Capítulo 28
Melhor noite de sono?
Se alguém me falasse isso eu perguntaria se era algum tipo de piada. Me revirei na cama a noite toda sentindo um calor absurdo e sentindo um desconforto que não podia explicar. Acordei com as roupas molhadas de suor e o cabelo grudando desgrenhado na nuca, minha garganta estava arranhando, meu corpo estava todo dolorido e minha cabeça, mesmo que eu ainda não estivesse totalmente desperta, estava começando a doer.
-Acorda dorminhoca! - falou minha mãe. - Já está na hora de levantar.
Esfreguei a nevoa do sono dos meus olhos e ajustei minha visão até encontrar minha mãe. Ela estava não muito longe colocando uma pilha de roupas limpas no meu sofá, o cabelo curto estava preso em um rabo de cavalo, vestia apenas uma legging preta e uma blusa um pouco mais comprida vermelha, o que indicava que não iria trabalhar hoje.
-Acorda filha. - falou ela novamente. - Levanta e vem me ajudar no serviço.
-Mãe... - minha voz estava horrível e não pude deixar de fazer uma careta pela dor. - Não estou me sentindo bem.
Seus olhos azuis se voltaram para mim com preocupação enquanto ela andava até o meu lado na cama. Ela colocou a mão na minha testa e bochecha e depois franziu a testa.
-Está com febre. - falou.
-Minha garganta e minha cabeça estão doendo. - falei.
-Acho que você está com...
Antes que ela terminasse de falar, eu espirrei.
-Gripe. - falou chacoalhando a cabeça. - E vendo as roupas molhadas estendidas no seu banheiro, acho que sei porque.
-E me molhei no meio do dia quando ajudei Dimitri a lavar o bar.
Ela apenas chacoalhou a cabeça enquanto olhava para mim em desaprovação, mas logo estava sorrindo. Minha mãe sabia o quanto eu era ruim em relação a doenças, para me derrubar apenas uma gripe muito forte ou virose. Médicos nunca foram uma das minhas primeiras opções e mesmo que odiasse tomar remédios, preferia isso do que ir no posto de saúde.
-Que tal você ir tomar um banho para ver se baixa essa febre enquanto procuro um remédio? - perguntou.
-Gosto dessa ideia. - falei com a voz rouca.
Empurrei as cobertas e sai da cama sentindo como se tivesse sido atropelada. Peguei roupas limpas na gaveta, e fui para o banheiro enquanto minha mãe saia do quarto. Como ia ficar em casa mesmo, não fui muito criativa na escolha, peguei uma calça de pijama e uma regata. Meu rosto estava pálido, minhas olheiras estavam bem escuras e minhas bochechas tão vermelhas quanto se eu tivesse levado tapas, que ótima aparência. Tomei banho na água gelada, lavei meu cabelo e depois o sequei da melhor forma que pude, apenas para não deixar encharcado.
Quando sai do banheiro minha mãe já estava me esperando com um copo de água e dois comprimidos.
-Peguei um anti-inflamatório e outro para dor. - falou me entregando o copo e um dos comprimidos.
-Já vai servir.
Tomei os dois comprimidos fazendo careta por causa da dor na garganta.
-Porque não vai ficar lá na sala enquanto eu termino o serviço aqui encima? - perguntou minha mãe. - Se deitar na sua cama do jeito que está agora, vai ficar pior.
-Tudo bem.
Peguei um dos box da série Sobrenatural que eu tinha, dei um beijo em minha mãe e sai do quarto. Já que não estava a fim nem de andar, pelo menos podia curtir um dos meus seriados favoritos, mesmo que já soubesse a maioria dos episódios decor. Coloquei a caixa encima do sofá e fui para a cozinha, mesmo que minha garganta estivesse me matando, meu estômago estava clamando por comida. Fiz um copo de leite com café e peguei um pedaço de bolo de chocolate que parecia delicioso encima da mesa. Eu poderia sofrer para comer, mas valeria a pena.
