Capítulo 37
Com a ajuda de Jasmine, levamos meu irmão de volta até o Meia-Lua. Jacob estava com a boca e o nariz sangrando, um corte na sobrancelha, um olho que estava começando a inchar e uma marca no queixo que já estava querendo ficar roxa. Assim que entramos, todos que estavam curtindo a noite se viram para nós, mas não dei a mínima importância para isso, tinha algo mais importante para fazer. Agora que a adrenalina do momento estava saindo do meu organismo, eu sentia uma dor irritante na minha mão direita, que estava com os nós dos dedos vermelhos. Quando me aproximei da mesa onde as meninas estavam, elas rapidamente levantaram e eu coloquei Jacob sentada na que era minha.
—Meu Deus, o que aconteceu? – perguntou Alexandra de olhos arregalados.
—Dimi, você pode pegar um saco de gelo e uma toalha para mim? – perguntei para ele que estava debruçado no balcão e parecia perdido demais na cena para prestar atenção em mim. – Dimitri!
Ele piscou, recobrando a atenção e se voltou para mim.
—Oi? – perguntou.
—Pode pegar um saco de gelo e uma toalha para mim?
—Claro. – falou se afastando do balcão. – Já trago.
—Repetindo. – falou Marisol. – O que diabos aconteceu?
Mas não foi preciso que eu respondesse. No mesmo momento que Marisol perguntou, Raymond entrou sendo rebocado por seu irmão Drew e uma garota de cabelo vermelho que eu não conhecia. Eles se sentaram na ponta mais distante do balcão, mas isso não evitou os olhares curiosos que somaram dois mais dois. Olhando agora na luz, eu podia ver algumas marcas vermelhas no queixo de Raymond e um corte na sobrancelha, mas o que realmente chamava atenção era seu nariz. Estava muito inchado e vermelho, ele tentava estancar o sangue com a camiseta, mas não estava surtindo muito efeito.
—Uou. – falaram Marisol e Alexandra ao mesmo tempo.
—Bom golpe aquele em Jake. – falou Dimitri se aproximando.
Ele me entregou o saco de gelo, que passei para meu irmão colocar no olho inchado, e a toalha, que Jasmine pegou e começou a limpar o rosto dele. Jacob soltou uma risada baixo e chacoalhou a cabeça enquanto fazia uma careta.
—Acredite ou não, mas aquele nariz quebrado é obra da Safira. – falou.
Meus três amigos se viraram para mim de olhos arregalados.
—Safira! – falaram.
—Eu! – falei me sentando em uma das cadeiras. – Ele estava batendo no meu irmão, queriam que eu fizesse o que?
—Acho que os anos que passou me batendo valeram a pena. – falou Dimitri pensativo. – Você fez um estrago e tanto ali. Por nada viu.
Revirei os olhos para ele que sorria, parecendo realmente satisfeito.
—Nada se compara ao chute no verdadeiro estilo quebra nozes que ela deu nele. – falou Jasmine prendendo um sorriso. – Acho que ele passou a ver estrelas depois daquilo.
Fiquei um pouco sem graça, mas seu comentário rendeu gargalhadas dos outros quatro ao nosso redor. Marisol chegou a se apoiar no balcão e parecia não conseguir parar de rir, tanto que começou a limpar as lágrimas dos cantos dos olhos.
—Ele é seu namorado. – falei para ela. – Não devia estar, você sabe, um pouco preocupada com ele?
Ela limpou o rosto e abriu um sorriso maldoso.
—Ele fez a merda, agora que aguente as consequências. – falou e olhou por cima do ombro. – E levando em consideração a companhia dele, acharia até bem feito se tivesse perdido todos os dentes. Dor nas bolas é pouco ainda.
—Eu realmente tenho até pena dos seus namorados. – falou Alexandra chacoalhando a cabeça.
—Eu não. – falou Sol dando de ombros.
—Quem é a ruiva? – perguntei.
Marisol estava furiosa com ele e, mesmo que ela considerasse Jacob como irmão e estivesse brava com Raymond, sabia que ela não estaria daquele jeito se não fosse por mais de um motivo. Ela cruzou os braços e ficou de costas para o namorado, sua expressão não negando seu estado de espirito.
—Nada mais nada menos que a ex namoradinha dele. – falou. – Experimento mal feito de cabelo de molho de tomate.
