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Capítulo 26

Levei um instante para recuperar minha compostura e, por um momento, me senti um tanto quanto irritada por ter sido pega de surpresa.
-Qual o seu problema em chegar de surpresa? - perguntei zangada.
Pietro soltou uma risada baixa e o movimento de seus ombros fez com que uma mecha de seu cabelo caísse na testa, dando um ar inocente, quase juvenil a ele, o que apenas tornava mais desconcertante a forma como ele me olhava. Mesmo com o sorriso, a seriedade não saia de seus olhos.
-Não tenho culpa se você distraída. - respondeu.
Revirei os olhos. Charlotte falou para que eu fosse paciente, mas recentemente eu tinha descoberto um talento que eu não sabia que Pietro tinha. A habilidade de me estressar com muita facilidade.
-Então? - perguntou.
-Então o que? - perguntei olhando para a prateleira de bebidas.
-Vocês dois já namoraram? - perguntou apontando para Dimitri.
Apoiei meus braços no balcão e cruzei as mãos enquanto me voltava para olhar seu rosto. Ele me encarava com seriedade, esperando minha resposta. Como se eu fosse obrigada a responde-lo.
-E o que faz você pensar isso? - perguntei com a maior calma que pude.
Ele fez uma careta parecendo não gostar muito de não ter uma resposta direta.
-O jeito que vocês se comportam, esse colar e essa pulseira que vocês tem igual...
-E só isso foi o bastante para você chegar a essa conclusão? - perguntei abrindo um sorriso irônico. - Eu mandei fazer aquele colar quando viajei para Atenas, como temos uma paixão em comum pela Grécia, achei que seria um presente legal. A pulseira foi um presente que ganhamos e quanto ao modo que nos comportamos... Agimos de modos diferentes de acordo com as pessoas com que nos sentimos a vontade.
-E tudo isso quer dizer o que?
Respirei fundo e olhei para onde Dimitri estava, ele tinha acabado de atender um cliente quando seus olhos encontraram os meus. Não sei se ele entendeu minha expressão, mas ele desviou o olhar para Pietro e franziu a testa como se estivesse tendo alguma ideia brilhante, o que vindo dele não me surpreenderia nem um pouco.
-Quer dizer que eu nem sou obrigada a responder essa sua pergunta idiota.
Pietro respirou fundo enquanto passava a mão no rosto, parecia estar reunindo paciência. Bom meu bem, então somos dois.
-Você não vai colaborar, não é? - perguntou.
-Depende.
-Depende do que?
-Do quanto você vai merecer.
Escutei ele soltando uma praga em italiano em voz baixa enquanto um grande copo de suco de morango apareceu na minha frente.
-Morango ao leite, o seu favorito. - falou Dimitri sorrindo.
Mordi meus lábios para conter o sorriso, eu sabia que ele iria aprontar alguma. Se ele não tivesse entendido por minha expressão, com toda certeza tinha escutado minha conversa com Pietro. Dimitri podia ser lerdo em vários momentos, mas em outros também tinha ouvidos como os de um morcego. Ergui meu olhar para ele e seu sorriso não tinha diminuído nem um pouco, o ar de travessura era uma marca evidente em seu rosto.
-Mas eu não pedi suco nenhum. - falei.
-É por conta da casa. - respondeu me dando uma piscadela. - Já que tem gente que não dá valor ao que tem, outros caras fazem isso.
Olhei de rabo de olho para Pietro e vi o exato momento em que sua expressão ficou confusa, para logo depois mudar para a frustrada e pensativa.
-Dimi, quero morrer sua amiga. - falei sorrindo.
-É uma escolha sábia. - falou também sorrindo enquanto se virava para Pietro, a expressão se tornando mais séria. - E respondendo à pergunta que fez a ela, somos apenas bons amigos. Os presentes são símbolos que ela dá para as pessoas que considera importantes em sua vida e sou feliz em ser uma delas. Aprenda a ser grato pelo que tem e faça por merecer o que ela oferece para você. Perdão e confiança não são coisas que são conquistadas com facilidade, então pense bem no que faz para essa moça ai.
Parei com a mão no canudo do suco enquanto encarava Dimitri com surpresa, ele geralmente era brincalhão e poucas vezes o vi sério, ou falando com alguém de forma séria. Quando não estava de bom humor, o que era difícil, ele nem era muito de conversa, então, vê-lo falando com tanta seriedade com Pietro me pegou de surpresa. Jenna apareceu por trás de Dimitri e colocou um copo de suco de limão na frente de Pietro enquanto sorria para ele, o que pareceu apenas deixa-lo mais confuso.
