bom, ou ruim.
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