Dando uma boa olhada para o cabelo da menina, dava para ver que ela não tinha feito uma escolha muito certa na cor. O vermelho era muito vibrante e não combinava em nada com ela, o que só fez com que a referência fizesse sentido e eu não conseguisse conter minha risada, assim como todos os outros. Assim que consegui me controlar, coloquei a mão no ombro do meu irmão e ele tirou o saco de gelo do olho para me olhar, mesmo que com dificuldade.
—Cadê a chave do carro? – perguntei.
—Dentro do meu bolso. – falou já tirando a chave e me entregando.
—É melhor nós irmos embora. – falei. – Temos que cuidar dos seus machucados e o papai já estava uma fera por você demorar para chegar em casa, não vai ficar mais feliz vendo você nessa situação.
—Estávamos fazendo o trabalho de Biologia. – falou se levantando. – Por isso que demorei.
—Tudo bem, agora vamos. – falei o ajudando. – Deixo Jasmine na casa dela no caminho.
Ainda segurando a toalha, ela assentiu e começou a nos seguir. Me virei para as meninas.
—Uma pena nossa noite terminar assim. – falei. – Eu estava me divertindo.
Alexandra olhou para o relógio em seu pulso e sorriu.
—Não tem problema, já teríamos que ir embora de qualquer jeito. – falou. – Minha mãe anda paranoica com meus horários ultimamente, então tenho que voltar para casa cedo.
—Noites para nos divertirmos é o que não vai faltar. – falou Sol dando de ombros.
Chacoalhei a cabeça para a festeira da turma e coloquei a mão no bolso para pegar meu dinheiro, colocando a minha parte da conta encima do balcão.
—Antes que vocês vão embora, – falou Dimitri pegando o dinheiro que as meninas entregavam. – queria saber uma coisa. Vocês souberam da viagem de turma que estão planejando para o final de semana?
—Viagem? – perguntamos Marisol, Alexandra e eu.
—Sim. – falou empolgado. – Ao que parece, os formandos ganharam a estadia de um final de semana no Rancho Collins com tudo pago. Eles vão passar amanhã pegando o nome de quem vai para na sexta-feira já partir todo mundo depois da aula.
—Não sabia disso, - falei. – mas parece uma boa.
—Você vai? – perguntou Ale parecendo surpresa.
—Começo a trabalhar na segunda. – falei dando de ombros. – Um final de semana de curtição não parece ruim.
Marisol bateu palmas e abriu um sorriso enorme, satisfeita com a minha resposta.
—Já vou até conversar com a minha chefe para ela me liberar. – falou.
—Tenho feito hora extra aqui quase todos os dias. – falou Dimi também sorrindo. – Acho que mereço uma folga.
—Já que eu seria vencida pela persuasão, - falou Ale sorrindo enquanto chacoalhava a cabeça. – vou deixar as coisas acertadas lá na loja.
Com o final de semana já planejado e pelo menos uma notícia muito boa para encerrar a noite, sorri empolgada. Dei um beijo no rosto de Dimitri e ele me devolveu uma piscadela enquanto batia o punho no do meu irmão.
—Até amanhã. – falei.
—Até.
Sai na frente e enquanto as garotas se despediam dele, eu evitei contato visual com Raymond, que estava próximo quando nós passamos. Pelo que eu podia ver pela minha visão periférica, seus olhar não deixava Marisol e ele claramente queria falar com ela, coisa para a qual a mesma notou e não se importou. Assim que elas se afastaram de Dimitri, Raymond deu um passo à frente e tentou tocar no ombro de Sol, mas ela se esquivou.
—Amor... – começou ele.
Marisol cruzou os braços e arqueou a sobrancelha.
—Então agora é amor? – perguntou sorrindo e logo ficou séria novamente. – Não me deu noticias o dia todo, aparece aqui com a sua "amiguinha" carrapata e só porque agora está todo arrebentado vem me procurar e me chamar de amor? Vê se me erra.
Raymond com toda certeza não estava tendo uma das suas melhores noites e conhecendo Marisol como eu a conhecia, se eu fosse ele não insistiria para conversar com ela agora, porque as coisas não terminariam bem.
—Sol, por favor. – suplicou. – Não vamos brigar de novo por causa disso
Ela olhou bem pra cara dele, ergueu a mão e dobrou todos os dedos, menos um, o conhecido dedo da paz.
