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Eu nunca fui boa em descrever meus sentimentos por falas. Algo dentro de mim me impedia de colocar os sentimentos da boca para fora pelo simples fato de que eu tinha medo de ser julgada por aquilo o que eu sentia. E isso fez com que eu guardasse dentro de mim aquela voz que grita no meu cérebro o teu nome o dia inteiro.
Tu, figura alta que cheira a brisa gostosa do mar em março, não faz nenhuma ideia de que eu te vejo de forma tão bela. Mas tegaranto que naquele dia, o piano tocou uma nota que lembrava seu nome e brilhava o seu sorriso junto com as estrelas no céu. E foi por isso que deixei aquela voz gritar. Foi por isso que te memorizei e te tatuei, querendo você perto de mim.
Eu sou fascinada na forma em que posso ficar horas e horas ouvindo sua voz. Sou fascinada na sua forma de se expressar, falar das coisas que você tanto ama. Sou apaixonada nesse seu jeitinho de menino, de um alguém admirado e sorridente. Há certos momentos específicos que diariamente eu obrigo o relógio a parar só para admirar seu sorriso. Igual agora, onde estamos no seu estúdio. Consigo te ver do sofá preto em que estou deitada, e você sorri a todo momento. Está simplesmente vidrado nos teus novos bonecos, apaixonado nas duas novas peças da tua coleção de KAWS. E eu, bobinha, completamente tola e apaixonada na sensação gostosa que é te ver feliz. Essa sua alegria contagiante que só me faz querer grudar no teu corpo o dia inteiro.
— E então, coloco ele aqui ou no outro canto? — Sua voz surge, mas não entendo de primeira. Num momento, tudo o que minha cabeça processa e trabalha é no teu sorriso. Somente nisso, me ligando às tuas formas, me abraçando à você como um nó que não se pode desfazer. — Hey!
— Ah, desculpe. — Sorri. — Tente colocá-lo um pouco mais para trás. — Falei, olhando toda a estante, analisando os outros lugares possíveis. — O outro vai ficar legal ali — Apontei para o lugar entre dois bonecos maiores lá em cima. — Ele é tão grande quanto aqueles.
— Verdade. — concordou, colocando um dos bonecos no lugar mais baixo e o outro lá em cima, com uma extrema facilidade. Sorri, imaginando que se fosse eu a colocar o boneco ali, provavelmente precisaria de uma escada. — Gostou?
— Hm... — Cerrei os olhos, mordendo o lábio em suspense, me divertindo com sua feição curiosa. — Eu amei, Kim. Amei.
Você sorriu novamente. Senti minha cabeça voar, para bem longe. Talvez até para um outro planeta. Olhar esse brilho no teu sorriso era como me auto mandar para a lua; dançar na grama fofa; correr beira-mar pela manhã. E no final, aquela voz gritava novamente o seu nome em um mundo desconhecido por mim. Gritava implorando por ti, por um único beijo teu. Gritava por saber que a vida primorosamente deu você pra mim, para eu amar. E eu sou tão, tão grata por isso.
— O que foi? — Me perguntou, olhando fundo em meus olhos como se pudesse ler minha alma. Então tu entortou a cabeça para o lado e sorriu bobo, antes de voltar a falar. — Meu cabelo 'tá muito bagunçado? — Me perguntou de novo, percebendo meu olhar caído nele.
— Não, é que... — Respirei fundo, me ajeitando no sofá pequeno, sentindo um leve incômodo pela posição ruim que eu estava antes. Encarei novamente seus olhos antes de responder. — É que eu gosto de te ver feliz assim.
— Ah... — Você levou a mão na nuca sorriu tímido. O mundo parecia parar à cada gesto seu. As batidas do meu coração faziam a trilha sonora daquele instante. E então, o barulho dos teus passos vindo até mim me trouxe uma onda de ansiedade por tudo aquilo que poderia vir de você, cada mísero detalhe misterioso de ti. — Quando comprei os bonecos, me lembrei daquela sua coleção dos papéis fofinhos. Não vai voltar a colecioná-los mais?
— Não sei. — Falei, dando de ombros. — Quero experimentar coisas novas. Colecionei aqueles papéis por tanto tempo, e de alguma forma perdeu a graça. Estive pensando em usá-los. Talvez colecionar textos. Então posso escrevê-los nos papéis.
— Textos? — Tua feição pareceu surpresa, então você se agachou na minha frente. — Você diz, aqueles textinhos coloridos do seu diário de nove anos?
— Não, idiota! — Ri, aproveitando a pouca distância pra socar teu ombro de leve. — Pensei em escrever alguns poemas, ou sei lá. Quero fazer algo bonitinho. Não muito clichê, sabe? Mas alguma coisa que preste, e seja gostoso de se ler.
— Vai ficar legal, muito legal. — Sorriu. — Mas e então, vai escrever aleatoriamente?