-Um suco gelado é bom para acompanhar qualquer conversa. - falou ela com doçura.
Sorri para Jenna em agradecimento. Ela deve ter notado como as coisas estavam, porque logo em seguida piscou para mim e sumiu em direção a cozinha.
-Que clima amistoso. - comentei dando uma golada no meu suco.
Me pegando mais uma vez de surpresa, Dimitri riu, desfazendo toda a tensão que a conversa tinha deixado.
-Não era para assustar ele? - perguntou passando a mão no cabelo.
-Você assustou até eu agora.
Nós dois começamos a rir enquanto Pietro nos encarava sem entender nada.
-Não posso dizer que me arrependo. - falou Dimi.
Pietro franziu a testa e ficou olhando para seu suco, mostrando claramente que se sentia inquieto. Nunca fui o tipo vingativa e muito menos que brincava com as pessoas, mas eu não estava disposta a deixar as coisas fáceis para ele.
-Relaxa ai cara. - falou meu amigo sorrindo amplamente. - Boa sorte na conversa de vocês.
Enquanto Dimitri se afastava, trocamos uma conversa silenciosa através do olhar. Ele deixando claro que estaria ali me apoiando e eu sorrindo agradecida pelo seu incentivo e apoio.
-Dimitri costuma brincar com as pessoas com quem simpatiza. - falei bebendo mais um pouco do meu suco.
-Então essa conversa foi porque ele gostou de mim? - perguntou Pietro.
Sua expressão confusa era engraçada, o que me fez rir.
-Não posso te dar cem por cento de certeza. Dimitri é uma pessoa difícil de ser entendida.
-Isso me tranquiliza bastante.
Sorri enquanto ambos bebíamos nossos sucos.
-Então... Será que podemos conversar? - perguntou um pouco hesitante. - Mas sem brigas dessa vez?
-Podemos tentar.
Me levantei e passei os olhos em volta à procura de um lugar onde poderíamos conversar sem que ninguém ficasse escutando. Avistei uma mesa mais ao canto, perto da porta e um pouco longe das demais. Sem dizer uma palavra, peguei meu suco e comecei a andar em direção da mesa com Pietro logo atrás de mim. Nos sentamos frente a frente, ele tendo uma vista de quem entrava e saia e eu de todo mundo que estava no bar.
-Então... - comecei.
Ele passou a mão no cabelo e suspirou.
-Primeiro quero pedir desculpas pelo jeito que falei com você, não ajudei muito nas coisas sendo grosso daquele jeito.
-Você parecia não se importar com isso. - comentei.
Mesmo sem perceber, um resquício de tristeza transpareceu em minha voz, o que não passou despercebido a ele.
-Desculpa mesmo por isso, eu fui grosso e um verdadeiro idiota. - falou com sinceridade. - Só fui me dar conta disso quando era tarde demais.
Peguei um pouco da espuma do suco no canudinho e coloquei na boca, adorava fazer isso, ainda mais que servia como desculpa para não olhar nos seus olhos.
-Tudo bem. - falei soltando um suspiro. - Também não fui a pessoa mais amistosa do mundo e nem a mais fácil. Falei coisas ruins para você também.
-Nada que eu não merecesse ouvir.
Fiquei olhando para o meu suco até que senti sua mão em meu queixo, seus dedos forçando minha cabeça a se levantar para que eu fitasse seus olhos.
-Eu sei que te magoei e... Acredite, me odeio por isso. - não sei se foi a sinceridade em seus olhos ou a dor em sua voz, mas acreditei em suas palavras. - Você estava certa em basicamente tudo que me disse, principalmente sobre a confiança.
Eu sabia que não podia deixar que ele continuasse me tocando daquele jeito, mas a sensação de sua pele em contato com a minha era boa demais. Como se tivesse notado que ainda não havia soltado meu rosto, ele baixou a mão e pareceu um pouco constrangido enquanto limpava a garganta.
-Não é que eu não confie em você, apenas não tive coragem o suficiente para confiar em você. O que foi um erro. - falou mexendo em seu suco. - Você sempre teve várias chances de me encher de perguntas, mas nunca fez isso e mesmo quando fez, nunca me pressionou a falar mais do que eu queria. Devia ter lhe dado mais crédito.
-As pessoas costumam fazer muito isso comigo. - falei bebendo mais suco. - Mas bem, o que já aconteceu na sua vida não é da minha conta, então eu não tinha que ficar insistindo.
-Mas eu quero contar! - falou com firmeza e depois pareceu se surpreender com suas palavras. - Quer dizer, se você ainda quiser ouvir.
