Passar a noite com Júlia era sempre incrível, cada vez melhor. Estava me apegando a cada pedacinho seu, seu sorriso, suas manias, seu corpo, tudo nela me encanta, uma mulher extraordinária, completa, adorável. Poderia passar horas falando suas qualidades, porque a mulher é perfeita, mas tento ficar só com as lembranças dos nossos momentos.

Já se passaram alguns dias depois do incidente do quadro e ainda não consegui falar a verdade, meu lado profissional grita alto na minha cabeça, estou omitindo coisas que Júlia tem todo o direito de saber e tomar uma decisão que também é de extremo direito de sua parte. Decidido, hoje a noite lhe contarei tudo.

Chego cedo e radiante na empresa pela manhã, acontece que desde a chegada de Júlia em minha vida meus dias são todos exultantes.

Deixo os papéis que assinei ontem na mesa de Carla, minha assistente. Que por acaso não está na mesa, ou não chegou ou deve está tomando café.

Entro na minha sala e encontro os três seres mais insuportáveis no meu sofá.

— O que devo a essa visita desagradável tão cedo?

— Pergunta para esses dois escrotos, meu horário aqui é só às dez da manhã — reclama Michael.

— Você tem que ir se acostumando a acordar cedo Michael, daqui a três anos você vai começar a trabalhar aqui de verdade — Marcelo adverte.

Vou para minha cadeira e vejo que Mateus não está bem, ele não consegue passar tanto tempo calado e nem perderia a chance de zoação.

— Ninguém respondeu minha pergunta.

— Você falou com a louca?

— Falei Michael, no domingo mesmo. Ela já está avisada.

— Aquela mulher tem muita sorte de ser filha do Walker. — Meu irmão se manifestou pela primeira vez.

— Ela ameaçou contar para Júlia a verdade, mas eu sei que ela não tem coragem.

— Calma aí, você não contou a Maju? — O mais novo questiona, faço que não com a cabeça. — Você sabe que se não contar agora vai dá merda né?

— Eu vou contar, relaxa.

Olho para Mateus que permanece tão calado.

— O que ele tem? — inquiri para os outros dois.

— Levou um fora da Laila. — Michael responde rindo do irmão.

— Mateus Sales levando fora? É isso mesmo? Sou fã dessa mulher. — Marcelo entra na zoação.

— Vão se foder vocês dois. — Mateus arrebate.

Foi quando nós três caímos na gargalhada, nem Mateus se aguentou e riu também.

— Eu tô pensando em pedir a Carolina em casamento.

Todos paramos de rir quando escutamos o caçula falar algo tão sério. O clima de zoação deu espaço para o de preocupação. Casar?

— Você está falando sério? — Me forcei a perguntar.

— Estou sim.

— Você não acha muito novo para isso? — Marcelo questiona.

— Falou quem se casou com 22 — o caçula se defende.

— Mas eu já namorava com a Fernanda a um bom tempo.

Meu irmão começou um namoro muito rápido e cedo com Fernanda. Ele era apaixonado por uma garota desde novinho, era uma paixão recíproca, acho que eles tinham todos os planos de suas vidas juntos, era bonito de se ver, era algo verdadeiro mesmo sendo tão novos. Meu irmão sempre teve esse jeito de homem maduro, na época ele se arriscava bastante para ter a garota em seus braços. Angel, era o nome da menina, seu pai é um dos invejosos antigos que meu pai colecionou durante anos, e para esse tal homem, sua filha namorar um Sales era inadmissível. Quando percebeu que os dois não iam se desgrudar, no último ano do colegial ele levou a filha embora. Meses depois, meu irmão apareceu com uma nova namorada. História que Marcelo esconde debaixo do tapete, pediu que não falássemos mais no nome da Angel, sem perguntas, todos da família respeitaram.

— Você foi esperto irmão, quem é feio tem que se agarrar com a primeira que der chance. — Mateus volta ao seu normal.

— Pelo menos ela nunca me deu um fora — devolveu nosso irmão.

— Toma! — Solta Michael em tom de zoação fazendo todos rirem novamente. — O que vocês acham?

— Se é o que você quer, se joga irmão — sou sincero e os outros concordam.

— Quando você pensa em pedir? — Marcelo pergunta por nós.

— Ainda não sei.

— A festa de casamento dos nossos pais está perto. — Mateus dá a ideia.

— Boa, será que ela vai aceitar?

— Claro que vai, por que não iria?

— Realmente, não tem motivos para não aceitar — Michael fala respondendo minha pergunta.

É um passo gigantesco, tentei passar segurança para ele, eu sei o que é ser rejeitado na hora do pedido de casamento, no meu caso não soube lidar com o não, caso aconteça com meu irmão mais novo, o que obviamente não irá, que ele saiba lidar melhor com a situação.

