Eu fui ferida umas cem vezes. Fui arranhada com palavras umas trocentas vezes mais. Fui vítima de um tiroteio de maldade, e por fim, quase morri de um ataque de medo; medo de encarar a realidade e ver mais coisas ruins. Eu nunca entendi o porquê que sempre me fizeram sofrer tanto. Porém, com um tempo, a resposta veio.

De todas as vezes que eu quase morri pelos outros — ás vezes até por mim mesma —, eu sempre sentia forças desconhecidas que me puxavam de volta a vida antes de que de fato, eu partisse. Era quase como uma vozinha amiga, que dizia: "Não desista ainda, garota. Você aguenta mais uma". Antes eu não sabia o porquê, mas hoje eu agradeço por ter permanecido viva.

É que se eu tivesse desistido no passado, hoje eu não saberia o porquê superei tanto.

Eu vivi após cada tropeço. Sobrevivi a cada aperto de gatilho. E sangrando, com dor, morrendo, jurei a mim mesma ter vida, e cumpri. Mas como sempre, todas as vezes que eu achava ter conseguido superar a onda, um tsunami me cobria por cima. E no fim, lá estava eu, ferida de novo.

"Eu sei que você aguenta mais uma", dizia aquela vozinha no fundo de meus pensamentos. E hoje, Nam, hoje eu entendo o porquê essa voz era tão insistente. Agora eu sei, amor, que se eu tivesse morrido por outras pessoas no passado, eu não saberia o quão importante é estar viva por mim hoje. Se eu tivesse desistido, não saberia o porquê superei tanto.

Às vezes, no breu da madrugada, meus pensamentos fazem festas, aulas de conversação. Conversam sobre sonhos, sobre propósitos. Conversam sobre o mar, sobre a cor púrpura. Conversam sobre você. E mais uma vez me pego imaginando como será o dia em que eu for lhe agradecer por tudo. Eu quero dizer que te amo, mas "amor" parece ser uma palavra tão pequena para um sentimento tão grande.

E então, quando amanhece o dia, o sol vem pregando teu brilhar. Teu brilhar que esquenta, que salva. E quando esse dia tenta me ferir, não dói tanto quanto antes. Teu brilho me protege, e aí eu escuto aquela voz, dizendo outra vez: "Você aguenta mais uma. Eu sei, você sabe; só mais uma".

E eu sei que se eu houvesse desistido no amanhecer de ontem, não saberia o quão importante foi me permanecer firme para ver o amanhecer de hoje. Não saberia o porquê sobrevivi tanto.

Essas semanas para trás, eu acabei ouvindo a palavra "privilégio". A explicação no dicionário parece ser muito formal para a bagunça caseira e particular que é teu amor, então irei explicar do meu jeitinho estranho mesmo.

Privilégio é algo importante que você ganha de outra pessoa. Algo, ou alguém. Pode ser um cargo, pode ser um título. Pode ser um currículo bem escrito, pode ser uma loja dos sonhos que você abriu. Pode ser uma tarefa realizada, pode ter quatro patas e um focinho. Pode ser o ar que você respira — porque, convenhamos. Respirar é um privilégio para todos nós. — E no fim, concluí que meu privilégio tem formato humano, começado por um "Nam" e terminado com "Joon".

E foi então que percebi que tenho muitos privilégios. Comparei "viver" e "amor", e somei os dois. O resultado deu teu nome.

"Você aguenta mais uma".

Dessa vez foram facadas, mas novamente, sobrevivi. E dessa vez — já que eu estava a par do significado da palavra "privilégio" —, eu soube o que continuar significava.

Viver, continuar vivendo é um privilégio. Amar é um privilégio. Tão simples, mas tão profundo quanto você.

Antes eu pensava que quando te conhecesse, iria dizer que te amo. Mas hoje, sei bem que não é isso o que quero falar. Na verdade, irei tirar a coragem do fundo do poço para te dizer este novo sentimento que descobri.

"Você. Aguenta. Mais. Uma".

Aguento. E irei aguentar também todas as outras mortes que terei de enfrentar. Você me mostrou a coragem, amor. Você me mostrou a cura. Me mostrou o cuidado e me deu uma caneta para te escrever no papel. E hoje, meu bem, hoje eu sei.

Hoje eu sei que se eu tivesse desistido antes, eu não saberia que vim sobrevivendo todo esse tempo só para ser salva por você hoje.

E novamente, fecho os olhos imaginando o dia em que irei te agradecer por tudo. Me imagino olhando-te firme. Talvez eu trave ao ver teu sorriso, talvez eu chore ao segurar sua mão. Mas eu só sei que depois de lhe dizer 'oi', irei olhar-te na alma, e dizer:

"Você é meu privilégio, Kim".

Porque ter sido salva por você foi um privilégio. Porque amar você é o meu privilégio, Joon-ah.