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Insônia



11 de abril de 2015

Faz tempo que eu não sofria com insônia, na verdade, desde que comecei a trabalhar. Uma mente e um corpo cansado derruba qualquer mente agitada. Contudo, hoje não foi assim. Depois da terapia na manhã de ontem, mesmo tendo trabalhado igual um camelo, o sono decidiu não aparecer. Minha mente estava agitada demais e tinha um único motivo: o evento inusitado da terapia.

Passei a maior parte do tempo lembrando do vexame no consultório, me sentia envergonhado, mas ao mesmo tempo ficava pensando no perfume e na maciez daquela roupa/pele da Dra. Isabella. Céus! Passei o dia me entregando a devaneios esquisitos, desde uma consulta na qual eu voltava para a terapia e dava cantadas nela, a cenas românticas nas quais eu roubava um beijo dela e ela se jogava em meus braços. Quanta tolice! Onde eu estava com a cabeça? Eram duas horas e vinte e cinco minutos e não conseguia pregar os olhos. Pior que isso, a escala para trabalhar era logo às oito da manhã. O que significava que eu tinha menos de quatro horas de sono.

Quando eu estava quase adormecendo, ouvi passos subindo as escadas. Fiquei apreensivo, afinal, meu pai dormia no quarto de hospedes lá no quintal próximo à piscina desde o evento com a tia Maria Fernanda, nossa mãe havia proibido ele de dormir no quarto deles. Nós não tínhamos cachorro em casa, justamente porque minha mãe odeia o barulho dos latidos à noite. Assim, caso alguém invadisse a casa, apenas os alarmes disparariam, a menos que fossem desativados ou cortados.

Ouvi quando a porta do quarto da minha mãe se abriu e em seguida, alguns sussurros e gemidos começaram a vir lá de dentro. Das duas uma, ou meus pais estavam transando ou minha mãe havia arrumado um amante. Independente disso, eu não queria fixar uma imagem dessas na minha mente. "Que merda!", foi o que pensei. Peguei meus fones de ouvidos e coloquei em uma lista de cantos gregorianos. Isso sempre me ajudava a dormir.

Para a minha infelicidade, dessa vez não estava funcionando. Os gemidos pareciam estar se reproduzindo na minha cabeça, mas não eram os que eu ouvi. Era uma voz que eu não conhecia bem, mas tinha quase certeza que era da Dra. e a cena do consultório me veio à mente, o cheiro dela, o sorriso, a imagem dela com as roupas da primeira consulta, transparentes e sensuais...

— Você precisa dormir — eu repetia para mim mesmo, mas não adiantava. A fantasia insistia em surgir cada vez que eu a afugentava e sentia um calor que não era necessariamente do ambiente. Tirei um pouco os fones para ver se a coisa já havia acabado. Arrependi-me amargamente, pois tudo o que ouvi foram gemidos altos e coisas que não consigo sequer repetir... Eram mesmo, o meu pai e minha mãe... Isso significava que estavam de volta à ativa, pelo menos fisicamente. Tá aí uma coisa que eu não precisava ouvir, coloquei os fones de volta no ouvido.

Saí do quarto tentando não fazer muito barulho, se bem que duvido que eles ouviriam alguma coisa, no volume em que estavam fazendo sexo, os vizinhos poderiam chamar a polícia. Fui até a piscina e deitei na espreguiçadeira. Tudo estava claro, lua cheia no céu e uma brisa suave no ar. Fechei os olhos e o que vi antes de adormecer foi o belo sorriso envergonhado da Dra. Isabella. Adormeci nem sei que horas.

Pela manhã, meu pai me acordou porque meu celular que ficou no quarto havia despertado com o lembrete de plantão de sábado.

— O que está fazendo aqui menino — perguntou vestido de roupão e com cara de alguém que estava muito satisfeito. Peguei meu celular e fiz uma careta com um sorriso irônico. Lerdo como ele é, duvido que tenha entendido a resposta. Segundos depois, minha mãe apareceu, também de roupão, na porta de vidro que dava acesso ao quintal.

— Querido, o café está pronto!

— Já vou, meu bem! – meu pai respondeu.

Não sei que sentimento era mais forte, o de bem estar por saber que não iam levar a ideia de divórcio adiante ou o de nojo de ainda estarem juntos como se nada tivesse acontecido. Tinham se perdoado? Quando foi que isso ocorreu?

Não havia tempo para eu pensar nisso, pelo horário eu já estava quase atrasado. Entrei, tomei um banho e sai às pressas, seria um longo sábado de trabalho. Cheguei no trabalho em cima da hora. Minha baia estava pronta e não foi surpresa encontrar com Márcia me esperando sentada em minha cadeira.