— Bom... pensei em escrevê-los pra você. — Falei, olhando para minhas mãos, mordendo os lábios e com pensamentos no extremo da loucura, ansiosa pra ver sua reação. Achei que você pensaria que isso era algo bobo, mas quando te encarei novamente e vi aquele brilho castanho nos seus olhos e aquele sorriso que dizia tudo em um só gesto, algo dentro de mim saltitou. — Não é algo tão grande assim... mas você sabe, eu gosto de histórias.
— Vai me colocar numa história? — Sorriu.
— Vou colocar você e suas coleções em um papel, e tentar descrever em letrinhas o teu sorriso. Não sei, é tão estranha a forma que me sinto bem aqui, sabe? Perto de você. Me dá vontade de materializar tudo em algum lugar. Do meu jeito. E como não levo jeito com fotos ou aquelas pinturas...
— Quer me escrever nos papéis. — Me completou. Assenti, sorrindo fraco. — E como pretende começar?
— Não sei. Vem cá. — Puxei a manga de sua blusa grande, te trazendo para o sofá pequeno. Te acomodei no meu colo, tentando te dizer o quanto quero você pra sempre aqui, o quanto desejo que você jamais se vá. Te aperto contra mim, tentando de alguma forma dar um nó nas nossas almas. Como de imediato, sinto o gostoso cheiro teu que lembra felicidade, alegria. Lembra liberdade, lembra amor. Cheiro teu, roda tu e me contorna até o infinito mais distante do universo. — Eu posso começar falando sobre aquela nossa música. Não sei, ela me inspira.
— E vai escrever o que depois? — Pegou minha mão livre e levou aos fios loiros, quase me forçando a fazer carinho ali. Eu ri baixo, abraçando seu corpo ainda mais perto de mim. Comecei a fazer carinho nos fios, me perdendo na maciez deles.
— Depois? Hm, vejamos. Posso tentar descrever as sensações de quando cantamos ela juntos.
— E quais são as sensações? — Tu apoiou o queixo na minha barriga, ainda abraçando minha cintura. Seus olhos encontraram os meus, procurando abrigo entre minhas vontades de te dar morada. Percebi ali, no teu cenho franzido e nos teus dentes mordendo seu lábio, o quanto você desejava ler minha mente naquele momento.
Forcei minha cabeça a conseguir trazer para palavras todas as lembranças daquele dia, onde nós pulávamos na cama e cantávamos "Yellow" como se não houvesse amanhã. Me lembrei do teu abraço apertado por cima dos lençóis bagunçados, me lembrei daquele teu beijo. Lembrei dos meus dedos entrelaçados nos seus, daquela minha gargalhada que virava nota musical junto com a sua. Lembrei de nós, e foi então que eu soube descrever:
— É um frio na barriga. Às vezes dá uma cosquinha interna, vontade de gritar bem alto. As minhas mãos soam quando te beijo e me sinto em um mar de almofadas confortáveis no teu abraço. É como se eu passasse anos fora de casa e então voltasse... sensação de lar. Você é meu lar, Nam. Sabe disso, não sabe?
Novamente, vejo aquele sorriso teu. E novamente, seus olhos brilham pra mim. É como se os gestos substituíssem palavras. E então, sua mão aperta a minha calorosamente. Teu corpo sobe mais um pouco, e fica na minha altura. Eu estou de cara com essas tuas covinhas e Deus, como eu gostaria de ter mais forças para encará-las. Te amar é tão bom, Nam. Tão bom. Sentir esse teu toque, teu abraço. Cruzar as estrelas das suas constelações, amar tuas galáxias. Amar tudo o que vem de você, amar nossos momentos. Poxa amor, melhor de que te amar, é ser amada por você.
Te vejo morder o lábio outra vez, sei que está pensando no que falar. Mas não precisa, amor. Não diga nada. Sentir teu cheiro enquanto te abraço é minha resposta necessária no momento.
— Eu amo você. — Posso ouvi-lo sussurrar baixinho enquanto me abraça mais.
Me encolho nos teus braços, e em minha cabeça passa um por um dos papéis coloridos que estão guardados em minha pasta. Cada uma das imagens coloridas, tão alegres quanto tua alma. Palavras rondam minha cabeça e então tenho a vontade de pegar uma caneta e descrever seu abraço naqueles papéis.
Mas isso fica pra depois. Até porque neste momento, tudo o que eu preciso de verdade é continuar aqui, em casa. Nos seus braços. Dizer pra mim mesma que está tudo bem, que você está mesmo aqui. E ficar feliz por saber que essa história não tem ponto final. Porque você é infinito. E enquanto seu amor durar, eu duro contigo.
E sei bem que sempre vai ser assim, esse seu abraço apertado encerrando as tardes de forma positiva. E o melhor lado de tudo, é que nós sabemos que o escritor de nossa história digitou para que fosse assim: eu pra tu, e tu pra mim.
Pra sempre.
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