CAPÍTULO 17
Marcos dá um passo para trás e fecha a porta.
— Vou por Caio na cama, voltarei em alguns minutos, fique à vontade — peguei Caio no colo.
Subo as escadas sentindo o olhar de Marcos em minhas costas.
— Mamãe, os titios e as titias vão jantar com nós todo dia? — Meu filho pergunta quando saímos do banheiro depois dele ter escovado os dentes.
— Não meu amor, de onde você tirou isso?
— Seria legal ter companhia mamãe — disse já deitado.
— E a minha companhia não é boa? — Finjo estar magoada.
— É mamãe, mas todos juntos é legal.
Quando uma criança coloca qualquer coisa na cabeça é melhor nem discutir.
— Podemos chamar eles mais vezes, o que acha? — Pergunto e ele concorda. — Agora vá dormir que amanhã tem aula.
— Boa noite, mamãe.
— Boa noite, filho — apago a luz e fecho a porta.
Um frio surge em minha barriga quando estou descendo a escada, Marcos está sentado no sofá concentrado em algo que está na parede.
Pego a garrafa de vinho que sobrou do jantar e duas taças, quando chego perto vejo que ele olha para um porta-retrato que está na parte superior da lareira, é uma foto minha com Caio e Carlos.
— Preciso me livrar disso — seus olhos se voltam para mim.
— Vocês pareciam felizes.
— Aceita uma taça de vinho? — Ofereço.
— Só mais uma, já tomei hoje — se refere a taça no jantar.
— Também ficarei só em uma — lhe entrego a taça. — Eu também achava que estávamos felizes, pelo menos Caio e eu era de verdade — sentei ao seu lado.
— Você acha que teve algum motivo para ele fazer isso? — pergunta.
Penso um pouco tentando achar um motivo.
— Não sei — falo triste, primeiro que, eu acho que não precisa de um motivo para trair. — Depois do nascimento de Caio, com certeza tudo mudou, meu tempo era para ele, nas horas que ele dormia eu ia descansar também, não dava muita atenção ao meu ex-marido.
— Isso não é um motivo.
Verdade, não é um motivo.
— Isso permaneceu por quase dois anos, depois tudo voltou ao normal, pelo menos foi o que pareceu. Uns meses atrás ele mudou, não me procurava mais, não se preocupava quando eu saia de casa, pelo contrário, ele incentivava...
— Você acha que ele trazia sua irmã para sua casa?
— Pensando agora, acho que sim e não duvido que ele tenha transando com ela nesse sofá que estamos. — faço uma careta.
— Vamos para o tapete, só por precaução — ele diz já indo pro chão.
Não aguentei, acabei rindo e me juntei a ele.
— Eu ficava me perguntando onde tinha errado, me culpava pela separação.
— Quantos meses vocês estão separados?
— Quase quatro — um bom tempo e eu ainda tinha esperanças, esperanças essa que foram destruídas alguns dias atrás.
— Não me espanta a mídia ainda não ter caído em cima, poucas pessoas estão sabendo.
— Mas agora graças a ele todos ficaram cientes — tomo um pequeno gole do meu vinho — hoje vejo que eu não tive culpa, sabe, todos esses anos jogados fora para ficar com outra mulher, tudo foi culpa dele.
E eu não posso mudar nada, não posso fazer absolutamente nada, só aceitar.
Já aceitei.
Ele fez a escolha dele, não sou eu. Preciso seguir minha vida, fazer a minha escolha!
— Ele é um imbecil.
— Concordo com você, sabe o que mais me dói? — Marcos me encara esperando a resposta da minha própria pergunta. — Saber que ele fez tudo isso sem pensar em Caio, ouvir seu filho pedir para convidar vocês todos os dias para jantar aqui conosco só para fazer companhia dói muito, ou ele dizer que o pai nos deixou sozinhos, meu coração se quebra com isso — Marcos continuava me olhando sem falar nada, só me ouvindo.
Ele não sabia o quanto colocar aquilo para fora está me fazendo bem.
Tomo mais um pouco do meu vinho e continuei.
— Eu acreditava que ele ia se arrepender, que ia voltar para nós. Até que semana passada ele veio com esse papo de arrependimento e eu burra acreditei, e fui largada de novo, pela segunda vez Carlos escolheu a Malu. — Brinco com minha taça.
— E como você se sentiu depois? Como se sente agora?
Era uma boa pergunta, e fácil de responder.
— Depois que ele saiu daqui foi direto para a casa da minha mãe pegar minha irmã,eles estão morando juntos — pauso para mais um pouco de vinho — depois me senti a pior pessoa do mundo por ser tão boba e inocente por acreditar nele. Ele só me usou, no fim, era tudo armação para eu não ir ao leilão e não vê-lo com a Malu.
— E hoje, quais os seus sentimentos por ele?
Quais os meus sentimentos por Carlos hoje? Depois disso tudo?
— Não sei, pena talvez, nojo — dou de ombros — só não é o mesmo que antes, acho que esse desgaste também me atingiu e tudo que ele fez só ajudou a abrir meus olhos. Eu mereço mais.
— Sim, merece.
Marcos leva a taça aos lábios, sua língua sutilmente desliza entre o vidro e o líquido saboreando o gosto do vinho. Não notei que estava prestando atenção em seus movimentos até que aquelas íris azuis me fitaram, em um movimento rápido virei o resto do líquido em minha boca todo de uma vez.
De relance vi o sorriso de Marcos. Ele pega a garrafa do vinho e me oferece, eu deixo ele encher minha taça.
— Parece que você gosta de me ver bêbada — deixo um sorriso escapar.
— Falta muito para você ficar bêbada, Júlia.
Verdade.
Meu corpo me traiu e se arrepiou com a maneira que ele falou meu nome.
Balanço a cabeça para tentar voltar ao assunto.
— Você queria jantar comigo, suponho que para nós — aponto para ele e depois para mim — nos conhecermos melhor — quando ele concorda eu continuo — agora é sua vez, já falei demais, agora é você, conte-me suas decepções no amor.
Ele encostou suas costas no sofá e deu seu segundo gole no vinho.
— Só não vale chorar hein.
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