Capítulo 7
Dedicado as minhas duas melhores amigas virtuais, AngelliqueHavens e Sheila_M_Alves.
O corredor onde eu estava era longo e completamente branco, nem um único quadro a decorava, mesas ou objetos, apenas uma imensidão branca. Para dizer que não havia nada mais, duas grandes janelas decoravam cada lado do corredor dando vista para um jardim de tirar o fôlego. O sol estava brilhando, a grama bem aparada e as folhas das árvores são balançadas pela brisa da primavera, uma tarde perfeita. Olhei para dentro novamente, só agora notando as roupas que estou vestindo, algo que com certeza não é meu estilo habitual.
O vestido é branco e vai até os meus joelhos, as pontas são um pouco desiguais, como se ele tivesse sido rasgado. Suas alças saem do meio dos meus seios e envolve meu pescoço, a cintura esta repleta de pedrarias vermelhas, ele é lindo, a única coisa errada são as manchas vermelhas que estão na sua barra. Meu cabelo cai como uma cascata negra sobre meus ombros, minha pele esta mais clara que o normal, o que faz com que meu cabelo fique mais escuro. Por algum motivo me sinto diferente, mas isso não tem nada a ver com a roupa ou o lugar.
Olhei para minhas mãos e senti meu estômago se revirar, elas estão cobertas de sangue, olhei novamente para meu vestido e vi que não são manchas quaisquer que estão na barra, mas sim mais sangue. Corri até uma das janelas e olhei para meu reflexo, é como se eu olhasse para outra pessoa, meus cabelos estão com alguns fios caindo no rosto, os olhos estão de um azul que quase parece roxo e a minha boca... Ela esta toda suja de sangue, sigo meu olhar para o canto da janela e vejo uma trilha vermelha que não tinha ali antes, ela segue pelo chão do corredor até uma grande porta de madeira com detalhes dourados.
Andei até ela e empurrei a abrindo com facilidade. Adentrei em um lindo e enorme salão prateado, iluminado por um antigo lustre e pela beleza de diversas rosas vermelhas em vasos distribuídos por todos os lados, mas isso não é a coisa que mais chama atenção no salão, bem no lugar onde deveria haver portas ou janelas esta a entrada para uma floresta. As árvores são altas, as folhas verdes cobrem bem o chão assim como os galhos, sinto como se algo me chamasse para ir até lá.
-Safira! - chamou alguém.
Me virei imediatamente reconhecendo a voz de quem me chamava, o rapaz misterioso estava ali novamente, olhando para mim com um sorriso. Ele estava diferente, o cabelo um pouco mais comprido com alguns fios caindo na testa, usando uma calça jeans e uma camisa branca, suas mangas estão dobradas até os cotovelos e os primeiros botões estão abertos, seus olhos estão mais escuros do que já vi, se é que realmente já vi seus olhos.
-O que esta fazendo aqui? - perguntei.
-Porque você correu?- perguntou.
Franzi a testa para ele confusa.
-Eu não sabia onde estava e... - olhei para minhas mãos. - Não sei de onde vem esse sangue.
O sorriso que tinha começado a se formar em seu rosto desapareceu fazendo com que ele adotasse uma expressão sombria.
-Eles pediram por isso.
-Eles?
Ele apontou para um canto do salão que eu não tinha notado antes, nele duas pessoas estavam encolhidas de um jeito estranho em uma enorme poça de sangue, pelo que posso ver são dois homens. Arregalei meus olhos ao reconhecê-los e dei um passo atrás.
-O que é isso? - perguntei.
Ele se aproximou de mim e segurou meus ombros com delicadeza, só agora noto que suas mãos também estão sujas de sangue, pela primeira vez ele me desperta uma coisa que nunca pensei sentir ao seu lado, medo.
-Fica calma, meu anjo, eles nunca mais vão machucar você.
Me afastei dele depressa.
-Safira? - falou uma voz familiar.
Virei para onde estava a floresta apenas para encontrar Pietro parado bem no meio da trilha, ele estava sujo e todo machucado, parece cansado e abatido, seus olhos preocupados ao se encontrarem com os meus.
-Pietro?- perguntei dando um passo em sua direção.
-Fique o mais longe dele que você puder. - falou depressa. - Fuja!
-O que esta acontecendo?
-Ele apenas esta te avisando da sua morte, amor. - falou a voz atrás de mim com frieza.
Me virei novamente para o rapaz e senti meu coração disparar, seus olhos estão de um vermelho escuro e nos lábios um sorriso cruel que fez os pelos da minha nuca se arrepiarem.
-Minha... Morte?
Vi movimento no canto e os dois caras que estavam caídos lá se levantaram, olharam na minha direção e sorriram, seus olhos brilham em um amarelo pavoroso e sorrisos diabólicos se esticam em seus lábios. Olhei novamente para a coisa na minha frente que parece se deleitar com meu medo.
-Sim, sua morte. - fala sorrindo.
-Você disse que eles nunca mais me machucariam.
-Eles não vão amor, não se pode machucar os mortos.
Ele riu e não contive o pavor que dominou até mesmo a minha alma, os dois caras lá no canto riram junto com ele. Olhei novamente para dentro da floresta e encontrei os olhos angustiados de Pietro, com o medo abalando meus sentidos fiz a única coisa que me parecia certa naquele momento, empurrei a criatura na minha frente e corri para seus braços que pareciam me esperar.
Acordo com tudo me sentando na cama, meu cabelo esta molhado e grudado no meu rosto por causa do suor assim como meu pijama, meu coração esta disparado e não posso conter o reflexo de olhar para minhas mãos. Sei que estão limpas, mas a simples lembrança daquele sonho faz com que eu me sinta imunda. Eu não esperava ter sonhos amistosos essa noite depois de tudo que aconteceu e mesmo levando em conta os sonhos que ando tendo nos últimos meses esse ganhou o prêmio de mais estranho e assustador, ainda consigo ouvir aquela voz em minha mente e sentir toda a crueldade que estava em seu olhar.
Afasto os fios de cabelo da minha testa e olho ao redor, o computador ainda esta ao meu lado só que agora fechado, as cobertas se embolam em minhas pernas e luto para jogar elas de lado. Abro meu computador e vejo que ainda esta aberto no Skype na minha conversa com Roxy e Tess, ficamos até tarde conversando ontem á noite, foi bom conversar com alguém sobre o que aconteceu, apesar de que escutei um sermão gigantesco e passei pelo menos uma hora com as duas fazendo mil e uma perguntas sobre Pietro, adoro essas garotas. Elas são as únicas que dos meus amigos que sabem da minha volta, mas não vale de muito já que elas nem mesmo moram no mesmo lugar que eu, estados nos separam, ou no caso de Roxy o oceano já que seu pai viaja muito.
Conheci Roxanne e Teresa em um site de livros, assim como eu elas são escritoras novatas, apesar de Roxy estar prestes a ter seu livro publicado por uma grande editora. Nos conhecemos justamente por causa do livro dela e nunca mais paramos de conversar, mensagens e chamadas de vídeo são nosso meio de convivência, elas foram as primeiras amigas que fiz a longa distância e não me arrependo, confio mais nelas do que em muitas pessoas que conheço há anos. Sempre fazemos planos de um dia vamos nos encontrar e temos mais de um projeto para futuros livros juntas, além de que uma ajuda a outra sempre que estamos em duvida com o que escrevemos.
Tess é nossa loira oriental, é super branca, com os cabelos loiros e lisos e olhos basicamente pretos levemente puxados, apesar de sua aparência de menina doce e angelical se engana quem pensa que pode brincar com ela, já pensei mais de uma vez que ela e Marisol juntas na mesma cidade poderia ser comparado a um desastre natural. Roxy é morena, seu cabelo castanho avermelhado é ondulado e esta sempre com diferentes cores de mechas que variam de acordo com seu humor. Ela é um pouco mais tranquila, mas agitada quando necessário e adora uma boa festa, tem verdadeira paixão pela dança, sempre me divirto muito conversando com elas, é uma pena que morem tão longe.
Me levantei da cama e me arrastei até o banheiro, meu corpo esta todo dolorido, agora não sei se pelo que aconteceu ontem ou pela horrível noite de sono. Escovei meus dentes, penteei meus cabelos e os prendi em um coque desleixado, escolhi uma roupa confortável para ficar em casa e desci as escadas, graças ao remédio que tomei quase não sinto dor na minha mão, mesmo que meus cabelos ainda estejam doloridos.
-Bom dia! - falei entrando na cozinha.
-Bom dia! - respondeu minha família.
Todos estão sentados tomando seu café, ainda bem que não cheguei tão atrasada assim.
-Como dormiu esta noite filha? - perguntou minha mãe enquanto me sento no meu lugar.
Abri um bocejo.
-A cara de zumbi dela responde sua pergunta, mãe? - falou meu irmão.
Peguei um guardanapo e joguei na cara dele.
-Não muito bem, o fuso horário me deixou um pouco perdida, vai demorar um pouco até que eu me acostume.
-Já você se acostuma, seus horários de dormir nunca foram normais mesmo sem esse problema. - falou minha mãe.
Fiz uma careta, não digo que ela esta errada, nunca segui o padrão de horas certas para dormir, ia parecendo um zumbi para a escola por ter dormido apenas três horas apenas. Coloquei um grande copo de leite com café para mim, não vivo sem tomar isso pela manhã.
-Como foi seu passeio ontem a noite maninha? - perguntou Jake.
-Foi bom. - respondi sem olhar para ele.
No quesito bom eu quero tirar a parte que eu fui atacada e quase possivelmente morta por dois malucos, os machucados doloridos e os primeiros pontos que eu tive que levar, mas ninguém precisa saber desse detalhe.
-Hum... - falou com um sorrisinho que conheço muito bem.
Jacob esta com cara de quem vai aprontar para o meu lado, ele ama me fazer passar vergonha.
-Porque esse "hum"? - perguntei.
Ele sorriu.
-Bom, é que eu estava refletindo sobre umas coisas aqui.
-E que coisas seriam essas?
-Pietro já esta por aqui há um ano e nunca o vi saindo com uma única garota, ele faz parte do time de futebol então tenha certeza que pretendentes é o que não faltam, também não é muito popular em fazer amigos, ele conversa com bem poucas pessoas.
-Ele é reservado, nada demais.
-Ele não pareceu nada disso ontem a noite, na verdade parecia bem á vontade e se deu muito bem com você, até te trouxe na porta de casa.
Esse garoto estava me espionando, só pode, falei mais ou menos para meus pais que ele tinha ido embora quando entrei, apenas para dar a entender que ele me trouxe até em casa.
-Ele foi apenas educado, temos gostos em comum, por isso nos demos bem.
-Eu acho que...
-Jacob, chega de atormentar sua irmã. - falou meu pai.
Nunca fiquei tão feliz por meu pai interromper uma conversa, até mesmo lancei um olhar agradecido para ele.
-Vai ver ele se interessou pela Safira, pelo que pude notar vocês conversaram bastante lá na biblioteca. - falou minha mãe.
Estreitei os olhos para ela por cima da minha caneca, esses dois juntos são dose certa para me deixar em momentos embaraçosos, ter uma mãe que curte com a sua cara é uma coisa para deixar qualquer um louco. Dona Kimberly nunca perdeu uma boa oportunidade de fazer suas típicas piadinhas de mãe. Olho para todos na mesa, meu pai esta escondendo um sorriso e até mesmo Stefy esta rindo, tinha quase me esquecido o quanto é bom esses momentos em família, sem brigas, sem clima tenso ou silêncio incomodo.
-Mãe, ás vezes a senhora sabe ser pior do que o Jacob. - falei suspirando.
Todos na mesa riram e continuamos nosso café tranquilamente, assim como o resto do dia. Meu quarto estava precisando de uma boa faxina e com todas aquelas caixas espalhadas achei uma boa ideia arruma-lo, isso foi uma tarefa que levou quase todo o meu dia. Depois de colocar livros no lugar, fotos, guardar roupas, me livrar de algumas que nem uso mais, sapatos para guardar e despachar, tirar pó de tudo e organizar, me sinto quebrada e precisando de um banho desesperadamente, a poeira dando indícios que vai fazer minha alergia atacar. Levei os presentes que comprei para minha família em seus quartos, tanta coisa aconteceu que até esqueci dos presentes que comprei.
Tomei um banho demorado e desci para a sala, o dia esta chuvoso e frio, então resolvemos fazer o que sempre fazíamos em dias como esse, colocamos dois colchões na sala, fizemos pipoca e escolhemos uma pilha de filmes para uma maratona. Esse sempre foi um dos momentos em família que mais gostei, na maioria das vezes a única refeição que todos fazíamos juntos era o jantar, mas em dias de chuva gostávamos de nos reunir e ficar o dia todo assim, compartilhando a paixão que temos por filmes. Minha mãe é um doce de pessoa, esta sempre se sacrificando por nós, ela sempre reveza entre nossa casa e o trabalho para ter tempo para nós também, já com meu pai as coisas são mais difíceis, Stephanie é a mais apegada a ele, talvez por serem mais parecidos se dão melhor, quanto a Jacob e eu, na maioria das vezes que passamos mais tempo com nosso pai é quando estamos brigando, o que resulta em dias sem conversar.
A noite foi tranquila e pelo milagre que aconteça não tive nenhum sonho, pelo menos não que eu me lembre. Acordo disposta na segunda e para minha total surpresa antes do meu despertador tocar, talvez seja porque em Roma eu já estaria acordada há umas três horas. Nunca gostei muito de segundas feiras, mas acho que a maiorias das pessoas não gosta, ainda mais adolescentes, no meu caso não é por não gostar de ir à escola e sim porque além de dormir muito tarde nos domingos, esse é sempre o dia que tem as aulas mais chatas. Faço meu ritual matinal e visto uma roupa leve, pego meu celular, os fones de ouvido e desço as escadas, uma corrida fará com que eu acorde de vez. Encontro minha mãe na cozinha preparando o café.
-Bom dia mãe! - falei.
Dou um beijo em seu rosto e vou para a geladeira pegar água.
-Bom dia filha, acorda uma hora dessas? - pergunta.
-Acordei antes do despertador, acho que ainda estou confusa pelo fuso horário, ou ansiosa com o colégio.
-Vai sair?
-Correr um pouco, não quero perder o costume.
-Sair um pouco de casa e do meio dos livros sempre é bom. - fala sorrindo.
Sorrio para ela.
-Agora sei disso, mamãe.
-Não demore muito ou vai chegar atrasada no colégio.
-Ok.
Saio de casa e coloco meus fones, essas ruas eu conheço tão bem quanto os cômodos da minha casa, faço um rápido alongamento e começo a correr sentindo aquela familiar sensação do vento contra meu rosto, a ardência dos músculos acordando. Nunca tive o habito de correr, ainda mais por ser muito desastrada, o máximo sempre foi as caminhadas que sempre adorei fazer, mesmo com isso nunca fui uma pessoa mole. Quando mudei para Roma quis ir fundo em minha mudança, por odiar esteira eu preferia correr ao ar livre, ainda mais pelo medo terrível de que fosse cair a qualquer momento naquela coisa, nunca pude tomar muita liberdade lá por ser um local tão grande, mas aqui é diferente, pelo menos era assim que eu pensava até a noite anterior.
