Capítulo 10
Como prometido, Feliz Aniversário atrasado Stephanny...
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Enrolei no banho sabendo que elas iriam demorar um pouco para preparar tudo, provavelmente já vieram de banho tomado e só faltava colocar o pijama. Deixei a água fresca percorrer meu corpo levando todo o cansaço embora, sei que hoje não vou dormir cedo, na verdade se conseguir dormir por algumas horas já vai ser uma vitória. Vesti um short azul escuro de pijama e uma regata branca, penteei meus cabelos e os prendi em um coque, quando sai do banheiro as meninas já estavam sentadas em minha cama vestidas com seus pijamas e com dois pratos de brigadeiro. O pijama de Marisol era um short curto cor-de-rosa cheio de florzinhas e uma blusinha de alcinha da mesma cor, o de Alexandra era uma regata lilás e um short soltinho azul escuro.
Marisol já lambia sua colher cheia de brigadeiro, nem para me esperar.
-Será que ficou um pouquinho para mim ou vocês comeram tudo enquanto me esperavam? - perguntei me jogando na cama.
-Acabamos de buscar ele. - falou Ale me estendendo uma colher. - O outro esta na geladeira para depois do jantar.
Peguei a colher e tirei um pouco do brigadeiro para experimentar, fechei os olhos apreciando aquele sabor maravilhoso, elas sabiam mesmo como fazer isso, estava no ponto certo.
-Isso ta muito bom. - falei pegando mais um pouco.
-Então... - começou Sol pegando mais uma colherada. - O que aconteceu entre você e aquele... Como era o nome daquele cara da aula de piano com quem você estava saindo?
-Adrian. - falei.
-O menino do sobrenome que não sei falar. - falou Ale com a colher na boca.
-Adrian Gnoatto.
-Esse ai mesmo, o que aconteceu? Antes você falava tanto sobre ele. - falou Sol.
-Ele ate falou com a gente pelo Skype junto com você algumas vezes. - falou Ale.
Lambi minha colher, ele tinha sido uma das poucas amizades que eu tinha feito por fora e foi um quase relacionamento. Conheci Adrian quando comecei a frequentar as aulas de piano, fazia pouco tempo que ele tinha ido para lá também e se sentia meio deslocado, então não demorou para virarmos amigos, ele era inteligente e engraçado, gostava de arte e era apaixonado pela música, o que fazia com que passássemos horas conversando. Ficamos algumas vezes e Anthony vivia dizendo que parecíamos um casal de namorados, não queríamos nenhum relacionamento no momento então erámos mais para amigos coloridos, apesar de não ficarmos com mais ninguém.
Ele tinha cabelos castanhos escuros e olhos de um azul claro como a água, a pele branca evidenciava sempre quando ficava com vergonha, ele era um pouco mais alto que eu e seu corpo não era exatamente musculoso, mas ele tinha um dos abraços mais reconfortantes que já recebi. Olhei para minha galeria na parede onde tinha uma foto de nós dois num dia de neve no parque, abri um pequeno sorriso me lembrando daquele dia, realmente era uma pena que ele tenha ido embora.
-Terra chamando Safira. - falou Sol estralando os dedos na minha frente.
-Desculpa. - falei chacoalhando a cabeça. - Viajei um pouco.
-O que aconteceu com ele? - perguntou Ale.
-Bom, continuamos saindo por bastante tempo, ele fez um concerto incrível em um teatro que tinha por lá. - sorri, ele sempre me dizia que um dia ia fazer um grande show naquele lugar. - Tava tudo indo bem, mas ai o pai dele recebeu uma oferta de emprego muito boa na Espanha e eles se mudaram para lá em novembro do ano passado. Adrian esta trabalhando meio período em um estúdio dando aula de alguns instrumentos e acho que esse mês, não sei ao certo, começam as aulas dele na faculdade.
-Uou. - falaram as duas ao mesmo tempo.
-E vocês ainda conversam? - perguntou Sol.
-De vez em quando, mas os meus horários e os dele estavam meio corridos, então não é sempre.