— Marcos? — Olho para Mateus quando ele me chama — a Maju não comentou nada sobre a Laila?

— A Laila é a amiga da Maria Júlia? — Mateus confirma a pergunta de Marcelo. — Bem que eu não achava esse nome estranho.

— Júlia comentou sobre ela ter ido lá na casa dela no domingo, disse que a amiga estava triste e precisava conversar, ela não entrou em detalhes e nem eu perguntei o motivo.

— Se ela estava triste por ter negado namorar comigo, porque não aceitou?

— Talvez deva ter algo que você não tenha conhecimento — tento achar uma resposta. — Já falou com ela depois disso?

— Não, ela saiu às pressas de onde estávamos.

Nessa hora meu escritório é preenchido pela risada de Marcelo.

— Eu daria tudo para ver isso. — Diz depois de se recompor.

— Não tem graça — Mateus joga uma caneta em nosso irmão — eu falei com ela, disse que ficou surpresa com o pedido mas ia pensar um pouco, depois ia me mandar uma mensagem. Mas já passaram três dias, e isso está me deixando louco.

— Ele beijou a mão dela, eu vi — Michael volta a falar.

— Está apaixonado, depois de anos Mateus foi fisgado por alguém que nem liga para ele, de novo. — Marcelo fala rindo e Mateus pega outra caneta para jogar nele.

Por incrível que pareça meu irmão namorou uma amiga minha da faculdade, na época éramos muito próximos, mesmo quando terminamos a faculdade eles continuaram o relacionamento. Mas do nada, Callie foi embora e vi meu irmão bem revoltado por algumas semanas, entendi que aquilo foi o fim entre eles, porém, Callie sumiu e Mateus não toca no nome desde então. Mas uma história debaixo do tapete.

Apesar de sermos tão próximos, quando o assunto é coração todos guardam o seus segredos. O meu foi difícil esconder, famílias próximas e um relacionamento assumido para todos, não deu para colocar embaixo do tapete como igual eles fizeram.

Hoje eu vejo que ele está triste, preocupado com a resposta de Laila, diferente de quando terminou o namoro de anos atrás, o que me deixa mais curioso para saber o que houve, mas tenho consciência que se meu irmão quisesse ter nos revelado o motivo, já teria feito isso.

— Liga para ela irmão, você sabe que tudo se resolve em uma conversa — tento lhe tranquilizar.

— É, eu sei — diz triste.

— Agora tenta se concentrar no julgamento amanhã, o cara está negando ter matado a esposa e nós dois sabemos que ele é o culpado, então vamos dar o nosso máximo amanhã e colocá-lo na cadeia — ele concorda.

— Bom, vamos Michael. Administrar essa empresa não é fácil — Marcelo chama o mais novo.

— Eu ainda sou um estagiário, não abusa.

— Você é dono disso aqui seu abusado.

Sorrio com a briguinha deles e vejo na hora que meu celular começa a vibrar em meu bolso, retiro para ver quem é e meu sorriso fica ainda mais radiante quando vejo a foto de Júlia junto com Caio estampada na tela..

— Oi, Júlia.

— Marcos, por favor, preciso da sua ajuda — Sua voz trêmula em meu ouvido faz meu cérebro entrar em alerta, ela está chorando.

– Júlia, estou aqui, o que houve? — levantei da cadeira rápido o bastante para meus irmãos saberem que tem algo de errado, logo eles fazem o mesmo, nos seus rostos o semblante é de dúvida.

— Marcos, o Caio, pode buscá-lo na escola? 

— Posso, mas se acalme, onde você está? — Pergunto.

— Meu carro parou no caminho da escola, me ligaram falando que Caio estava chorando muito, saí feito uma louca e a porra do meu carro parou. — Ela diz rápido, Júlia não é mulher de palavrões, só uma mãe preocupada e protetora agi assim

— Descreva o lugar para mim.

— Eu não estou na cidade, Marcos, aqui é esquisito, fui ver uma casa onde um cliente pretende fazer uma festa, e… droga. É em uma das estradas que liga a Pelham. — Ela começa a chorar e meu coração aperta. — Meu celular vai descarregar, vai pegar meu filho por....

— Alô? Júlia? MERDA!

— O que houve, Marcos? — Escuto a voz preocupada de Mateus.

— Aconteceu alguma coisa com Caio na escola, Júlia foi pegá-lo e ficou na estrada com o carro quebrado. Eu vou pegá-la, Mateus vá buscar Caio e leva ele para o trabalho das meninas.

— A gente aguenta as coisas por aqui, liguem se precisar de algo. — Marcelo diz.

Saio com meu irmão, ele foi pegar meu pequeno e eu corro em direção a minha mulher.

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