Ar frio era comum naquele lugar desdenhado pela sorte no amor mesmo sob o constante pulsar de um líquido quente e vivo. Ele já doeu bastante, mas a era glacial aos poucos roubara-lhe a sensibilidade. Parecia, agora, incapaz de ser algo além de pedra a ser arrastada. Uma cruz. E a carregava com os pés a arrastar e sangrar no asfalto.

    Ainda existia calor, porém, a alguns passos ao sul. Um calor bobo de criança travessa que transformar-se-ia num mar úmido quando a brincadeira acabasse. Vazio como a embriaguez que passou e deixou de existir. Forte como o instinto de sobrevivência enquanto vivo. Mas nem de longe tão estimulante quanto ao que um dia incendiara a fonte do pulsar.

    Apenas curiosidade é o que restara do ardente querer, uma dúvida quanto ao sabor daquele doce fogo. Bom? Ruim? Valeria uma vida ou a faria valer? Perguntas quase tão gélidas quanto o que carregava no peito. Perguntas que teimavam em carregar tochas. Perguntas que talvez morressem caso o inverno continuasse.