Ela era uma garota como tantas outras. Gostava de rosa e de conversar com as amigas, de músicas e segredos, de vestidos e bailes. Não desobedecia a mãe e era a princesa do pai. Sonhava com casamentos belos e amores verdadeiros, recebia um beijo na testa antes de dormir e lhe perguntavam se queria a luz acesa ou apagada. Acordava, se arrumava e ia a escola. Não fazia inimigos, não prezava o mal e mantinha-se longe de encrencas.

    Tinha cabelos loiros, olhos azuis e pele branca. Os garotos a desejavam, as garotas a invejavam. Recebia cortesias e declarações, sorria e respondia com palavras gentis. Sentava-se na cadeira da frente ao lado da janela e acenava sempre que o zelador passava e a mostrava um sorriso. A vida lhe soava bela, cheia de possibilidades.

    Mas isso era antes. Antes de um grupo de homens a encurralarem num beco, rasgarem suas roupas e foderem sua boceta. Antes de descobrir que estava grávida. Antes de contar aos pais e ser expulsa de casa. E antes de morrer com medo durante uma operação de aborto realizada pelo primo que apenas pedira por uma foda como pagamento. Sim, soava bela e cheia possibilidades num tempo passado, mas não agora, não morta e com o corpo flutuando num rio qualquer.