Como é começo da manhã a rua esta quase deserta, a cidade começou a acordar agora, sempre gostei de caminhar perto do bosque pela boa vista do nascer do sol. Interrompo minha corrida quando vejo um movimento estranho do outro lado do bosque, vendo de onde estou parece uma pessoa correndo, fecho meus olhos com força e quando os abro novamente não há sinal que de tenha alguém ali. Encaro o espaço onde vi o movimento e tiro meus fones a tempo de escutar um apavorante grito de socorro, o mesmo se repete várias vezes e automaticamente começo a andar em direção ao local, como se algo me puxasse até lá.
-Ei... Você esta bem? - pergunta um garoto.
Pisco algumas vezes saindo do transe e olho para ele. O garoto é bem alto, posso dizer que mais que o meu irmão, a pele é clara com um leve bronzeado do verão, o cabelo escuro e grande o suficiente para ter um topete, mas agora esta bagunçado como se tivesse acabado de sair da cama. Seu corpo é forte e musculoso, mas nada de exagerado, seu rosto tem traços fortes e exóticos de uma maneira que chama atenção, assim como seus olhos que são de um mel quase dourado emoldurado por cílios escuros invejáveis. Veste short e camiseta, o que é admirável já que o clima esta frio agora de manhã, ele é um garoto bonito e seu sorriso meio hesitante apenas mostra isso. Chacoalho a cabeça para sair do devaneio.
-Estou sim é só que... Vi alguém correndo ali mais a frente e depois ouvi uns gritos.
-Pedindo socorro? - pergunta.
Me sinto aliviada por não ser a única a ter ouvido isso.
-Sim, você escutou também?
Ele coça a cabeça e abre um sorriso sem graça.
-Ouvi, mas pensei que estava escutando coisa. Ontem foi a festa anual de último dia de férias então... Você sabe.
-Ressaca?
-Tão na cara assim?
Rimos juntos e chacoalho a cabeça.
-Levando em conta que você esta vestindo short e camiseta em uma manhã congelante e que pela sua cara parece estar com uma dor de cabeça terrível... Acho que sim.
-Minha mãe me mandou ir à padaria, eu nem acordei direito. - resmunga e eu rio.
-Poderia dar umas dicas, mas acontece que nunca fiquei de ressaca.
Ele me olha quase com indignação.
-Você é mesmo desse mundo? Como pode nunca ter ficado de ressaca?
Sorrio.
-Sei lá, não gosto muito.
Ele chacoalha a cabeça e estende a mão.
-Sou Diego e você?
-Safira, prazer em conhecer você.
-O prazer é meu. - fala me olhando. - Frequenta o estadual? Acho que nunca vi você por lá.
-Eu passei um ano fora e acabei de voltar.
-Ah, isso explica muito as coisas.
-Então... - falo olhando para o mesmo lugar de antes. - O que exatamente foi aquilo?
-Logo ali depois das árvores esta a casa dos Macqueen. O filho mais novo, Josh, é um viciado, ele e a esposa na verdade, ai ás vezes quando estão muito chapados começam a brigar e gritar, já perdi a conta de quantas vezes já foram para a delegacia.
-Ele bate nela?
-Não sei te responder isso, ela fala que tem olhos nas moitas ao redor da casa que estão espionando ela. Não tem muito como levar ela a sério.
-Explicado agora.
-Você tem horas? Sai de casa sem o relógio ou o celular.
Tiro meu celular do bolso e confiro as horas, acho que fiquei mais entretida com aquilo do que esperava.
-Seis e meia.
Diego arregala os olhos e resmunga alguns palavrões.
-Minha mãe deve estar uma fera, tenho que ir, a gente se esbarra por ai.
-Okay, até mais.
