Capítulo 45
Não demorou muito tempo para que Noah assumisse a liderança novamente e dessa vez Dimitri decidiu ir com ele, não sem antes implicar comigo por tê-lo puxado. Pietro diminuiu o passo para caminhar ao meu lado e por vários segundos ficamos caminhando no mais absoluto silêncio. Ele estava perdido em pensamentos e parecia não prestar a mínima atenção na direção em que estávamos indo.
—Está tudo bem? – perguntei em voz baixa depois de um tempo.
—Vai ficar. – falou iluminando uma árvore caída. – Eu tenho que... Tenho que lidar com o meu medo mais cedo ou mais tarde. Não posso me apavorar para sempre com medo de perder o controle toda vez que vejo sangue.
Lembrei da história que ele me contou no jantar onde nos conhecemos, em como um acidente tinha atrapalhado seu sonho ser médico. Eu não conhecia muitas pessoas com fobia de sangue, para falar a verdade ele era a primeira, e eu não sabia muito a esse respeito, mas pelo que podia ver a coisa devia ser bem séria.
—Sei que não se compara ao que você passou, - falei. – mas todos temos medos que consideramos idiotas.
—Até onde pude conhecer você, Safira, não me parece uma pessoa que tem muitos medos. – falou esboçando um pequeno sorriso.
Sorri de lado e iluminei um grupo de árvores de forma curiosa.
—Eu tenho pavor de tempestades. – confessei. – Basta uma ventania um pouco mais forte e eu começo a entrar em pânico.
Ele deteve o passo e ficou me encarando por um tempo, como se processasse o que eu tinha acabado de contar. Pude ver em seus olhos a força que ele teve que fazer para conter uma risada. Eu sabia que era um medo bem estúpido, mas não podia fazer nada.
—Tempestades? Sério? – perguntou com descrença.
—Muito sério. – falei. – Cada pessoa aparentemente corajosa tem um medo que considera bobo, mas que é grave de alguma maneira a ponto de assusta-la.
—Isso é profundo. – falou iluminando mais à frente. – E qual o seu maior medo?
—O que estamos passando agora. – respondi.
—Andar por uma floresta escura e perigosa?
—Não. – chacoalhei a cabeça e olhei para o céu que parecia ainda mais escuro. – A possibilidade de perder mais alguém que amo.
Pietro se calou. Em todo aquele tempo bem que estávamos vagando pela floresta o silêncio não pesou tanto como uma presença quanto naquele momento.
*********
O silêncio era incomodo, mas ninguém proferiu uma única palavra por boa parte do caminho, a não ser quando fazíamos pausa para gritar os nomes dos nossos amigos. Eu não sabia bem a quanto tempo estávamos andando, mas estava começando a ficar cansada e com sede.
—Alexandra! Christopher! Evangeline! Deniel! – gritei mais uma vez.
Ficamos em silêncio a espera de uma resposta, mas não houve nada, assim como das últimas vinte vezes. Eu já estava ficando frustrada com tudo aquilo.
—Alguma notícia das outras equipes? – perguntei a Noah.
—A equipe de Nikolay achou algumas marcas frescas de sapatos fora das trilhas a oeste daqui, mas são de apenas uma pessoa. – falou.
—Sam? – questionou Pietro.
—É possível. – concordou Noah. – E levando em consideração o caminho que ele está seguindo, provavelmente está desorientado. A oeste daqui só tem uma cachoeira com uma queda suicida. É ruim se arrumar por lá sem equipamento de dia, no escuro e despreparado é morte certa.
—Se ele foi atacado também faz sentido que esteja desorientado. – falei.
—Ou ele fez uma burrada e entrou em pânico. – falou Dimitri. – Ai ele quis fugir e acabou se perdendo.
—Acha mesmo que ele fez aquilo com a Jess? – perguntei.
Dimi deu de ombros, não parecendo sofrer das mesmas duvidas que eu.
—Talvez, não é algo improvável. – falou. – Mas eu também não sei os tipos de animais que tem por aqui, então...
—Por aqui os mais inofensivos. – falou Noah. – Já do outro lado da...
Um rosnado alto fez com que ele parasse no meio da frase. Nenhum de nós se moveu, mas o rosnado se repetiu e parecia muito mais próximo dessa vez, assim como o barulho de galhos se quebrando.
—Ninguém se mexe. – sussurrou Noah erguendo sua arma devagar.
Ele nem precisava pedir duas vezes.
