(39) lisa jenkins.
A última vez em que eu estive nesse deserto foi há mais de três anos; eu tinha dezesseis anos e uma carteira de habilitação novinha em folha. Eu peguei o Eldorado dos meus pais e dirigi por quase quatro horas até um lugar clandestino e ilegal chamado Dark Cave, e acabei encontrando o amor da minha vida lá. Nós transamos no banco de trás do carro dos meus pais, e depois não nos vimos por dois anos e onze meses, quando ele me beijou na iniciação idiota de uma irmandade idiota. Por dois meses, eu pensei que estava disputando o coração dele com outra garota, mas na verdade ele estava apenas a ajudando a escapar dos pais preconceituosos; na realidade, eu a odiava por achar que ela tinha dormido com ele, e ela me odiava por eu ter dormido com a garota que ela ama. Não importa mais, somos amigas hoje.
— Tem certeza que podemos entrar? Nem todos temos vinte e um. — Tracy pergunta, descendo do carro.
— Evans, eu entrei quando tinha dezesseis, e vou entrar com dezenove. — sorrio para ela. — Se tudo ainda é como antes, apenas tenham cinquentinha na mão e boom. Feito.
Roupas farfalharam e carteiras foram abertas. Tentei contar em quantos estamos, mas sempre perco a conta depois do nove. Sei os nomes, pelo menos. Somos eu, Vinnie, Tracy, Abby, Aly, Maddy, Huxhold, Powell e a namorada, Thomas e a namorada, Alex e a namorada. É isso. Acho que não estou esquecendo ninguém.
— Chega de enrolação, tá um frio do caralho aqui fora e eu vim de vestido! — Maddy reclama.
Em uma fila única, seguimos, com lanternas ligadas, pelo caminho escuro até a porta de metal. Três batidinhas depois, aquela portinha foi aberta, e passamos o dinheiro. Trinta segundos depois, eu já podia ver as luzes piscando.
Nostalgia invadiu meu peito, e imediatamente olhei para a parede na qual Vincent me encostou antes de me beijar; não sabíamos nossos nomes, nossas idades, nada de relevante, e aqui estamos nós hoje.
Nosso grupo fazia um bom trabalho em encher boa parte daquela caverna, e, de repente, eu tinha uma garrafa nas mãos. Com uma bebida vermelha. Vinnie também reparou, e sorriu.
— Parece que as coisas estão inclinadas a se repetir, né? — reviro os olhos, me afastando dele. Encontro aquela parede novamente, e ele me encara com aqueles olhos indecentes antes de me seguir.
— Se acabar como da última vez, acho que não tenho nada a reclamar. — tiro a tampa da garrafa e tomo um gole, sem evitar a careta.
— Você diz... Cada um seguindo seu caminho como se nada houvesse acontecido? — ele recita as palavras que eu o disse, naquele dia da iniciação dos meninos.
— Espero que não. Eu me referia a você me fodendo no carro, caso você não lembre. — pisco pra ele.
Vincent ri. Alto.
— Eu esqueceria do meu próprio nome mas não me esqueceria do dia em que nos conhecemos, garota do Arizona. — ele murmura, levando a mão até a lateral do meu rosto. — Aquele foi o melhor dia da minha vida.
Reviro os olhos.
— Agora eu entendo como mulheres como Riley Hubatka caíram no seu encanto. — ele ergue uma das sobrancelhas. — Essa sua fachada romântica e galanteadora... Não é exatamente uma fachada.
— Claro que não.
— Eu sei que não. — sorrio, e me aproximo o suficiente para nossos narizes se tocarem e seu cabelo fazer cócegas em mim. — Esse é um dos motivos de eu te amar tanto.
— Por que eu sou carinhoso?
— Sim! Você não lembra de quando me comprou remédio pra cólica e dormiu abraçadinho pra aliviar a dor? Ou quando você foi comigo no banheiro naquela festa da Acacia porque não queria que ninguém mexesse comigo? — tampo a garrafa rapidamente e rodo meus braços no pescoço dele.
— Lembro, mas isso é o mínimo. — ele mexe os ombros, envergonhado. — Todo homem deveria fazer essas coisas.
— Eu sei, mas nem todos fazem. Não como você, pelo menos. — beijo a pontinha do seu nariz.
— Você tá me deixando com vergonha. — ele murmura, e consigo ver suas bochechas ganharem mais cor mesmo com as luzes piscantes da caverna.