—Vai se ferrar, seu imbecil! – falou ela calmamente. – As palavras e o gesto foram o suficiente ou a surra que levou danificou sua audição?
Jacob deitou a cabeça no meu ombro e senti seu corpo tremer enquanto ele tentava segurar o riso. Alexandra e Jasmine já estavam ao meu lado, as duas olhando para a porta como se de repente ela fosse a coisa mais fascinante do mundo. Eu conhecia bem minha amiga e sabia que isso iria acontecer, Raymond podia ter ido para casa sem ouvir mais do que já tinha, mas ao que parecia ele ainda não conhecia assim tão bem a própria namorada. Vi que ele ia falar mais alguma coisa, mas olhou de lado para mim, que arqueei a sobrancelha, e tomou a decisão mais sabia da noite toda. Ele fechou a boca novamente e sem dizer uma palavra, foi na direção do irmão.
—O ego dele nunca mais será o mesmo depois de hoje. – falou Jacob do meu lado.
—Acho que ele tava precisando desse choque de realidade. – falei.
Jacob sorriu e começamos a ir rumo a porta, com Marisol bem atrás de nós. Esse com toda certeza ia para lista dos dias mais interessantes da semana.
********
Para nossa completa sorte, nossos pais estavam dormindo quando chegamos em casa. A casa de Jasmine não era longe do Meia-Lua, mas eu fiz questão de enrolar um pouquinho no caminho até aqui apenas para evitar uma grande discussão que eu sabia que poderia acontecer. Desliguei o carro quando paramos em frente a garagem e vi meu irmão sair com um pouco de dificuldade, mostrando que alguns golpes que levou deviam ter sido sérios. Peguei minha bolsa e sai do carro, ligando o alarme logo em seguida e indo em direção a porta. A casa estava silenciosa e apenas para comprovar que estavam todos realmente dormindo, abri apenas um pouco da porta e dei uma espiada na sala, satisfeita por ver que a TV estava desligada e as luzes apagadas. Soltando um suspiro de alivio, abri mais a porta e fiz um sinal para que meu irmão entrasse e apontando para que ele fosse para a cozinha. Tranquei a porta com cuidado para não fazer muito barulho, ainda mais essa porta escandalosa que parecia fazer questão de anunciar quando alguém a abria. Quem precisa de campainha quando se tem uma porta que já avisa quando alguém chega?
Jacob já tinha ligado à luz da cozinha e estava sentada em uma cadeira, completamente recostado. Passei por ele deixando meu celular encima da mesa e andei até o armário onde minha mãe deixava uma caixa de primeiro socorros que ela mesma tinha montado. Tinha tudo que se podia imaginar lá dentro e ela sempre deixava o mais acessível possível para nós, mas no alto o suficiente para que minha irmã não alcançasse.
—Vamos ver se consigo arrumar parte do estrago. – falei pegando a caixa e colocando encima da mesa.
Tirei todas as coisas que iria precisar e as coloquei encima da mesa, tudo isso com o olhar do meu irmão sobre mim.
—Eu fiquei preocupado quando você entrou no meio da briga. – falou depois de um tempo em silêncio. – Pensei que ele fosse machucar você.
—Sabe que não é fácil alguém conseguir me derrubar. – falei sorrindo enquanto molhava o algodão no vidrinho que tinha por ali e levava até o corto em sua sobrancelha. – Agora me diga, onde foi que você aprendeu a lutar? Porque pelo estrago que vi no Raymond, você com certeza não era alguém descoordenado dando golpes no escuro.
—A alguns meses teve um curso de defesa pessoal no centro de recreação e eu, o Lucas e a Jasmine fomos. – falou fazendo uma careta de dor. – Achamos que seria algo que viria a calhar e bem, depois de hoje acho que eu estávamos certo.
—Não que eu goste de ver você brigando, mas eu fico feliz em saber disso.
—E você? – perguntou. – Aquilo tudo foi fruto de bater no Dimitri e assistir filmes de ação?
Sorri enquanto passava pro próximo machucado.
—Adrian me ensinou a como quebrar o nariz depois de uma festa em que fomos. – falei sorrindo ainda mais com a lembrança. – Um cara tentou me agarrar e vamos dizer que as coisas não foram muito legais, ainda mais porque eu quase quebrei meu dedo batendo nele.
—Que irmã mais perigosa que eu tenho. – falou sorrindo. – Acho que é melhor eu manter isso em mente antes de fazer alguma coisa errada.
