Capítulo 26
A luz fraca do sol da manhã atravessa as janelas, que por estarem entre abertas, permitem que uma suave brisa invada o quarto fazendo as cortinas dançarem num vai e vem. Observando esse movimento, enroscada confortavelmente nas cobertas, permito que minha mente retorne aos eventos da noite passada. O jantar com Ian correu melhor do que eu esperava, devo admitir. Meu plano de deixá-lo inseguro, pensando que eu havia perdido o interesse nele, atingiu o resultado esperado de forma extremamente rápida, pois, o que pensei que levaria dias levou apenas algumas horas. E por falar em horas, esse foi o tempo em que nos deliciamos um no outro, sem pressa, apenas saciando calmamente o desejo que acumulamos desde que nos conhecemos de forma, digamos, verdadeira.
E, ah, porque não notei Ian antes? Talvez porque provavelmente papai o aprovaria já que, mesmo sendo um bastardo, era legitimado e carregava o sobrenome que meu pai mais almejava: Mackenzie. Isso, certamente, me fez repudiá-lo sem sequer lhe dirigir o olhar duas vezes. Mas a forma como nossa história teve início foi melhor pois, caso isso tivesse sido arranjado, eu o desprezaria e jamais sentiria as sensações que aquele corpo magnífico eram capazes de me fazer sentir. Claro que, se não fosse o pequeno detalhe de minha secreta gravidez, nós poderíamos aproveitar isso por mais tempo, porém tudo o que eu tenho serão um ou dois meses, portanto nesse período devo usufruir de cada oportunidade com ele.
Sinto o colchão se mexer e afundar com o peso de um grande corpo às minhas costas, e um braço másculo puxa-me para trás, colando-me ao peito dele.
-- Bom dia, senhorita Kedard. -- Ian diz, rouco, em meu ouvido, despertando meu corpo com deliciosos arrepios.
-- Será quando você aliviar essa monstruosidade que está perfurando minhas nádegas. -- murmuro, fingindo irritação.
-- E o que a senhorita sugere que meu amigo aqui perfure? -- ele me aperta ainda mais e, com satisfação, sinto que nossos corpos estão a centímetros de se encaixarem, tornando-se um.
-- Ah, senhor Mackenzie, ele já está quase alcançando o objetivo, só falta… -- com um pequeno movimento de meu quadril sinto Ian me penetrando e, dessa vez, ele é quem grita meu nome primeiro
Descemos para o café juntos, e o sorriso que ambos estampavámos orgulhosamente no rosto nos delatou. Ou, foi isso que pensei.
-- Tiveram uma noite agradável? -- Madalena perguntou, enquanto servia-me uma xícara de chá, segurando o riso.
-- E uma manhã também, presumo. -- Agnes diz, sorrindo conspiratória.
-- O que quer dizer com isso, Agnes? -- pergunto, olhando-a com suspeita e um aviso no olhar, que ela ignora.
-- Que a senhorita não é nada discreta. Até as galinhas ficaram agitadas essa noite com seus gritos.
Sinto meu rosto esquentar, até minhas orelhas, e para meu espanto a reação de Ian é apenas uma estrondosa gargalhada.
-- Não é para tanto, senhorita, ouvimos apenas agora pela manhã, quando fomos até seu quarto ver se estava bem, já que estava tarde e a senhorita ainda não tinha se levantado. -- Madalena esclarece.
-- Eu sou demais, eu te disse. -- Ian diz com uma piscadela, terminado de beber seu café -- Aliás, você ainda não assumiu isso.
-- A única coisa que assumo, é que você é um idiota, Mackenzie! -- digo exasperada, porém agora menos constrangida.
Com um dar de ombros e um suspiro resignado, Ian se levanta e, parando atrás de minha cadeira, se inclina e me dá um delicado beijo na bochecha.
-- Uma hora você vai assumir que sou tão bom quanto eu lhe disse. -- diz em meu ouvido e, após roubar o pão que havia em meu prato, segue para seu trabalho.
Ainda sentindo o perfume dele, e sentindo os olhares das mulheres presentes na sala de jantar, corro até ele e o prendo em meus braços.
-- Apenas vou vou admitir que estou contando as horas para que a noite chegue novamente. E isso é tudo que você vai tirar de mim, seu cretino! -- sussurro para que apenas ele escute, e prendo seus lábios nos meus, num delicioso beijo.
Um beijo que dura menos do que eu gostaria e e logo ele se vai. Retorno ao meu lugar à mesa para terminar minha refeição, e ignoro conscientemente Agnes e Madalena.
-- Que bom que já sabem de tudo, assim me poupam o trabalho de contar.
-- Está brincando? -- ouço Madalena empolgada, se sentando na mesa e se servindo de chá -- Nós precisamos de alguns detalhes, senhorita Missy! Me diga, esse pedaço de mal caminho é tão bom quanto parece?
-- Madalena, digamos que... se cada mulher tivesse um Ian Mackenzie na cama, certamente haveria paz na terra. -- confidencio.
-- Oh, deuses, eu sabia! -- ela diz corando e se abanando com um pano.
-- Sua velha tarada! -- Agnes é quem diz, rindo.