Me remexi inquieta em meu lugar. Depois de dias sem se falar e da briga, ele ainda estava ali, correndo atrás de mim e disposto a me contar o que eu queria saber, então porque será que agora eu me sentia tão desconfortável? Seria medo do que eu sabia que ele confirmaria? Bem, eu tinha pedido por aquilo e ele finalmente iria falar, não era hora de voltar atrás.
-Se estiver se sentindo à vontade com isso.
-Você sempre foi honesta comigo. - falou com um pequeno sorriso. - Devo nada menos que o mesmo a você.
Puxei meu suco para mais perto de mim e comecei a tomar enquanto esperava que ele começasse a falar.
-Eu e Vitória nos conhecemos quando eu morava na Alemanha, uns três anos atrás, erámos vizinhos. Não chegamos a ter um relacionamento exatamente no tempo que fiquei por lá, mas ela era uma garota legal e nos dávamos bem.
-Acho que você tem que reconsiderar o que significa ser uma pessoa legal. - comentei.
Ele sorriu com minhas palavras, mas logo depois ficou sério.
-Ela nunca aceitou que eu não sentisse o mesmo que ela, que não quisesse o mesmo que ela queria. Quando falei que ia embora ela surtou, o que só fez com que minha irmã quisesse vir embora ainda mais. Evelyn a odeia. - não posso culpar a garota por seu bom julgamento. - Fiquei bem surpreso quando Vitória se mudou para cá uns meses depois de nós. Desde então ela não sai do meu pé, por mais que eu a afaste ou mande ela embora.
-Okay. - falei terminando meu suco. - Você tem uma ex-namorada maluca e perseguidora, acho que agora as coisas fazem sentido.
-Não posso dizer que ela é uma boa pessoa, mas jamais imaginei que ia ser quem é agora. - falou parecendo um pouco irritado. - Desculpa por te envolver no meio dessa bagunça, você não merecia isso.
Pelo menos ele sabia que ela não era coisa boa, isso já era meio caminho andando.
-Bem, - falei brincando com a espuma do meu copo. - um aviso já teria sido muito bom.
-Talvez eu estivesse com medo. - falou.
-Medo do que?
-Que você não quisesse se envolver com um cara que tem uma ex-namorada maluca.
Meu olhar ficou preso no seu, um véu turvo de palavras não ditas preso entre nós. Eu sabia que fazia apenas poucos dias, mas ele, com apenas poucos momentos já tinha conseguido se infiltrar na minha vida mais do que pessoas que passaram anos convivendo comigo, conseguiu enxergar mais coisas do que pessoas que me conheciam muito bem. O meu medo de me envolver com ele não vinha de uma ex-namorada louca, com isso eu poderia me deparar em algum momento com qualquer outro garoto, mas sim porque eu sabia, desde que tinha o visto pela primeira vez, que ele bagunçaria toda a minha vida.
Sempre fui confusa e perdida quanto a muitas coisas, mas sabia muito bem o que estava começando a sentir. Sempre fui boa em identificar o que era diferente e o que eu sentia perto de Pietro, bem, nem chegava perto de tudo que eu já tinha sentido nesses quase dezoito anos. Olhando em seus olhos eu podia ver o turbilhão de pensamentos que pareciam assombra-lo, ele também estava perdido com aquilo, era tudo novo para ambos, mas ele estava me cedendo a chance de escolher se iriamos seguir nesse rumo ou não. Sem dizer muitas palavras, ele estava me perguntando se eu queria continuar com o que ambos sabíamos que estava acontecendo.
Não adiantaria fugir e eu já tinha feito muito isso na minha vida, estava cansada de pensar tanto nas coisas antes de fazer ou não fazer. Pensar de mais na maioria das vezes só evitava que eu fizesse um monte de coisas que deveria ter feito. Pela primeira vez, eu queria apenas me deixar levar. Como num timing perfeito, palavras de uma conversa com Charlotte vieram à minha cabeça.
"-Quando você achar que algo realmente vale a pena, não fique pensando, apenas aja.".
-Talvez eu não goste de coisas que sejam simples. - falei sorrindo.
Ele baixou a cabeça para beber seu suco, mas mesmo assim pude ver o sorriso de satisfação que apareceu em seus lábios.
-Tem certeza? - perguntou. - Não posso prometer que as coisas vão ser fáceis e muito menos que sou uma das... Pessoas mais fáceis. As coisas vão se complicar em vários momentos e você vai ter que ser bem paciente em mais de uma situação.
-Sei ser muito persistente quando quero.
