Não sei decifrar o olhar de Marcelo, admiração? Raiva?

— Desculpa, não entendi o que você quis dizer com isso — me expressei querendo sair dali.

— Desculpa-me, acho que me expressei mal, eu lhe pré julguei e tirei conclusões erradas sobre você. Mas não me leve a mal, estou aqui para conversar. — Diz sincero.

— Pode falar — consigo dizer.

— Quando vi você aquele dia em nossa festa, percebi que meu irmão te olhou diferente, um olhar que já vi no seu rosto, e aquilo me preocupou. Eu sabia que você era casada com Carlos Eduardo, tentei avisar meu irmão, mas ele logo se defendeu — parou e tomou um gole do seu vinho — depois fiquei sabendo por você mesma que não era mais a Srta Sampaio, então quando cheguei em casa fiz uma pesquisa, tinha poucas coisas na internet sobre sua separação — Marcelo fica um pouco sem jeito quando começa a dizer: — Eu imaginei que você era mais uma que só queria dinheiro, como seu marido rico saiu de casa, iria atrás de outro para se manter na alta sociedade, e já peço desculpas por isso. — Ele me olha nos olhos pela primeira vez.

Eu não esperava ouvir isso, me senti mal.

— Quando vi seu ex-marido entrando com uma linda mulher no leilão eu me senti mal em ter pensando isso de você, e quando vi meu irmão indo em sua direção, eu agradeci a ele mentalmente. Marcos estava preocupado com você, eu sabia que isso ia dar em algo. Então não parei com minhas pesquisas, desculpa por isso também, mas só tento proteger minha família, você já deve saber o motivo — fala e tenho quase certeza que está se referindo à Natália. — Eu não conhecia a namorada do seu ex-marido e fui ainda mais a fundo na minha pesquisa.

Meu coração se aperta enquanto ele vai falando, eu não devia, mas sinto vergonha por ter sido trocada pela minha irmã.

— Olhando as fotos dela vi uma de vocês duas, pensei que fossem amigas, pois vocês não tem nada em comum na aparência, olhei mais e vi outra com vocês duas e um casal, suponho que seus pais.

Esse Marcelo é um intrometido.

— O que me chamou a atenção foi o senhor, não era nada menos que o poderoso Paulo Ferraz, foi quando lembrei que ele tinha duas filhas, não demorei para saber que se tratavam de você e Maria Luiza, e, eu sinto muito por isso.

Eu sei bem ao que ele se referia.

— Não sinta, já estou seguindo em frente — pronunciei.

— Creio que meu irmão está lhe ajudando com isso, e eu sinto muito orgulho pelo o que ele está fazendo na vida do seu filho, eu sou muito observador, eu sei que ele faz de tudo para seu filho não se sentir só.

E era verdade, na ausência de Carlos, Marcos estava ali.

— Eu me intriguei com a aparência de sua irmã, ela não tem nada seu nem de seus pais, já você é uma bela junção dos dois. Eu pedi a ajuda de um amigo com mais algumas informações e ele descobriu que Maria Luiza é adotada.

Não me surpreendi com isso, era a verdade, o segredo ainda existe porque a própria Malu não sabe.

— Não é muito difícil descobrir isso — falei cabisbaixa.

— Você sabia que Paulo Ferraz é amigo de papai? E que Marcos o admira muito? E ele foi seu professor na faculdade? — não sabia que nossos pais eram amigos, papai e eu não somos muitos próximos. Que ele foi professor de Marcos não me surpreende, ele também foi meu professor.

Meu pai foi professor de Carlos, ele não ficou feliz quando optei por outra carreira diferente do meu diploma, não ficou tão decepcionado porque me casei com um advogado bem sucedido. Não quero que ele me veja por trás de quem eu escolher para passar o resto da vida.

Por isso não comentei com Marcos sobre ele, mas pelo o que conheço de mamãe, papai já deve está sabendo do meu mais novo namorado. 

Me dou conta que Marcelo sabe de tudo e...

— Você não contou nada disso para...

— Não, relaxa — me interrompe. — sei que fui intrometido mas não vou ficar entre vocês, se você não contou para ele é porque tem um motivo.

— Obrigada.

— Desculpa ter sido invasivo, mas isso não aconteceu só com você, qualquer pessoa que entre nas nossas vidas passa por essa pequena inspeção — vejo um pequeno sorriso em seus lábios — geralmente quem faz isso é seu namorado, mas como ele está apaixonado, pulou as regras.

