Ele tem medo. Cada nervo que possuía gritava isso e sua mente sabia que não era mentira apesar de lutar ferozmente para sentir o contrário. Não gostava de pensar, não gostava de ter aquilo em sua cabeça, era irritante e corroía-lhe a carne melhor do que qualquer verme. O rapaz via o desespero aproximar-se e lutava para mantê-lo longe. Eram trevas agonizantes, um manto de terror, e ele o via.

    Os olhos de sua mãe, castanhos escuros, não o viam. Ela olhava para o garoto e apenas enxergava o garoto. Não discernia em sua amargura e ligeira rebeldia o caos perturbando-lhe a carne sob a pele. Ninguém notava e o jovem rapaz sabia que mesmo se notassem não os importaria, não o entenderiam, só um homem pode entender seu próprio terror como si. E aquele não era um comum, estava muito distante para que alguém o considerasse válido. ''Ainda têm muito tempo, você é um menino inteligente.'' diriam, mas ele já tinha 16 anos.

    A hora se aproximava conforme dias e noites passavam, a loucura também. Já não fazia as tarefas da escola, não empenhava-se em afazeres domésticos ou realizava exercícios físicos. Ficava com medo escondido em seu quarto ou de frente a um livro quando não no colégio. Tinha tanto medo que a voz saía fraca e frágil próxima a estranhos e agressiva dentro de casa. Era como um animal selvagem, herbívoro e covarde, mostrando as presas na toca e contraindo-se para dentro de si no lado de fora.