Sorrimos um para o outro e tive ali minha confirmação de que não voltaria mais atrás. Ele tinha uma história com uma garota que ainda estava em sua vida e eu sabia o quanto isso ainda me daria dor de cabeça, mas eu não podia deixar de aproveitar uma coisa só por causa de alguns problemas que surgiriam no caminho. Talvez não tivéssemos tido uma conversa tão profunda quando deveríamos, mas uma passo de cada vez era o mais importante agora. Todo mundo tem uma história, ficar remoendo os detalhes dela não iria trazer benefício a ninguém no momento.
Entramos em uma conversa aleatória agradável e assim ficamos por um bom tempo, falando sobre nossas músicas, livros e filmes favoritos, os lugares para os quais queríamos viajar e alguns dos planos que tínhamos para o futuro. Eu ria como se o clima tenso entre nós nunca tivesse existido, o que mais uma vez mostrava o efeito que Pietro tinha sobre mim. Em um momento notei Dimitri nos observando do balcão com uma expressão curiosa, um sorriso se formou em seus lábios assim que seu olhar encontrou o meu e tivemos mais um de nossos entendimentos silenciosos. Ele estava orgulhosa de mim, era uma das pessoas que mais me desafiava a agir mais e pensar menos. Eu não sabia se estava tomando a atitude certa, mas no momento eu não estava me importando com isso.
Dei uma olhada para o lado e vi Alexandra e Christopher conversando e sorrindo no mesmo lugar que estavam mais cedo, eu já não podia ver exatamente Marisol e Raymond, mas a julgar pelo que tinha visto mais cedo, eles estavam bem. Digitei uma mensagem rápida no meu celular e o guardei novamente no meu bolso.
-O que acha de me acompanhar até me casa de novo? - perguntei para Pietro.
-Eu iria adorar. - falou sorrindo.
Ele sacou algumas notas do bolso e colocou encima da mesa, deixando uma gorjeta pelo doce que tinha pedido para nós. Tive apenas um vislumbre dos cabelos ruivos de Jenna e seu sorriso de satisfação para mim, o que apenas retribui da forma mais discreta que pude enquanto me levantava e seguia Pietro até a porta.

******

Andamos boa parte do caminho em silêncio, o que não foi totalmente desconfortável. A noite estava bonita apesar das nuvens que começavam a cobrir as estrelas, com toda certeza choveria mais tarde, o que estava mesmo precisando acontecer. Pietro estava com as mãos nos bolsos e parecia perdido em pensamentos enquanto olhava para o céu, o que com a pouca luz dos postes e da noite, dava um ar sombrio e fascinante a seu rosto, realçando seu traços.
-Posso te fazer uma pergunta? - perguntei.
-Claro! - respondeu.
-Porque você é hesitante em fazer amizades? Digo... - falei brincando com os zíperes da jaqueta. - Em parte eu entendo que é difícil saber em quem pode ou não confiar, mas também não é como se não tivesse pessoas que tentassem ser suas amigas. Conheço bem o pessoal daqui.
-Eu... Tenho um pouco de dificuldade em me sentir à vontade perto das pessoas. Sempre fui mais reservado quanto o que falo e com quem falo, tenho medo de dizer alguma coisa errada que acabe afastando as pessoas e na maioria das vezes isso evita que eu converse com elas. As coisas se tornam mais fáceis assim.
-Tem certeza?
Ele abriu um sorriso sem humor e chutou uma pedrinha pequena demais para que eu pudesse enxergar, mas que fez um barulho alto quando se chocou contra uma lata de lixo.
-Quando me mudei para cá, prometi que tentaria fazer as coisas de um jeito diferente, que mudaria. - falou olhando para frente. - Raymond e Christopher foram bem legais comigo, me apresentaram o colégio e me incentivaram a entrar no time de futebol. Seu irmão também sempre foi um bom garoto, fez com que eu me sentisse mais à vontade por aqui. Não posso dizer que somos exatamente todos bons amigos, mas gosto da companhia deles.
-Isso já é alguma coisa. - falei lembrando da conversa que tive com meu irmão mais cedo. - Soube que você e Jake tiveram uma conversa.
Ele sorriu enquanto coçava a cabeça, claramente tão embaraçado quanto eu por aquilo.
-Pode se dizer que sim. - falou. - E acho que ele me deu um ótimo conselho.
-E o que foi que ele te falou? - perguntei.
Ele olhou de lado para mim e sorriu.
-Que se eu fosse sincero e confiasse em você, sempre seria paciente e compreensiva no limite do que poderia ser. - ele chacoalhou a cabeça. - Ele conhece bem a irmã que tem.