Preparei tudo para começar uma boa maratona de episódios, arrumei o DVD, puxei uma manta que estava jogada em um dos sofás e me enrolei nela segurando minha comida.
-Maninha, você pode... - começou meu irmão chegando na sala, mas parou assim que me viu enrolada na manta. - Ué, você não ia ajudar a mamãe?
-Eu ia, se estivesse aguentando comigo mesma.
-E o que você tem? - perguntou se apoiando nas costas do sofá.
-Gripe, dor de garganta...
-Os velhos companheiros de sempre.
Ele sorriu e deu um beijo no topo da minha cabeça.
-Logo você melhora.
-É o que espero. Mas então, o que você ia pedir?
-Ahn.. - falou olhando para a TV, já concentrando no que passava. - Nada demais.
Olhei bem para o seu rosto e chacoalhei a cabeça, quem ele achava que podia enganar? Cuidei dele a minha vida toda, ainda chegaria o dia que ele poderia me enrolar.
-A chave está encima da minha escrivaninha. - falei. - Apenas não estrague meu carro.
Ele arregalou os olhos e se voltou para mim.
-Como sabia que era isso que eu ia pedir? - perguntou com surpresa.
-Sou sua irmã mais velha. - falei tomando meu café e fazendo uma careta de dor. - Te conheço melhor que ninguém.
-Ponto pra você.
Falando isso, ele levantou meus pés e se sentou onde antes eles estavam, os colocando em seu colo.
-Então agora tenho um tempo até a hora de sair. - falou.
-É hoje aquele aniversário?
-Sim, lá pelo meio-dia tenho que ir.
-Hum... - falei enquanto comia um pedaço de bolo. - Então você podia trazer a Jasmine para almoçar aqui amanhã.
Mesmo que seus olhos estivessem fixos na TV, vi um leve desconforto passar por seu rosto.
-Não sei... Talvez.
Parei por um momento e comecei a rir, o que não foi algo muito inteligente, já que minha cabeça começou a doer mais.
-Está com medo de trazê-la aqui? - perguntei. - Está com medo que ela me conheça?
Ele tomou o controle das minhas mãos e deu pause na TV. Mexia com os dedos de forma inquieta, uma característica que nós dois tínhamos quando estávamos nervosos.
-É mais assustador ela conhecer você do que a mamãe. - falou.
-Jacob, eu não vou xingar a garota ou algo do tipo. Você me conhece. - falei fazendo com que ele olhasse para mim. - Como vou saber que tipo de pessoa ela é se não conhece-la? Apenas quero conhecer a garota que vai me ajudar a cuidar do meu irmão.
Ele encarou seriamente por um tempo, sua expressão relaxando enquanto um sorriso começava a tomar forma.
-Tudo bem, tudo bem. - falou em rendição. - Amanhã eu trago ela para almoçar e apresento vocês duas.
-Agora eu tenho mais um bom motivo para ficar boa da gripe.
Um sorriso travesso apareceu em seu rosto enquanto eu dava mais uma golada no meu café.
-Então...
-O que foi dessa vez? - perguntei.
-Quando você vai trazer o Pietro aqui em casa para a gente conversar?
Quase cuspi leite com café pelo nariz, o que teria sido uma cena nada agradável. O leite passou reto pela minha garganta e senti meus olhos enchendo de lágrimas por causa da dor. Jacob tomou o copo das minhas mãos e segurou meu ombro enquanto meu corpo se sacudia em uma tosse.
-Jacob! - resmunguei enquanto voltava ao normal.
-Hora ruim para fazer piada? - perguntou com olhar inocente.
-Apenas aperte o play e fiquei quieto.
Rindo da minha reação, ele deu play no DVD e voltamos a assistir. Minha vida agora era assim, eu ser zoada por todos os meus amigos e familiares. Olhe que eles nem sabiam o que tinha acontecido na noite anterior. Pelo menos ainda não sabiam.
