Me encostei no seu peito nú. Ele sorria de uma forma bonita, e eu disse que ele podia bagunçar meu cabelo se quisesse. Envolveu um cacho com os dedos e disse o quanto sentiu falta da gente junto. Apoiei meu queixo no peito dele, vendo ele brilhar mais do que nunca. Era como se vinhesse de outro planeta: os olhos castanhos que lembravam Marte mais do que tudo, e uma  calma incomum dizia que ele era meu. Apesar de, claro, não ser.

As digitais dele contornam meu rosto. Eu só sabia me deixar arrepiar; nunca conseguia ficar quieta enquanto ele me tocava. Tagarelava o tempo todo, com sussurros em formas de sorrisos e canções que beijavam a pele.

O coração dele batia rápido, como se estivesse pronto para pegar fogo. Mas eu sabia que ele também estava com medo. Ele mordia o lábio inferior em um sorriso, machucando a carne bonita, mostrando o furo na bochecha e falando algo novo que ele descobriu. Eu só queria que o tempo parasse. Parasse por mim, parasse por nós. Não queria que os minutos fossem embora jamais.

Meu bem, me beija, me sonha, me eleva daqui. Me diga todos os segredos que você nunca contou pra ninguém. Me fala o que você quiser, o que precisar, e então eu o farei.

Ele só sussurrou que queria que eu passasse a noite toda ali. Aquilo doeu. Me falou o quanto a noite chuvosa o atormenta quando eu não estou perto. Ele confessava bonito, chateado, atormentado. Me abraçou mais forte e molhou o rosto em um choro belo. Talvez a gente sempre tivesse merecido mais do que uma noite, mas eu não sabia disso. Acho que nenhum de nós sabia.

Eu só sabia que eu era dele. Era tão, tão dele que nem lembrava mais de mim. Como se todas as coisas ao meu redor sussurrassem o nome dele e dissessem que tudo ficaria bem; os pesadelos iriam embora enquanto ele escrevesse aquelas frases no meu corpo.

Sinto-me desfazer a minha própria alma quando a textura da pele dele me enlaça. Um efeito sombrio, avassalador. E mesmo com amor, me destrói. Só percebi que as lágrimas também estavam no meu rosto quando o dia começou a nascer. E então, tão bonito como chegou, ele começou a ir embora. Bem devagar, foi me deixando.

Ah, tão meu.

A forma em que ele me apertava e tentava não ir embora. Forma em que o pequeno rastro do que por um pouco foi a gente, sumia junto dele.

Eu o beijo, droga. Como amo sua textura. Seu rosto preocupado sobre como eu ficaria quando a luz chegasse. Me afaga, me detalha. Encontro lar em seu corpo moreno. Em todo lugar que o faz grudar em mim. E então, bem devagar ele vai me deixando, vai virando ar.

"Me prova, me enxerga, me sinta, me cheira e se deixa em mim. Me escuta no pé do ouvido, todos teus sentidos que afetam os meus, que querem te ter, que tu me escreveu, e mais uma vez",

Me sonhou.