Sem lábios (Terror, suspense, Paranormal)
— Você está com medo? - Suas palavras ergueram-se austeras e doces como nenhuma outra voz poderia ser e várias aves levantaram voo quando o som chegou-lhes aos ouvidos. O bosque uivou através do vento e a pequena garota percebeu o frio pela primeira vez naquele dia. Já não era primavera e as flores não brotavam como antes.
— Por que pergunta? - a voz da menina reverberou e quase despedaçou-se entre as rajadas de ar.
— Porque é o que fazem as crianças, têm medo. Meus braços são longos, meu corpo esguio e meu rosto pálido como a neve, não existem homens como eu. Sou o desconhecido, o desconhecido gera medo nos corações dos da sua espécie. E crianças têm medo, é isso que fazem.
— Eu não tenho medo. - disse com firmeza e quase pode notar um sorriso no rosto sem face. Mas não haviam lábios.
As trevas engoliam e condensavam o oxigênio tornando difícil a respiração. Cada vez que o ouvia, como que para compensar a perda dos pulmões, seu corpo parecia flutuar para longe de suas memórias. Distante do passado que a trouxera até ali.
— Há esperteza em temer, burrice em não temer, o desconhecido não é conhecido e assim sendo deve-se sentir pavor diante dele. Não sente pavor criança? Posso ser seu algoz, posso ser seu salvador ou posso simplesmente ser ninguém. Mas a única certeza é de que sou o desconhecido, é isso que sou a você e a todos os outros.
Ela escutou o som do farfalhar dos matos e das folhas, viu raios de luz descerem e tocarem o chão a alguns metros da clareira onde estava e ouviu novamente o ar correr solto entre a vegetação. O sol não caia sobre ela, não quando ele vinha lhe ver.
— Não tenho medo.
— Pois bem, criança, te levarei até os demais.
O toque frio caiu sobre seus ombros e com um olhar para a esquerda a garota vislumbrou os longos e finos dedos leitosos sobre eles. Realmente não era como os outros homens.
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