Sorri com a informação, Marcos confia em mim, tudo sobre mim ele está esperando eu falar, e eu irei.

— Bem-vinda a família. — Marcelo me dá um abraço.

— Eu esperava outra coisa de você, pensei que você ia me colocar para fora só com o olhar na hora do jantar. — Marcelo dá uma gargalhada pela primeira vez depois que cheguei aqui.

Notei o quanto sua risada é parecida com a de Marcos.

— Você tinha que ver quando foi Fernanda e Carolina na primeira noite aqui em casa, Marcos fez o mesmo papel que o meu — Marcelo diz olhando para Marcos que está com Caio no colo. — Seu filho é um garoto encantador, tenho orgulho do meu irmão ter conquistado vocês dois.

Volto a olhar para a chuva que caía lá fora quando meu cunhado saiu e foi de encontro aos outros, os trovões ficaram mais altos e os relâmpagos mais claros.

— Oi, Maju, o chato do meu marido veio te assustar com um papo de que está protegendo a família? — Pergunta Fernanda, confirmei — relaxa, ele se preocupa muito com os irmãos, ele é muito parecido com o Marcos — tenho que concordar. — Hoje não conta, pois ele está apaixonado. Mas quando conheci eles, pensei que Marcos ia me colocar para fora só com os olhos.

Sorri ao perceber que ela pensou o mesmo que eu. Ela também citou que Marcos está apaixonado por mim, será que eles conversam sobre isso quando estão juntos?

— Tive o mesmo pensamento hoje — me referi ao último comentário dela.

Ela tomou um pouco do seu vinho e voltou a falar.

— Imagine a Carolina, que enfrentou os dois — ela parou um pouco, talvez lembrando do dia. — Enfim, bem-vinda a família — diz e aperta um pouco meu ombro com a mão livre.

— Obrigada, Fernanda.

Caminha para perto do marido.

Gosto de ver a chuva, mas tenho medo de trovões e relâmpagos, meio incoerente. Preciso ir embora, preciso da minha cama, hoje durmo com Caio, ele também tem medo de trovões.

Lembro de quando as noites eram como essa, Caio corria para dormir comigo e Cadu, ele ficava no nosso meio, assim como meu filho eu me sentia segura. Afasto o pensamento.

Sinto duas grandes mãos envolverem minha cintura, fecho meus olhos quando sinto lábios quentes e macios em meu pescoço.

— No que está pensando? — todos os pelos do meu corpo se arrepiam quando Marcos falou no meu ouvido.

— Em como vou embora nessa tempestade.

— Não vá. Durma aqui comigo. — Marcos pede.

— E Caio também!

— Caio nunca é um problema amor, ele pode dormir conosco. — Marcos afirma e segura minha mão me levando para perto de todos.

Quando nos aproximamos, ouvimos um pouco da conversa de Caio e Marcelo.

— Então você também é meu titio? — Caio perguntava.

— Posso ser? — Indaga Marcelo.

— Sim! — Caio diz e solta um sorrisinho.

— E eu Caio, posso ser sua titia? — é Fernanda quem pergunta.

— Mais uma? Como é seu nome? — Caio faz uma carinha de espanto.

— Fernanda, você já tem quantas?

— Tenho a tia Malu —  meu filho fala e começa a contar nos dedos. — A tia ali — aponta para Carolina, ele sempre esquece o nome dela. — Você agora, e a titia Laila. — Nessa hora ele se vira para Mateus, colocando as duas mãos na cintura ele pergunta: — Porque você não chamou a titia para jantar com nós?

Me surpreendi com aquela pergunta, Mateus se mexeu no sofá também surpreendido.

— É, porque você não convidou a Laila? — Michael provoca.

— Quem é Laila? — Suzan perguntou.

— É a minha titia, ela trabalha com a mamãe. — Caio responde.

— Caio, acho que já está na hora de dormir — falei mudando de assunto.

Marcos ao meu lado ria da cara do irmão, assim como Michael e Carolina.

— Mamãe, eu posso dormir com o tio Mateus? Ele vai me ensinar a jogar joguinho. — Caio pergunta vindo ao meu encontro.

— Vídeo Game. — Mateus explica.

Pego meu filho no colo.

— Você vai preferir dormir com o titio do que com a mamãe? — brinco.

Caio coloca suas mãos no meu rosto, uma de cada lado.

— Amanhã eu durmo com você, tá mamãe, eu prometo, mas hoje eu quero dormir com o tio, só hoje.

Eu acabo rindo, junto com todos da sala.