-Você não contou que ele tinha ido embora, falou apenas que ele tinha entrado na faculdade.
-Bom, eu tinha começado a gostar dele e ele teve que ir embora, então eu não estava muito a fim de falar no assunto. Minha vida amorosa fracassada não é segredo para ninguém.
Elas olharam para mim por um momento e depois para um dos pratos de brigadeiro que já estava pela metade.
-Ótimo, então vamos mudar de assunto porque temos muita conversa para botar em dia e não estou nada a fim de entrar no momento depressivo. - falou Sol.
Assim eu acho que se seguiram as próximas três horas, eu contando como tinham sido as coisas em Roma e elas me atualizando de tudo que eu tinha perdido aqui, como o quase rompimento de Alexandra com Christopher, com quem essa já estava há quase três anos, quem do nosso grupo tinha ficado com alguém diferente, as brigas, esse novo "namorado" de Marisol que estava dando muito problema mesmo que ela tentasse disfarçar e todas as outras fofocas possíveis. Eu já estava quase rouca de tanto falar, elas me fizeram contar todos os detalhes possíveis mesmo das coisas que eu já tinha contado por mensagem e pelo telefone.
Quando já tínhamos acabado com os dois pratos de brigadeiro Marisol se virou para mim com um sorrisinho malicioso, já sei que ai vem bomba.
-Agora vamos ao que eu e todo mundo do colégio estamos querendo saber o dia todo. - falou apontando a colher para mim. - O que existe entre você e Pietro Montanagri?
Suspirei revirando os olhos.
-Porque eu sonhava que você ia deixar esse assunto de lado?
Ale quase pulou encima de mim quando ouviu o assunto.
-Então o que estava se espalhando pelo corredor era verdade? - perguntou com os olhos brilhando de curiosidade.
Eu ri sarcástica.
-Que ele é filho do chefe da máfia italiana e que nos conhecemos quando ele me sequestrou num beco escuro? - falei com toda a ironia que podia e revirei os olhos. - Com certeza não.
As duas bufaram para mim, eu já tinha ouvido cada coisa hoje que não sabia se ria ou parava para perguntar se eles não queriam investir toda aquela imaginação no ramo literário.
-Eu vi vocês dois no corredor juntos. - falou Sol. - Rindo e conversando bem na boa.
-E o que tem demais nisso? Somos amigos.
Ale se ajeitou do meu lado.
-Vamos dizer que a lista de amigos dele é bem, mais bem curta e que garotas nessa lista se resumem apenas a irmã dele. - falou. - Ele conversou com a gente já que é amigo do Christopher e do Dimitri, é sempre simpático e bem educado, mas não fala muito. Perdi a conta de quantas garotas já deram encima dele e de quantas já o chamaram para sair sem nem um pingo de vergonha, mas ele sempre recusou, já chegaram a pensar que ele era gay.
Quase engasguei com a colher na boca. Marisol olhou para Ale e revirou os olhos.
-O que é uma completa idiotice. - falou ela. - Se ele for gay eu ainda sou virgem, o que todas nos aqui sabemos perfeitamente que não sou. Isso é só fofoca das recalcadas para quem ele não deu bola.
-Bem colocado. - falei. - Ele é só meio reservado, tem um pouco de dificuldade em fazer amigos, talvez seja por isso que as pessoas peguem tanto no pé dele.
As duas se viraram para mim sorrindo.
-E onde a senhorita entra nessa historia? - perguntou Sol. - Porque conversamos quase todos os dias e você nunca falou dele, o que significa que não faz muito tempo que se conhecem.
Olhei para ela rindo.
-Já pensou em virar detetive, Sol? - perguntei. - Nunca vi alguém para caçar historias como você.
Ela apenas sorriu dando de ombros.
-Anda logo e abra o bico. - falou Ale.
-Tudo bem. - falei me rendendo. - Como contei para vocês eu cheguei em casa no sábado á tarde.
-Sim, isso nós já sabemos.
-Então, meus pais tinham um jantar para ir na casa dos Tipton e eu não queria que eles cancelassem por minha causa, então eu fui junto.
