Santíssima Constituição (Humor Negro)
A sala estava cheia de pessoas emanando ódio através de contorções em suas faces lisas e bem barbeadas. Pareciam sedentos por sangue, sangue de pecador. Quase cometeu o deslize de sugerir que cortassem os próprios pulsos. Eles a lixariam e diriam ''você vai queimar no fogo do inferno'' o que sem dúvidas não seria saudável para um sujeito com um terno tão bonito. Foi conduzida por um homem da força policial cristã até o centro do tribunal e deixada lá sob o olhar fervoroso de dezenas de hipócritas. ''Aleluia'' proferiu silenciosamente. Pela sua conta já havia ultrapassado o número de pecados diários.
- Você é acusada de praticar homossexualismo, pelo que consta aqui.- disse o velho que ocupava o cargo de juiz enquanto analisava um documento qualquer. - Também é acusada de blasfemar contra a santíssima constituição. Algo a dizer em sua defesa?
- A santíssima constituição estava me provocando! Quem diabos proíbe alguém de cobiçar a mulher do próximo!?
A sala foi preenchida por uma exclamação de incredulidade, mas ela não prestou atenção no teatrinho de ''santidade''. Sabia que todos ali já haviam batido uma para alguma vizinha ou atriz pornô. Não estava entre anjos.
- E quanto ao homossexualismo, bom, o senhor é homem, deve entender... a menos que prefira ter um outro homem para aquecer sua cama a noite.
O martelo bateu sem piedade e a face enrugada do juiz ganhou um tom avermelhado que quase pareceu o prenúncio de um infarto.
- Levem-na! Levem essa meretriz daqui e a queimem na pior fogueira que encontrarem!
''Amém'' ecoaram, porém ela ainda não tinha acabado de dizer o que queria.
- Bíblia não é constituição seus babacas! Foda-se o presidente Daciolo e a porra da sua bíblia! - gritou enquanto era arrastada.
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