"𝐄 𝐞𝐥𝐞 𝐜𝐨𝐧𝐭𝐢𝐧𝐮𝐚 𝐚𝐦𝐚𝐥𝐝𝐢𝐜̧𝐨𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐦𝐞𝐮 𝐧𝐨𝐦𝐞.

𝐍𝐚̃𝐨 𝐢𝐦𝐩𝐨𝐫𝐭𝐚 𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐞𝐮 𝐟𝐚𝐜̧𝐚, 𝐞𝐮 𝐧𝐚̃𝐨
𝐬𝐨𝐮 𝐛𝐨𝐚 𝐬𝐞𝐦 𝐯𝐨𝐜𝐞̂.

 𝐄 𝐞𝐮 𝐧𝐚̃𝐨 𝐦𝐞 𝐜𝐚𝐧𝐬𝐨.

 𝐃𝐞𝐯𝐞 𝐬𝐞𝐫 𝐚𝐦𝐨𝐫 𝐧𝐨 𝐜𝐞́𝐫𝐞𝐛𝐫𝐨".

— 𝐋𝐨𝐯𝐞 𝐎𝐧 𝐓𝐡𝐞 𝐁𝐫𝐚𝐢𝐧, 𝐑𝐢𝐡𝐚𝐧𝐧𝐚.

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Eu estava completamente mergulhada em um rio de hiperatividade. Não conseguia fazer nada, não conseguia me lembrar de nada, não conseguia sentir nada. Apenas passava o dia inteiro jogada na cama e encarando o teto, mordendo os lábios secos que imploravam por uma gota d'água, mas acredito que minha descrença vai além da coragem de descer as escadas para ir até a cozinha.

Olhar para o lado, respirar, ver que você não está aqui. Minha única opção? Entrar em uma realidade inexistente: onde eu posso te amar sem dar-me como louca; ou onde você é um humano real como eu.

Mas você é um humano real como eu. Está apenas... em outra realidade. Uma realidade que eu criei. Uma realidade em que por meio da minha imaginação veio à existência. Você foi criado pelas minhas letras, você existe por minha causa. E sendo sincera, não sei se isso é bom ou ruim pra mim. Droga! Com certeza são problemas na cabeça.

Eu não sou a única, certo? Não sou a única que quer que o mundo se exploda. Sim, o mundo, as pessoas nele. Todo o tipo de muralha que nos separa. Todos os tipos de seres que não me permitem te amar. Quero que o mundo se exploda! Ah sim, deve ser muita idiotice na cabeça. Muita idiotice amar alguém que não é real.

Mas me explique. Por favor, me explique ou ficarei louca. Fecho os olhos e você está aqui, com seus abraços calorosos e suas palavras bonitas. Os abro e vejo a realidade que fui obrigada a conviver sem ti. Um completo vazio.

Eu sei amor. Eu sei que você mente com essas palavras doces. Sei que mente quando diz que vem me ver, quando diz que vai dar um jeito. Sei que faz isso porque me ama e quer que eu fique bem. Mas poxa, Kim. Não quero ficar bem por mentiras. Te quero aqui, ao meu lado, comigo. Então por favor, seja realista. Seja verdadeiro. Apenas seja.

Sabe como eu odeio isso, garoto? Como odeio fechar os olhos para dormir e sentir seu calor me abraçando a noite? Sabe como eu odeio abrir os olhos pela manhã e você não ter sido nada mais nada menos que um sonho? Um sonho que eu forço a ser real?

A verdade é que me isolei com tamanha força, que com um tempo, criei você. Metade de minhas confusões, metade de meus amores perdidos. Te criei sem forma e sem jeito, mas hoje em dia tu és mais completo do que muitas de minhas obras. Te escrevi com a mais profunda perfeição, te criei para amar e ser amado. Mas é egoísmo de minha parte, certo? Te escrevi para ajudar outros, mas não consigo imaginar outra pessoa te lendo e vendo-te como eu vejo. Não consigo imaginar outra pessoa se aproximando de ti, não consigo ver outra pessoa te amando como eu te amo. Você é meu, minha criação. Meu melhor amigo, meu amante das escuridões mais profundas em meus pensamentos. Só meu, minhas letras, minhas folhas, minhas descrições.

Ah, desgraçado rapaz que respiro. Te respiro, te sinto, te sonho, te contorno. Vejo você em meus mundos secretos e nas mais belas imagens e músicas. Porém, sei que não é verdadeiro. Sim, é uma maldita tolice no fundo da minha cabeça. Criar você em meu mundo, te trazer para mim.

Você é diferente dos humanos que tenho à minha volta. Foi criado para mim, um encaixe perfeito em meus pensamentos confusos. O oposto de certas pessoas vazias; sem sonhos, sem amores, sem valores, sem vontade de viver. Cheias de maldição. E maldita, maldita maldição! Maldita maldição que me impede de te viver. De te sentir.

Quero evaporar. Quero me auto levar pra aí. Quero morrer e acordar em seus braços. Então me leve. Me leve deste maldito mundo que não cabe à mim julgar. Me mostre que pode ser verdadeiro. Me mostre a confiança, me mostre o amor.

Sim, o amor. Me mostre ele.

Segure minhas mãos e vamos mostrar ao mundo que você é real. Ah, bando de hipócritas. Eles não vivem, não tem vontade de viver e querem tirar de ti o dom de respirar, de ser verdadeiro. Sim, vamos mostrar a eles o quanto estão errados. Errados quando dizem que eu sou apenas uma escritora louca que inventou personagens sem vida e que é completamente apaixonada por um deles.

Posso vê-lo quando viro-me na cama, olho teu retrato falado desenhado em minha escrivaninha. Sim, tão belo, tão meu. Ah, deve ser algum tipo de delírio na cabeça. Com certeza é. Eu amar você, um alguém completamente ilusório, um delírio bonito.

Deve ser amor na cabeça.

Somente eu te enxergar no canto mais vazio do quarto. Somente eu ver seu sorriso, somente eu ser salva por ti. É aí que fecho os olhos novamente. Eu sinto, eu vejo. Eu imagino você, eu me iludo achando que tu estás aqui, que é real. Então amor, me prove.

Me prove dentro da verdade, da justiça. Me toque, me sinta, me ame. Não seja só mais um, esteja aqui, esteja, fique e seja.

Seja real, seja meu.