—O que foi? – sussurrou Pietro.
Noah ergueu o indicador e apontou para a esquerda em direção a um arbusto que era maior do que todos os outros. Em meio a galhos e árvores havia um par de olhos amarelados nos encarando furiosos e presas longas e afiadas que brilhavam pelo reflexo de nossas lanternas. Seu pelo se misturava a escuridão e eu tinha apenas um vislumbre do seu tamanho, mas isso por si só não me deixou muito feliz. Um lobo. Havia algo de perturbador nos olhos daquele animal, anormal, algo que dizia que estaríamos em uma encrenca muito grande em pouco tempo. Senti um arrepio subir por minha espinha e dei um passo vacilante para a frente, um movimento involuntário, mas foi tudo que precisou para chamar a atenção do lobo e tudo desandar.
Eu não sei exatamente como as coisas aconteceram, tudo foi como um grande borrão. Escutei um rosnado furioso cortar a noite, Noah engatilhando sua arma e a voz aflita de alguém gritando meu nome, mas não consegui processar nada. Um corpo grande e pesado se jogou contra o meu e senti o ar fugir dos meus pulmões quando minhas costas bateram no chão, ao mesmo tempo em que meu tornozelo explodia em uma dor tão forte que me fez ver pontos vermelhos diante dos olhos. Minha visão estava embaralhada e meu cérebro meio confuso por causa da dor para saber o que estava encima de mim, então tudo que eu podia fazer era continuar deitada. Fechei meus olhos por alguns minutos e contei longas respirações, as que consegui dar, até abrir os olhos novamente e conseguir enxergar o céu.
Por cima da copa das árvores havia um bonito céu estrelado, algo que em qualquer outro dia eu gostaria muito de ficar parada ali olhando, ainda mais longe de todas as luzes da cidade, mas não com meu pé sofrendo de uma dor infernal e com um corpo pesado esmagando o meu e dificultando para que eu respirasse. Quando minha cabeça finalmente parou de girar e pude ver a floresta novamente como ela realmente era, através de uma camada de terra e folhas que tinha sido jogadas no meu rosto, consegui identificar meu salvador/esmagador pelo cheiro do perfume. Dimitri estava apenas com metade do corpo sobre o meu, mas era o suficiente para manter a nós dois imóveis.
—Dimi.., - sussurrei com dificuldade. – Eu não estou conseguindo respirar direito.
Ele soltou um grunhido de dor, o que pareceu até curioso já que eu tinha amortecido boa parte de sua queda, e rolou de lado permitindo que eu finalmente pudesse respirar. Nunca fiquei tão feliz em sentir cheiro de poeira na minha vida quanto naquele momento.
—Se minha costela não estivesse tentando furar meu pulmão agora eu poderia fazer uma piada sobre isso. – sussurrou entre um resmungo de dor e uma risada.
—Ia falar que costuma ter esse efeito nas garotas? – perguntei. – É meio batida essa, camarada. E olha que nem foi você quem caiu por baixo.
—Desculpa se tentei salvar você. – resmungou. – Na próxima vez deixou o lobo levar um pedaço seu. A gente tenta ajudar e é isso que recebe. Pessoa ingrata.
Virei minha cabeça sentindo um latejar que seria um problema mais tarde e olhei para ele. Dimitri estava deitado a não menos do que alguns centímetros de mim, olhava para cima e de sua testa escorria um fino filete de sangue que estava descendo até o seu nariz.
—O que aconteceu com a sua testa? – perguntei preocupada.
Ele ergueu a mão e tocou o machucado, fazendo uma careta pela dor na costela que eu nem tinha visto como ele conseguiu machucar, provavelmente quando nos arremessou no chão.
—Eu bati em uma pedra quando caímos. – falou. – Mas e você, está tudo bem?
—Machuquei meu tornozelo. – falei e tentei mover meu pé esquerdo, mas a dor foi imediata e parei com ele onde estava. – Acho que ele ficou de mal jeito quando caímos e está doendo muito. Mas agora o importante é sabermos o que diabos aconteceu aqui.
—Eu só lembro do lobo pulando na nossa direção e... – falou e franziu a testa. – As coisas ficaram meio confusas depois disso.
Me levantei com dificuldade, resmungando pela dor no meu tornozelo e olhei para o meu lado esquerdo. A meio metro de distância de nós havia uma massa gigante e inerte de pelos negros sob uma poça de sangue. Minha cabeça ainda estava confusa para lembrar de tudo com clareza, mas o som de um tiro não fazia parte das minhas primeiras lembranças.
