CAPÍTULO 15
Marcos me encarava, como se estivesse vendo minha alma pelos olhos. Seu olhar estava me intimidando, mas também não baixei o meu.
— Digamos que sim Maria Júlia, eu gostava muito de observar as estrelas, até eu me apaixonar por uma cadente. — Ele disse e desviou o olhar agora triste e vazio.
Havia uma história ali, ele logo mudou de semblante quando me respondeu. Quem terá sido essa mulher que destruiu Marcos Sales?
Marcos olhava para um ponto físico no salão, um pequeno sorriso escapou de seus lábios, sem esperar olhei para a mesma direção, o sorriso agora saiu de meus lábios, era Laila e Mateus, ele mais uma vez está beijando a mão da minha amiga.
Curiosa, não deixei de perguntar.
— Qual é a do beijo? — Perguntei trazendo a atenção de Marcos novamente.
Ele riu primeiro para depois falar.
— Eu e meus irmãos não somos de sair com qualquer mulher, primeiro conversamos, conhecemos e depois saímos, mas nosso pai nos disse e nos ensinou uma coisa — Marcos não tirava sua atenção de mim, e eu estava muito curiosa para saber o que ele ia dizer. — Ele falou que um dia íamos conhecer uma mulher que seria, a mulher, quando tivéssemos consciência disso, deveríamos beijar a sua mão e lutar por ela.
— Que interessante e lindo também — será que Marcos beijou a mão da mulher que o deixou? Minha vontade de perguntar está gritando, mas estaria sendo muito intrometida, ah, que se dane — já beijou a mão da sua amada senhor Sales?
Seu sorriso de toda vez que fala senhor apareceu mais uma vez, bom saber que tem um efeito sobre ele.
— Não, Júlia, ainda não.
— Então quer dizer que os Sales já estão no caminho?
— Marcelo já casou, Michael está quase lá e agora Mateus está tentando se amarrar a alguém também — sorriu mais uma vez. — Acho que só o mais velho aqui que está perdendo — seu tom é brincalhão.
E eu acho que isso é por escolha sua. Pensei em falar, mas graças a Deus não abri a boca, apenas sorri.
— Maju, você se importa de ir para casa de táxi sozinha? — Laila chega aflita perto de nós junto com Mateus me perguntando.
— Aconteceu alguma coisa? — Marcos é mais rápido e pergunta.
— Minha mãe ligou avisando que vovó está no hospital, não deu tempo dizer ao certo o que foi, estou indo para lá com o Mateus. — Laila responde.
Laila veio morar com sua avó depois de passar por um término complicado, na verdade complicado é eufemismo, foi um término fodido e assombra minha amiga até hoje.
— Não se preocupe comigo, pode ir — levanto para lhe dar um abraço — me dê notícias.
Ela concorda.
— Fui um dos primeiros a chegar, vai demorar um pouco para eu tirar meu carro e você chegou…
— Toma, vai no meu — Marcos interrompeu o irmão e eles trocaram as chaves dos carros.
— Oi, Maju, ainda ia vir falar com você, mas agora vou ter que ir.
— Tudo bem, Mateus. Cuide da minha amiga.
— Pode deixar.
Quando os dois já estão distantes olho para Marcos que está sorrindo.
— Espero que esse sorriso não seja porque a avó de Laila esteja no hospital?
— O quê? Não! É que Mateus passou o dia tentando arranjar uma desculpa para ficar a sós com sua amiga, parece que ele conseguiu, e nem precisou da desculpa.
Acabei rindo também, quer dizer que Laila tem razão, Mateus está afim dela.
Olho para o próximo quadro a ser apresentado no leilão, era diferente dos outros, simples e lindo, era uma rosa vermelha sendo consumida pelo fogo, atrás dela estava todo manchado com cores escuras, aquele quadro ganhou minha atenção.
— Lindo quadro. — Marcos falou trazendo minha atenção para ele de volta, estava tão encantada com o quadro que esqueci por segundos que ele estava ali.
— Sim, o mais lindo — voltei a encarar aquela obra de arte.
— Você quer o quadro, Júlia?
Com certeza, sim.
— Não tenho tanto dinheiro assim para competir com esses milionários — meus olhos ainda estavam no quadro.
— Eu tenho!
— Eu sei que tem — me viro para ele.
— Eu posso comprá-lo para você — diz como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Eu não vou aceitar, Marcos — é demais para aceitar.
— Dez mil — alguém no meio do salão gritou.
— Vamos, aceite Maria Júlia — insiste.
— Não, Marcos. Eu não posso — falei tentando não ser grossa, ele me olha com uma sobrancelha levantada.
Juro que se ele insistir outra vez eu vou aceitar.
— Quinze mil — continuava a briga pelo lindo quadro.
— Pense no hospital, nas pessoas que você vai ajudar aceitando esse meu presente — ele é bom.
— Pelo hospital — aceito.
— Pelo hospital — sorrir com a vitória.
— Vinte e cinco mil.
— Grito trinta? — Perguntei.
— Não, se você gritar trinta a chance de alguém gritar trinta e cinco é nítido, mostre que tá interessada no quadro, grite cinquenta! — Olho boquiaberta para Marcos.
— Você está falando sério?
— Sim, Júlia, se apresse ou alguém vai comprar primeiro.
Fico parada pensando no que ele falou, cinquenta mil dólares, ele quer me dar um quadro que vale quase o valor da minha casa, se é que não vale mais.
— Pelo hospital, Júlia — Marcos volta a insistir, talvez com medo de eu desistir.
Não respondi nada, juntei forças para meu grito sair alto, levantei minha mão, pois não tinha a plaquinha com o número que os outros convidados tinham para se identificarem, fechei meus olhos e gritei.
