Quero me soltar. Quero largar o mundo, me desprender desse peso nas costas e sair gritando por aí minha liberdade. Quero segurar sua mão e te levar comigo, pra chorar nos seus ombros a alegria de te ter perto. Mas ainda não sei bem, talvez eu só queira um tempo sozinha pra respirar mais oxigênio do que o que o mundo pode me oferecer; mais oxigênio do que meus pulmões possam inspirar.

Estou tremendo agora. Estou chorando e melodiando a sua voz enquanto a escuto. Uma triste sensação que invento para te sentir aqui. A falta que vem de você dói um pouco, sabe? Mas eu juro que tô tentando raciocinar e entender essa falta do melhor jeito que posso. Juro que tô tentando me acostumar sem você.

Eu tirei uns segundos pra raciocinar o que eu escreveria nesse texto. A verdade é que de tão longa essa crise confusa minha, já nem sei em qual lugar a escrita habita em mim. Talvez ela esteja nos ouvidos, enquanto escuto os sussurros da sua voz pelo celular. Talvez nos olhos, a forma que eles se molham e derramam lágrimas quando você se vai. Talvez na testa, quando a encosto no vidro embaçado do carro e canto baixinho aquela música do rádio que tanto lembra você. No fim das contas, entendi que a escrita está espalhada por todo meu corpo. Está perdida entre minhas veias e não sei escrevê-la sem uma certa confusão que me domina agora.

Então, Joon, me perdoe. Mas você vai ler muitas letras confusas agora.

Corpos humanos são incríveis, sabia? Nossa, eu amo corpos humanos. Eu amo vê-los em funcionamento nos mínimos detalhes: Nas piscadas dos olhares ou quando a testa acaba se franzindo de leve dentre risadas. Eu amo aquela sensação de tocar os fios do cabelo de alguém, e sentir nas pontas dos dedos aquele formigamento que o toque dá. Talvez tocar a bochecha de alguma pessoa, talvez segurar a mão de alguém.

E veja só, outros corpos nos dão sensações! Não sei dizer se isso é um modo de telepatia — provavelmente não —, mas não é uma loucura quando você cruza a esquina, vê alguém que gosta e sente a barriga com borboletas voando lá dentro? Um outro corpo te fez sentir algo e você nem precisou tocá-lo pra isso. Quando você conversa com alguém e esse alguém meche no cabelo, seu cérebro te faz imitá-lo pra que você consiga se relacionar melhor com aquela outra pessoa, aquele outro corpo. São corpos tentando se tocar sem precisarem dos próprios toques. E isso é tão incrível.

Eu fecho os olhos e sinto o arrepio cruzando pelas curvas do meu corpo, ele sobe pela minha espinha e chega na nuca, no fim consigo senti-lo se expandir pelo couro-cabeludo e por meus ombros. Motivo do arrepio? A gargalhada de alguém. É tão louco quando a presença de alguém meche com seu corpo, seja te fazendo doer o estômago com gargalhadas ou se mergulhar em lágrimas com palavras mal ditas. Corpos são incríveis.

E nessa coisa louca em que eu estava, fui dormir. Fui dormir pensando nas sensações que seu corpo dá. Pude fechar os olhos me imaginar sentada na sua frente, falando da playlist que você atualizou ou sobre as coisas legais que minha psicóloga me disse pra enfrentar nos fins de semana. Imaginei também o silêncio cantando por nós e o conforto de uma troca de olhares, o conforto de uma presença que também nem precisou ser tocada. Eu te senti daqui. Longe das forças dos pensamentos, do outro lado do mundo, há doze horas contrárias de você. E isso, Nam, isso é lindo. Você é lindo. Seu corpo é lindo. As sensações que sua gargalhada me dá, seu jeito de franzir os olhos antes de sorrir, sua testa fazendo em ruguinhas, tudo isso é lindo, Joon.

Droga, eu te amo tanto.

Eu admiro a forma que você pensa. Nunca vou me cansar de dizer isso. Admiro sua forma de olhar o mundo. Admiro sua força, admiro seu jeito, admiro sua forma de enfrentar o que vem à diante de você. Admiro sua capacidade de transmitir a forma em que o amor te faz você, tão você que me convém te chorar em palavras mais uma vez.

Eu posso te sentir. Fechar os olhos e seguir tua voz, mesmo que ela esteja ali no telefone. Posso te escutar, posso sentir meu coração correndo pra você. Sinto essa ilusão se expandindo na mente, e então, você tá aqui. É, anjo. Posso te sentir. Será que nos confins de pensamentos malucos, você consegue fazer ideia das sensações que percorrem meu corpo quando penso em você?

Eu guardo o amor, o arrepio, a risada escapada, o choro, a inspiração, a vontade de gritar, os trequinhos doidos no estômago, as falas que nunca paro de dizer sobre você, a ansiedade em ir deitar pra te tocar nos sonhos... pego todas essas sensações e guardo de um jeito bonito aqui dentro do peito.

Eu posso sentir suas sensações. Posso sentir essa gota de chuva gelada no meu braço, posso sentir sua respiração na minha testa, posso imaginar o abraço que junta os corações de um mesmo lado e toca um corpo no outro. Aqui, no meu cantinho, pego minhas palavras e pensamentos confusos e os deixo florescer, pra te sentir.

Te sinto aqui.