Contei tudo o que tinha acontecido para elas, não deixei nada passar, já que era para contar eu não ia poupar detalhes. Marisol e Alexandra ficaram caladas até que eu terminasse de contar tudo, suas expressões mudando conforme o rumo da conversa, quando finalmente terminei tudo já estava quase sem fôlego. Esperei que eles dissessem alguma coisa, mas as duas me encaravam mudas.
-Não vão dizer nada? - perguntei.
Alexandra foi a primeira a levantar o rosto.
-Eu vou dizer sim. - falou com o rosto ficando vermelho. - Onde raios você estava com a cabeça para enfrentar dois malucos em uma rua basicamente abandonada? - ela praticamente gritou. - E se eles estivessem aramados, fossem assassinos ou pior, estupradores?
-Eu...
-Onde foi parar o seu juízo? Eles podiam ter te matado ou feito coisa pior e...
Fiquei uma meia hora escutando um sermão que acho que faria minha mãe aplaudir Alexandra. Marisol ficou o tempo todo quieta apenas escutando, assim que Ale terminou seu discurso eu me virei para minha outra amiga.
-Sol? Ta tudo bem?
Um sorriso começou a surgir no seu rosto.
-Esta sim, só estava encaixando umas coisas em seus lugares. - falou com seu sorriso se ampliando. - Então quer dizer que o garoto mais calado do colégio é um herói? Isso eu realmente não esperava.
-As pessoas esperam muito dele sem realmente conhece-lo. - falei.
As duas olharam para mim surpresas.
-Devem ter se dado muito bem mesmo, isso explicaria esse tom protetor na sua voz. - falou Ale.
-Se dar bem é pouco. - falou Sol sentando encima das pernas. - Você precisava ver lá no corredor, ele sorrindo segurando o queixo dela e nossa bela amiga vermelha como um tomate.
As duas começaram a rir enquanto eu estreitava meus olhos para elas.
-Somos amigos e nos demos muito bem apesar do pouco tempo. - falei um sentindo meu rosto esquentar. - Ele apenas me deixa... Um pouco nervosa de vez em quando.
Os sorrisos das duas apenas aumentaram.
-Então ele te deixa nervosa? - perguntou Ale.
-Um pouco. - admiti.
-E com tudo que aconteceu você não se sentiu nem um pouquinho atraída por ele?
Peguei meu travesseiro e joguei na cara de Marisol.
-O que é isso? Uma inquisição? - perguntei indignada. - Sim, ele é muito bonito e ás vezes me deixa nervosa pela forma que me olha e sim, me senti muito atraída por ele, mas isso não vem ao caso agora. O fato é que somos amigos, ele é um dos caras mais legais e inteligentes que já conheci e não estou a fim de ficar confundindo as coisas.
As duas ficaram de olhos arregalados me encarando e só agora notei o que tinha falado. Elas sempre conseguem que eu fale quando me deixam nervosa, assim que notaram que a compreensão tinha chegado ao meu rosto elas começaram a sorrir de novo, satisfeitas.
-Viu, não matou admitir. - falou Sol.
-To vendo que não vou mais ter paz. - resmunguei.
Se já não bastasse Tess que estava a um oceano de distância daqui, agora eu ia ter que aguentar essas duas.
-O que estavam conversando no corredor? - perguntou Ale rapando o prato.
-Eu chamei ele para ir à festa amanhã. - resmunguei.
Alexandra largou o prato e olhou para mim.
-Desculpa, acho que não ouvi direito.
Alexandra geralmente não era assim, queria muito saber que entidade baixou nela hoje.
-Eu chamei ele para ir à minha festa de boas vindas amanhã e ele falou que vai.
-Uau. - falou Ale realmente surpresa.
-Acabo de crer que você ainda tem salvação amiga. - falou Sol me abraçando. - Nunca senti tanto orgulho de você.
-Sai. - falei empurrando ela, mas um sorriso já surgia no meu rosto.
-Viagem dos sonhos, último ano do colégio, festa, possível futuro namorado... - citou Ale. - Acho que você esta começado muito bem o ano.