Ele sai correndo e eu volto rumo a minha casa, assim que chego vou direto para meu quarto tomar um banho e tirar o suor do meu corpo. Porque o primeiro dia de aula tem que ser sempre o que você mais se enrola? Sai do banho enrolada na toalha, passo creme em meu corpo e já penteio meus cabelos, visto jeans escuros, uma blusa vermelha com letras pretas estampando, meus coturnos e amarro meu cabelo em um rabo de cavalo alto. Faço uma maquiagem rápida e básica, passo meu perfume, minha jaqueta nova, a bolsa que eu costumava usar na escola, meus óculos, celular e desço as escadas. Minha mãe deixou a mesa já preparada para nós, vejo Jacob sentado já tomando seu café, seu cabelo molhada do banho e despenteado, parece que não sou a única atrasada aqui.
-Esqueceu a hora? - pergunto colocando minhas coisas no sofá.
-Oi maninha, a droga daquele despertador esta estragado de novo, ele desperta na hora que quer.
-Não precisa engolir seu café, - falo olhando para o relógio na parede da cozinha. - ainda temos tempo.
-Fale por você, eu nem sei onde minha bolsa esta.
Começo a rir enquanto arrumo as coisas que vou comer.
-Arrumo um despertador novo ou compre outro.
-Como não pensei nisso antes? - pergunta com sarcasmo.
Apenas reviro meus olhos e tomo meu café.
-Prontos para ir? - pergunta nossa mãe.
-Quase. - respondo.
-Filho já não falei para não ficar com esse cabelo molhado?
Jacob levanta de um pulo e da um beijo no rosto dela.
-Umas mil vezes dona Kimberly.
Com isso sobe as escadas correndo e eu apenas sorrio da cena. Minha mãe esta de jeans e uma camisa azul que realça seus olhos, o cabelo curto bem penteado e um pouco de mascara de cílios bem passada, coisa que custei fazer com que se acostumasse a usar, perfeita para um dia de trabalho.
-Pronta para o primeiro dia? - pergunta.
-Mais ou menos. - respondo terminando de tomar meu leite.
-Vem comigo, tenho uma surpresa para te mostrar.
Levanto limpando minha boca e a sigo rumo a garagem, não sei o que é a surpresa, mas deve ser boa para ela estar sorrindo. Quando morávamos no sitio sempre íamos para a escola de ônibus, depois que meus pais compraram essa casa começamos a ir de a pé ou sempre que podiam um deles nos levava de carro, nunca me incomodei, apesar de que sempre quis ter meu próprio carro. Entramos na garagem e ao lado do Fluence esta um lindo e perfeito GM Capitiva Sport preto de quatro portas, o carro que quero desde os meus quinze anos, bom, o que fica com o preço mais perto da minha condição pelo menos.
-Ele é lindo, mãe. - falo me aproximando. - Não me contaram que tinham comprado outro carro.
-E nem era para você saber, pelo menos até seu aniversário.
Fico perdida por um momento em suas palavras até que entendo.
-É meu? - pergunto.
-Achamos que já estava na hora de você se virar sozinha, ainda mais quando for para a faculdade. Ele é seminovo, já passou pelo mecânico e tudo.
Abraço minha mãe apertado, sempre detestei ter que ficar dependendo deles para ir a maioria dos lugares onde queria.
-Obrigado mãe, ele é perfeito.
-Imaginei que iria gostar.
Ela me entrega a chave e eu abro a porta do carro.
-Pode tirar o carro que peço para seu irmão levar suas coisas.
Dou um beijo em seu rosto.
-Bom dia de trabalho para a senhora.
-Bom dia de aula.
Entro em meu mais novo carro o admirando, ninguém pode me julgar por isso, ter algo que você sempre quis é ser apenas seu é a melhor coisa que existe. Minha mãe abriu a garagem e não tive dificuldades para sair até a rua, meu pai me ensinou a dirigir muito bem. Meu irmão sai de casa com minhas coisas na mão e com um enorme sorriso ao olhar para o carro, provavelmente já sabia do presente, não duvido que foi ele quem escolheu o modelo.
-Sim, eu fui à loja com nossos pais e escolhi ele, sabia que estava na lista dos seus favoritos. - fala enquanto senta no banco do passageiro.