—Pietro? Noah? – chamei.
—Aqui! – grunhiu Pietro a poucos metros de distância. – Você está bem?
—Parcialmente. – falei tirando o cabelo e a terra do meu rosto. – E você?
Eu estava tentando não me mover muito e respirava o mais suavemente que podia, meu corpo ainda estava processando todas as dores que sentiria e eu sabia que não seriam poucas. Dimitri ainda estava deitado no chão ao meu lado, sua camiseta estava toda suja de terra e agora tinha um buraco na lateral, seu cabelo caia na testa e se misturava ao sangue a terra que estavam borrando seu rosto. Ele parecia apenas um pouco melhor do que eu. Pietro parecia atordoado, sua camiseta branca estava destruída, suja com terra e sangue junto de perfeitas marcas de garra. Meu coração gelou e arregalei os olhos.
—Pietro... O que aconteceu? – perguntei tentando me levantar e ir até ele.
Ele olhou para si próprio e tocou o peito onde estava as marcas de garra parecendo surpreso, como se só agora tivesse notado que alguma coisa tinha acontecido.
—Ah, pegou de raspão apenas. – falou tentando me tranquilizar. – Noah foi bem rápido no gatilho.
Olhei para o outro lado e encontrei Noah recostado contra uma das árvores. Ele ainda tinha a arma empunhada, sua respiração estava ofegante e ele encarava o escuro como se ele pudesse revelar algum grande mistério. De todos nós ele era o único que parecia ileso.
—Noah... Você está bem?
—Eu... Estou sim. – falou assentindo e seus olhos repousaram no corpo do lobo. – Essa foi por pouco.
—Você tem uma ótima mira, mas eu adoraria saber o que acabou de acontecer aqui.
—Ele se assustou com um barulho. – falou Pietro se levantando com um pouco de dificuldade. – Um grito veio não muito longe daqui pouco depois dele aparecer. Acho que nos viu como uma ameaça.
Eu não me lembrava de ter ouvido nada. Vozes, uma garota a beira da morte e um lobo raivoso. Essa noite estava ficando cada vez melhor. Isso apenas me fazia ver mais ainda o quanto as coisas estavam estranhas e, de certa forma, me fazia sentir falta dos tempos em que, quando achávamos que havia algo no escuro, era apenas nossa imaginação pregando uma peça. Olhei novamente para a massa de pelos que o lobo agora era e me permiti ficar perdida em pensamentos por um instante. Quando o lobo estava me encarando eu tinha notado algo perturbador nele, mas na hora do pânico eu não tinha prestado muita atenção, mas agora parecia mais claro. Agora, por mais estranho que fosse, eu senti, foi apenas por um momento, como se outros olhos nos observassem através dos olhos dele. Eu não sabia dizer de onde esse pensamento tinha vindo, mas de alguma forma ela parecia fazer muito sentido.
—Só eu que achei que tinha algo de errado com esse lobo? – perguntei.
—Não foi só você. – concordou Noah. – Alguma coisa o assustou. Mexeu com ele para que viesse para cá e o irritou. Os lobos não vem para essa parte da floresta.
—Da para essa noite ficar mais estranha? – perguntou Dimitri.
Ele finalmente tinha se sentado e olhava ao redor com desconfiança, como se suspeitasse que outro lobo estava à espreita e pronto para nos atacar a qualquer instante. Eu não o culpava por isso, nada nessa floresta me transmitia confiança e sentia isso com cada vez mais força a cada passo que dava.
—Dimi, isso é uma coisa que nunca se deve perguntar. – falei chacoalhando a cabeça. – As coisas sempre podem ficar mais estranhas ou piores. Mas ficar aqui debatendo sobre isso não vai nos ajudar agora, precisamos continuar.
Pietro lançou um olhar preocupado na minha direção. Eu não sabia qual era minha aparência agora, provavelmente não era uma das melhores, mas não tínhamos tempo. Se em tão pouco tempo nós estávamos passando por todos esses problemas, eu nem queria imaginar tudo que os outros tinham passado até agora perdidos por ali. Sem dizer nada, Pietro andou até onde eu estava, se ajoelhou na minha frente, dobrou a barra da minha calça e começou a examinar meu tornozelo. Todo mundo estava querendo mostrar alguma habilidade especial hoje pelo visto.