-E acho que o espirito que geralmente vive na Marisol passou para você. - falei. - Esta mais atacada que o normal hoje.
-Isso se chama felicidade por ter minha melhor amiga de volta aqui.
Sorri dando um empurrãozinho em seu ombro e no mesmo momento me lembrando de outra coisa.
-Mudando de assunto, conheci um menino bem bonito hoje. - falei.
-Por favor. - falou Sol revirando os olhos. - Elizabeth tinha mel dentro do chuveiro?
Eu gargalhei chacoalhando as mãos.
-Não é isso, conversamos hoje de manhã e depois da escola. - expliquei. - E a garota sobre quem ele falou comigo foi você.
Marisol estava levantando para colocar os pratos no criado mudo e quase caiu quando ouviu o que eu disse.
-Oi? Você disse que estavam falando de mim?
-Sim, e ele parece gostar bastante de você. - falei.
-Qual o nome dele? - perguntou Ale.
-Diego.
Marisol comprimiu os lábios e vi seu rosto ficar vermelho, algo tremendamente raro, ver essa minha amiga com vergonha quase pode ser considerado um milagre. Alexandra se virou para ela segurando um pouco o riso.
-Não era esse o garoto com quem você queria ir ao baile no ano passado? - perguntou Ale.
-Era sim. - falou Marisol forçando a garganta. - Fazíamos aula de História juntos, ele sempre foi muito legal comigo e conversávamos bastante nas aulas... - ela respirou fundo. - Teve uma festa que eu fui onde Ray e eu brigamos feio, eu estava chorando na varanda e o Diego me perguntou o que eu tinha, quando falei ele partiu para cima do Ray no meio da festa, desde então os dois vivem se estranhando. Ele sempre foi bem legal comigo, não imaginei que gostasse de mim.
-O que mais faria ele brigar com outro cara por você? - perguntou Ale revirando os olhos para ela. - Acorda menina, lógico que ele gosta.
-E porque não foi ao baile com ele? - perguntei.
Ela retorceu os dedos fazendo uma careta.
-Eu até queria, mas estava meio sem jeito e... Quando fui chamar ele uma tal de Fernanda já tinha chegado na minha frente e ele já tinha aceitado ir com ela, acho que pensou que eu fosse com o Raymond.
-Deu bobeira demais. - falei. - Ele me pareceu ser um cara bem legal.
Ela abriu um pequeno sorriso.
-E ele é, sempre foi um cavalheiro comigo.
-Com um cara desses dando sopa para você o que ainda esta fazendo com o Raymond? - perguntei.
-Eu gosto dele mesmo que seja um idiota na maior parte do tempo.
-Bem que dizem que o amor é cego. - resmunguei.
Alexandra me deu um beliscão.
-Ouvi isso, você vai ver quando chegar a sua vez. - falou.
-O que nós já sabemos que não esta tão longe assim de acontecer. - completou Sol.
-Calem a boca. - falei batendo o travesseiro nelas.
Marisol me olhou com uma cara indignada e pulou encima de mim, Alexandra logo se juntou a ela e as duas começaram a fazer cócegas em mim. Eu dava gargalhadas e tentava me livrar delas até mesmo me aproveitando em atacar seus pontos fracos já que as duas sentem muita cócega. Não importando a distância sei que nossa amizade nunca vai acabar, conheci Marisol no jardim de infância e Alexandra na quinta serie e desde aquele tempo nós nunca mais nos desgrudamos, sempre acontecem algumas brigas, mas é algo normal em toda amizade.
Somos tão unidas que ás vezes parecemos ler a mente uma da outra, nos compreender apenas por sinais ou troca de olhares. As considero minhas irmãs e as trato como tal, o que faz com que nos demos bem não são apenas o que temos em comum, mas também nossas diferenças. Olhei para as duas que davam risada sem parar enquanto se batiam com meus travesseiros e sei que não importando a situação sempre vou poder contar com elas.
Pling, Pling, Pling.
Forcei minha mente a ignorar aquele barulho, tudo que eu queria era continuar dormindo.
Pling, Pling, Pling.