— Cinquenta mil.
Abri meus olhos e vi vários outros pares me encarando, o cara que estava comandando o leilão gritou os três segundos e ninguém mais deu um lance, por fim ele disse.
— Vendido para a Dama de vermelho.
Voltei a olhar para o salão, e achei os dois pares de olhos que eu queria encontrar, Malu e Carlos me encaravam incrédulos, eu apenas aumentei meu sorriso e voltei para Marcos que me esperava com um sorriso lindo no rosto.
— Você conseguiu — ele diz brincalhão.
Eu coloquei mais whisky no meu copo e virei na minha boca.
— Graças a você, obrigada pelo presente senhor Marcos.
— Disponha, Júlia.
Dou um passo para voltar a sentar na banqueta que me levantei quando fui dar o lance, mas minha cabeça começou a girar, seguro firme no balcão e quase derrubei meu copo.
— Tudo bem, Júlia? — Marcos pergunta preocupado — acho que já chega de whisky por hoje.
Eu não estou bêbada mas também não estou sóbria, estou relaxada, não, não, estou chapada, não.. ah, não sei como eu estou.
— Vou te levar para casa! — Marcos avisa saindo da banqueta ao lado da minha.
— Tudo bem — Não vou protestar, eu gosto de sua companhia.
— Vou avisar minha família, não saia daqui, Júlia. — Eu só concordo.
Ele vai ao encontro da família e eu fico aqui sentada à sua espera.
— Maju? — Quase caio da banqueta com o susto que tomei ao ouvir Carlos.
Ainda sem acreditar, respiro fundo.
Como ele tem a coragem de vir falar comigo?
— O que você quer, Carlos? — Falo me virando para o pai do meu filho.
— Você está linda — fala chegando um pouco mais perto — e bêbada.
Revirei meus olhos, nem é para tanto.
Coloco minha mão no seu peito impedindo sua aproximação.
—Fala logo o que você quer! — Minha paciência já estava indo embora.
— De onde você tirou dinheiro para comprar aquele quadro? —
— Não é da sua conta! — Solto.
— Claro que é! Você é mãe do meu filho.
Era só o que faltava.
— Você está enganado, nada da minha vida é do seu interesse, a única coisa que você ainda vai poder falar comigo é sobre o Caio, infelizmente — minha voz já estava se alterando, as pessoas já estavam começando a olhar para nós. Respirei e falei com calma. — Sorte que você é um advogado e sabe dos seus direitos sobre a criança, caso contrário, eu ia dar um jeito de você nunca mais ver o Caio.
— Olha aqui Maria Júlia...
— Algum problema, Júlia? — Marcos chega bem na hora interrompendo Carlos.
— Não, Marcos, nenhum problema. Vamos? — Falo me virando para acompanhá-lo quando Carlos puxa meu braço de leve me fazendo virar e olhar em seu rosto.
— Você vai sair com ele? Quer que seu rosto saia na primeira página de fofocas da cidade? — Ele pergunta, com raiva.
Puxei meu braço de volta e falei olhando bem no fundo dos olhos verdes dele.
— Não se preocupe, você já fez esse favor ao entrar com Maria Luiza por aquela porta.
— Por aqui — Marcos me conduz para outro canto.
Entramos em uma sala grande e vazia, passamos por outra porta que deu acesso uma sala cheia de garçons, champanhes, taças e bandejas, eles estavam tão ocupados que nem perceberam nossa passagem por ali, fomos em direção ao um corredor estreito e saímos por uma porta que nos levou para os fundo do salão.
— Como você sabia dessa saída? — Perguntei respirando um pouco, andamos tão rápido que cansei, acho que estou sedentária.
Nem eu que organizei o evento tinha noção dessa saída.
— Há sempre uma saída pelos fundos — falou rindo, mas logo voltou sua postura séria. — Olha Júlia, sobre o que seu ex falou sobre os sites de fofocas, vou dar um jeito.
Começo andar sem saber a direção certa do carro de Marcos, ou melhor, do Mateus.
— Não precisa Marcos, minha vida já está fodida, deixa foderem com o resto — falo sentindo meus olhos lacrimejarem, não vou chorar, não vou chorar, repito para mim mesma.
Marcos segura meu braço me obrigando a parar.
— Você tem que entender que isso não é culpa sua, você não merece ser humilhada e muito menos exposta para todos — senti uma imensa vontade de abraçá-lo, e assim fiz, me joguei nos braços de Marcos que me acolheu na hora.
— Obrigada Marcos, e me desculpe por tudo isso.
— Tudo bem, Júlia, agora vem, vamos para casa.
Ele me leva até o carro e vamos em silêncio, meus olhos começam a pesar e não consigo mantê-los abertos.
— Júlia? Júlia? — Acordo com a grossa e rouca voz de Marcos.
— Oi, chegamos? — Perguntei ainda de olhos fechados.
— Sim, espera que vou te ajudar.
Ele salta do carro e vem abrir a porta do meu lado, tira o cinto e me ajuda a descer.
Procuro minha chave na pequena bolsa que carrego comigo, achei fácil, o difícil foi acertar na fechadura. Marcos pega a chave de minha mão e abre a porta para mim.
— Está entregue.
— Mais uma vez obrigada Marcos, tenha uma boa noite.
— Boa noite Maria Júlia — diz e delicadamente pega minha mão e dá um beijo.
Sorrio para ele e entro em casa, eu sei que tenho muito o que pensar sobre essa noite, mas minha cama apareceu na sala, não sei quem colocou ela ali mas eu agradeço, e sem arrodeios me deito ali mesmo.
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