******
Meu dia passou entre um episódio e outro de seriado, beber muita água, as vezes tentava comer alguma coisa e conseguia entre algumas caretas. Depois de um tempo os remédios fizeram efeito, de modo que a febre tinha baixado e minha cabeça já não doía mais. Em algum momento acabei pegando no sono e perdi o tempo dormindo no sofá, só acordei com o barulho de alguém batendo na porta. Meu irmão tinha saído a muito tempo e minha mãe saiu com minha irmã sem fazer barulho, apenas falando suavemente para mim que já voltava.
Olhei para o relógio ainda desorientada de sono e vi que eram cinco e meia, eu tinha dormido mais do que pensava. Me desenrolei desajeitadamente da manta e, de uma forma meio descoordenada, fui até a porta. Piscando os olhos para acordar totalmente, abri a porta.
-Finalmente! - falou Marisol. - Achei que não fosse abrir.
Sem deixar que eu respondesse, ela me empurrou para o lado e foi entrando. Não pude deixar de sorrir, sempre com seu jeito direto de ser. Ela andou até o sofá, jogou sua bolsa de qualquer jeito pelo chão e pegou um pouco de pipoca que meu irmão tinha deixado por ali, não devia estar mais gostosa, mas ela não pareceu se importar.
-Oi pra você também. - falei com a voz ainda rouca.
Ela se virou para mim comendo mais um pouco de pipoca e sorriu enquanto voltava para me abraçar.
-Desculpa. - falou me apertando levemente. - Eu liguei mais cedo e sua mãe atendeu, disse que você estava gripada e dormindo. Resolvi vir fazer uma visita e se possível, comer alguma coisa. - ela se afastou e andou até a bacia de pipoca. - Acabei de sair do trabalho.
-Isso explica a sua simpatia. - falei fechando a porta.
Ela continuou comendo a pipoca enquanto eu andava até o sofá e me jogava lá.
-Sabe, minha mãe fez torta de frango hoje. - falei conseguindo sua atenção. - Está lá na cozinha encima da mesa. Se você quiser pode comer ela ao invés dessa pipoca fria e murcha.
Seus olhos brilharam enquanto ela largava a bacia de pipoca.
-Eu amo as tortas da sua mãe!
-Você já sabe onde está tudo.
Ela não esperou outro convite, partiu como um foguete rumo a cozinha. Eu não poderia dizer que Marisol era a minha amiga mais louca por comida, mas quando o assunto era a torta de frango da minha mãe, as coisas eram bem diferentes. Enquanto sorria de sua expressão de criança feliz, notei um saco de papel e um livro ao lado de sua bolsa. Sol podia ser uma verdadeira nerd em alguns casos, mas a mania de andar por ai com livros era minha.
-O que é isso? - perguntei.
Ela olhou para mim enquanto dava uma grande mordida em seu pedaço de torta.
-Não sei, quando eu cheguei estavam na porta. - falou dando de ombros. - Mas tem um bilhete.
Peguei o bilhete que estava no saco e o abri, ele era todo azul e tinha uma letra claramente masculina.
Safira,
Sua mãe falou que está doente, o que na hora pareceu bem irônico levando em consideração um assunto da nossa conversa de ontem. Minha irmã mandou algumas ervas da nossa estufa para que você fizesse um chá, é uma receita dela então não sei exatamente o que é, mas sei que vai te ajudar a dormir e fará com que se sinta muito melhor amanhã.
Eu estava passando na frente de uma livraria quando vi esse livro e lembrei de uma conversa que tivemos ontem, sobre quais histórias eram as nossas favoritas... Não sei porque, mas comprei ele e... Bem, acho que pode te distrair enquanto se recupera, sei que detesta ficar sem fazer nada.
Eu me sinto mais constrangido do que deveria por estar fazendo isso então...
Espero que você melhore.
Pietro.
Voltei minha atenção para o livro que era de capa dura e não pude acreditar quando li o nome que estava nele. Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban era uma obra prima em minhas mãos. Eu tinha contado para Pietro que graças a história desses livros, eu e Bianca tínhamos nos tornado amigas, e que era uma das coleções que eu mais queria na minha estante, mas infelizmente ainda não tinha completa.