Me remexi inquieta, já estava irritada com aquele barulho de goteira que parecia vir de algum lugar e não dar indícios que iria parar. Será que não podiam fechar a torneira direito? Sempre detestei esse barulho, tentei voltar a dormir, mas meu corpo já estava despertando fazendo com que eu sentisse a pedra fria e áspera sob meu rosto. Conforme ia tomando consciência comecei a tremer sentindo o frio do chão ultrapassar as minhas roupas finas e se fixar nos meus ossos de uma forma absurda. Tremi novamente e tentei me orientar, onde diabos eu estava?
Pisquei algumas vezes tentando clarear minha visão, mas eu não conseguia ver nada, tudo era escuro e a única luz que provinha no ambiente era de uma janela minúscula bloqueada com grades que estava na parede há minha frente. Mesmo que eu estreitasse meus olhos não conseguia enxergar nada que estava do lado de fora, estava muito longe para que tivesse uma visão clara. A pouca luz que emanava da janela pelo menos permitia que eu enxergasse melhor o lugar onde eu estava, o que não era muita coisa. A sala era pequena e escura, pelo pouco que eu via as paredes eram feitas de pedra como antigas construções, dava para sentir a umidade no ar e a que passava do chão para minhas roupas, tinha cantos que eram tão escuros quanto um buraco negro e não permitiam que nem um vestígio de luz os ultrapassasse.
Abaixo da janela tinha uma cama de solteiro, ela era de ferro torcido com um colchão fino e sujo jogado por cima, um travesseiro tão fino quanto ele e um cobertor que parecia bem puído, o cheiro que o lugar tinha também não era dos melhores, uma mistura de cômodo fechado há muito tempo, água parada e mofo. Não sei se era por minha visão debilitada ou a escuridão do lugar, mas o ambiente todo se resumia a mim, uma janela com grandes, uma cama e a maldita goteira que não parava de cair. Tentei me levantar, mas era como se eu estivesse colada ao chão, não importava quanta força eu fizesse, a única coisa que eu conseguia levantar era minha cabeça e isso por si só me deixava exausta e com uma dor horrível por todo o corpo. Cansada e não restando mais nada a fazer deitei minha cabeça no chão novamente, suspirei irritada e senti o clima na sala esfriar gradativamente, era como se eu tivesse acabado de entrar em um frigorifico. Um arrepio nada agradável percorreu minha espinha e por instinto eu sabia que não estava mais sozinha naquela sala, também sabia que o que quer que fosse não era bom, seguindo a ordem que meu minha mente parecia gritar permaneci imóvel e fechei meus olhos.
Mesmo sem ver era impossível negar a presença de quem ou o que quer que fosse que estivesse ali comigo, podia senti-lo com tanta intensidade que era quase como se dedos invisíveis percorressem minha pele fazendo com que meu corpo ficasse ainda mais gelado do que já estava.
-Durma minha doce menina, durma em paz por agora e se perca em seus sonhos agradáveis. - falou uma voz grossa, aveludada e ao mesmo tempo sinistra. - Sua vida vai mudar em breve e o verdadeiro pesadelo esta apenas começando.
Abri meus olhos com tudo e comecei a respirar como se tivesse acabado de submergir da água e precisasse de ar desesperadamente, eu ainda tremia como se estivesse sentindo o frio daquele chão duro e as palavras daquela criatura estranha pareciam ecoar nos meus ouvidos. Passei a mão no rosto para afastar os fios de cabelo que se grudavam nele por causa do suor, parece que ultimamente estou querendo bater o recorde de qual dos meus sonhos é o mais estranho, apesar de que a escolha vai ser difícil já que a cada dia tenho um mais bizarro do que o outro. Estremeci de leve sentindo um aperto no peito e aquele familiar frio na barriga, quase como uma brisa fria em minha pele tive um pressentimento de alguma coisa ruim iria acontecer, eu não sabia dizer exatamente o que era, mas foi uma sensação forte o suficiente para que eu me sentisse angustiada. A pior maneira de se acordar é sentindo que algo no seu dia não vai dar certo.
