• eu estava te pintando
Coloquei meus fones. Olhei novamente para o livro, mas não consegui ler as palavras nele. Vi apenas as letras voando no papel, me impedindo de compreendê-las. Minha cabeça de repente, e tudo o que escutei foi minha mente chamando o seu nome.
Novamente achei ter escutado sua voz. Outra vez minha mente se permitiu imaginar sua respiração. Isso tudo por culpa dessa vontade gigante de te ter aqui. Eu escutava seus passos, escutava sua voz. Ouvi sua gargalhada em todos os cantos dessa casa.
Aumentei o volume dos fones. Senti a necessidade de te abraçar, senti a necessidade de ter você. Minhas mãos tremiam em ansiedade, e minha mente bagueou pela memória do dia em que eu te pedi para ir embora. Me lembrei dos seus olhos brilhando querendo ficar, mas eu não conseguia suportar o peso de não entender o que eu sentia. A culpa nunca me doeu tanto quanto hoje.
Pra você ter uma ideia, não teve um quadro que pintei desde aquele dia, onde não tivesse desenhado você. De repente, as tintas só começaram a ficar bonitas no tom da sua pele, e eu não sei como mudar isso.
Como uma criança eu me permitia rodar outra vez na cadeira do escritório, sentindo o peso da culpa socar minha mente. É estranho porque, de alguma forma distante, ainda sinto o mesmo embrulho no estômago e as minhas mãos suando quando lembro de você. E é uma merda não ter percebido isso antes.
Simplesmente não consigo tirar os olhos do quadro que pintei o seu sorriso. E de alguma forma, esse sorriso bate com força aqui dentro, e sinto que vou explodir.
Quis te pintar de novo. Te levar nas pontas dos pincéis e colorir sua saturação na tela. Mas tudo aconteceu muito rápido. Enxerguei meu celular atrás da tela, e por um instante, quis esquecer que tinha seu número. Mas no outro, já estava discando os dígitos e o soar da chamada se fez presente.
— Sim? — Respondeu sonolento. Meu estômago se embrulhou e eu não sabia como começar a falar. Tremendo, falei logo antes que eu mudasse de ideia.
— Eu amo você.
— Quem é? Olha, se for algum tipo de brincadeira desligue logo, tá muito tarde e amanhã eu...
— Amo seu sorriso, sabia? E eu gosto quando você me abraça na fila da livraria. Seu perfume é tão bom que tenho uma camiseta sua escondida no meu guarda-roupa e eu não aguento mais pintar você. Mas é que só você fica bonito e eu não sei o que fazer.
— Estava pintando? — Ele respondeu depois de uns segundos, provavelmente reconhecendo minha voz. — O que tanto pintava em uma hora dessas?
— Eu estava te pintando. É que não consegui dormir, aí tentei ler mas também não consegui. Daí misturei umas tintas que eu tinha no armário e achei uma tela que é um pouco antiga mas é muito boa. Dona Katarina que me deu ela, no verão do ano passado, eu acho. Pois é, então peguei aquele lápis que eu gosto e desenhei e aí...
— Estava me pintando? — Me interrompeu, com a voz confusa.
— Sim. Não joga a culpa em mim, é culpa sua! Seu sorriso é bonito demais e eu não sei lidar com isso. Então é, eu estava te pintando.
— Por que está tão ansiosa? — Ele riu baixo, e escutei o barulho dele se mexendo na cama.
— Eu amo você e tô aqui desesperada porque não consigo ficar um segundo sem pensar em pintar você.
— É o que? Digo, pode repetir, por favor? É que eu...
— Amo você.
— Compreendo, compreendo. — Barulho de passos. — Sabia que pintar as pessoas sem autorização é crime? Eu acho que tenho que ir aí, sabe? Rapidinho, pra aproveitar que você está acordada, só pra checar esses quadros. Só pra ver a dona deles também. E talvez eu beije você, mas é só cota pra eu não levar os quadros pro lado pessoal. Você sabe como é, né? E eu, assim... espero que agora, você me deixe ficar...
— Espero você. — Sorrindo, te escutei falar mais alguma coisa antes de desligar. E eu já não sabia se continuava a pintar o quadro ou me permitia afogar naquela sensação boa no pé da barriga.
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