Capítulo Catorze
Pietro Martins Reed:
— Não é nada disso... O que posso fazer para você entender? Eu não gosto de você... E é ridículo que eu tenha que criar problemas irracionais só porque você quer explicações que não têm nada a ver com outra pessoa — minha voz saiu cortante, carregada de frustração e cansaço.
Um sorriso amargo se formou no canto dos meus lábios, mas logo senti um lampejo de pânico percorrer meu corpo. Era como se estivesse à beira de um abismo, prestes a cair. Quando finalmente ergui os olhos para encontrar o olhar de Trevor, a intensidade do medo diminuiu, mas apenas um pouco. Ele me empurrou ainda mais contra a parede, o corredor parecia se fechar ao nosso redor, tornando o ambiente ainda mais claustrofóbico.
— Me solte agora... Eu quero voltar — falei com firmeza, tentando manter a calma, mas a resistência nos olhos de Trevor era evidente. Ele apertou os lábios, seus olhos escurecendo ainda mais com o contato físico que ele se recusava a interromper.
— Não vou soltar — ele respondeu, sua voz tão fria quanto o gelo.
Tentei empurrá-lo, batendo nele com a mão, mas era como tentar mover uma parede. Trevor era muito mais forte do que eu, e o desespero começou a se infiltrar em meus pensamentos. O medo de que alguém pudesse aparecer e ver essa cena me consumia. Se alguém nos visse assim, enredados em uma situação que parecia tão errada, isso causaria problemas sérios, não só para mim, mas para todos ao nosso redor.
— Eu vou dizer de novo... Me deixe ir — minha voz saiu ainda mais áspera, uma mistura de súplica e ameaça.
— Eu não vou deixá-lo ir — ele respondeu com a mesma rigidez, suas palavras impregnadas de teimosia.
Mais uma vez, tentei me libertar, mas Trevor não cedeu. O pânico cresceu dentro de mim, e em um último esforço, dei um passo para trás, tentando empurrá-lo para longe. No entanto, o movimento não saiu como eu esperava. A força com que ele me segurava fez com que ambos perdessem o equilíbrio. A inércia nos lançou contra a parede, e algo duro cutucou minha perna, uma dor aguda irradiando quase instantaneamente. Soltei um suspiro profundo, tentando absorver o impacto, mas minhas pernas cederam sob o peso da dor, me forçando a me abaixar.
Eu caí para frente, minha perna latejando de dor, mas antes que pudesse atingir o chão, Trevor me segurou. Seus braços ao meu redor eram firmes, mas pela primeira vez, havia uma hesitação em seus movimentos. A expressão de surpresa no rosto dele era evidente, como se ele não esperasse que as coisas tivessem tomado esse rumo.
Quando ele finalmente soltou minha mão, o pânico se espalhou pelos olhos de Trevor. Ele observou o suor frio escorrer pela minha testa, minha expressão de dor evidente, e o vi hesitar, sem saber o que fazer a seguir. Aquele olhar, que antes era dominado por raiva e ressentimento, agora estava cheio de confusão e medo. Ele estava tão perdido quanto eu, e por um breve momento, o peso de suas ações parecia finalmente cair sobre ele.
— Pi... Pietro... eu não quis dizer isso, como você está? — Trevor perguntou, a voz carregada de desespero. — Por que eu te machuquei de novo...
Eu conseguia sentir a cor fugir do meu rosto, meu corpo tremendo enquanto lutava para me libertar das mãos dele. A dor era palpável, mas o orgulho e a necessidade de me manter de pé por mim mesmo eram ainda mais fortes.
— Solte... as mãos... de mim... — minha voz estava fraca, mas firme, enquanto o encarava, vendo o olhar de Trevor se intensificar com uma mistura de arrependimento e confusão.
Cada segundo que passava era doloroso, mas o que doía mais era o peso de perceber que, mesmo ferido, eu ainda tentava me sustentar sozinho. Meu coração estava repleto de amargura, e antes que eu pudesse processar meus sentimentos, Trevor me puxou para um abraço apertado, quase sufocante.
Ele me segurou firmemente, apoiando o queixo no meu ombro, e sussurrou, a voz suave e melancólica:
— Eu sei que você está com muita dor... Mesmo que respire comigo, você precisa esperar suas pernas melhorarem. Eu vou te ajudar a voltar. Está bem?
O cheiro sutil de tabaco misturava-se com o aroma do hospital, me deixando ainda mais tonto. Eu disse com frieza:
— Minhas pernas não vão melhorar com você aqui. Eu não preciso da sua ajuda para voltar. Direi uma última vez... Me deixe ir! — Cada palavra foi pronunciada com rispidez, e apesar do tremor em minhas mãos, ele finalmente começou a me soltar, mas com relutância.
— Você não consegue andar sozinho assim... — ele insistiu, sua voz ainda cheia de preocupação.
— Eu já enfrentei dores muito piores. Qual é a dor comparada a tudo isso? — Falei, empurrando-o para longe com uma força que eu não sabia que ainda tinha. Virei-me e comecei a andar, mesmo que cada passo fosse uma luta, o suor frio escorrendo pela minha testa, aumentando a sensação de mal-estar.
Trevor me seguiu, suas palavras ecoando atrás de mim como um peso que eu queria desesperadamente deixar para trás.
— Eu não queria brigar com você. Só queria explicar o mal-entendido. Eu sei que fui um idiota, mas não queria dizer aquelas coisas. Eu sei que o Hugo é um grande amigo para você, para todos vocês... — Ele continuou, a culpa transparecendo em cada palavra.