Chacoalhei minha cabeça tentando afastar aqueles pensamentos e olhei para o lado abrindo um pequeno sorriso, resolvemos colocar os colchões no chão e dormir por ali mesmo, Marisol estava enroscada como um gato em suas cobertas, os cabelos negros espalhados pelo travesseiro e as feições tranquilas, quem olhava assim para ela pensava que ser uma garota inocente. Alexandra estava do meu outro lado, as cobertas enroladas em seu corpo como uma cobra, mesmo presos em um coque seus cabelos estavam bagunçados e não dava para ver seu rosto que estava virado para o lado da porta.
Tínhamos ficado acordadas até quase ás três da manhã, nosso jantar tinha sido pizza e bastante refrigerante, depois de limparmos tudo escolhemos alguns filmes e nos encolhemos com cobertas no sofá para assistir. Com dois filmes inteiros assistidos pegamos o brigadeiro que tinha ficado na geladeira e subimos para o quarto onde brincamos, rimos, conversamos e tiramos fotos de nossas idiotices, uma típica noite das garotas. Eu tinha guardado fotos de todas as nossas festas do pijama, tanto as que foram na minha casa quanto as que aconteceram na de uma delas, boas memórias para se lembrar.
Consegui ir até o banheiro sem acordá-las, resolvi tomar um banho para despertar de vez, com apenas três horas de sono e sendo a manhã de uma terça-feira tudo que eu queria era me jogar de novo naquele colchão e dormir o resto do dia. Regulei a água para ficar morna e fiquei por um bom tempo parada debaixo da água permitindo que ela percorresse meus cabelos e todo o meu corpo. Quando sai me enrolei em uma toalha, coloquei outra no meu cabelo e fui escovar meus dentes, olhei meu reflexo no espelho, mesmo com a coloração rosada nas minhas bochechas e lábios por causa da água quente meu rosto ainda estava pálido, meus olhos pareciam um pouco mais claros por causa do tempo nublado lá fora e isso fazia com que as grandes olheiras sob eles apenas se destacassem, como eu queria ter uma boa noite de sono, não sei mais o que é isso há meses.
Sequei meu cabelo com paciência e quando já estava satisfeita com o resultado fui me trocar, escolhi jeans escuro, uma blusa de mangas cinza com toca e um desenho sem coloração de rosas na frente, calcei meu all star, amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo alto e fiz uma maquiagem básica como sempre, o que se resumia apenas a meu rímel e uma camada não perceptível de corretivo para cobrir as olheiras. Olhei para o relógio que marcava sete horas da manhã e para as meninas que ainda dormiam, estou vendo que vou ter que enfrentar uma verdadeira batalha-la para fazer com que elas levantem, mas se não for agora vamos chegar muito atrasadas no colégio, sei muito bem o quanto essas duas demoram para se arrumar.
-Esta na hora de acordar dorminhocas. - falei.
Alexandra gemeu enfiando a cara ainda mais no travesseiro, meu quarto era muito escuro quando a cortina estava fechada, o que o tornava o melhor lugar do mundo para dormir o dia inteiro sem que a luz atrapalhasse. Andei até a porta da sacada e puxei a cortina permitindo que a luz da manhã invadisse o quarto, Alexandra resmungou ainda com a cara no travesseiro e Marisol puxou a coberta cobrindo sua cabeça.
-Levantem logo dai ou vamos chegar atrasadas no colégio.
-Me deixa dormir, inferno. - praguejou Sol ainda debaixo da coberta.
-Adoro seu humor pela manha, Sol. - falei revirando os olhos para o seu mau humor matinal. - Mas a não ser que você queira ir sem tomar banho para a escola, sugiro que se levante agora.
Ela praguejou mais um pouco e jogou a coberta de lado de cara amarrada, ela geralmente não acordava mau humorada, na verdade na maioria das vezes era até de boa demais para uma pessoa que tinha que acordar cedo, o que só podia significar que estava na pior da TPM. Apenas sorri para ela enquanto puxava as cobertas de Alexandra que me xingou baixinho.
-Vamos lá raios de sol. - falei divertida. - O dia já começou.
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