—Bom que é esperto para saber disso.
Assim que terminei de limpar os machucados, fui até o freezer e pegando um guardanapo, fiz um saco de gelo improvisado. Prendendo bem as pontas do guardanapo para o gelo não cair, me aproximei novamente de Jacob e coloquei em seu olho, o fazendo resmungar de dor e colocar o cotovelo desajeitando na mesa, batendo no vidro que eu tinha deixado ali encima. Eu pude ver todo o trajeto da queda do vidrinho, mas antes que ele pudesse chegar perto do chão e de um jeito que nem eu conseguiria explicar, minhas mãos agiram mais rápido, por reflexo, e eu peguei o vidro antes que ele se espatifasse.
—Hei, reflexos de ninja. – falou meu irmão.
Ele me encarava com um de seus olhos arregalados e um sorriso divertido no rosto. Encarei o vidro em minha mão por um tempo, cismada com aquilo por um momento, e depois abri um sorriso sem graça.
—Sabe que meus reflexos sempre foram bons. – falei dando de ombros.
—Isso nunca te impediu de cair e tropeçar nas coisas. – falou rindo da minha cara.
Estreitei os olhos para ele e comecei a guardar as coisas que estavam encima da mesa, o que apenas fez o idiota rir mais.
—Quero ver você rindo desse jeito amanhã quando tiver que explicar pro papai e pra mamãe o porquê dessa cara toda arrebentada.
Seu riso sessou na hora e internamente me senti um pouco vitoriosa. Não era porque eu me dava bem com meus irmãos e sempre paparicava eles que não tínhamos nossos momentos de implicância.
—Eles vão me matar. – falou derrotado e quase se deitando na cadeira.
—Matar não, apesar que o discurso repetitivo do papai faça com que a ideia seja tentadora. – falei o fazendo sorrir. – Mas um bom tempo de castigo talvez seja o que você consiga.
—To vendo que não vou ganhar minha moto tão cedo.
Coloquei a maleta de volta no lugar e voltei para o seu lado, dando uma batidinha em seu ombro.
—Já está na hora de você enfrentar as consequências das suas atitudes.
—Fica comigo amanhã quando eu falar com eles? – perguntou olhando nos meus olhos.
Sabe aquele olhar que beira ao do gatinho do Shrek? Esse era exatamente o olhar que meu irmão tinha no rosto nesse momento. Ele e Stephanie tinham a péssima mania de tentar me agradar para conseguir as coisas, ainda mais porque eu na maioria das vezes salvava o couro deles quando faziam alguma merda, o que era uma coisa bem frequente. Mas dessa vez ele não ia conseguir isso de mim, eu já tinha feito meu papel.
—Escutou o que acabei de dizer? – perguntei. – Você vai sentar, explicar para eles o que aconteceu e aguentar tudo como o homem que sei que é. Não vou passar a mão na sua cabeça dessa vez.
—Mas eu estava defendendo a minha namorada! – falou um pouco nervoso.
Lancei um olhar severo para ele por ter elevado a voz e o mesmo deu uma encolhida na cadeira. Uma coisa que eles tinham aprendido desde cedo era que eu podia ser boazinha, mas havia limites e as vezes um olhar meu era o suficiente para fazer ele ou Stephanie recuarem, assumindo meu posto de irmã mais velha.
—E eu fico orgulhosa de você por ter feito isso, por não ter se metido em briga por um motivo idiota. – falei. – Mas você sabe que nada do que fazemos fica sem uma consequência e mesmo que tenha sido por um bom motivo, isso não vai aliviar totalmente a bronca que você vai levar. Eu não vou estar sempre aqui para te defender ou te salvar, então você tem que aprender a lidar com algumas coisas sozinho. Você tem o meu apoio e meu colo sempre que precisar, mas tem certas coisas nas quais eu não posso te ajudar.
Ele ficou por um tempo em silêncio e eu sabia que minhas palavras tiveram peso sobre ele. Jacob as vezes era tão cabeça dura quanto nosso pai, mas pelo menos na maioria das vezes mostrava ter o senso de entendimento da nossa mãe, o que facilitava a maioria das conversas com ele.
—Obrigado por ter me defendido lá. – falou em voz baixa.
Sorri e dei um beijo em sua testa.
—Não fiz nada além do meu papel de irmã mais velha. – falei. – Enquanto eu puder evitar, ninguém nunca vai fazer mal a você ou a Stephanie.
