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Capítulo Cinco

Pietro Martins Reed:

Na segunda-feira, ao sair de casa, a chuva caía incessante contra a janela do meu carro. O som das gotas batendo no vidro parecia quase melancólico, amplificando a minha frustração.

Depois de percorrer três quartos do quarteirão, encontrei o que me impediu de prosseguir: a rua principal estava bloqueada por um fogareiro e quatro cavaletes laranja. Em cada cavalete, o letreiro "Depto. de Obras Públicas" parecia uma ironia diante da situação.

Atrás dos cavaletes, a água da chuva jorrava dos canais entupidos, carregando galhos, pedras e pilhas de folhas grudadas. A força da água havia começado a abrir brechas no asfalto, e, no terceiro dia de chuva, partes inteiras da rua começaram a se soltar e descer pelo cruzamento como se fossem pequenas canoas em um rio tumultuado.

Era evidente que muitas pessoas já estavam começando a fazer piadas nervosas sobre arcas e dilúvios. O Departamento de Obras Públicas havia conseguido deixar a rua principal parcialmente aberta, mas a segunda rua, do início dos cavaletes até o centro da cidade, estava intransitável.

Meu estômago se revirou. Eu tinha saído muito tarde para voltar para a faculdade, justo num dia como este. Meus pais tinham me avisado para não sair, mas eu precisava urgentemente organizar o material para uma apresentação importante.

Suspirei profundamente, tentando acalmar os pensamentos que fervilhavam na minha mente. A sensação de frustração e a consciência da minha própria imprudência eram quase palpáveis. A chuva, o trânsito bloqueado, a confusão—tudo isso parecia uma metáfora perfeita para o caos que estava sentindo por dentro.

**********************

Cheguei ao estacionamento do dormitório, um espaço compartilhado que se assemelha aos encontrados em hostels ou fraternidades. Esses dormitórios são espaços coletivos com várias camas, incluindo beliches e treliches, oferecendo menos privacidade e conforto. Apesar de serem a opção mais barata, a falta de privacidade é uma constante.

Peguei meu material do carro e subi para o andar do meu quarto. Ao abrir a porta, levei um susto quando vi que Giovanni estava no meio de um desabafo. Travesseiros voaram em minha direção, e eu desviei a tempo.

— Pietro, é só você? — Giovanni perguntou, abaixando um travesseiro e me encarando com um olhar arrependido. — Foi mal pelos travesseiros.

— Foi bem mal mesmo — respondi, revirando os olhos enquanto colocava minhas coisas em cima da cama. — O que está acontecendo aqui?

— O Nicolo, veio me irritar a noite toda, completamente bêbado — Giovanni explicou, e eu o observei com atenção. — Terminou comigo para sair com os amigos idiotas que ele tem.

— Sério que ele fez isso? — perguntei, incrédulo ao ver Giovanni assentir. — Nossa, não sei o que dizer.

— Vai ficar parado aí chocado ou vai me consolar? — Giovanni pediu, com um tom de desespero. — Você é o único amigo em quem posso confiar.

— Seus irmãos ficam sempre ao seu lado, querendo saber de tudo — observei, vendo a expressão triste no rosto dele.

— Você é o único fora da minha família em quem posso confiar — Giovanni disse, com os olhos brilhando. — Você é como um irmão para mim. Seus conselhos são minha religião.

Revirei os olhos e fui até o frigobar que mantemos no quarto. Peguei duas latas de refrigerante e algumas batatinhas, e me sentei ao lado dele na cama.

— Lembre-se sempre: Nós só atraímos o que transmitimos. Ame-se muito, dê-se o valor que merece e vibre coisas boas. Esqueça os fantasmas do passado e perdoe. Fique em paz com seu coração — comecei a dizer. — Giovanni, você é incrível. Não procure sua metade; você já é inteiro. Procure alguém que acrescente algo maravilhoso à sua vida. Nicolo é um grande idiota. Com esse término, permita-se viver novas experiências e olhe para quem realmente valoriza você.