-E ele te adora. - falei. - Não deixa de mencionar isso para mim.
Isso o fez sorrir enquanto virávamos a esquina.
-Ele é um bom garoto. - falou. - E falava muito de você, sabia?
-Sério?
-Sim. Jacob é um irmão muito orgulhoso, me contou muitas coisas sobre você. - ele pareceu pensar um pouco encarando o vazio. - Talvez tenha sido que fez com que eu me sentisse tão à vontade quando conversei com você, porque parecia que de alguma forma eu já te conhecia.
-É mesmo? - perguntei olhando para seu rosto.
-Você tem um talento muito especial, Safira. - falou ele quando paramos na frente da minha casa, o que eu nem tinha notado até aquele momento. - Você tem o poder de deixar as pessoas à vontade. É paciente e uma boa ouvinte, passa confiança para as pessoas, é compreensiva e faz com que seja fácil conversar com você. Acho que por isso não tenho medo de ser verdadeiro quando estou com você.
Meu coração falhou por um momento ao ouvir suas palavras, havia mais sinceridade e verdade em seus olhos do que eu costumava ver. Mas, mesmo que eu me sentisse um pouco confusa por tudo que estava sentindo, uma onda de calma e tranquilidade me dominou.
-E o seu talento é ser corajoso. - falei. - Mesmo com tudo o que já passou e mesmo com todos os seus medos, você ainda tenta, mesmo que seja pouco as vezes, fazer alguma coisa. Muitas pessoas teriam desistido, mas você continua tentando, mesmo sem nem notar. Ainda é educado com uma ex pé no saco, salvou uma completa estranha de ser atacada em um beco e ainda a ajudou, tenta ter amizades mesmo quando seus instintos dizem o contrário... Acho que quando uma pessoa é sincera realmente, a primeira coisa que ela mostra a outra que acha que podia confiar, é a sua maior qualidade.
Pietro não disse nada por um momento, apenas ficou me encarando de uma maneira tão intensa e direta, que estava começando a me deixar inquieta. Eu geralmente me sentia incomodada quando as pessoas me encaravam, com ele isso era ainda pior, porque se misturava com os sentimentos já confusos que ele me despertava.
-O que foi? - perguntei.
Seus olhos verdes estavam mais claros e havia um brilho neles que eu nunca tinha visto neles antes. Uma clareza renovadora, como se ele tivesse acabado de perceber algo muito importante.
-Eu apenas... Estava pensando em uma coisa. - falou.
-Pensando no que? - perguntei sem desviar o olhar do seu.
-Em uma coisa que quero fazer. - falou passando a mão no cabelo como uma forma de procurar calma. - Uma coisa que eu estava com medo de fazer, mas sei que tenho que fazer.
Encarei seu rosto sentindo uma vibração estranha no meu corpo. Um arrepio que agora fazia companhia ao ritmo frenético no qual meu coração tinha começado a bater desde o momento que seu olhar se travou no meu.
-E agora não está mais com medo? - perguntei.
Ele soltou uma risada nervosa.
-Está brincando? Estou apavorado. - falou dando mais alguns passos e eliminando qualquer espaço existente entre nós. - Mas sei que se eu não fizer isso, não vou ter mais um momento de paz.
-E o que você quer fazer? - perguntei em voz baixa.
Ele parou por um momento, seus olhos assumindo uma tonalidade mais escura enquanto um sorriso vitorioso de espalhava em seus lábios.
-Isso!
Não houve hesitação e nenhum sinal de medo quando Pietro baixou sua cabeça e chocou seus lábios contra os meus com tanta determinação e paixão que me tirou o ar. Uma de suas mãos segurou minha nuca e a outra deslizou para minha cintura, me puxando para mais perto de si. Minha cabeça que antes estava caótica, agora era governada pelo silêncio total. Meu coração já acelerado antes, agora batia tão depressa que poderia fugir do meu peito a qualquer momento. Estremeci com a sensação de seus lábios contra os meus e naquele momento, todos os problemas e dificuldades, brigas, mortes ou qualquer coisa parecida, parou de ter importância.

******

Nota da autora:

Olá pessoal, olha eu aqui novamente. Então, como um metódo de compensar vocês pela falta de caps, aqui está mais um para vocês. Também estou adiantando porque, com a semana de provas chegando, eu não vou ter tempo.
Mas espero que fiquem felizes com a surpresinha do final kkkk Já me vejo sendo xingada.jkkkk
Bem, acho que era isso... Continuem a votar, comentar e, se possivel, divulgar.
Espero que gostem.

Boa Leitura!

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