XLV - Por Um Fio
Olá leitores, é o Tom, vocês com certeza me acham um canalha bem imbecil, eu também me sinto assim na maior parte do tempo! Então compartilho da mesma opinião que vocês.
Só percebi que estava sem camisa e com os antebraços cheios de sangue quando cheguei no carro.
A Anne estava convulsionando quando eu coloquei ela no banco de trás, tive que me apressar em abrir sua boca para ela não morder a própria língua e comecei a virar ela de lado até ela parar de se debater, quando seu corpo debilitado e ensanguentado se acalmou eu senti que ela estava respirando de novo. Foi quando soltei meu próprio ar. Nem tinha percebido que tinha trancado a própria respiração com o pânico crescente.
Soltei ela devagar, estava sentindo cada um dos meus membros ficando dormentes, era medo. Um medo avassalador de perder ela, mesmo que soubesse que nunca a teria.
- Por favor, por favor aguenta só até a gente chegar lá! - Implorei enxugando as lágrimas do rosto depressa e corri para o banco do motorista.
O trânsito foi um borrão entre lágrimas e xingamentos para desgraçados que não saiam da frente até finalmente chegarmos no hospital, eram apenas 5km, mas pareceram 100.
Larguei o carro mal estacionado bem na frente do hospital e comecei a ir até o banco traseiro.
- Moço você não pode parar aí! - Um enfermeiro que estava fumando perto da entrada começou a berrar comigo vindo depressa ao meu encontro e eu o ignorei abrindo a porta do carro.
- Cara você é surdo?! Aí é para a ambulância! - Insistia o enfermeiro, mas quando eu tirei o embrulho de dentro do carro na mesma hora ele jogou o cigarro no chão e saiu para dentro gritando para trazer uma maca.
Corri atrás com Anne nos braços, ela parecia tão frágil, tinha sangue escorrendo do seu nariz e sua boca estava cheia do cortes, era como se eu tivesse batido nela e não no Harry, era culpa minha ela estar aquele estado. Se eu não tivesse gritado com ela, se tivesse compreendido o que ela queria dizer naquela inocência de achar que me amava... talvez tivesse visto Harry chegando ao invés de ir tomar banho! Inútil! Inútil! Vai ser como da última vez, ela morre nos meus braços e eu não consigo fazer nada de novo! Eu não sei se vou aguentar passar por isso de novo.
- Por favor Anne, por favor aguenta só mais um pouco! - Implorei colocando ela na maca assim que entrei e os enfermeiros começaram a encher os braços e os dedos dela de aparelhos e fios. Os médicos chegaram no meio do caminho levando a maca o mais rápido possível pelo vasto corredor se abriu passagem para outras salas, os aparelhos de monitoramento que estavam ligados na Anne começaram a apitar e siar alarmes um atrás do outro.
- Ela está taquicardia, pra sala de cirurgia agora! - Berrou um dos médicos que estavam empurrando e então um dos enfermeiro pulou em cima da maçã e começou a desembrulhar a Anne para fazer massagem em seu coração, até a sala de cirurgia eu achei que ia sentir as pernas ceder e cair desmaiado, corri o máximo que pude atrás deles segurando a mão da Anne até eles chegarem numa entrada toda branca com letreiros que me proibiam passar, e então eu olhei pela última vez naquele rostinho, o semblante pálido cheio de hematomas, sentindo a visão embaçar com as minha próprias lágrimas.
- Você vai ficar bem Anne, você vai ficar... - Ainda consegui sussurrar. Meu coração parecia pronto pra sair pela minha boca quando eu senti que tinha alguém me segurando para não entrar na sala de cirurgia.
- Senhor, a gente entende que você está em choque, mas pra tratar dela precisamos saber quem ela é e o que aconteceu? - Uma baixinha corpulenta parecendo extremamente agitada começou a acender uma lanterninha na direção dos meus olhos para chamar minha atenção.
Segurei a mão dela no ar para impedi-la de continuar e então respirei fundo, mas o ar não veio enquanto eu estava tentando formular palavras pra descrever o que aconteceu. Estava acontecendo de novo, o pânico... Era pânico... Me afastei da enfermeira me escorando na parede e virei pro lado, estava tão apertado aquele lugar, parecia que as paredes iam começar a comprimir e me esmagar a qualquer momento, um enjôo forte me atravessou como se tivesse me dado um tapa na cara e então eu senti a bile pulsando pela garganta.
Tentei conter o vômito, mas só serviu para ele sair com mais violência para fora.
- Tragam mais uma maca agora! - A enfermeira berrou para um dos atendentes de primeiros socorros e eu coloquei a mão no peito sentindo o gosto amargo da boca. O braços esquerdo estava formigando bastante, e meu coração parecia estar sendo dilacerado. Eu acho... Não conheço o bastante para saber, mas acho que estou tendo um infarto. Quando a dor intensa no peito começou eu não tive mais dúvidas.
- Anne...
- O que senhor? - A enfermeira pediu e eu respirei fundo tentando não vomitar de novo.
- Anne, tem 17 anos, ela foi estuprada e o filho da puta ainda teve a capacidade de bater nela enquanto fazia isso! - Foi tudo que consegui dizer e então apertei o punho contra o peito sentindo o coração se rasgando por dentro, parecia que eu ia morrer também. Me sentia capaz de cair no chão e bater a cabeça com força. Era como se o mundo estivesse indo embora e a vida da Anne escapando pelos meus dedos. Cai de joelhos sem conseguir mais me aguentar. De novo não, eu não vou suportar... Por favor... Por favor Deus não deixe ela morrer... De novo não...
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