Suspiro antes de descansar minha cabeça em seu ombro. Vinnie andava tenso há alguns dias, porque é fato que ele vai para Los Angeles antes das férias acabarem, mas eu continuo em Seattle. Ou, pelo menos, é o que ele acha.
Não contei a ele que meu professor de filosofia escreveu uma carta de recomendação sobre mim para a UCLA na nossa última semana de aula. E nem que eu recebi um e-mail de admissão há três dias. Mas vou, em breve.
— Não posso ir para Los Angeles. — ele sussurra.
Ok, talvez eu conte agora.
— Já falamos mil vezes sobre isso, Vin. A UCLA é maravilhosa e...
— E não tem você lá. — ele responde imediatamente. — A menos que tenha uma garota chamada Monalisa Jenkins, de dezenove anos, que ama café expresso, fast food, princesas da Disney e tenha um pôster do Michael B Jordan sem camisa em cima da cama. — belisco o braço dele.
— Você tem o pôster da Megan Fox seminua em cima da cama, não vem me julgar. — falo.
— E o seu pôster da Megan Fox seminua tá dentro do guarda-roupas! — ele responde, rindo. Sua risada cessa logo, quando ele lembra do motivo da conversa. — Não posso te deixar.
Me afasto do abraço apenas para colocar a garrafa no chão, e então seguro o rosto dele com as mãos.
— Você não precisa. — sorrio, absorvendo cada traço do seu rosto imperfeito. — Tenho uma passagem agendada para o dia 29. E uma ficha preenchida para o dormitório 19 no alojamento dos graduandos.
— Você tem o que? — ele permanece perplexo. — Seja mais clara, Lis.
— Você entendeu o que eu disse.
— Entendi, mas quero que você repita com clareza, só para o caso de eu estar delirando. — dou risada antes de repetir.
— Vou para Los Angeles com você. E vamos ser vizinhos, aparentemente. — senti minhas bochechas doerem de tanto sorrir.
— Vizinhos? Por que vizinhos?
— Porque você já tem um colega de quarto. — mexo os ombros. — Mas já é alguma coisa, certo?
Vinnie me encara por longos segundos, então dá um daqueles sorrisos quilométricos antes de me pegar nos braços e me beijar.
— Você é a porra da minha alma gêmea, Jenkins. Você sabe disso, não sabe? — ele encosta nossas testas uma na outra, tomando o cuidado de sempre me tocar onde consegue.
— Sei. Eu sei. — aperto meus braços contra ele. — Eu também não poderia ficar sem você. Quem iria me ajudar a estudar?
— Engraçadinha. — ele murmura.
Só percebi a mão dele no meu pescoço quando acabo batendo contra a parede, deixando a garrafa de lado. Vinnie me beija com mais força agora, demonstrando todo o seu amor naquela selvageria carinhosa que eu, felizmente - ou infelizmente -, amo.
Talvez alguém chame isso de co-dependência. É uma doença, mas acho que não exista outra palavra que defina a nossa situação atual. Nove meses desde que nos reencontramos, sete desde que mandamos tudo a merda e estamos juntos, e não me vejo um dia longe dele. Horas, no máximo.
Me chame de doente. Eu não ligo.
Eu sei que amo esse homem. Vincent Cole Hacker é o amor da minha vida, e não faria sentido algum nos separarmos novamente a essa altura do campeonato.
— Temos duas opções, garota do Arizona. — ele começa, beijando meu maxilar enquanto fala. Apesar da luz em todo o centro da caverna, estávamos em um canto menos iluminado; eu conseguia ver apenas pouco do cabelo loiro dele. — Aqui, nessa parede de pedra, — ele beija meu pescoço, bem acima da traquéia; não posso evitar que meu corpo todo se arrepie. — ou o meu carro.
Prendo minhas unhas nas laterais dos braços dele e encaro seus olhos, que brilhavam mesmo na escuridão parcial. Olhei sobre o ombro dele, para o resto das pessoas; ninguém parecia estar ciente da nossa presença aqui, além de nós.
"Vai me dizer que você não gosta do medo de ser pega? Daquele friozinho na barriga quando pensa que alguém pode notar..." foi o que ele me disse na biblioteca, meses atrás. E faz muito mais sentido agora.
Sorrio para ele, transmitindo tudo o que sinto através desse sorriso. Todo o amor, o carinho, o cuidado. Mas também o desejo, a vontade, a luxúria. Ele absorve todos esses sentimentos e não demora em nos puxar para ainda mais longe, deixando a escuridão nos engolir.
Aquela parede de pedra irregular arranhou bastante as minhas costas, só não tanto quanto eu arranhei as do meu namorado.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro