Capítulo 52
O rosto de Noah não saia da minha mente desde o momento do refeitório e mais de uma vez me perguntei se esse era um dos indícios da loucura. Eu sempre vi coisas que não sabia explicar, ouvia e até mesmo adivinhava, principalmente desde que tinha voltado para casa, mas agora era diferente, isto era diferente. Eu nunca tinha visto algo tão real como aquilo. Como se eu já não tivesse esquisitisses o bastante na minha vida. Chacoalhei a cabeça para me livrar daqueles pensamentos soturnos e voltei a me olhar no espelho para terminar de me arrumar.
Marisol tinha conseguido persuadir sua chefe a lhe dar o dia de folga e, em consequência disso, também foi falar a com minha e juntando a empolgação das duas para que eu tivesse uma vida social mais ativa, acabei sendo dispensada do trabalho pelo resto do dia. Buscamos nossos vestidos e depois disso Marisol me arrastou de loja em loja em busca do sapato perfeito até o dia chegar ao fim. Agora estávamos no meu quarto, nos aprontando para o baile, e ela estava transformando ele em uma zona de guerra. Sempre me perguntei como ela conseguia bagunçar tanta coisa para se arrumar, e dessa vez ela nem iria precisar escolher a roupa com a qual iria, se precisasse as coisas seriam muito piores. Eu já estava basicamente pronta enquanto tudo que ela tinha arrumado até agora era seu cabelo, emoldurado em uma trança cascata feita pela minha mãe e cachos negros e selvagens que eu tive toda a paciência de modelar. Marisol de fato era a pessoa mais enrolada que eu conhecia.
Ajeitei meu vestido mais uma vez e me avaliei. Ele era todo preto e de certa forma até um pouco simples, seu comprimento ia até um pouco acima dos joelhos e solto da cintura pra baixo, modelando meu corpo. O decote era em formato de coração e as alças grossas, dando um caimento perfeito. Nas costas havia um decote um pouco mais ousado no qual havia tiras transpassadas feitas de contas prateadas. Eu tinha escolhido uma sandália preta com tiras pra amarrar no tornozelo e minha mãe tinha arrumado meu cabelo, fazendo uma trança e depois elaborando um elegante coque do qual escapava alguns fios. Minha maquiagem era escura, deixando meus olhos de um azul mais claro e vibrante. Para fechar havia o colar que Marisol havia me dado no final do dia de compras, em uma tentativa de se desculpar por me arrastar de um lado para o outro. Ele era delicado, dourado e oval e no meio dos entalhes, como destaque principal, havia uma grande pedra vermelha. Ele era único e perfeito.
—É realmente muito lindo. - falei tocando no colar.
Marisol olhou para mim por cima do ombro e sorriu carinhosamente.
—Amiga, você que está linda. - falou. - Pietro é um cara de muita sorte.
—Obrigado! - sorri agradecida pra ela. - Que horas Diego vem buscar você?
—Ele não vem mais.
—O que? - perguntei de olhos arregalados. - Como assim não vem mais?
Marisol continuou a se maquiar, dando os retoques finais e não parecendo chateada com a situação, o que era estranho já que ela vinha me falando sobre ir ao baile com ele a dias.
—Porque aparentemente ele tem o pior irmão do mundo. - explicou. - David vive pegando o carro dele escondido e dessa vez além de pega-lo, ele também estragou o Jeep e não contou nada para o Diego, que foi descobrir isso hoje de manhã pouco antes de ir pra escola. O mecânico disse que não vai ficar pronto a tempo e David já pegou o carro da mãe deles.
—Aposto que fez de propósito porque sabia que Diego vai com você. - falei um pouco zangada.
Ela deu de ombros, como se não fizesse diferença.
—Ele falou que conseguiu concertar a moto velha que eles têm na garagem e vai com ela, falou para nos encontramos no baile. - ela caminhou até onde seu vestido estava encima da cama e o olhou de forma admirada, quase apaixonada, mas eu sabia que não era na roupa que ela estava pensando. - Ele disse que uma moto não é o jeito certo de levar uma garota ao baile e que não iria acabar com toda a minha produção porque o irmão dele é um completo babaca.
—Ele realmente parece ser uma ótima pessoa. - falei.
—É o que eu espero. - falou. - Estou cansada de sempre escolher o cara errado.
Marisol não era uma pessoa que tinha as melhores experiências no departamento romântico, mesmo sua vida sendo bem ativa. Eu sabia que ela escondia, mas o que tinha acontecido entre ela e Raymond tinha deixado uma marca. Ela iria sair com Diego, conversar e se divertir com ele, mas demoraria um pouco até eles darem um passo a mais. Por trás de todo temperamento explosivo, dos palavrões e do seu jeito animado, Marisol era frágil, mesmo que a maioria não pudesse ver. Ela tinha tentando salvar seu relacionamento de várias maneiras e ela jamais admitiria isso. Mesmo que ela estivesse gostando de Diego, ela realmente tinha se apaixonado por Raymond e por mais que tivesse sido uma relação meio conturbada, ela não conseguiria esquecer tão cedo. Seus olhos encontraram os meus pelo espelho e eu não precisei falar a pergunta em voz alta, se ela estaria pronta para encontra-lo lá, possivelmente com a ex-namorada. Ela me abriu um sorriso fraco chacoalhando a cabeça em negativa e foi em direção ao banheiro com seu vestido.
—Você pode ir comigo e com o Pietro. - falei mudando de assunto.
—Eu não quero atrapalhar vocês.
—Você nunca atrapalha. - falei revirando os olhos. - Além do mais, estou de castigo lembra? Não é como se eu pudesse ir para qualquer outro lugar além de voltar para casa depois.
Ela apareceu na porta do banheiro fazendo um gesto para que eu fechasse seu vestido.
—Tinha esquecido desse detalhe. - ela fez uma careta.
—Sabe que só estou indo nesse baile porque prometi para Pietro e por você, não sabe? - perguntei puxando o zíper e prendendo o fecho. - Então não me venha com essa de atrapalhar.
—Tudo isso é por causa do Noah, não é? - perguntou, mesmo que soubessemos que ela já sabia a resposta. - Foi por isso que ficou daquele jeito estranho na escola hoje? Você anda bem pra baixo desde que ele desapareceu, mais desligada que o normal.
Ela se virou pra mim e eu assenti, ela me conhecia bem demais sem que eu precisasse falar.
—Eu não sei porque, mas eu não consigo tirar da cabeça o que aconteceu. - falei finalmente desabafando. - Eu fiquei triste pelo Evan, com raiva pelo que aconteceu, mas com o Noah eu fiquei perturbada e eu não se explicar o porquê.
Ela ajeitou uma mecha do meu cabelo e ajustou meu colar do mesmo jeito que uma irmã mais velha protetora faria, apesar que na nossa amizade esse papel era sempre meu.
—É porque você tem esse coração enorme que acolhe inteiramente algumas pessoas e as vezes absorve uma culpa que não é sua. Ele foi bom com você e você nem teve a chance de agradecê-lo por isso. - falou em um dos seus estranhos momentos de sabedoria. - Você sente isso porque quando olhou para ele e a família dele, viu a si própria e a seus irmãos e se sente impotente por não ter nada que possa fazer para ajuda-los. E, mesmo não o conhecendo direito, sei que o Noah era alguém especial, porque você sempre escolhe mais um estranho para fazer parte da nossa rodinha estranha que são suas pessoas favoritas no mundo.
Sorri para ela e a abracei, feliz por ter essa garota maluca na minha vida que sabia traduzir meus sentimentos e pensamentos como mais ninguém no mundo. Ficamos por um tempo assim até ela me afastar e dar um olhar de repreensão brincalhão.
—Seu namorado vai chegar daqui a pouco para te buscar e não vai querer que ele te encontre com cara de choro. Muito menos esse ar deprimido.
Sorrimos uma para a outra e ela deu um giro na minha frente.
—Como estou? - perguntou.
Seu vestido era vermelho, poucos centímetros mais curto que o meu e o decote era no mesmo formato de coração que o meu, mas as alças do seu eram finas. Ele era rodado e na linha abaixo do busto havia um belo bordado em contas douradas que chamava a atenção. Ela tinha escolhido um salto escarpin nude, deixando todo o destaque de sua produção no vestido que contrastava contra sua pele clara e os cabelos negros. Sua maquiagem era clara, dando um ar todo delicado que o batom vermelho escuro que usava quebrava. Ela estava linda. Uma mistura de sua personalidade, meiga e selvagem.
—Você está fantástica. - falei sincera.
—Obrigado. - agradeceu com um grande sorriso. - Agora nós duas estamos prontas para nos divertir muito.
—Sabe que isso é um baile escolar e não tem bebida alcoólica, não sabe? - falei a encarando. - E sabe também que não pode passar do ponto no quesito diversão porque vão ter professores monitorando tudo, não sabe?
Ela bufou.
—Da um tempo, eu não vou fazer nada demais. - seu sorriso malicioso me dizia outra coisa completamente diferente. - Vou apenas dançar.
—Sei...
Ela fuçou por entre as roupas que estavam encima da minha cama até encontrar uma pequena bolsa de pedraria e uma caixa preta que eu não tinha visto antes.
—O que tem ai dentro? - perguntei.
Ela abriu e para minha surpresa eram duas máscaras, uma dourada cheia de entalhes e uma preta de renda com pequenas pedras azuis.
—Acho que você estava tão desligada que não prestou atenção quando disseram que ia ser um baile de máscaras. - falou sorrindo e conquistando uma careta da minha parte. - Por isso eu fiz questão de comprar as nossas.
—Elas são perfeitas. - falei.
Ela fechou a caixa novamente e deu uma olhada em volta para garantir que não tinha esquecido nada.
—Teve algum sinal de vida da Ale hoje? - perguntou.
—Ela me mandou uma mensagem. Disse que houve um imprevisto na casa da avó dela e ela teve que pegar outro voo. - expliquei. - Ela disse que vai chegar atrasada.
—Safira! - gritou minha mãe das escadas. - Pietro já está aqui.
—Já estamos indo, mãe!
Peguei meu celular encima da cômoda e olhei para Marisol.
—Pronta? - ela me perguntou.
Respirei fundo e fui até a porta sentindo uma pontada de nervosismo.
—Pronta!
Eu não tinha ido a muitos bailes na minha vida, dois ou três no máximo e nunca tinha ido com ninguém antes além dos meus amigos. Hoje seria uma experiência totalmente nova, talvez pudesse fazer parte dos momentos do último ano escolar. Marisol e eu descemos as escadas juntas, um pouco ansiosas e encontramos Pietro parado no meio da sala conversando com a minha mãe. Ele estava de costas para nós, uma das mãos no bolso de forma despreocupada enquanto ouvia tudo que minha mãe dizia. Ele usava um terno preto impecável, parecia ter sido feito para ele, os cabelos estavam um pouco úmidos e bagunçados e havia mais alguma coisa, algo que eu não sabia explicar, mas era como uma aura que me fazia enxergá-lo de maneira totalmente nova. Ele nos viu chegar antes que pudéssemos terminar de descer o último degrau, primeiro com um olhar por cima do ombro, depois se virando completamente com os olhos focados diretamente em mim. Não foi um simples olhar de inspeção ou admiração, seus olhos me invadiram completamente, se tornando mais escuros a cada novo traço meu que eles captavam. Era como se eu pudesse sentir eles em minha pele, como um toque quente.
—Acho que alguém gostou muito do que viu. - sussurrou Marisol no meu ouvido com um sorriso maroto enquanto olhava na direção de Pietro.
—Ele não foi o único. - sussurrei de volta.
Minha mãe olhou para nós com um amplo sorriso, como se estivesse orgulhosa.
—Vocês estão lindas, meninas. - falou.
Marisol deu um beijo em sua bochecha e ela riu pela marca de batom que ficou ali.
—Muito obrigado pela ajuda, tia. - falou.
—Obrigado mesmo, mãe. - falei também dando um beijo em sua bochecha.
—Não tem porque agradecer, queridas.
Me virei para Pietro, ele ainda não tinha dito nada e continuava a me encarar, tornando o sorriso que abri um tanto constrangido.
—Oi. - falei.
—Oi. - falou parecendo um pouco sem reação. - Você está... Deslumbrante.
Sorri sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas.
—E você está ótimo. - falei. - Roupas sociais caem bem em você.
—Porque parece tão surpresa com isso? - perguntou arqueando a sobrancelha.
—Porque para alguém que não gosta do mundo dos negócios, esse visual combina muito com você.
Ele fez uma careta, mas um lento sorriso se espalhou por seus lábios e meus olhos ficaram focados por um momento ali, lembrando da noite anterior. Levantei meu olhar e ele ficou preso ao seu pelo que pareceu um longo tempo, como se estivéssemos presos na mesma lembrança, pelo menos até Marisol pigarrear ao nosso lado. Ela tinha um sorriso divertido nos lábios ao nos observar
—Essa tensão toda está me sufocando. - falou fazendo com que nós dois ficássemos constrangidos e que eu sentisse uma profunda vontade de pisar em seus dedos do pé. - Que tal irmos?
Lancei um olhar zangado para ela, mas como sempre, ela nem se importou, apenas sorriu com inocência. Dei um abraço em minha mãe, que parecia entretida com toda a cena a sua frente, e ela ajeitou meu cabelo com um pequeno sorriso.
—Divirtam-se e tomem cuidado. - falou e olhou para Pietro. - Cuidado na estrada também, está começando a nevar e vocês sabem como essas ruas são perigosas.
—Vamos tomar. - falou Pietro. - Não se preocupe.
Minha mãe sorriu para ele e tocou sua bochecha com carinho, não havia dúvidas que ela o adorava.
—Obrigado, querido. - falou. - Agora saiam logo daqui e vão se divertir.
**********
Começou a nevar um pouco mais forte quando chegamos na escola, pequenos montes brancos já se formavam em todos os lugares deixando o ambiente muito mais bonito e eu fiquei agradecida por minha mãe ter nos obrigado a pegar um casaco. Eu sempre adorei a neve, achava que ela dava um toque quase mágico aos lugares, frágil e belo como o gelo. Pietro parou o carro em uma vaga que não ficava muito distante do prédio onde era o ginásio e para minha surpresa Diego nos esperava lá, encostado debaixo de uma cobertura com os braços cruzados. Ele usava um terno também, a gravata um pouco frouxa, os cabelos escuros despenteados por causa do vento e mesmo sob a máscara dourada que cobria seu rosto ele tinha um ar de garoto emburrado. Marisol soltou um suspiro no banco de trás e tanto eu como Pietro sorrimos.
—Ele tinha que tornar as coisas mais difíceis para mim sendo tão bonito? - resmungou, mas eu não sabia se era mais um questionamento aberto ou estava perguntando a si mesma.
—Alguns dias atrás você disse que gostava de problemas. - falou Pietro franzindo a testa. - Então porque isso é algo ruim?
Marisol chacoalhou a cabeça.
—Garotos! Nunca entendem nada.
Pietro olhou para mim em busca de socorro, mas eu apenas sorri. Marisol me entregou a caixa onde estava a minha máscara e colocou a sua, saltando do carro quando Pietro mal tinha desligado o motor. Abri o quebra-sol e coloquei minha máscara, ficando feliz ao ver que ela se encaixou perfeitamente no meu rosto e que deixou meus olhos ainda mais destacados.
—Ficou bom? - perguntei me virando para Pietro.
Ele também tinha colocado sua máscara, ela era toda preta e só cobria metade do seu rosto, dando um toque mais misterioso e sombrio a suas feições. Ele me encarava de forma intensa e, sob a fraca luminosidade que tínhamos dentro do carro seus olhos pareciam quase negros. Umedeci meus lábios que tinham ficado repentinamente secos.
—Você está perfeita. - falou com a voz um tom mais rouca.
—E isso é algo ruim?
Ele engoliu em seco.
—O bastante para me fazer perder o controle.
Eu não sei se foi um dos meus momentos impulsivos ou algo na sua voz que despertou a minha coragem, mas levei minha mão até sua gravata e fechei meus dedos ao redor dela a puxando e forçando que ele se aproximasse de mim até que eu pudesse sentir sua respiração no meu rosto.
—Não é ruim perder o controle as vezes.
Ele fechou os olhos como se tentasse buscar pelo controle e soltou algo como um grunhido frustrado, para sem seguida, parecendo perder para qualquer briga interna que estivesse tendo, me beijar. Não foi delicado e fiquei surpresa com sua intensidade, não que fosse algo ruim, estava mais do que disposta em falar para ele para continuarmos por ali um tempinho quando uma batida no vidro nos assustou.
—Vamos logo! - falou Marisol do lado de fora. - Vocês podem dar uns amassos mais tarde.
—Eu não sei se agradeço a ela por me manter focado ou deixo ela voltar embora a pé por ter prazer em atrapalhar. - resmungou Pietro apoiando a testa no meu ombro. - A última ideia é bem tentadora.
Eu ainda estava um pouco sem fôlego, mas sorri e acariciei seus cabelos o fazendo erguer a cabeça.
—Experiência adolescente normal, tá lembrado? Essa situação está dentro da lista.
—Isso ainda não me faz mudar de ideia.
Eu ri e sai do carro com ele ainda resmungando sobre Marisol. Ele trancou o carro, Marisol mostrou a língua pra ele, deixando claro que tinha escutado o que ele tinha dito, e começamos a caminhar em direção do ginásio. O pessoal que tinha ficado responsável tinha feito um trabalho incrível deixando o ginásio quase irreconhecível. Luzes coloridas giravam presas ao teto, o globo espelhado dando um ar retrô enquanto um DJ animava de sua mesa arrumada na outra extremidade do local. Tudo estava decorado em preto e branco, havia máquinas de fumaça nos cantos e enfeites que deixaram todo o local com um ar de mistério. Havia uma grande mesa com variados tipos de comida e uma outra reservada para o ponche. Marisol trocou um olhar comigo mostrando que tinha pensado a mesma coisa, estava fantástico. Havia pessoas mascaradas por todos os lados, paradas em grupos ou dançando no meio da pista ao som de uma música agitada que eu não conhecia.
—Que tal a gente dançar primeiro e depois procuramos o pessoal? - Marisol gritou para mim por cima do som alto da música.
—Eu não gosto muito desse tipo de música, principalmente para dançar. - falei.
Não era que eu não gostava, eu apenas não estava entre a melhor das dançarinas. Como se ouvido o que eu disse e apoiando a inciativa de Marisol o DJ mudou a música para uma um pouco mais lenta, mas ainda sim com um ritmo animado. Marisol abriu um sorriso malvado para mim, agarrou na mão de Diego e o arrastou para o meio da pista. Pietro sorriu para mim e me estendeu a mão, parecendo divertido com a situação.
—Senhorita? - perguntou.
Fiz uma careta para ele, mas peguei em sua mão e nos juntamos aos outros casais na pista.
***********
Não pensei que pudesse conseguir mergulhar realmente no clima do baile, mas eu estava enganada. Pietro me fez rodopiar e eu ri, feliz por não tropeçar em meus próprios pés e por conseguir acompanhar seus passos, o que fazia com que seu sorriso se ampliasse cada vez mais a cada vez que nossos olhos se encontravam.
—Não sabia que dançava bem. - falou alto em meu ouvido para que eu conseguisse escutar.
—E eu não danço. - falei. - Marisol apenas me ensinou alguns passos para que eu não passasse vergonha.
Ele riu e me puxou novamente para perto de si.
—Mesmo assim está se saindo muito bem. - falou com aprovação.
—Obrigado.
A música terminou e caminhamos em direção a um canto perto das escadas onde meus amigos estavam. Tínhamos encontrados todos após dançar duas músicas e tínhamos feito dali nosso ponto de encontro. Marisol ainda estava na pista de dança com Diego, Alexandra descansava apoiada em Christopher e Dimitri dava apoio para sua acompanhante, Rachel, enquanto ela arrumava sua sandália. O cabelo dela era longo, liso e castanho escuro, seus olhos tinham uma tonalidade de verde que me lembrava muito as folhas das árvores na primavera, seu rosto tinha traços delicados e bem marcados, fazendo ela aparentar ser mais jovem do que realmente era. Ela com toda certeza era a mais baixa de nós, não devia chegar a 1,60m, porque mesmo de salto não chegava perto da nossa altura. Seu vestido era azul escuro e tanto o decote comportado quanto a barra da saia rodada tinham detalhes em renda, dando um toque tanto sensual quanto delicado a seu visual. Eu a conhecia apenas de vista e nome, mas sabia, mesmo que ele não falasse abertamente, que Dimitri tinha uma pequena queda por ela.
—Ela não cansa nunca? - perguntou Ale apontando para Marisol em toda sua energia no meio da pista de dança.
Sorri e chacoalhei a cabeça.
—Meio improvável. Sabe como ela é quando o assunto é dançar.
—Estou morrendo de sede. - falou Pietro ao meu lado afrouxando sua gravata. - Vou buscar uma bebida, você quer?
—Quero sim, se você puder me trazer.
—Mas alguém quer? - perguntou aos outros.
—Eu agradeceria muito. - falou Alexandra. - Não estou com pique de atravessar essa multidão.
Os outros apenas chacoalharam a cabeça em negação.
—Eu vou aproveitar a deixa e ir ao banheiro. - falou Rachel. - Esse é o melhor momento antes que as garotas comecem a beber demais.
Pietro deu um beijo em meu rosto e fez um gesto para que Rachel fosse na sua frente, depois os dois desapareceram na multidão rumos aos fundos do ginásio. Eu ficava feliz em vê-lo mais despreocupado entre os meus amigos, mesmo com Dimitri, com quem tinha se tornado tremendamente receoso. Dimitri arqueou a sobrancelha em questionamento quando me viu o encarando e eu apenas chacoalhei a cabeça em um gesto de que não era nada. Ele fez uma careta descontente, mas me estendeu a mão e fez um gesto com a cabeça em direção a pista. O olhei desconfiada.
—Sério? - perguntei.
—E porque não? - deu de ombros.
Caminhei junto com ele para o meio da pista e ele começou a me guiar. Em apenas alguns passos eu tinha pisado em seu pé duas vezes, mas Dimitri parecia animado demais para se incomodar com isso, então toda vez que eu errava, ele apenas parava e me ensinava a como fazer o passo correto. Chegava ser uma cena até um pouco engraçada.
—O que foi? - perguntou quando me viu sorrindo.
—Nada, pé de valsa, estou apenas apreciando atentamente suas instruções. - respondi alargando meu sorriso.
—Só estou evitando que meus dedos saiam muito prejudicados até o final da música.
Tentei pisar no seu pé, dessa vez de propósito, mas ele o tirou do caminho enquanto ria da minha expressão.
—Relaxa, sei que não é nenhuma dançarina profissional. - falou. - Ainda acho um milagre não ter conseguido torcer o pé usando esses sapatos.
—Com certeza não foi por falta de oportunidade.
Sorrimos um para o outro e ele me girou.
—Obrigado. - falei quando a música chegava ao seu fim.
—Pelo que? - perguntou franzindo a testa.
—Por estar sendo legal com ele.
Ele não precisou de explicação para entender a quem eu me referia.
—Não sou o maior fã do seu namorado, mas isso não quer dizer que eu odeie ele. - explicou. - Então não tem porque eu tratar ele mal, pelo menos não o tempo todo.
De certa maneira fazia sentido.
—E por falar nele... - olhei para nossa rodinha e Pietro não estava lá. - Pietro está demorando com as bebidas.
—Vai ver foi abordado por um monte de garotas malucas desesperadas para dançar com alguém.
—Olha, isso não é improvável. - falei rindo. - Então acho que é melhor eu ir salvá-lo.
Soltei a mão de Dimitri e mergulhei na multidão rumo a mesa de bebidas. Depois de desviar de alguns casais e ganhar alguns pisões no meu pé, cheguei até a mesa e não encontrei ninguém. Dei mais uma olhada em volta e dei um passo para voltar para os meus amigos quando, apenas por reflexo, meus olhos foram para as portas do ginásio. As luzes coloridas e a fumaça atrapalhavam um pouco, mas ainda assim eu fui capaz de reconhecer Pietro, sua máscara não escondia muito sua identidade. Ele deu uma rápida olhada em volta, como se quisesse garantir que ninguém estivesse prestando atenção nele e desapareceu pelas portas duplas.
Eu não sabia explicar o porquê, eu nem mesmo chegava a estar pensando em alguma coisa, mas era como se algo em mim piscasse um alerta de que alguma coisa estava errada, então, quando dei por mim, minhas pernas estavam me guiando em direção a porta. Porque de uma coisa eu sabia, ele com certeza não estava indo buscar bebidas.
*********
Nota da autora:
Olá pessoal, sei que faz muito tempo que não posto aqui e já peço mil desculpas por isso, sei que muitos já devem estar me odiando (ou me matando mentalmente) por toda esse demora. Com toda a loucura que anda minha vida, principalmente na faculdade (provas, trabalhos, projetos, eventos), as vezes eu fico sem tempo ou tão cansada que não consigo sequer olhar para um capítulo (e eu não gosto de posta-los sem antes dar pelo menos uma revisada). É final de ano, então as coisas estão bem corridas para mim, assim como para qualquer outro estudante, então espero que possam entender porque ando tão ausente nas postagens assim.
Como uma recompensa para vocês e como o livro já está em seus últimos capítulos, até o natal pretendo postar ele completo. Não prometo dias específicos de postagem, mas acho que todos merecem que eu acabe logo com esse "primeiro capítulo" da história. Então, peço a vocês apenas mais um pouco de paciência, porque vai valer a pena (pelo menos eu espero que sim kkkkk).
Bem, espero que tenham gostado.
Boa Leitura!
*Não esqueçam de deixar votos e comentários. Bjs.
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