—E depois fica reclamando que somos mimados. – falou divertido.
Revirei os olhos e comecei a sair da cozinha, mas não sem antes pegar meu celular encima da mesa.
—Boa noite, pirralho. – falei para irrita-lo.
—Boa noite, irmãzinha. – devolveu.
Enquanto subia as escadas para o meu quarto, comecei a sentir o cansaço tomar conta do meu corpo, minha mão latejava assim como minha cabeça, mostrando que essa talvez não fosse uma noite nada fácil para mim. Assim que entrei no quarto joguei meu celular na cama, coloquei meu pijama e fui para o banheiro. Joguei um pouco de água gelada no meu rosto e passei as mãos em meu pescoço, adorando aquele frescor na minha pele que parecia muito quente. Levantei meu rosto e fiquei encarando meu reflexo no espelho por um tempo, até algo chamar minha atenção. Poderia ter se passado poucos dias, mas eu estava bem diferente de quando cheguei, meu rosto parecia mais magro e meus traços mais acentuados, meu cabelo mais escuro e meu olhar era um pouco mais firme. Mas o que estava diferente em mim e que chamou minha atenção foram meus olhos. A cor que geralmente era um azul puro, agora estava com leves riscos dourados ou... Alaranjados? Ao olhar mais de perto, pude ver que era quase como se chamas dançassem ao redor das minhas pupilas, aquela cor interessante que se tem bem no início da chama de uma vela, o azul que se misturando com as chamas alaranjadas.
Poderia parecer impossível e talvez eu criasse a teoria de que fosse a luz refletido ou o cansaço, mas eu estava cansada de ignorar as coisas estranhas e sabia muito bem o que estava vendo.
—O que está acontecendo comigo? – sussurrei para meu reflexo.
O toque do meu celular soou alto dentro do meu quarto e fez com que eu desse um pulo e batesse o meu dedinho no canto da pia. Esse dedo com certeza foi gerado para sofrer, era sempre o que levava a pior. Resmungando um palavrão, fui até o quarto antes que minha mãe acordasse com o barulho. Demorei um pouco para achar o celular perdido no meio dos travesseiros e xinguei mais uma vez, até que finalmente o encontrei, na verdade quase o joguei no chão.
—Alô? – atendi sem nem mesmo olhar quem era.
—Ahn... Oi Safira. – falou uma voz familiar.
—Pietro? – perguntei surpresa.
Olhei para o celular e vi sua foto com um sorriso discreto brilhar na tela. Ela com toda certeza era a última pessoa que eu esperava que me ligasse hoje.
—Desculpe, estava ocupada? – perguntou.
Escutei um farfalhar do outro lado e pelo rangido ao fundo, diria que ele estava deitado na cama ou tinha acabado de sentar na mesma.
—Eu só estava me arrumando pra dormir. – falei empurrando as coisas de cima da minha cama. – O toque do celular me assustou e nem olhei quem era antes de atender.
—Você está bem? – perguntou e eu diria que franziu a testa. – Parece nervosa?
—Estou sim. – menti. – Só estou um pouco cansada. Hoje foi um dia... Diferente.
Ele suspirou.
—Sinto muito nosso encontro ter terminado daquele jeito. – falou. – Não era bem como eu planejava que nosso dia terminasse.
—A maioria das coisas não saem como planejamos, talvez por isso as coisas inesperadas sejam as melhores, na maioria das vezes.
Ele riu e involuntariamente senti um sorriso se abrir no meu rosto. Mesmo que eu estivesse chateada com tudo que tinha acontecido hoje, era bom falar com ele e ouvi-lo rir. Isso fazia com que aquela constante dor e aperto que eu sentia no peito diminuísse um pouquinho. Revirei os olhos para mim mesma. Gostar de alguém é realmente uma droga!
—Acho que vou pegar meu caderno para anotar mais essa frase.
—É minha, você não pode ir a pegando assim. – brinquei.
—Estraga prazer, eu já tinha pegado até uma caneta. Se eu falasse isso para alguém iam pensar que sou muito inteligente.
—Criei suas próprias frases e deixe as minhas.
Ele riu novamente e desse vez ri junto com ele, para logo em seguida um silencio estranho se formar entre nós.
—Eu sinto muito. – falou. – Por ter estrago as coisas.
—É... Eu também.