—Não vamos a lugar nenhum antes que eu dê uma olhada no seu tornozelo. – falou.
Levei minha mão até onde estava as marcas da garra do lobo, o tecido da camiseta estava rasgado e com um pouco de sangue, mas não permita que eu visse o machucado. Assim que toquei o ferimento, Pietro se contraiu como se sentisse dor e levantou a cabeça encontrando meu olhar preocupado.
—Eu estou bem, não precisa se preocupar. – garantiu com um pequeno sorriso. – Foi apenas um arranhão. Minhas chances de vida ainda são altas.
Era claro que ele estava falando aquilo apenas para me tranquilizar, mas achei melhor não insistir no assunto e voltei minha atenção para o tornozelo que ele examinava. Havia algumas marcas vermelhas no meu pé e arranhões, mas isso deveria ser dos galhos que chutei e de todas as vezes que tropecei, já meu tornozelo estava de uma coloração vermelha nada agradável. Ele pegou meu pé com delicadeza e o virou suavemente para o lado, examinando, mas aquilo foi o mesmo que uma tortura. Afundei meus dedos na terra e ofeguei de dor. Meu Deus, como aquilo doeu!
—Você não tem condições de ficar andando pra lugar nenhum com o tornozelo assim. - falou soltando meu pé com delicadeza. – Não vai conseguir nem mesmo apoiar esse pé no chão.
Seu rosto estava sério e preocupado, eu sabia que ele não tinha culpa e que estava certo, eu nem conseguia me levantar sozinha por causa daquela droga de tornozelo, mas de maneira nenhuma isso iria me impedir de continuar o que estávamos fazendo.
—Eu não vou ficar sentada aqui esperando ajuda. – falei olhando em seus olhos. – Estamos em uma busca e vamos continua-la da maneira que pudermos. Porque eu não volto para a pousada sem aqueles quatro.
—Sabemos que é durona, Safira, mas você não está em condições de andar pra lugar nenhum! – falou com seriedade.
Arrastei com dificuldade meu pé machucado para trás e com lágrimas de dor borrando minha visão, fiquei de joelhos. Meu tornozelo latejava e agora que minha mente estava mais lúcida a dor parecia duas vezes mais forte.
—Ainda tenho um pé bom e posso andar me arrastando se for necessário. – falei o olhando desafiadoramente. – Mesmo que houvesse uma possibilidade de eu ficar, o que não é o caso, vocês não iriam me deixar sozinha e mais alguém teria que ficar por aqui, o que reduziria ainda mais a equipe. Se mais alguma coisa acontecer no meio do caminho as coisas poderiam se complicar, já tivemos exemplos disso. Não estou pedindo que me esperem e nem que se retardem por minha causa, estou apenas falando que eu vou junto.
Pietro passou a mão no cabelo parecendo frustrado e tomou uma profunda respiração.
—Porque você tem que ser tão teimosa? – perguntou tentando manter a calma. – Você só vai piorar seu tornozelo se forçar ele.
—Possa dar conta disso. – falei dando de ombros. – O que você tem que entender é que estamos falando dos meus amigos. E eles estão em perigo. E eu vou ajuda-los.
Pietro chacoalhou a cabeça novamente, como se não acreditasse no que eu estava dizendo e se virou para Dimitri.
—Tem como você convencê-la a ficar? – perguntou como se eu não estivesse ali.
Eu poderia rir. Dimitri me convencer de alguma coisa tinha quase a mesma taxa de sucesso de eu convence-lo. Dimitri olhou para Pietro e depois seu olhar encontrou o meu, e assim ficamos por alguns segundos, presos em uma conversa sem palavras. Um brilho súbito de compreensão se acendeu em seus olhos e ele chacoalhou a cabeça, como se finalmente tivesse entendido um grande mistério. Ele abanou a sujeira das roupas e passou a mão no cabelo para tira-lo dos olhos, nem se importando com o machucado na testa.
—Não tem nada que você, eu ou qualquer outro diga que vai fazer com que ela mude de ideia. Enquanto aqueles quatro não estiverem aqui, ela não vai sossegar. Como namorado dela, você mais do que ninguém deveria saber disso. – falou de uma maneira surpreendentemente dura. – Safira se preocupa demais e esse é o maior problema dela. Não tem como negociar com isso. Então podemos dar um jeito de continuar procurando os outros ou você pode perder tempo discutindo com ela em uma batalha perdida. Você escolhe.