— Tudo bem — digo por fim.

Olha para Mateus que acaba de piscar para meu namorado. Não acredito que eles planejaram, Marcos planeja passar a noite a sós comigo.

Sinto o aperto da mão de Marcos na minha cintura.

Não posso mais fugir.

— Olha filho, qualquer coisa é só pedir pro titio ir lhe deixar no quarto de Marcos, tá bom?

— Tá bom, mamãe — diz e beija meu rosto.

— Então, vamos? — Mateus chama ficando de pé.

Meu filho concorda com a cabeça.

— Boa noite, mamãe.

— Boa noite filho, te amo. — Beijo seu rosto e lhe coloco no chão.

Ele corre para Mateus que está com as mão estendida para ele.

Os dois são os primeiros a subirem.

— Bom, eu já vou também, essa chuva está ótima para dormir de conchinha. — Michael fala agarrando Carolina.

— Vamos também, meu amor. — Marcos fala e pega minha mão.

Todos subiram, Richard e Suzan entram na porta que fica em frente ao final da escada, Marcelo, Fernanda, Michael e Carolina vão para o lado direito do corredor, Marcos e eu para o esquerdo.

No final do corredor tem duas portas, uma de frente para a outra, Marcos abre a do lado esquerdo.

— Esse outro é do Mateus, relaxa tá, você está pertinho de seu filho. — Marcos fala.

Entro no quarto e não me surpreendo. Tudo no perfeito lugar, as paredes são de um cinza claro, uma cama grande ocupa o espaço perto da parede, bem ao lado tem uma janela, imagino que tem uma bela visão do jardim, mas não consigo ver agora, uma cortina branca cobre a mesma.

Logo branca! Não vou me livrar dos relâmpagos. Isso me assusta.

Abaixo da janela tem uma escrivaninha preta, e do lado oposto da cama uma porta, suponho ser o banheiro, e do lado um closet enorme.

— Fique à vontade meu amor,  ainda tem umas camisas minhas aqui, pode pegar uma para dormir — diz indo para o banheiro.

Ponho meu celular na escrivaninha e vou até o closet, tem poucas roupas, tinha esquecido que Marcos tem sua própria casa.

Ele sai do banheiro e eu salto para dentro do mesmo. Tranco a porta atrás de mim. Me olho no espelho e vejo o quanto meu rosto me entrega, medo? Nervosismo?

Estou agindo como uma estranha.
É só o Marcos, meu namorado.

Eu nunca estive com outro homem em minha vida, vai ser quase uma primeira vez, só que não é com o meu colega de turma, é com o Marcos Sales.

Não posso mais fugir. Eu também quero, quero de verdade. Não posso deixar minha insegurança atrapalhar meu relacionamento, Marcos gosta e se apaixonou por mim por vários motivos, meu corpo não está na lista, pelo menos eu acho. Na verdade eu espero que não, não quero que ele tenha imaginado coisas e se decepcione depois.

Sobressalto quando escuto duas batidas na porta.

— Está tudo bem, Júlia?

— An... está sim, só um minuto.

Tiro meu vestido e coloco a blusa que peguei, meu corpo se arrepia com o tecido frio.

Saio do banheiro e vejo Marcos sentado na cama, mas logo vem ao meu encontro e pega o vestido que está na minha mão. Ele leva para guardar no closet, ele está vestido com uma calça moletom preta, sem camisa.

Perco um pouco o ar ao ver suas costas largas, a calça cola em suas coxas grossas. Marcos é um homem muito bonito, seu corpo é uma perfeição, muito gostoso.

É tudo meu!

Ele se vira e me pega em flagrante. Um sorriso de satisfação cresce em seus lábios.

— Gosta do que vê, Júlia? — pergunta.

Minha respiração para, eu sinto meu coração se acelerando tão rápido que dói. A voz de Marcos está grave e forte, me deixando ainda mais ofegante.

Era como se eu não conseguisse deixar de olhá-lo, seus olhos tinham um magnetismo puxando os meus desesperadamente e ali eu vi que ele me desejava. Apenas a mim.

Em passos largos Marcos me alcança passando a mão pela minha cintura me puxando para seu corpo, ele abre um sorriso malicioso e sua outra mão quente pousa em meu pescoço.

— Não me respondeu — diz beijando o outro lado do meu pescoço me arrepiando no processo. — Gosta, meu amor?

Seguro seu rosto com minhas mãos fazendo seus olhos encontrarem os meus. Ainda ofegante eu solto um sorriso e respondo:

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