—Como está a sua mão? – perguntou e franzi a testa.
—Minha mão? – perguntei confusa.
—Sim, soube por ai que você tem um gancho de direita muito potente.
Olhei para minha mão ainda sem entender e só quando vi as marcas avermelhadas nos nós dos meus dedos é que fui entender. Senti meu rosto esquentar. Droga! As fofocas tinham voado longe já. Eu não me sentia nem um pouco arrependida pelo que tinha feito, então não entendia porque tinha me sentido tão sem graça de repente.
—Argh! Você já ficou sabendo disso? – perguntei passando a mão no cabelo.
—Minha irmã estava lá. – falou. – E pelo que soube o Raymond bem que mereceu. Não imaginava que você fizesse o tipo que se mete em brigas.
—E eu geralmente não sou. – falei tentando me defender. – A não ser que se metam com as pessoas erradas, no caso os meus amigos e a minha família. Prefiro usar as palavras do que os punhos, mas as vezes é necessário algumas exceções.
—As palavras machucam mais e demoram mais para curar.
—Elas são armas e quem sabe usa-las tem um grande trunfo em mãos. – falei me deitando. – Elas também são necessárias as vezes, como um meio de resolver ou complicar as coisas.
—Deve entender isso como algum tipo de aviso ou indireta?
—Eu não sou do tipo que dá indiretas, Pietro. – falei fechando os olhos. – Se eu achar que é hora de falar alguma coisa, eu falo, do contrário, me mantenho calada.
—Eu...
—Acho melhor irmos dormir, temos aula amanhã. – falei querendo encerrar a conversa. – Boa noite, Pietro.
—Safira, é... – ele soltou um suspiro cansado. – Boa noite.
Desliguei meu celular e o coloquei do lado da cama. Meu dia estava assim, uma grande merda, com alguns momentos a parte. Eu percebi no começo da conversa o quanto estávamos pisando em ovos e sabia que talvez não fosse uma boa ideia estramos no falando, ainda mais hoje, mas não queria deixar que as coisas ficassem mais estranhas. Bastaram apenas algumas palavras dele para que eu me lembrasse de tudo que tinha acontecido hoje. Por mais que eu tentasse evitar e lutasse contra isso, eu era incapaz de esquecer as coisas, mesmo que tivesse algumas que eu conseguisse deixar de lado sem afetar em nada. Guardar as coisas fazia parte de quem eu era.
Levantei para apagar as luzes e me certifiquei de que as janelas estavam fechadas. Me embrenhei por debaixo das minhas cobertas e abracei meu travesseiro murmurando minhas orações, milagrosamente sendo envolvida pelo sono quase instantaneamente. Antes que a inconsciência pudesse me levar, eu podia jurar ter ouvido uma voz familiar sussurrando "Nos vemos em breve, minha Fênix", mas eu já estava perdida demais no caminho do mundo dos sonhos para pensar sobre isso.
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Nota da autora:
Olá pessoal, demorei de novo neah? Desculpem por isso, mas por algum motivo que eu desconheço, estou com alguns problemas para escrever algumas partes da história, tendo vezes que até mesmo travo no meio de um capítulo, e infelizmente isso não está acontecendo apenas com essa histórias. Malditos sejam os bloqueios! Kkkk
Mais uma vez agradeço a paciência de vocês com essa autora atrasada aqui kkk Quero agradecer ao meu amigo Matheus pela grande ajuda que me deu para finalizar esse cap, foram ótimas ideias, e por pegar no meu pé ultimamente para postar mais caps.
Estou meio atrasada, mas tenho que dedicar esse cap a alguém muito especial para mim Jullia_minay. Lia, minha querida fresquinha, Feliz Aniversário atrasado. Posso ter saído do prazo, mas gosto de sempre cumprir minhas promessas e aqui está o seu presente por esse dia tão especial. Obrigado pelos seus comentários loucos, por toda a empolgação e por estar sempre brigando comigo por sumir. Kkkkkk
Enfim, pessoal, eu espero que estejam gostando dessa história. Confesso que ela ainda é basicamente um rascunho, (mais um depois de vários), mas gostaria que deixassem sua opinião sobre o que estão achando. Até para aqueles fantasminhas por ai, peço que cliquem na estrelinha e deixem seu voto, isso também é de grande importância para saber o quanto gostam da história. Obrigado a todos vocês.
Espero que gostem.
Boa Leitura!
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