-Ele joga alto. - falou Sol aparecendo do meu lado com um prato cheio de torta. - E conhece você muito bem pelo visto.
Ela estava com um sorriso enorme no rosto, os olhos não escondendo a satisfação.
-E como você sabe quem mandou? - perguntei.
-Não precisa ser bruxa para saber, amiga. - falou se sentando ao meu lado. - O sorriso no seu rosto quando terminou de ler o bilhete entregou tudo. Além disso, Pietro foi a primeira pessoa que me passou pela cabeça quando vi as coisas e seu nome no papel.
-Boa observação.
-Acho que ele merece um beijo por isso. - comentou me olhando de lado. - Sabe, um agradecimento por ser tão atencioso.
Olhei para ela um tanto desconfiada. Marisol não era muito de me pressionar a falar, ela gostava que fosse uma atitude mais voluntária, então eu sabia onde ela queria chegar. Eu tinha apenas mandado uma mensagem para ela na noite anterior, dizendo que ia embora e depois explicava.
-Vi vocês dois conversando ontem. - falou se adiantando. - E depois que você me mandou a mensagem, vi vocês dois saindo do bar juntos. - deu mais uma mordida em seu pedaço de torta e gesticulou para mim. - Perguntei para o Dimitri e ele disse que vocês dois pareciam ter se entendido, então presumi que a conversa tenha sido boa. E como tirando essa cara de doente, você parece bem, vejo que foi mesmo.
-Pode-se dizer que foi uma conversa bem produtiva.
-Eu vejo. Ele até te mandou um presente. - falou. - O que é mais um motivo para você beijar logo ele.
-Faço isso de novo na próxima vez que nos virmos.
Ela parou com o pedaço de torta a meio cainho da boca, os olhos um tanto arregalados enquanto se voltavam para mim.
-Oi? Eu ouvi mesmo ou estava delirando? - perguntou girando para ficar totalmente de frente para mim. - Como assim de novo? Quer dizer que vocês já...
Passei um bom momento rindo de suas expressões, mesmo que ainda estivesse me sentindo mal por causa da gripe, não tinha como ficar desanimada perto de Marisol. Eu não sabia se ainda estava muito cedo para contar para alguém o que tinha acontecido, mas ela era minha melhor amiga desde criança, poucas vezes não contávamos algo uma para a outra, então se eu não pudesse falar sobre aquilo com ela, não poderia falar sobre nada.
-Sim.
Ela colocou o prato de torta de lado, tirou as sapatilhas e cruzou as pernas encima do sofá.
-Quando esse beijo aconteceu e porque eu não estava sabendo disso?
-Ontem, quando ele me acompanhou até aqui em casa. - falei. - Não contei antes porque, bem... Eu não sabia muito se devia contar.
-E porque raios achou isso? - perguntou revoltada.
-Porque não quero apressar as coisas, Sol. - falei soltando um suspiro e brincando com a ponta da manta. - Combinamos de ir com calma. E acho que sair correndo e ligar para uma das minhas amigas contando o que aconteceu não é exatamente ir com calma. Além disso, eu precisava pensar um pouco antes de falar qualquer coisa.
Marisol assentia com a cabeça enquanto os olhos pareciam um pouco distante, pensando em alguma coisa.
-Bom, pensando desse modo você está certa. - falou recuperando seu prato. - Não tem porque apressar nada, quer dizer, você podem combinar e tal, mas se conhecem a uma semana.
-Exatamente.
-Fora que ainda tem aquela tarântula de cabelo oxigenado para encher o saco. Ela não vai dar paz se souber o que está acontecendo.
Roubei um pedaço de torta de seu prato e o mordi pensativa.
-Isso, minha amiga, nem é a pior parte. -falei.
-Pode desembuchar.
******
Nota da autora:
Olá pessoal, aqui mais um cap pra vocês. As coisas estão indo devagar, mas vão indo kkkkkkk
Obrigado pelos votos e os comentários, espero sempre mais. Divulgem para os amigos e me ajudem, por favor.
Em breve estaremos com 5k, então vamos lá.
Espero que gostem.
Boa Leitura!
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