Parei de repente, mas não olhei para trás. Um suspiro pesado escapou dos meus lábios, carregando o peso de tudo o que eu queria dizer.
— Preste atenção, Trevor... — comecei, minha voz firme, mas carregada de cansaço. — O que você diz? Você nunca fez nada que fosse realmente bom para os outros. Eu sei que usa o Gabriel pelas costas, aproveitando-se do fato de que ele gosta de você, fazendo-o correr atrás de você como um cachorrinho. — Fiz uma pausa, estralando a língua em desaprovação. — Se continuar correndo atrás de mim, vai acabar perdendo a pessoa que realmente pode ser a certa para você. Acorde antes que tudo desapareça.
— Pi — ouvi a voz dele, trêmula, enquanto me virei lentamente, meu corpo rígido, o olhar frio fixo nele.
— O que... como você me chamou agora? — Perguntei, minha voz fervendo de ódio. Trevor hesitou, o silêncio prolongado aumentando minha raiva. — Cale a boca! Só cale a sua boca e não diga mais nada.
Havia um leve tremor na minha voz, um sinal de que eu estava à beira de perder o controle.
— Quem permitiu que você me chamasse assim?! — gritei, incapaz de conter a explosão de emoções. — Nunca me chame por esse apelido!
— Ah, entendi... Só ele pode te chamar desse jeito delicado e amoroso, não é? — Trevor respondeu secamente, seu tom cheio de amargura. — E ainda diz que vocês são só amigos, Pietro? Ninguém se importa com outra pessoa do jeito que você se importa com o Manuel.
Ele avançou para me segurar novamente, meu corpo já vacilante, mas antes que pudesse me tocar, uma mão firme me puxou para longe. Olhei para o lado e vi Manuel ao meu lado, sua presença calma e protetora como um refúgio em meio à tempestade.
— Trevor, acho melhor eu cuidar dessa situação. Você já percebeu que o Pietro não quer a sua ajuda. Não é muito bom ser visto pelos outros como alguém que está fazendo outra pessoa gritar. — A voz de Manuel era firme, mas sem traço de hostilidade, enquanto ele se posicionava ao meu lado, me apoiando com uma delicadeza que contrastava com toda a tensão do momento. Seus olhos se voltaram para Trevor, que agora parecia ainda mais desconfiado, mas sem a mesma convicção de antes.
Trevor ficou ainda mais irritado, seu rosto contorcendo-se em uma expressão de fúria contida.
— Seu cretino! Como você ousa falar assim? — ele disparou, e uma luz fria brilhou em seus olhos enquanto os fixava no braço de Manuel, que estava ao meu redor, me apoiando com firmeza.
Manuel ergueu a cabeça, mantendo um sorriso tranquilo, mas seus olhos estavam cheios de uma determinação fria ao encarar Trevor.
— Por que não se atreve a dizer isso diretamente, Trevor? Está insinuando que estou perseguindo o Pietro? — Manuel respondeu, sua voz calma, mas carregada de significado. — Eu estou aqui porque me preocupo com ele. Quando ele saiu da sala de espera, todos pediram para que eu viesse atrás dele. E você? O que exatamente fez com o Pietro para que o rosto dele estivesse vermelho?
Senti meu corpo congelar ao ouvir isso, e instintivamente, segurei a manga de Manuel com força, tentando ignorar a dor que irradiava da minha perna.
— Não é nada... só vamos sair daqui — murmurei, minha voz quase inaudível. Manuel abaixou a cabeça e sorriu para mim, um gesto que, apesar da tensão, me trouxe um mínimo de conforto. Eu sabia que ele estava tentando me acalmar, mas as palavras de Trevor ainda ressoavam na minha mente, ameaçando romper a barreira que eu estava tentando erguer.
Trevor, no entanto, não desistiu. Seu rosto ficou ainda mais sombrio, e seus olhos estavam cheios de raiva enquanto nos observava.
— Solte-o. Tire suas mãos imundas de cima do Pietro! — ele exigiu, sua voz cheia de veneno.
Manuel manteve sua compostura, mas havia uma frieza em sua voz que eu nunca tinha ouvido antes.
— Trevor, a perna do Pietro ainda está doendo, assim como o rosto dele, graças ao tapa que você deve ter dado. Você quer que ele continue sofrendo? Ou prefere que ele seja a única coisa que está me impedindo de socar a sua cara para longe daqui? — A calma na voz de Manuel era assustadoramente controlada, mas a ameaça subjacente era clara.
— Eu... — Trevor começou, mas suas palavras morreram antes de se formar completamente. A raiva parecia ter drenado dele, deixando apenas um resquício de culpa e confusão.
Sem dar mais atenção a Trevor, Manuel me conduziu com cuidado, me ajudando a caminhar até uma cadeira próxima. Ele se agachou diante de mim, esfregando suavemente minhas pernas, tentando aliviar a dor. O gesto era simples, mas cheio de uma ternura que me fez querer chorar de alívio.
Uma enfermeira se aproximou rapidamente após o pedido de Manuel, e antes que eu percebesse, estava sendo levado para uma sala para que um médico examinasse minha perna. O doutor foi rápido em sua avaliação, informando que eu ficaria bem, que o impacto tinha causado apenas uma contusão leve, mas que eu deveria tomar analgésicos para aliviar a dor e voltar ao hospital caso os sintomas piorassem.
Manuel ficou ao meu lado durante todo o processo, sua presença constante um alívio indescritível em meio ao caos que acabara de ocorrer. Quando tudo terminou, olhei para ele, sentindo uma gratidão profunda que eu sabia que palavras sozinhas não poderiam expressar.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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