Eu tinha que admitir que Dimitri me conhecia muito bem. Ele não me perguntava e eu não falava muito coisa, mas de alguma maneira, do seu jeito, ele sabia. Pietro ficou apenas encarando ele, confuso e irritado, mas Dimitri não deu a mínima. Eu sabia que ele estava apenas preocupado comigo e eu apreciava isso, mas ele deveria saber que ficar parada não era da minha natureza. Noah assistia toda a cena a distância parecendo completamente confuso e perdido, como se nem soubesse o que estava acontecendo. Sua expressão era no mínimo cômica.
—Acho bom eu me lembrar de nunca teimar com você. – falou abrindo um pequeno sorriso de lado assim que encontrou meu olhar. – E já que você vai com a gente, vou procurar algo que sirva como uma muleta.
Ele não se mostrou contra a minha ida, embora olhasse para o meu pé com preocupação A compreensão dele foi o suficiente para que eu me sentisse agradecida e sorrisse.
—Obrigado! – sussurrei.
Ele assentiu e foi atrás de alguma coisa que me serviria como muleta. Dimitri parou ao meu lado e me estendeu a mão para me ajudar a levantar.
—Foi um salvamento quase perfeito. – brincou.
Peguei em sua mão e ele me ajudou a ficar de pé, sem apoiar o que estava ferido no chão. Ele colocou uma mão de apoio na minha cintura e eu passei o braço ao redor do seu pescoço para me firmar.
—Isso quase te torna um herói. – brinquei de volta.
—Ser incrível da nisso. – falou sorrindo e todo cheio de si.
Revirei os olhos, mas um pequeno sorriso escapou por meus lábios.
—Menos, por favor.
—Acho que seu namorado ainda tem que aprender muito sobre você. – falou de modo mais sério. – Parece que ele ainda não sabe o quanto você é teimosa e que não aceita ordens. Estou admirado de ainda não saber.
Olhei para onde Pietro estava parado de costas e irritado a alguns metros de nós, encarando uma pedra como se fosse uma fabulosa obra de arte. Desde que encontramos Jess eu sentia que alguma coisa o estava perturbando, talvez fosse aquela mesma sensação inquietante que eu vinha sentindo, ou outra coisa que eu nem podia imaginar. Vindo dele nunca dava para ter certeza. Mesmo quando me contava, eu sempre tinha a sensação que a vida dele era rodeada por um tornado de segredos.
—Acho que no fundo ele sabe sim. – falei. – Só tem dificuldade em aceitar.
Ficamos em silêncio por um tempo. Não havia ruídos noturnos ainda, o que era perturbador, mas uma leve brisa começava a soprar.
—Você se lembrou dela não é? – perguntou Dimitri em voz baixa. – Quando encontramos a garota.
—O que? – perguntei confusa.
—Tâmara. – explicou. – Você se lembrou dela, não é? Por isso que quando entrou em pânico ao invés de congelar, você foi ajudar ela. E é por isso que está querendo ir atrás dos outros mesmo machucada. Acha que é sua obrigação salva-los.
Então ele tinha notado o que eu mesma não tinha visto na superfície.
—Ver Tâmara daquele jeito foi a pior experiência da minha vida. Então enquanto estiver no meu alcance evitar que algo como aquilo aconteça com mais alguém com quem me importo, eu vou fazer. – falei e franzi a testa olhando para ele. – Mas como você notou?
—É simples. – falou começando a andar e a basicamente me arrastar junto. – Quando você está com medo liga o piloto automático pra ficar discutindo com você mesma.
—Não posso dizer que você não é observador.
Ele abriu um pequeno sorriso e continuou a andar.
—Me subestimar é um erro, moça. – falou me dando uma piscadela. – Agora vamos encontrar uns amigos perdidos.
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Nota da autora:
Olá pessoal, sei que faz um bom tempo que não posto nada, mas dessa vez a culpa não é inteiramente minha. Meu notebook passa mais tempo me impedimdo de escrever do que ajudando, então já viram. E a minha porcentagem de culpa é que estou desanimada. Desculpem. Acho que vão se acostumar com isso, porque as postagens não vão ser mais frequentes como eram antes, mas vou me esforçar.Sei que to bem atrasada, mas quero dedicar esse cap a Luahfermino, que fez aniversário a um tempinho a trás e eu devia esse presente a ela. Obrigado por todo o apoio e por não me deixar desanimar. Feliz aniversário atrasado!
Bem, espero que gostem.
Boa Leitura!
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