Cara senhorita Kedard,
Essa carta chegará às suas mãos, sem dúvidas, com atraso. E peço sinceras desculpas por isso, já que, dividida entre organizar uma festança e cuidar de três crianças - duas delas me causando pequenos ataques cardíacos todos os dias - esqueci-me de lhe escrever antes. Haverá uma comemoração pelo aniversário de Nita daqui a duas noites e, conhecendo meu cunhado como conheço - e sabendo como a senhorita está mexendo com a cabeça dele - sei que ele certamente não mencionou tal fato.
Portanto, obviamente, essa carta é um convite. Aguardamos ansiosamente vocês dois, e sua adorável dama de companhia e amiga Agnes também está convidada caso lhes agradem.
De sua amiga, e talvez futura cunhada, Annelizy.
O mensageiro chegou pouco antes do pôr do sol, deixando-me aflita pois, segundo a data de envio contida na carta, a festa de Nita seria amanhã. O que nos deixa um tempo muito curto para organizar a viagem. Aguardo Ian na sala de visitas confortavelmente acomodada no sofá, onde luto contra a sonolência que insiste em se abater sobre mim depois de um longo dia sem fazer absolutamente nada, e percebo que perdi a batalha contra o sono apenas quando Mackenzie me acorda de um agradável cochilo.
Ele está sentado na mesinha à minha frente, ainda sujo do dia de trabalho, com ar cansado, mas com um leve sorriso nos lábios.
-- Ian Mackenzie! -- grito, sentando-me no sofá.
-- Ah não, eu conheço esse tom de voz e já aviso que eu não fiz nada! -- ergue as mãos, defensivamente.
-- Exatamente! Seu idiota! -- ele arregala os olhos, visivelmente confuso -- Como você se esqueceu de me dizer sobre a festa de Nita? Será amanhã!
-- Céus, me desculpe! Não percebi que o tempo passou tão rápido e… honestamente, parte disso é culpa sua!
Isso me surpreende. Descarado!
-- Por favor, explique-me como uma falha sua seria culpa minha? -- peço, irônica.
Ele estreita os olhos em minha direção e ajoelha-se entre minhas pernas.
-- Talvez porque você tenha infernizado minha vida desde que eu vim para cá.
-- Eu não fiz tal coisa, seu maluco!
-- Não? Você me provocou por semanas, me levou à beira da loucura. Tudo que havia em minha mente era você, mulher cruel. E acha que melhorou depois de nossa noite de amor? -- ele aperta minhas coxas e aproxima-se -- Ainda sinto seu sabor em minha língua, a maciez da sua pele, o cheiro de seu perfume, de seu suor, de sua intimidade. -- lentamente ele começa o movimento sensual de subir suas mãos pelas minhas coxas -- Você não tem noção do que fez, tem, Missy? Você me enfeitiçou, me intoxicou, você está aqui e não parece que vai sair. -- ele coloca a mão em punho no peito -- Então, sim, parte de meu esquecimento é sua culpa.
O peso dessas palavras começa a me assolar. Ian nunca falou sobre seus sentimentos antes e, do nada, joga isso sobre mim. E esse olhar que ele ostenta agora, com esse azul tão cristalino, tão honesto, diz ainda mais sobre o que há em seu coração. Ah, deuses, como isso foi acontecer? Sinto-me afundar em tristeza e, ao mesmo tempo, sinto-me capaz de a qualquer momento começar a flutuar e sair voando por aí, ao saber que ele tem sentimentos por mim.
-- Você não vai dizer nada, Missy? -- ele pede, baixinho.
-- Eu… Ian, isso está indo rápido demais. Eu não... -- suspiro -- Eu não posso lhe fazer promessas agora.
Ele pega minhas mãos entre as suas, ásperas, sujas e grandes e, ainda assim, maravilhosas.
-- Então não as faça. Apenas seja honesta, comigo e consigo mesma, e diga-me se tem sentimentos por mim.
-- Ah, senhor Mackenzie... -- aproximo-me dele e colo minha testa na sua -- Eu sei que não demonstro meus sentimentos da forma convencional, com bater de cílios e afetação, mas você sabe que sim… mesmo contra minha vontade e bom senso, dentro de mim há muitos sentimentos por você.
-- Então por ora isso basta, Missy. -- ele sussurra e me beija.
Um beijo calmo e carinhoso, e contrariando minhas palavras de à pouco, cheio de promessas veladas.
-- Ian, eu… -- interrompo o beijo -- Eu acho que devo… devo te contar uma coisa. É… droga, é importante.
Porque ele precisa saber, antes que essa paixão se torne amor, antes que ele saia disso tão machucado e ferido que não haverá perdão para mim.
-- Diga, querida. -- ele pede, e beija minha mão.
-- É que eu estou…
Uma forte batida na porta interrompe o momento e minha oportunidade perfeita vai por água abaixo, junto de minha breve coragem.
-- Senhorita! Há alguém querendo vê-la. -- Agnes diz, com olhar assombrado.
-- À uma hora dessas, Agnes? -- olho através da janela e vejo já ser noite -- Quem é?
-- É melhor ver por si mesma, senhorita.
Assustada levanto-me e sigo para a entrada da casa, onde um homem alto, de pele branca e cabelos escuros me aguarda, de costas. Sinto minhas pernas fraquejarem, não pode ser ele! Ele está morto! O homem ouve o barulho de meus passos acompanhados dos passos de Ian e Agnes e vira-se de frente para mim, com um sorriso estranho pairando em seus lábios.
-- Paul? -- sussurro, desesperada e assustada ao ver esse homem à minha frente, ao ver o pai da criança que carrego em meu ventre.
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