Terminei minhas palavras e comecei a arrumar nossas coisas no quarto, enquanto Giovanni refletia sobre o que eu havia dito.

Giovanni ficou em silêncio por um momento, absorvendo minhas palavras. A tensão no quarto parecia diminuir um pouco, e o ambiente ficou mais tranquilo. Ele olhou para mim com um semblante mais calmo e agradecido.

— Sabe, Pietro — ele começou, sua voz um pouco mais suave —, você sempre sabe o que dizer para me fazer sentir melhor. Às vezes, eu só preciso ouvir isso de alguém fora da minha bolha.

— É para isso que servem os amigos — respondi, dando um leve sorriso. — E não se esqueça: se precisar de mais conselhos, um abraço ou até mesmo um pouquinho de confusão, é só me chamar. Não estou indo a lugar nenhum.

Giovanni sorriu, mais relaxado, e pegou uma batatinha do pacote que eu havia trazido.

— Obrigado, Pietro. Eu realmente aprecio isso.

Ele deu uma mordida na batatinha e sorriu para mim.

— Agora, vamos fazer isso direito e aproveitar o resto da nossa noite — sugeri, tentando mudar um pouco o clima. — Podemos jogar um pouco ou só assistir a algo até pegar no sono.

Giovanni assentiu, e começamos a arrumar a bagunça do quarto juntos. Colocamos os travesseiros de volta no lugar e organizamos nossas coisas, enquanto conversávamos sobre coisas mais leves para descontrair.

— Sabe, eu sempre me sinto melhor depois de falar com você — Giovanni disse, enquanto terminava de organizar uma pilha de livros.

— Eu também — concordei. — Às vezes, só precisamos de um pouco de perspectiva e de alguém que se importe.

Terminamos a arrumação e decidimos assistir a um filme para relaxar. Escolhemos algo leve e divertido, e, enquanto o filme começava, nos acomodamos no sofá do quarto, cada um com uma lata de refrigerante na mão.

— Acho que a noite ainda pode ser boa, mesmo com todas essas tempestades — Giovanni comentou, olhando para a tela da TV.

— Com certeza — respondi, dando-lhe um tapinha nas costas. — E lembre-se, sempre que precisar, estou aqui. Seja para desabafar ou para passar um tempo juntos.

O filme começou a passar e, com a luz suave da tela iluminando o quarto, a conversa e as risadas foram se tornando a trilha sonora de uma noite que, apesar das dificuldades, se mostrou reconfortante e cheia de amizade.

****************

Depois que o filme terminou, Giovanni voltou ao seu estado depressivo, encolhido na cama com a lata de refrigerante nas mãos e os olhos fixos no telefone. Ver essa cena estava começando a me irritar. Coloquei as coisas em cima da minha cama e me virei para ele, determinado a interromper seu ciclo de tristeza.

— Chega desse drama — falei com firmeza, justo quando a porta se abriu e Layne entrou, usando um macacão cinza.

— Giovanni? O que há de errado com você? — ela perguntou, preocupada.

Expliquei a situação rapidamente, e Layne ouviu com atenção. Ela então respondeu com um tom misto de empatia e frustração.

— Você também conhece a teimosia dessa linda pessoa — ela começou, apontando para Giovanni. — Ele pode dar tudo pelo namoro e pela pessoa amada sem pedir nada em troca, mas agora que terminaram oficialmente, o Giovanni não ama mais o ex-namorado. E sem esse amor... é difícil para alguém teimoso como o Nicolo tentar salvar o ex teimoso que parece estar prestes a ter um ataque de choro.

Fiquei surpreso com a clareza das palavras de Layne e suspirei, refletindo sobre o que ela havia dito.

A situação ficou clara: o Giovanni se identificava com a pessoa que ele era em sua relação, e isso estava em desacordo com a pessoa que parecia alienada agora. A teimosia e a dedicação que ele havia demonstrado no relacionamento não eram apenas características de sua personalidade, mas também fatores que moldaram a maneira como ele lida com o término.