— Pensei que iria retribuir meu favor com uma nova falta – ela disse assim que me viu entrar.

— Claro que não chefinha, eu jamais faria isso.

— Você está com a cara péssima, parece até que não dormiu – disse olhando para meu olho ainda um pouco roxo – Essa olheira aí só piora o hematoma do soco que levou. Não ficou jogando no pc a noite inteira não é mesmo? Seu viciado.

— Não, claro que não! Faz um tempo que eu não jogo – realmente eu havia parado de jogar depois que comecei a trabalhar... vida de CLT não é fácil não.

— Tá certo – ela disse – Seja o que for, chega de conversa mole e vai atender! – apontou para o meu ramal que já estava piscando enlouquecidamente.

O bom de trabalhar no sábado, é que a equipe é reduzida e não há tanto barulho quanto ao longo da semana. O ruim de trabalhar no sábado, é que a equipe reduzida faz com que a fila no setor de atendimento ao cliente seja enorme, ou seja, quase não dá para respirar entre uma ligação e outra.

— Center Group Telemarketing, boa tarde! Em que posso ajudar?

— Boa tarde. Com quem eu falo? – questionou uma voz feminina do outro lado da linha. Por algum motivo ela me era familiar, mas com tantas vozes que escutamos todos os dias, em algum momento isso acontece.

— Meu nome é Alex, senhora.

— Então, Alex, preciso cancelar a minha internet e agendar a retirada do modem aqui na minha casa.

— Certo, senhora, confirme alguns dados, por favor.

Ao olhar para a tela em que constavam os dados cadastrais da cliente, meu coração acelerou. Isabella Jardim Sousa, Rua Frei Vitorino nº 554, Jardim City Bussocaba, Osasco – SP, CPF: 213. 565. 078 – 91. Fiquei extático, demorei a iniciar a conferência dos dados e ouvi a voz do outro lado.

— Alô! Ainda tá aí?

— Sim, senhora. Me desculpe, o sistema demorou a carregar os dados. Vou falar os três primeiros números do seu CPF a senhora me fala o restante, por favor. Seu CPF é 213...

Ela completou o restante do número.

— Nome completo, por favor.

— Isabella Jardim Sousa.

— A senhora poderia confirmar o endereço da instalação?

— Rua Frei Vitorino nº 554, Jardim City Bussocaba, Osasco – SP,

— Obrigado pela confirmação. Qual o motivo do cancelamento senhora?

— Eu vou me mudar para outro lugar, é isso.

— Entendo. A senhora não quer solicitar a transferência de endereço do serviço atual? É gratuito e a senhora ganha 50% de desconto na mensalidade por seis meses.

— Não, moço. Só quero cancelar mesmo. Já tenho internet instalada na nova casa.

— Entendo. E qual é o novo endereço?

— E por que você quer saber isso? – ela falou desconfiada.

— Só para saber se nosso serviço está disponível no bairro da nova casa da senhora.

— Está, mas não tenho interesse em continuar com o serviço de vocês. Já contratei outra operadora, se puder cancelar, por favor. Estou com um pouco de pressa.

— Claro senhora. A linha vai ficar muda, mas se precisar é só chamar aqui.

Iniciei a realização do cancelamento e o agendamento para a retirada do modem no local. Minha mente estava a imaginar se aquela Isabella era a Dra. Isabella e se fosse, puxa vida, quanta coincidência... Minutos depois o cancelamento realizado e a data de agendamento de retirada do equipamento foram confirmados. Ela agradeceu e se despediu sem aguardar a pesquisa de satisfação com o atendimento.

Com tantas ligações, o dia não demorou a passar. Ouvi um boato correndo na hora do lanche, mas não prestei muita atenção. Quinze minutos antes do expediente acabar, notei uma notificação de mensagem na minha caixa de entrada da intranet. Era da Priscila do R.H. Era um aviso de reunião ao fim do meu horário na sala 21, segundo andar. Havia apenas duas possibilidades, promoção ou demissão. Como a segunda era a menos provável, sempre que alguém recebia uma mensagem para ir ao andar administrativo depois do horário, todos sabiam que era para ser demitido.

Não deveria ser promoção, se fosse minha chefe já teria me dado um toque, se bem que se fosse demissão ela também teria me avisado, a menos que ela não soubesse.

Eu estava morrendo de sono e só queria ir embora logo que o trabalho acabasse, agora estava preso à uma reunião de última hora, na qual eu provavelmente seria demitido.

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