-Mas eu não falei nada!
-Mas estava pensando, conheço você minha irmã.
-Sei que sim.
-Será que quando eu fizer dezoito eles vão me dar um também? - pergunta jogando nossas bolsas no banco de trás.
Pego a jaqueta e a visto, pelo visto ainda esta bem frio lá fora.
-Não sei, mas acho que te devo uma moto.
-Deve mesmo e não vou esquecer de cobrar.
-Esquece de fazer as maiorias das coisas, mas na hora de cobrar é o primeiro.
Jake faz uma careta para mim que apenas sorrio de volta e dou partida no carro, o colégio não é tão perto então é melhor não enrolar. Fomos conversando o caminho todo até parar no estacionamento de um prédio bem familiar, acho que conheço esse lugar até de ponta cabeça. O Estadual de Hareton é enorme, talvez o maior da cidade, ainda é azul e branco, mas parece ter sofrido uma boa reforma já que tem uma nova área que não tinha ali antes, o estacionamento como sempre é gigantesco e esta repleto de gente se abraçando e conversando. Os prédios da direita são as salas, o da esquerda fica a parte dos laboratórios e o ginásio de Educação Física, a biblioteca sempre foi um dos meus lugares favoritos, todo final de ano varias caixas cheias de livros novos chegavam, por ser boazinha e já nos conhecer, a bibliotecária sempre nos deixava dar uma checada nele antes dos outros. O prédio central é o refeitório e um pouco mais para frente os banheiros.
Olhando daqui já posso ver a porta da secretaria, ainda tenho que passar lá para acertar algumas coisas. Parei ao lado de um belo Camaro branco, ao que parece o nível aqui subiu bastante também.
-É o carro da Alexandra. - fala Jake.
Olho para ele.
-Sério? Ela sempre adorou esse carro, o que o tio não faz por ela?
-Pois é.
Alexandra não é exatamente rica, mas sua família tem uma boa condição financeira, seu pai meche com vendas e tem diversas casas alugadas não só aqui como em outras cidades. Desço do carro um pouco nervosa, meus primeiros dias de aula sempre foram um desastre, cruzei os dedos mindinho e anelar das duas mãos, um hábito que tenho quando fico nervosa.
-Hey, - fala Jake parando na minha frente. - não precisa ficar nervosa, vai dar tudo certo. Boa sorte!
-Obrigado Jake.
Sorrindo ele da um beijo na minha testa, pega sua bolsa e vai rumo a escola. Pego minha bolsa, tranco o carro e vou para a secretaria, minha tia resolveu a maioria das coisas pelo celular, ficou que eu entregasse alguns documentos, assinasse alguns papeis e pegasse meus horários. Nunca gostei muito de ficar esperando, mas parece que as secretárias estavam enrolando de proposito, ainda reconheço duas delas, a maiorias dos funcionários desse lugar não muda. Entreguei a pasta com meus papeis, assinei o que tinha que assinar e peguei meu horário, finalmente.
-Bem vinda de volta Safira. - fala a secretaria.
Ela reconheceu meu nome pelo visto.
-Obrigado Dolores.
Abro um sorriso para a mulher baixinha de óculos, uma das mais simpáticas e vou para o pátio, ainda faltam uns quinze minutos para que eu desvende em que sala tenho que ir primeiro. Paro debaixo de uma árvore onde meus amigos e eu costumávamos ficar sempre na hora do intervalo, além de ter uma sombra maravilhosa tem uma ótima vista de boa parte do colégio. Pego meu horário e fico estudando, sempre odiei primeiros dias por causa disso, eles sempre mudam as salas de lugares e ficamos que nem bobos procurando, não estou a fim de entrar na sala errada de novo.
-Safira Eclemen Delacur, como você ousa voltar para casa e não avisar ninguém? - diz uma voz doce e firme.
Levanto minha cabeça sorrindo já sabendo muito bem quem é a pessoa furiosa que vou encontrar.
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