Olhei para Layne, que parecia ter compreendido a complexidade da situação com uma perspicácia impressionante.

— Eu não tinha pensado dessa forma — admiti. — É como se ele estivesse preso entre quem era no relacionamento e quem é agora, sem conseguir se libertar completamente.

Layne assentiu, e Giovanni continuava a olhar fixamente para o telefone, aparentemente imune às palavras ao seu redor.

— Giovanni, eu sei que é difícil agora — continuei, tentando atingir um tom mais gentil. — Mas lembre-se de que você merece alguém que veja o quanto você é incrível. Não fique preso no passado, e permita-se a chance de ser feliz novamente. Você é inteiro por si só, e alguém vai reconhecer isso.

Giovanni levantou o olhar lentamente, ainda com uma expressão de tristeza, mas parecia começar a ouvir as palavras com mais atenção. A conversa de Layne e a minha tentativa de encorajamento eram um passo para ajudá-lo a se levantar e seguir em frente.

— Mas mudando de assunto, você vai ficar o dia inteiro assim? — Layne perguntou, e Giovanni permaneceu imóvel na cama. — Então vou ter que ir sozinha para o estúdio Mingyue que chamou nós três para sermos funcionários.

— O quê? — eu exclamou, pegando a mão de Layne com força. — Sério que nos chamaram?

O estúdio Mingyue é renomado na cidade, tendo começado a se destacar rapidamente. Vários artistas de prestígio passaram por lá, incluindo Matilde Giordano, uma compositora e cantora de sucesso, e a pianista Lucy Fontana. Sempre fui um grande fã dessas duas, que começaram a mostrar seus talentos ao mundo ainda jovens.

— Como também vamos trabalhar ao lado da Matilde Giordano e da Lucy Fontana — Layne disse, animada. — Hoje, quando meus pais me trouxeram, recebi o e-mail que dizia para comparecer lá.

Giovanni, que estava encolhido na cama, pulou de repente, correndo para a cômoda e começando a jogar roupas de um lado para o outro.

— Sério que isso te animou a levantar? — perguntei, um tanto incrédulo, enquanto pegava a latinha de refrigerante que havia caído da cama dele.

— Claro, vou trabalhar com duas artistas incríveis! — Giovanni respondeu, pegando uma calça moletom e uma blusa de frio. Ele estava agora tão animado quanto Layne.

— O Hugo disse que vai encontrar a gente lá — Layne comentou, enquanto Giovanni se vestia rapidamente, trocando seu pijama por roupas para sair e prendendo os cabelos em um rabo de cavalo. — E você disse que ninguém iria nos contratar só por fazermos um e-mail para o nosso grupo.

Revirei os olhos. Há um ano, nós quatro decidimos criar um pequeno e-mail para oferecer nossos serviços em moda e design de interiores. Eu mesmo admito que nunca pensei que isso realmente daria certo. Meu avô Denner nos ajudou com toda a papelada, e, surpreendentemente, começamos a ter lucro, fazendo serviços de decoração de interiores e ajudando na organização de desfiles de moda.

— Eu ainda não consigo acreditar que tudo isso começou a partir de um simples e-mail — eu disse, um pouco surpreso. — Mas parece que as coisas estão realmente tomando forma para nós.

Layne e Giovanni estavam agora visivelmente empolgados, e a energia positiva deles estava começando a me contagiar. A ideia de trabalhar com Matilde e Lucy era um sonho que se tornava realidade.

— Vamos lá, pessoal! — Layne disse, entusiasmada. — Temos uma nova chance incrível à nossa frente, e não podemos deixar passar.

— É isso aí! — Giovanni concordou, já pronto para sair. — Vamos mostrar o que sabemos fazer e aproveitar cada momento.

Com uma última olhada para o quarto bagunçado e uma sensação de expectativa no ar, seguimos para o estúdio Mingyue, prontos para enfrentar o novo desafio e fazer o nosso melhor.

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Gostaram?

Até a próxima 😘

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